Programa de Educação Tutorial dos Cursos de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina
  • Sinais Caseiros: línguas que emergem através do isolamento linguístico

    Publicado em 28/11/2023 às 15:27

    Por Franciane Ataide Rodrigues

    Letras Libras

    Bolsista PET-Letras

     

    Quando pensamos em indivíduos surdos e na existência da comunidade surda brasileira, comumente os relacionamos ao uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), porém grande parte dos surdos nasceu em famílias ouvintes, usuárias do português e, geralmente, não usuárias nem conhecedoras da Libras.

    Cerca de 90 a 96% das crianças com surdez pré-linguística − isto é, que nasceram surdas ou ficaram surdas até os três anos − têm pais ouvintes que, em geral, não são usuários de uma língua de sinais. Esse quadro vale para o Brasil: 90% das crianças surdas têm pais ouvintes (Rosa, 2022, p. 71).

     

    É dentro desse contexto de isolamento linguístico no ambiente familiar, de isolamento geográfico, de ausência da socialização com a comunidade surda e a privação ao acesso à língua de sinais brasileira (Libras) que se manifesta a necessidade de uma comunicação “rudimentar”, fazendo com que nasçam as “línguas de sinais caseiras”. Essas são sistemas de comunicação gestual ou visual improvisados e usados por pessoas surdas em situações de necessidade emergencial de comunicação, sobretudo com ouvintes não falantes de Libras, e que não possuem o domínio da língua de sinais formal por não receberam os inputs linguísticos necessários para usá-la.

     

    Destarte, estes sinais são caracterizados como “as maneiras únicas, os modos de fazer gestos ou de sinalizar de cada indivíduo, que são usados na família, em casa – daí a denominação ‘sinais caseiros’ ou ‘gestos caseiros’ (Matos, 2016, p. 129)

     

    Tais sinais podem ser baseados em necessidades específicas da rotina e do ambiente familiar e podem não seguir regras rígidas no seu processo de criação estrutural. Diferentemente da língua de sinais brasileira, os sinais são convencionados no seio familiar contendo características icônicas ou arbitrárias ao referencial desejado, bem como recebem influência do contexto social experienciado.

    Por exemplo, se forem pescadores, os sinais caseiros que emergem podem ser relacionados aos frutos do mar, areia, barraca e outros; numa família da zona rural, eles podem ser relacionados a boi, vaca, leite e assim por diante. Isto também acontece com familiares de surdos que moram na zona urbana, cujo filho e/ou os pais não tiveram contato com a comunidade surda utente da língua de sinais oficial (Adriano, 2010, p. 34)

     

    Por serem de caráter emergencial e de uso restrito a apenas um núcleo social, esses sinais podem, muitas vezes, ser usados apenas no momento da ocorrência da situação e entendíveis apenas pelo núcleo que convencionou o uso dos sinais. Sendo assim, é importante esclarecer que a eficácia da transmissão de mensagens durante o processo comunicacional por meio de sinais caseiros pode variar e influenciar na compreensão mútua.

    A seguir, apresentamos sinais caseiros convencionados pelo núcleo familiar de Simone Schirlei Sarmento. Simone é uma mulher surda oralizada criada em uma família ouvinte. Nascida em Florianópolis, até os seus dezesseis  anos teve contato somente com ouvintes, onde aprendeu a oralizar e criou sinais caseiros para facilitar a sua comunicação com eles. Aos dezessete anos, começou a estudar na Fundação Catarinense de Educação Especial, em São José, quando aprendeu Libras e iniciou seu contato com a comunidade surda. Atualmente, ainda utiliza os sinais particulares dentro de casa, com a sua família, porém sua convivência com os amigos surdos está mais forte, o que fez aumentar seu vocabulário em Libras. Simone é mãe de 3 filhos ouvintes, considerados Codas. A seguir, serão apresentados por uma das filhas de Simone, Samanta Schirlei Pacheco, alguns sinais caseiros convencionados pela família.

    Nas colunas superiores estarão os sinais usados em Libras e, nas colunas inferiores, estarão localizados os sinais caseiros convencionados no núcleo familiar de Simone:

     

    1- Sinal em Libras da palavra “mentira” e, posteriormente, o sinal caseiro.

    2- Sinal em Libras do vocábulo “mãe” e, posteriormente, o sinal caseiro.

    3- Sinal em Libras do termo “médico” e, posteriormente, o sinal caseiro.

     

    Em vias de síntese, é importante ressaltar que muito embora os sinais caseiros sejam uma “porta” para a aquisição de uma língua formal e proporcionem um meio de transmissão de mensagem com a possibilidade de comunicação, ainda assim possuem um alcance de compreensão dos signos linguísticos estritamente dependente do ambiente familiar e com um sinalário restrito. Da informação apresentada, decorre, pois, a necessidade urgente do acesso a uma língua com estrutura linguística completa que possibilite conversas mais profundas e estruturadas, desempenhando um fortalecimento linguístico na pessoa surda.

     

    REFERÊNCIAS

    ADRIANO, Nayara de Almeida. Sinais caseiros: uma exploração de aspectos linguísticos. 2010. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

    ROSA, Maria Carlota. Uma viagem com a linguística: um panorama para iniciantes. São Paulo: Pá de Palavra, 2022.

    MATOS, Pâmela do Socorro da Silva. Gestos de surdos e ouvintes: o contar história sem uso da voz. 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2016.


  • Criando magia: um relato de experiência

    Publicado em 21/11/2023 às 08:24

    Por Lara Malafaia Vieira

    Bacharelado em Letras-Libras

    Bolsista Acessibilidade PET-Letras

     

    No ano de 2018, enquanto ainda fazia a faculdade de fonoaudiologia, tive minha primeira experiência de intercâmbio. Nunca tinha passado pela minha mente em morar três meses fora do país, longe da minha família –  e ainda mais trabalhando com merchandise, ou seja, com a venda de produtos como camisetas, canecas, ursinhos de pelúcia, no Walt Disney World Resort em Orlando.

    Para começar, passei perrengue no aeroporto e a viagem, que deveria ser de 10 horas, levou 24 horas. Chegando lá fui direto para o hotel em que ficaria com uma amiga; no dia seguinte seguiríamos para o condomínio que moraríamos nos próximos meses. O nome do condomínio era Chatham Square, e lá morei com mais cinco “gringas”, cada uma de um estado norte-americano diferente. Eu era a única brasileira vivendo uma cultura muito diferente, enquanto minhas amigas brasileiras acabaram “caindo” com outras brasileiras, então tinham o “gostinho de casa” constantemente. Já eu acabei ficando com as norte-americanas e fiquei muito amiga de uma delas. Ela me apresentou os musicais mais conhecidos nos EUA e ainda me fez comer os famosos biscoitos de natal, construindo ainda a Gingerbread House, aquela casinha que vemos em filmes (algo me chocou: eles não comem a casinha, eles deixam simplesmente em exposição até o mês de janeiro).

    Meu local de trabalho era a World of Disney, a maior loja da Disney do mundo, localizada na Disney Springs. A loja tinha seis grandes áreas de produtos separadas por temas como Star Wars, princesas, seasonal, camisetas gráficas, roupas em geral e um combinado de pelúcias e as famosas orelhinhas; três áreas de caixas registradoras; e três estoques. Cada dia recebíamos de duas a três posições de trabalho, indo desde trabalhar no caixa até atender os pedidos dos Cast Members (CM), trabalhadores, no back of the house, lugar onde os clientes não podiam entrar.

    Descrição da imagem: em frente a uma parede de prateleiras com bonés coloridos, uma moça morena de cabelos pretos longos, óculos preto, vestida com uma camiseta de manga comprida xadrez com tons de azul e cinza, calça jeans e uma bolsa lateral retangular preta com pins coloridos. A moça está apontando para o crachá com os dedos indicadores.

    Além de poder trabalhar diariamente no mundo Disney, eu tinha livre acesso aos parques e aos resorts durante meu período de trabalho no intercâmbio. Então, todos os dias antes do trabalho, dava uma passada em algum dos parques para poder ir em algum brinquedo ou comer algo para depois ir trabalhar.

    Para trabalhar na Disney temos que saber e colocar em prática as quatro (agora cinco) “Keys”., que são: show, cortesia, segurança, eficiência e a última adicionada, inclusão. Essas cinco chaves são essenciais para um atendimento “no estilo Disney”, causando uma experiência mágica para seus clientes.

    Essa experiência foi tão mágica para mim e boa para meu crescimento pessoal que, em 2022, no meio da faculdade de Letras-Libras, decidi voltar para o intercâmbio; porém, desta vez morei com mais três brasileiras, uma delas minha amiga de Floripa; morei em um condomínio recém inaugurado; e trabalhei em uma área diferente. Eu era Quick Service; nessa área, trabalhava com venda de comidas e bebidas no restaurante Pizzafari no parque Animal Kingdom.

    Descrição da imagem: em frente à cozinha com bancadas (e  potes, paredes de azulejos coloridos formando desenhos do fundo do mar e três pessoas), encontra-se uma moça morena (a autora do texto) com cabelos pretos presos em coque baixo, óculos, chapéu, vestida com uma camiseta de manga longa estampada com tons de verde, com barra da manga em verde escuro, um avental verde claro por cima, e o crachá com o nome preso do lado direito.

     

    O “Pizza”, para os íntimos, era um restaurante que vendia três sabores de pizza: queijo, pepperoni e salsicha com pepperoni; saladas Caesar com e sem frango; sanduíche de frango parmegiana; os famosos cupcakes decorados; e bebidas diversas. Durante o momento de trabalho lembro como meus co workers, achavam estranho as famílias brasileiras pedirem ketchup, maionese e mostarda para comerem junto com a pizza.

    Uma das posições de trabalho que mais gostava era ficar ou de filler, que montava as bandejas com as comidas, ou na de greeter, que ficava dando boas-vindas na porta. Nessa segunda posição  eu tinha um grande contato com as pessoas que estavam passeando pelo parque e dava dicas sobre locais para comer, melhores brinquedos para ir, onde tirar foto com os personagens etc.

    Essas experiências de intercâmbio me fizeram pensar em como minha segunda faculdade poderia entrar nessa vivência do mundo Disney, até que um dia atendi uma guest italiana surda que conseguiu se comunicar comigo por meio de sinais internacionais. Eu entendi tudo o que ela estava dizendo, por mais que não soubesse sinais internacionais. Minha irmã, que foi fazer o intercâmbio comigo, me fez uma surpresa e pediu para confeccionarem uma name tag que é nossa identificação de nome, país e língua que falamos, com a escrita sign language (escrita de sinais).

    Descrição da imagem: em frente do castelo do Magic Kingdom iluminado com tons de azul, roxo e rosa; é noite e várias pessoas estão ao fundo. Numa nametag está escrito: o símbolo de 50 anos da Walt Disney World, Laila, Niterói, Brazil, “the most magical place on earth” e português. Ao lado, na outra nametag, está escrito: o símbolo de 50 anos da Walt Disney World, Lara, Niterói, Brazil, “the most magical place on earth”, português e duas configurações de mão em “S” e “L”.  

     

    Cada um dos intercâmbios criou amizades que ainda nutro. Penso que sou muito feliz por ter essas experiências e pelas pessoas e memórias que carrego comigo.


  • Libras: uma língua ágrafa?

    Publicado em 18/11/2023 às 17:12

    Por Franciane Ataide Rodrigues

    Letras Libras

    Bolsista PET-Letras

    As “línguas ágrafas” são formas de comunicação que não possuem um sistema de escrita reconhecido. Estas não possuem um meio de representação gráfica padronizado, como o alfabeto ou qualquer outro tipo de conjunto de caracteres usados para registrar o idioma.

    Em diversas culturas e comunidades, a comunicação oral permanece sendo a principal ferramenta de comunicação e transmissão de tradições, culturas e legados. As línguas ágrafas acabam sendo transmitidas de geração em geração principalmente por meio de comunicação oral, o que dificulta os registros e a preservação dessas línguas, pois esses seriam fundamentais para estudos e preservação.

    Tendo em vista que a Libras não é uma língua oral, que sua modalidade é espaço-visual, totalmente independente do português, seria ela, então, uma língua ágrafa? De fato, há alguns anos, a Libras era considerada uma língua ágrafa e suas únicas formas de registro eram por meio de desenhos de mãos, fotografias e filmagens caseiras como vídeo cassete e em alguns DVDs.

     Descrição de Imagem: Em um fundo azul, no centro da imagem, está uma mulher de camiseta preta. Ela é branca, de cabelos escuros e o rosto está em expressão neutra enquanto realiza o sinal em Libras da palavra “acessibilidade”. 

     

    Entretanto, em 1974, Valerie Sutton, dançarina e coreógrafa, desenvolveu um sistema de registro para coletar passos de danças chamado DanceWriting, ao mesmo tempo em que na Dinamarca diversos estudiosos buscavam uma  maneira de registrar as línguas de sinais.

    Descrição de imagem: a imagem apresenta a capa do livro “Sutton Movement Shorthand”, publicado em 1974. Em um fundo bege, está uma jovem dançarina. Ela é branca, tem cabelos negros presos em um coque e está vestida com uma calça preta e uma blusa preta de mangas compridas. A dançarina está em uma pose elegante, indicando movimento e graciosidade. Na lateral esquerda da imagem está escrito o título “Sutton Movement Shorthand”. Acima deste, nota-se o símbolo em DanceWriting que representa o movimento da jovem dançarina. Na parte inferior da capa, encontra-se a inscrição “BOOK ONE. The classical Ballet Key. Valerie Sutton”, fornecendo informações adicionais sobre o conteúdo do livro.

     

    É, pois, neste contexto que ocorre a transição de DanceWriting para SignWriting. O sistema desenvolvido por Sutton despertou o interesse dos pesquisadores dinamarqueses da Universidade de Copenhague, o que motivou o convite de Lars von der Lieth e Jan Enggaard Pedersen para que ela, em 1974, realizasse os primeiros registros de movimentos ainda inspirados no sistema que havia criado.

    Valerie Sutton ensinando SignWriting em 1985

    Descrição de Imagem: em frente a uma lousa verde, uma moça jovem, branca, de cabelos curtos e loiros, vestida com uma blusa verde clara e com a parte de baixo bege, ensina o sistema SignWriting.

     

    Deste modo, entre 1975 e 1980, o sistema passou por diversas modificações até se tornar o que hoje conhecemos como SignWriting e se espalhar pelo mundo. No Brasil, as pesquisas sobre SignWriting tiveram início em 1996 por intermédio do Dr. Antônio Carlos da Rocha Costa, da PUCRS, em parceria com as professoras Marianne Stumpf e Márcia Borba, atuantes da área de computação na Escola Especial Concórdia. Estes desenvolveram um grupo de trabalhos e, a partir disso, o sistema começou a ser difundido no território brasileiro.

    O desenvolvimento deste sistema, usado para registrar os sinais de Libras, representa uma conquista muito significativa para a comunicação da comunidade surda, sendo uma forma de preservar a história da língua, para que ela não se perca, de perpetuar conhecimentos e interpretações de mundo, sentimentos e de realizar estudos linguísticos que contribuam para a valorização e desenvolvimento da transmissão de ideias entre surdos e ouvintes. Embora existam outras formas de registro da Libras desenvolvidos no Brasil, como os sistemas SEL e ELiS, o  SignWriting continua o principal sistema usado para registro da língua; apesar de não estar muito presente apenas em contextos acadêmicos e não seja do conhecimento de todos os surdos, é um sistema completo, capaz de realizar registros gráficos dos léxicos usados na comunicação sinalizada viso-espacial.

    REFERÊNCIAS

    CRISTIANO, Almir. Valerie Sutton. Libras, 2017. Disponível em: https://www.libras.com.br/valerie-sutton. Acesso em: 10 nov. 2023.

    SUTTON, Valerie. A Global Writing System For A Global Age. Disponível em: https://www.valeriesutton.org/lifestory/autobiography. Acesso em: 10 nov. 2023.

    SIGNWRITING. History of SignWriting. Disponível em: https://www.signwriting.org/library/history/hist010.html. Acesso em: 10 nov. 2023.

     


  • O dispositivo sensitivo/ mágico da protagonista do conto “A menina de lá”

    Publicado em 14/11/2023 às 07:14

     Por Anna Letícia de Abreu

    Letras Língua Portuguesa

    Voluntária – PET Letras

     

     

    Mestre da palavra, Guimarães Rosa guia habilmente seus leitores por intrincados e imagéticos caminhos da linguagem, consolidando-se como um dos luminares da literatura. Sua prosa se caracteriza por uma linguagem rica, repleta de neologismos, arcaísmos e construções sintáticas complexas. Em A Menina de Lá, G. Rosa trabalha uma trama onde a magia se manifesta de uma forma sutil, através de elementos sensitivos que nascem da personagem principal, Nhinhinha. O conto explora a quebra de convenções da realidade, introduzindo elementos sobrenaturais de forma sutil e encantadora. A descrição dos personagens e cenários destaca-se como um componente essencial, revelando nuances mágicas que permeiam a trama.  Rosa traz a exploração da condição humana no conto; nessa leitura, os elementos escolhidos transportam os leitores para um universo onde a fronteira entre o ordinário e o extraordinário se dissolve, onde o real e o irreal se fundem – característica presente também em outras obras emblemáticas do autor.

    Descrição da imagem: a imagem é uma pintura óleo sob a tela; o fundo é composto por tons de verde, claro e escuro, com textura de folhas voando com o vento; há um balanço de corda amarrado em um único galho marrom. Nele, está uma sentada uma menina branca, com tranças laranjas, se balançando. Ela usa um vestido até o joelho, de mangas compridas na cor creme, um chapéu da mesma cor. Também usa uma meia calça laranja e botas pretas.

     

    O dispositivo sensitivo, presente nessa obra, se revela por meio de elementos específicos dentro da narrativa que são determinantes para o sentido, como a descrição de Nhinhinha, desde do que ela é, de como as pessoas ao redor a veem e até os comportamentos inexplicáveis dela. As atitudes intrigantes e, por vezes, questionáveis, desde os primeiros momentos do conto, incitam um pequeno incômodo ao leitor, a presença de algo inalcansável e incompressível vem como uma incessante reflexão. A ênfase na descrição assume uma importância central dentro do dispositivo sensitivo, pois é por meio dela que identificamos elementos que transcendem a realidade cotidiana, manifestando-se não apenas nas características da personagem, mas também infiltrando-se em objetos e cenários com uma atmosfera sobrenatural.

    Num dos trechos, a menina chamada de Maria, ou Nhinhinha, é descrita em uma das vezes como “[…] muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.”, “[…] sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia.”. Os comportamentos que Nhinhinha apresenta no conto, junto a suas descrições, são incomuns; e como fogem da lógica humana-comum, se encaixam no dispositivo mágico/sensitivo. Desde o princípio o leitor é levado a questionar o porquê de uma menina de quatro anos agir de tal forma, fazer questionamentos mais complexos e até realizar ações para além de qualquer criança da sua idade.

    Percebe-se também a presença do dispositivo sensitivo nas interações que acontecem no conto; é possível notar-se a estranheza nas falas de menina tão pequena, “Ouvia o Pai querendo que a Mãe coasse um café forte, e comentava, se sorrindo: – “Menino pidão… Menino pidão…” Costumava também dirigir-se à Mãe desse jeito: – “Menina grande… Menina grande…”.  O último fator que nos confirma o dispositivo sensitivo/mágico materializado em Nhinhinha  que há uma quebra de convenções da realidade: o leitor é exposto a situações que já não condizem mais com a realidade humana, como quando Nhinhinha consegue “realizar” seus desejos, “[…]Eu queria o sapo vir aqui”, […] reto, aos pulinhos, o ser entrava na sala, para aos pés de Nhinhinha –”.

    Para além da comprovação gradual do fenômeno mágico ao longo da história, G. Rosa, como de costume, deixa esse espaço amplo de interpretação, convidando o leitor a mergulhar em camadas mais profundas de significado. Nhinhinha, encantadora e sutil, não apenas personifica os poderes mágicos que carrega consigo, mas também representa uma miríade de possibilidades interpretativas, seja para os pais ou em outras dimensões simbólicas dentro do próprio conto. A complexidade da narrativa de G. Rosa, entrelaçada com elementos espirituais, confere uma graciosa expressão ao dispositivo sensitivo, escolhendo uma criança como portadora desses dons extraordinários. Nesse cenário, o leitor é conduzido por caminhos onde esse  extraordinário se mistura ao cotidiano, revelando uma magia que vai além das palavras e ressoa nas múltiplas facetas da experiência humana.


  • Para além de um teto todo seu: a invisibilidade de Júlia Lopes de Almeida

    Publicado em 09/11/2023 às 06:28

     Por Monisse da Cunha Silva

    Letras-Português

    Voluntária PET

    “Os homens tiveram todas as vantagens em relação a nós no que diz
    respeito a contar sua versão da história. Eles tiveram uma educação muito mais
    refinada; a pena sempre esteve em sua mão.”
    Jane Austen – Persuasão

     

    Descrição de imagem: A imagem consiste em uma colagem que apresenta duas fotografias de mulheres dispostas da direita para a esquerda: Virginia Woolf e Julia Lopes de Almeida. O fundo da imagem é feito para parecer um pedaço de papel que imita uma carta, e um círculo no centro da imagem exibe as duas fotos sobrepostas. No canto superior direito e no canto inferior esquerdo, há flores cor-de-rosa. A imagem não contém texto.

     

    Em 1929, Virginia Woolf (2019) lançou Um teto todo seu, um ensaio composto a partir de duas palestras proferidas pela autora na Inglaterra no ano anterior. As palestras abordaram as condições materiais e intelectuais das mulheres escritoras no país. Sua importância reside, entre outros motivos, no fato de ter colocado no cerne do debate acadêmico e do meio literário a questão do que significa para as mulheres escrever e sob quais condições elas têm realizado, ou não, esse trabalho, além de explorar as razões por trás dessas condições. Ao escrever este ensaio, Virginia reivindicava a autonomia financeira para que as mulheres pudessem escrever: um quarto todo seu e uma quantia de libras mensais.

    Podemos analisar o apagamento histórico de Júlia Lopes de Almeida, uma escritora carioca nascida em 1862, a partir deste ensaio de Woolf. Lopes deixou uma contribuição notável para a literatura e o jornalismo ao longo dos séculos XIX e XX. Nasceu em uma época em que as mulheres frequentemente não eram reconhecidas em suas respectivas profissões e na sociedade, enquanto a educação formal era um privilégio concedido a poucas delas. De uma família de imigrantes abastados, desfrutando do privilégio de uma educação formal abrangente. Seu pai, que era proprietário de uma escola, apoiou desde cedo sua inclinação pela escrita. Assim, desde muito jovem ela participou de várias rodas intelectuais – e no meio dessas rodas surgiu a Academia Brasileira de Letras. Mesmo depois de se casar, Júlia não foi impedida de continuar escrevendo, uma condição que a colocava em uma posição privilegiada para os padrões de sua época. Apesar de desfrutar de privilégios relacionados à sua raça e à sua classe social, a autora experimentou um apagamento histórico, com escassa menção ou discussão sobre ela dentro e fora do âmbito acadêmico. Por que, mesmo tendo suportes financeiros e “um quarto todo seu” para escrever, esses elementos não foram suficientes para evitar esse desfecho?

    Isso nos faz refletir sobre como a história literária tem uma tendência a priorizar autores do sexo masculino, relegando as contribuições femininas a um plano secundário. Essa falta de visibilidade das mulheres não se limita apenas à literatura, mas se estende a diversos contextos que envolvem a expressão, evidenciando o quanto as mulheres foram historicamente silenciadas. Isso não afeta apenas a esfera artística, mas também se estende a como as mulheres sentem, vivem e percebem o mundo ao seu redor.

    A arte, sobretudo quando vista a partir da perspectiva das mulheres, transcende a mera expressão e se torna uma ferramenta de intervenção na realidade. Julia Lopes produziu obras que exploraram o insólito dentro do âmbito da vida cotidiana, ao mesmo tempo em que denunciou as limitações impostas às mulheres, demonstrando sua versatilidade em diversos gêneros literários, e engajando-se na luta pelo direito ao voto feminino.

    Dessa forma, com base nessa breve reflexão, podemos reconhecer o ensaio de Virginia Woolf como uma ferramenta que permite estabelecer diálogos e análises das obras de escritoras, permitindo uma abordagem da literatura produzida por essas mulheres que transcende o texto em si. Isso envolve a consideração de vários aspectos de suas trajetórias, incluindo como gênero, raça e classe social se entrelaçam e impactam suas carreiras como escritoras, bem como influenciam a circulação e a recepção de suas obras.

     

    REFERÊNCIAS

    Woolf, Virginia. Um teto todo seu. Nova Fronteira, 2019.

     


  • SEPEX 2023: Libras? Onde?

    Publicado em 29/10/2023 às 08:30

    Por Bruno dos Santos Camargo
    Letras – Libras
    Estagiário de Acessibilidade

    “Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa.
    Quando eu rejeito a língua, eu rejeitei a pessoa porque a língua é parte de nós mesmos.
    Quando eu aceito a língua de sinais, eu aceito o surdo. […]”

    Terje Basilier

     

    Durante a última semana, de 23 a 27 de outubro, aconteceu a 20ª edição da Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (SEPEX) da Universidade Federal de Santa Catarina. Contando com uma programação diversificada que envolvia palestras, rotas temáticas, apresentação de estandes e um vasto cronograma de atividades culturais e artísticas, estima-se que cerca de 50 mil pessoas circularam pelas dependências da universidade que hoje encontra-se entre as cinco melhores instituições de ensino superior do Brasil (UFSC, 2023). Com assuntos das mais variadas áreas do conhecimento, os 73 estandes localizados no Hall do Centro de Cultura e Eventos traziam olhares curiosos de centenas de escolas, professores e membros da sociedade civil, atraindo muitas reportagens e notícias veiculadas nas mídias.

    Descrição da imagem: no estande do PET Letras, um homem observa os banners enquanto outro sinaliza uma pergunta em Libras. Um membro do PET Acessibilidade observa a sinalização e prepara-se para responder.

     

    O PET Letras, por sua vez, marcou presença em todos os dias do evento. O estande do Programa esteve em evidência todos os dias. A Profa. Dra. Roberta Pires de Oliveira fez uma participação importantíssima, explicando sobre o processo de pesquisa acadêmica e proporcionando um espaço de interação e exposição das pesquisas em andamento de integrantes do PET. No CinePET, curtas de animação complementavam a programação durante os dias do evento. Além disso, na quinta, o lançamento da Revista Preguiça: Slam Estrela D’Alva foi um sucesso e a poesia ocupou mais uma vez o Varandão do CCE ,com mais uma edição da renomada competição – que teve como vencedor um poeta surdo graduando em Letras Libras. Por fim, o PET encerrou sua participação na semana com chave de ouro através de uma oficina de Libras ministrada pelo PET-Acessibilidade, onde os espectadores puderam participar de jogos de Libras e tirar suas dúvidas sobre a língua e a cultura Surda.

    Descrição da imagem: em pé, poeta faz sua apresentação em Libras no Slam Estrela D’Alva. À esquerda, uma intérprete faz a interpretação para o português. No canto da imagem, um grupo de jurados avalia a poesia.

    É fácil observar a relevância do evento e a importância de apresentar à sociedade os conhecimentos desenvolvidos pela universidade, que também é referência internacional nas pesquisas sobre Língua de Sinais e Comunidades Surdas, as quais, mais uma vez, foram negligenciadas durante todo o evento.

    Infelizmente, não havia monitores-intérpretes da SEPEX, uma vez que na comunicação endereçada aos graduandos não tinha a informação da necessidade de estudantes para interpretação. O procedimento adotado pela organização era simples: caso a pessoa surda desejasse assistir a alguma apresentação, deveria comunicar aos monitores que, por sua vez, tentariam encontrar alguém que soubesse Libras e estivesse passando por ali, correndo o risco de não encontrar voluntários disponíveis para suprir a demanda ou uma demora muito grande até que encontrasse alguém apto.

    O problema não se limitou à atuação dos intérpretes em formação no evento, pois até mesmo a mesa de debate sobre Ações Afirmativas na UFSC com a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (PROAFE) foi cancelada na semana, por não haver intérpretes de Libras  – esse problema, aliás, tem sido recorrente na UFSC e essa falta de intérpretes nos espaços é uma questão que afeta diariamente a vida das pessoas.

    Apesar do problema relativo ao direito das pessoas surdas, a SEPEX 2023 foi um ótimo espaço de divulgação científica e proporcionou ambientes sensacionais de aprendizado e interação – em sua grande maioria, infelizmente limitados, apenas à comunidade ouvinte. Uma possível alternativa para essa questão seria a criação de uma comissão específica para tratar sobre assuntos de Segurança Linguística e Acessibilidade dentre os organizadores do evento. Esta comissão teria o papel de atentar para questões de interpretação em Libras, no caso da Comunidade Surda, interpretação em outras línguas (para as demais comunidades linguísticas da UFSC) e acessibilidades ao espaço do evento. Com isso, os conhecimentos desenvolvidos em nossa Universidade não se limitariam aos usuários da Língua Portuguesa, já que, ao mesmo tempo em que construímos uma universidade de ensino público, gratuito e de qualidade, podemos respeitar e contemplar a pluralidade de nossa sociedade.

    REFERÊNCIA

    UFSC. Ranking internacional classifica UFSC entre as cinco melhores universidades federais do Brasil, 2023. Disponível em: https://noticias.ufsc.br/2023/09/ufsc-e-a-7a-melhor-universidade-do-brasil-em-ranking-da-times-higher-education.  Acesso em: 27 out. 2023


  • Nova Edição da Preguiça – especial Slam Estrela D’Alva

    Publicado em 26/10/2023 às 08:39

    O PET-Letras caba de lançar mais uma edição da  Revista Preguiça, v. 4, n. 1, 2023.

    Dessa vez, Angelo Perusso e Atilio Butturi Junior organizaram  uma edição só de slam – do Slam Estrela D’Alva, que o Angelo, que é nosso aluno e petiano, criou e do qual é slam master.

    São 14 poesias e 12 vídeos dessas poesias – duas pessoas não puderam estar aqui.

    O material está em:

    https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/preguica/issue/view/410

    Você pode  e deve se cadastrar como leitor, leitora etc na Preguiça!


  • Nossa nova ID visual

    Publicado em 24/10/2023 às 10:35

    A partir de agora o PET-Letras UFSC tem uma nova identidade visual, em colaboração com o @longe_far.

    Quisemos materializar os encontros, os afetos e a multiplicidade de pessoas que estão no PET, nas Letras e na UFSC.

     


  • As consequências das tecnologias nas interações humanas vistas em Black Mirror

    Publicado em 23/10/2023 às 18:05

    Por Ingryd Giovanna Lima Pereira

    Letras-Inglês

    Bolsista PET-Letras

     

    A série antológica Black Mirror, criada por Charlie Brooker e disponível na Netflix, é conhecida por suas reflexões distópicas, que exploram as consequências da interação da sociedade com as mídias sociais e as inovações tecnológicas. Em um mundo cada vez mais imerso na tecnologia, a série se destaca por seu olhar crítico sobre nossa relação com os avanços tecnológicos. Ao examinar as histórias de cada episódio, percebemos  o quanto nossa realidade se assemelha à série e somos instigados a refletir sobre as complexidades morais e sociais que as atuais e potenciais futuras tecnologias podem acarretar. Eis alguns momentos.

    Descrição da imagem: imagem representando uma tela de aparelho eletrônico trincada escrito em caixa alta: Black Mirror.

    O primeiro episódio da primeira temporada,“The National Anthem”, nos mostra um ministro que enfrenta um dilema angustiante para salvar a vida de uma pessoa sequestrada, ele é forçado a realizar um ato grotesco transmitido ao vivo para toda a nação. Esse episódio destaca a manipulação da mídia e o sensacionalismo que envolve a situação, mostrando como a busca desenfreada por aprovação pode levar a decisões extremas. A crítica se concentra na rapidez com que as notícias se espalham e em como a pressão da audiência pode influenciar a política e a moralidade, destacando a vulnerabilidade das lideranças diante da influência da mídia e do público.

    Descrição da imagem: Ilustração com fundo preto, na frente aparece um porco, na parte superior o nome da série: Black Mirror e na parte inferior o nome do episódio: The National Anthem.

    No segundo episódio da segunda temporada, intitulado “White Bear’’, acompanhamos uma mulher que acorda sem memória em um parque de diversões assustador, sem entendermos por que ela está lá, e o que ela fez. Acompanhamos sua perseguição agonizante por pessoas que gravam seu desespero e sofrimento com seus celulares. Com uma reviravolta impactante, o episódio explora a questão do sofrimento como entretenimento e a exploração da tragédia alheia para gerar audiência, discutindo as implicações morais da indiferença diante desse sofrimento humano e o uso da tecnologia como ferramenta para saciar a sede de vingança das pessoas.

    Descrição da imagem: em uma ilustração com fundo azul aparecem três braços também na cor azul, cada um segurando um celular branco na mão. Em cor branca está escrito o texto: “Black mirror created by Charlie Brooker” e também o nome e numeração do episódio: “White Bear s02. ep02”.

     

    No primeiro episódio da terceira temporada, “NoseDive” , a narrativa explora uma sociedade em que as pessoas constantemente avaliam umas às outras em redes sociais com base em cada pequena ação do dia a dia. Essas avaliações atribuem uma classificação às pessoas, determinando sua importância e relevância na sociedade. A trama gira em torno de uma mulher obcecada em aumentar sua classificação social. Ao acompanharmos os esforços da protagonista em se encaixar nos padrões dessa sociedade, percebemos então a  superficialidade desse sistema de avaliação social que moldou as relações humanas sem considerar suas profundas complexidades.

    Descrição da imagem: Uma arte com o fundo preto na parte superior aparece escrito o nome do série: Black Mirror e a numeração do episódio S03e01; e na parte inferior uma cor rosa. As cores do fundo dão forma a um precipício cujas lacunas escrevem o nome do episódio: Nosedive. Há uma mulher andando em direção à ponta do precipício segurando um celular em sua mão. Do lado da sua cabeça aparece nota de avaliação atribuída a ela 4.2

     

    Atualmente, a série já tem seis temporadas. Black Mirror nos convida a avaliar como nossas escolhas em relação ao uso da tecnologia moldam nossa realidade e nos incentiva a adotar uma abordagem mais consciente e ética em relação a esses avanços.

     

     

     

     

     

     


  • ¿Por qué las banderas de Colombia, Venezuela y Ecuador son parecidas?

    Publicado em 20/10/2023 às 10:16

    Por Andrés S. Garcés

    Letras Libras

    Bolsista do PET Letras

    Descrição da imagem: Mapa de cor branco e preto da parte norte da sul américa mostrando de cor amarela a região que era a grã Colômbia de cor amarelo e vermelho. Na imagem abarca toda a região da Colômbia, Equador, Venezuela, Panamá e parte do Peru e do Brasil. De letras Vermelhas e sublinhado, diz: Gran Colombia.

     

     

    ¡Hola a todes los amantes de la historia! Hoy vamos a dar un emocionante paseo por el pasado y descubrir juntos una de las creaciones más fascinantes de América del Sur: La Gran Colombia. Prepárate para un viaje en el tiempo mientras exploramos esta interesante parte de la historia latinoamericana.

    ¿Qué fue La Gran Colombia?

    La Gran Colombia fue un país que existió en América del Sur durante el siglo XIX. Fue una tierra de sueños y aspiraciones, creada por el líder revolucionario Simón Bolívar en 1819. Este territorio abarcaba lo que hoy son Colombia, Venezuela, Ecuador (por eso el parecido de sus banderas) y Panamá, así como partes de Perú, Brasil y Guyana.

    Bandera de la Gran Colombia

    Descrição da imagem: La bandera tiene tres franjas horizontales de igual tamaño: amarilla, azul y roja. En el lado izquierdo de la franja azul, hay un escudo de armas. El escudo tiene un fondo blanco y un borde azul. El escudo está dividido en tres secciones con una estrella blanca en cada una. El escudo está rodeado por una cinta amarilla con un borde rojo y dos estrellas blancas más. La cinta la sostienen un hombre indigena de cabello largo y negro.

     

    Simón Bolívar: La Independencia

    La Gran Colombia no habría sido posible sin la influencia de Simón Bolívar, un líder destacado en la lucha por la independencia en América del Sur. Bolívar desempeñó un papel crucial en la emancipación de varios países sudamericanos.

    El Sueño de la Unidad

    Bolívar tenía un gran sueño: unificar a los países recién independizados en una gran nación llamada La Gran Colombia. Quería que esta nueva nación fuera un faro de libertad y progreso en América del Sur. A pesar de los desafíos, logró establecerla en 1819.

    Diversidad Geográfica y Cultural

    La Gran Colombia era una tierra de asombrosa diversidad. Desde las majestuosas montañas de los Andes en Ecuador y Colombia, hasta las exuberantes selvas tropicales de Venezuela, este país tenía paisajes asombrosos y una mezcla de culturas que la hacía única.

    Los Desafíos de la Unidad

    Mantener unida una nación tan grande no fue tarea fácil. La Gran Colombia enfrentó problemas internos y conflictos territoriales con sus vecinos, lo que eventualmente la llevó a su disolución en 1831. Los países que conocemos hoy como Colombia, Venezuela y Ecuador surgieron de esta ruptura.

    La Constitución de Cúcuta

    Una de las contribuciones más significativas de La Gran Colombia fue la Constitución de Cúcuta, establecida en 1821. Esta constitución sentó las bases para muchas de las leyes y principios democráticos que aún hoy rigen a estos países. Fue un paso importante hacia la libertad y la igualdad.

    Influencia en la Región

    Aunque La Gran Colombia no perduró mucho tiempo, su influencia fue duradera. Sus ideas y luchas inspiraron a otros países de América Latina a buscar su independencia, y su legado sigue vivo en la cultura y la historia de la región.

    La Actualidad de La Gran Colombia

    Hoy en día, los países que formaron parte de La Gran Colombia son naciones independientes, cada una con su propia identidad y gobierno. Colombia, Venezuela y Ecuador son países con una rica historia y una herencia cultural única. Panamá también se independizó de Colombia en 1903, convirtiéndose en una nación independiente.

    Rutas Turísticas de La Gran Colombia

    Si eres un amante de la historia y la aventura, visitar los lugares históricos relacionados con La Gran Colombia puede ser una experiencia emocionante. En Colombia, puedes explorar la histórica ciudad de Cartagena y visitar el Museo Bolivariano. En Venezuela, el Panteón Nacional en Caracas y el Puente de Angostura son lugares emblemáticos. En Ecuador, Quito ofrece una rica historia colonial y sitios relacionados con Bolívar.

    La historia de La Gran Colombia es una aventura emocionante que nos lleva a un tiempo de valientes luchadores por la independencia y sueños de unidad. Aunque esta nación ya no existe, su legado perdura en las identidades de los países que surgieron de ella, como el color de algunas banderas. Esperamos que este viaje por el pasado haya sido interesante y te inspire a explorar más sobre la historia de América Latina.