Sula em Florianópolis – Semantics of Under-Represented Languages of the Americas
Por Laiara Machado Serafim
Bolsista PET Letras e CNPq
Letras-Português
e
Por Paula Scalvin da Costa
Bolsista PET Letras e CNPq
Letras-Inglês
O SULA é uma conferência de linguística bianual cujos objetivos são reforçar a conexão entre o trabalho de campo em semântica e a teoria semântica e promover o estudo de problemas de semântica das línguas das Américas que não receberam muita atenção nas fases iniciais da semântica teórica. O 13° SULA (Semantics of Under-represented Languages of the Americas) aconteceu no último mês, , na Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Durante quatro dias, no CCE (Centro de Cultura e Expressão), reuniram-se mais de 80 pessoas, entre pesquisadores professores de língua materna, pesquisadores, e alunos de iniciação científica.
O 13° SULA teve grandes nomes como convidados: Márcia Nascimento Kaingang apresentou um grande trabalho com rastreamento ocular na língua Kaingang; Ana Müller professora titular na USP, falou sobre o caso das sentenças temporais; Luiz Fernando Ferreira apresentou um belíssimo trabalho com um guia prático de semântica e pragmática formais na educação básica; Veneeta Dayal, professora de Linguística na Universidade de Yale, apresentou sobre “o estatuto dos assim chamados marcadores plurais”; e Aronaldo Júlio Terena trouxe a apresentação talvez mais marcante e emocionante sobre as marcas de (in)defnitude na língua terena, além de compartilhar a experiência de ser um pesquisador indígena e falar da importância de continuar pesquisando e dando visibilidade às línguas indígenas. Além dos convidados, o evento também contou com a participação de outros grandes nomes da semântica, como Lisa Matthewson.
Nesta edição, o evento agregou o encontro sobre a “In)definitude em línguas sub-representadas” (Project CNPq 420314/2022-9). O projeto, coordenado por Roberta Pires de Oliveira, é uma pesquisa em ciência básica, que busca descrever e explicar a capacidade dos seres humanos de produzir significado através das línguas. Este projeto estuda o Português Brasileiro, o Espanhol RioPlatense, o Portunhol, o Terena (Aruak), o Wapishana (Aruak), o Kaiowá (Tupi Guarani) e o Rikbaktsa (Macro-Jê).
O evento contou com tradução simultânea (Português-Inglês, Inglês-Português), o que foi uma oportunidade ímpar para os alunos envolvidos, especialmente por ser uma das primeiras vezes que muitos deles assumiram essa função em um evento acadêmico de grande porte. Desde o início, o processo exigiu familiarização com os equipamentos técnicos, como fones, microfones e cabines de tradução, o que já representou um aprendizado prático significativo. Essa imersão inicial possibilitou aos alunos compreenderem melhor a dinâmica da tradução simultânea, desmistificando desafios técnicos e construindo confiança em suas habilidades.
Além do aspecto técnico, o evento foi uma plataforma para explorar a capacidade tradutória em línguas orais, exigindo adaptações criativas e rápidas durante as apresentações. Trabalhar com semântica, em particular, demandou que os tradutores mantivessem a precisão terminológica, sem perder a fluidez necessária à simultaneidade. Nesse processo, os alunos precisaram interpretar não apenas palavras, mas também conceitos complexos e abstratos, um exercício que fortaleceu sua habilidade de articulação e clareza na comunicação.
Outro aspecto enriquecedor foi a colaboração com tradutores mais experientes, o que gerou uma troca constante de estratégias e feedbacks. Esses profissionais compartilharam dicas sobre como lidar com a pressão do tempo e as nuances culturais e linguísticas dos palestrantes. Essa interação contribuiu para o aprimoramento das técnicas de tradução e ajudou os alunos a perceberem a importância da prática e da flexibilidade no campo da interpretação.
Por fim, o trabalho em duplas distintas trouxe um dinamismo especial à experiência. A necessidade de alternância e suporte mútuo exigiu dos alunos não apenas concentração, mas também sintonia com seus colegas. Essa colaboração estreita reforçou habilidades de trabalho em equipe e adaptabilidade, essenciais na tradução simultânea. A experiência no SULA não apenas ampliou o conhecimento técnico e linguístico dos envolvidos, mas também os conectou ao universo da tradução profissional, instigando o interesse por futuras oportunidades no campo.
O 13° SULA destacou-se não apenas pela excelência acadêmica, mas também pela rica troca de conhecimentos e experiências entre participantes de diferentes contextos. Reunindo pesquisadores, professores e alunos, o evento promoveu um ambiente de diálogo que foi além das apresentações formais, fomentando discussões sobre temas complexos como semântica e línguas subrepresentadas. A diversidade dos convidados, incluindo pesquisadores indígenas e internacionais, enriqueceu as perspectivas, trazendo à tona a importância da inclusão e da valorização de diferentes culturas e tradições linguísticas.
As interações durante o evento mostraram como a colaboração é essencial para a pesquisa linguística, especialmente em áreas tão específicas como a semântica de línguas pouco estudadas. A troca de ideias não apenas inspirou novos projetos, mas também reforçou a relevância de continuar investigando questões fundamentais sobre o significado e sua relação com a linguagem. Para alunos e pesquisadores iniciantes, essa foi uma oportunidade inestimável de aprender diretamente com grandes nomes da área e de estabelecer conexões que podem abrir portas para futuros estudos e colaborações.