Dia das Mães: origens e reflexões sobre essa comemoração

10/05/2022 17:23

Emmanuele Amaral Santos,
Bolsista PET-Letras
Letras Português

Oficializado, em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, o segundo domingo de maio foi “[…] consagrado às mães, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano […]”, como declara o texto da lei que regulamenta o feriado de Dia das Mães no Brasil.

Tanto a escolha da data quanto a ideia de homenagear os “sentimentos e virtudes” da maternidade surgiram politicamente a partir de Anna Jarvis, uma mulher estadunidense que se baseou nas vivências religiosas e pessoais da própria mãe, como uma oração apresentada para Anna ainda na infância e participação em um grupo de mulheres que se dedicaram aos cuidados de soldados no contexto da Guerra Civil Americana.

O Dia das Mães foi oficializado em todos os estados americanos apenas em 1911, e, pouco tempo depois, a própria Anna Jarvis chegou criticar o propósito comercial que a data rapidamente ganhou nos EUA, assunto discutido pela pesquisadora Katharine Lane Antolini  na obra Memorializing Motherhood: Anna Jarvis and the Struggle for Control of Mother’s Day (“Em Memória da Maternidade: Anna Jarvis e a Luta pelo Controle do Dia das Mães”). Além de trazer os comentários de Anna sobre os chamados “aproveitadores do comércio” como as floriculturas que aumentam seus preços na época do Dia das Mães, o livro também reflete sobre o processo histórico de idealização da data e as suas repercussões contraditórias que levaram Anna a pedir desculpas por ter “criado” a comemoração.

Fonte: Recorte de uma imagem da internet*

É interessante refletir sobre como esse modelo estadunidense de feriado foi importado para o Brasil, tanto na perspectiva religiosa quanto na repercussão mercadológica. Na propaganda da década de 1960/70 que ilustra este texto, por exemplo, percebe-se o uso das rosas como imagem da maternidade remetendo à Maria na simbologia cristã e à ideia de presente como já ressaltou a própria Anna Jarvis.

Atualmente, outros desdobramentos comerciais dessa celebração no Brasil podem ser percebidos em propagandas que ora reforçam o estereótipo da mãe como guardiã e cuidadora do lar para a venda de eletrodomésticos ora refletem superficialmente sobre contextos contemporâneos de independência financeira feminina e maternidade solo. Deste modo, o segundo domingo de maio ainda parece enfrentar uma dualidade mercadológica e cristã semelhante a que marca a sua origem, o que demonstra que a luta pelo controle do Dia das Mães ainda está em aberto.

 

 

*Descrição de imagem: Reprodução digital de uma propaganda em preto e branco sobre o Dia das Mães. À direita da imagem, uma mulher sorridente com cabelos ondulados levantando uma criança de colo acima de sua cabeça, olhando para ela como se estivesse brincando. A criança usa um macacão e segura um pequeno pano. No canto superior esquerdo, está escrito “O Dia das Mães…” em fonte cursiva e sublinhado e, logo abaixo, em outra tipografia: “Dia de gratidão”, na primeira linha, e “dos filhos…”, na seguinte. No canto inferior esquerdo, aparece o desenho de um ramo com rosas e folhas.

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O retorno ao presencial: uma expectativa realizada

27/04/2022 16:11

Débora Klug,
Bolsista PET-Letras
Letras Português

Parte deste texto foi desenvolvida em um carro em movimento. Em uma viagem de 850 quilômetros pela frente, e um destino muito esperado: Florianópolis. O momento chegou, com dois anos de atraso, mas chegou, estamos finalmente retornando às atividades presenciais. Muita coisa aconteceu nesses anos, e trazemos as cicatrizes provindas das crises que vivenciamos. Foram dois anos que, para mim, pareceram cinco; mas ao mesmo tempo tenho a impressão de que foi um período em suspenso, aéreo, inacessível e inconcluso. O que fazer com as coisas que eu vi, ouvi e vivi na pandemia, mas que parecem tão distantes? E o que fazer com o que estamos vivendo agora — o retorno ao presencial —, mas que também parece tão distante?

Alguns acreditam que a pandemia causou uma individualização maior de nós mesmos, o “eu” foi forçado a se separar de “outros”, e deixou essa marca de distanciamento, que foi, obrigatoriamente, físico, mas também psíquico. E, agora, o iminente parece distante.

Fonte: Imagem da Internet*

Eu — assim como muitos outros estudantes — ingressei na universidade na modalidade remota. Nunca havia vivido a dinâmica presencial, não tinha ideia de como ela funciona. Era difícil imaginar a presencialidade sem ser tomada por ansiedades e expectativas. Por outro lado, algo que a pandemia nos obrigou foi a lidar com expectativas frustradas. Uma vida toda sonhando com o ingresso na universidade, precedido da tensão do pré-vestibular, com as promessas de compensação repousando nos momentos do primeiro encontro com os colegas, das comemorações da calourada, da participação ativa nas dinâmicas acadêmicas. Entretanto, a realidade foi uma tela, foi virtual. Adaptações foram necessárias, e, apesar disso, ainda havia uma empolgação com o início da vida universitária. Contudo, a modalidade remota logo saturou e levou à exaustão. O tempo em excesso nas telas foi desgastante, cansou os olhos e cansou a mente. A capacidade de concentração foi se fragmentando, e realizar obrigações simples passou a ser um desafio torturante.

Por diversas vezes eu pensei em desistir dos estudos. Conversando com os professores nas aulas, percebi a preocupação deles quanto ao aumento da evasão nas disciplinas. Vivemos momentos difíceis. O que me motivou a continuar foi a expectativa do retorno ao presencial. E cá estamos nós. É empolgante e energizante, ao mesmo tempo em que há uma sensação de estranhamento. Ter contato com o espaço físico da universidade é muito diferente, em comparação com a prisão dos escritórios, quartos, salas etc. em que fomos obrigados a permanecer trabalhando nesses últimos dois anos. Para mim é revigorante o ato de caminhar nos corredores espaçados, ou entre as calçadas envoltas de grama e árvores. Trocar de sala e transitar geograficamente entre espaços, e não virtualmente; através de passos e não de cliques.

Conhecer, finalmente, as pessoas que estiveram comigo nesses momentos remotos, vê-las fisicamente, corporalmente, é algo que parecia ser inimaginável. Mas agora é real, realmente real, e não virtual. É emocionante.

Por fim, desejo a todos, todas e todes um ótimo retorno, nunca esquecendo, claro, das medidas de proteção!

*Descrição da imagem: Uma foto da entrada principal do campus da UFSC em Florianópolis, no bairro Trindade. A rua centralizada na imagem possui uma fila de carros estacionados à esquerda. Na direita é possível ver algumas pessoas transitando na calçada. Em volta há grama e árvores, e no último plano da imagem é possível ver parte de um morro. No foco principal da foto há duas colunas, uma do lado direito e outra do lado esquerdo da rua, que sustentam uma placa grande e retangular azul, onde se lê em letras brancas “Bem-vindo à Universidade Federal de Santa Catarina”.

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A linguagem cinematográfica influencia a legendagem?

04/04/2022 18:42

Mirelle Araujo Ehrardt,
Bolsista PET-Letras
Letras Alemão

Na atualidade, após a revolução tecnológica que democratizou o acesso às tecnologias e intensificou os processos de globalização e internacionalização, convivemos diariamente com conteúdos audiovisuais, os quais são, muitas vezes, produzidos em países hegemônicos, política e economicamente, que exportam e difundem entre os demais suas produções culturais e seu modo de pensar e de viver.

No cinema, nas séries, nos filmes, na TV, no YouTube, nos videogames — os conteúdos audiovisuais estão em todos os lugares e alcançam um amplo público, o qual necessita da ação tradutória, seja por meio da dublagem, seja por meio das legendas, para compreender a mensagem transmitida. A tradução audiovisual, nesse sentido, torna-se cada vez mais necessária, além de ser, segundo Jorge Díaz Cintas (2004 apud MARTINEZ, 2007), a mais importante, em termos numéricos, visto que esta atinge um público superior ao de outras formas de tradução.

Fonte: SAP*

Principalmente no que se refere à legendagem interlingual, a tradução audiovisual apresenta peculiaridades e desafios próprios, os quais também a diferenciam das demais formas de tradução. Ao envolver diferentes canais semióticos, apresentando tanto os códigos visuais e os códigos acústicos verbais da obra original somados aos códigos verbais escritos, a legendagem aparece, segundo Henrik Gottlieb (1994 apud MARTINEZ, 2007), como uma forma de tradução diagonal. Nessa forma de tradução, o discurso oral é transmitido para a língua-alvo no formato de um discurso escrito, como em uma diagonal, ao mesmo tempo em que se mantém o texto oral na língua estrangeira, ao contrário do que ocorre em traduções lineares como na interpretação (majoritariamente, texto oral ➝ texto oral) ou na tradução literária (majoritariamente, texto escrito ➝ texto escrito). As diferenças inerentes às duas modalidades textuais tornam-se ainda mais explícitas para o espectador na obra legendada, o qual, ao desconhecer as peculiaridades da legendagem, pode sentir um estranhamento com relação às legendas, principalmente quando compreende o idioma falado.

Fora isso, é função do tradutor legendista considerar, entre outros fatores, a velocidade média de leitura, o tempo de entrada e de permanência da legenda em tela, as limitações de espaço, o número limitado de caracteres por linha, de modo a não causar um esforço cognitivo exagerado do espectador para a leitura das legendas, gerando desconforto. Ao levar isso em consideração, fica clara a impossibilidade de transcrição completa do roteiro original na legendagem, o que impõe a necessidade do tradutor legendista encontrar soluções adequadas, utilizando-se, além da criatividade, de um amplo conhecimento tanto da língua estrangeira, quanto da língua materna, no caso da legendagem intralingual.

O conhecimento teórico e linguístico, nesse sentido, são fundamentais, assim como a competência tradutória, entretanto, outro tipo de conhecimento também é primordial para a profissão do tradutor legendista: a compreensão da linguagem cinematográfica. Tal forma de linguagem, a qual surge com o advento do cinema e se expande para outros meios, como por exemplo jogos, propagandas, entre outros, aparece na transformação artística do mundo visível, da imagem do mundo real, “que resulta de  uma  intenção  de  comunicar  um  significado” (AUMONT, 1995, p. 165 apud SILVA, 2012, p. 221). À vista disso, o filme, como um sistema de imagens, tem em si um objetivo narrativo, ou seja, dependendo da forma de narração escolhida, a organização desse sistema de imagens se configura de uma forma determinada, com o objetivo de transmitir um dado significado.

Como exemplo dessa forma de linguagem visual, podemos citar o close, momento em que o rosto do personagem ocupa quase todo o campo visual da tela, fazendo com que o espectador direcione toda a sua atenção para a parte do corpo humano que mais expressa sentimentos, com a intenção clara de levá-lo ao campo emotivo, fazê-lo entender os sentimentos do personagem. Outro exemplo, são as mudanças de enquadramento em técnicas conhecidas como Plongée e Contra-Plongée: no Plongée, palavra francesa que significa mergulho, em que a imagem, geralmente um personagem, é apresentada ao espectador de cima para baixo, ilustrando sua posição de inferioridade; já no Contra-Plongée, ocorre o inverso, a câmera mostra o objeto de baixo para cima, criando um efeito de superioridade e poder.

Por conseguinte, para que a legendagem consiga transmitir para o espectador a mensagem contida na obra original, o tradutor legendista deve estar atento, não só aos desafios linguísticos que sempre se apresentam na tradução, mas também aos significados transmitidos pelos códigos visuais, artisticamente contidos na linguagem cinematográfica. Assim, é notável a complexidade do trabalho do tradutor legendista, profissão que, assim como a dos demais tradutores, merece mais visibilidade e consideração.

Referências

AUMONT, J. et al. A esttica do filme. Campinas: Papirus, 1995.

DÍAZ CINTAS, J. Subtitling: the long journey to academic acknowledgement. In: The Journal of Specialized Translation, n. 1, p. 50-69, 2004.

GOTTLIEB, H. Subtitling: Diagonal translation. In: Perspectives: studies in translatology, v. 2, Dinamarca: Museum Tusculanum Press, p. 101-121, 1994.

MARTINEZ, S. L. Tradução para legendas: uma proposta para a formação de profissionais. Orientador: Márcia do Amaral Peixoto Martins – 2007. Dissertação (Mestrado em Letras) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.  Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=10689@1. Acesso em: 25 mar. 2022.

SILVA, Odair J. M. Das origens do cinema às teorias da linguagem cinematográfica: um breve panorama sobre os modos de abordagem do texto fílmico. Visualidades, Goiânia, v. 7, n. 2, 2012. DOI: 10.5216/vis.v7i2.18196. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/VISUAL/article/view/18196. Acesso em: 25 mar. 2022.

*Descrição da Imagem: a imagem é uma fotografia, em que se vê uma mulher de costas para a câmera, sentada em frente a um computador. A mulher, que se encontra no canto esquerdo da imagem, usa uma blusa vermelha e um fone de ouvido. É possível ver uma tira na parte de trás de seu pescoço, a qual pertence provavelmente a seu crachá. Ela tem o cabelo castanho claro curto e liso. Não é possível ver seu rosto. Na tela do computador a sua frente, vê-se a cena de um programa em que cinco personagens, duas mulheres e três homens, com roupas coloridas, conversam. Na parte inferior da tela, é possível ver a legenda em inglês da cena, a seguir: “And this twit refuses to give me my coat.”. Ao lado, na imagem, é possível ver um pedaço de outro computador, em que se encontra um programa de legendagem.

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Um amigo me sugeriu um conto…

31/03/2022 13:06

Moara Zambonim,
Bolsista PET-Letras
Letras Português

Um amigo me sugeriu um conto do argentino Julio Cortázar (1914-1984), parte de Todos os fogos o fogo, publicado em 1966. O autor é considerado um dos grandes escritores modernos e esse conto uma das oito obras-primas contidas na obra. Li “A auto-estrada do sul” e, como meu amigo, fiquei deslumbrada.

Fonte: Imagem da internet, do site iStock.*

O que se narra é o que aconteceu aos que “[…] fizeram a estupidez de querer voltar a Paris pela auto-estrada do sul, num domingo à tarde, quando, apenas saídos de Fontainebleau, tiveram de ir em marcha lenta, parar, seis filas de cada lado (já se sabe que aos domingos a auto-estrada  fica inteiramente reservada aos que voltam para a capital), ligar o motor, avançar três metros, parar, conversar com as duas freiras do 2HP da direita, com a moça do Dauphine à esquerda, olhar pelo espelho retrovisor o homem pálido que dirige um Caravelle, invejar ironicamente a felicidade avícola do casal do Peugeot 203 (atrás do Dauphine da moça) que brinca com a filhinha […]” (CORTÁZAR, 1972, p. 3).

Nessa primeira página do relato, o leitor se vê em ambiente em que personagens, nomeadas como condutoras ou passageiras de veículos, vivenciam uma situação bastante corriqueira, bastante desgastante também. Enfrentam congestionamento que produz doze filas de automóveis, imobilidade angustiante, necessidade de esticar as pernas uma vez ou outra, quando a parada dá oportunidade de se percorrer as filas da direita ou da esquerda, de ver aumentada a lista de tipos de veículos e de observar, discretamente, as atitudes dos demais viajantes, até que começassem a interagir entre si. Não se conhece a causa do engarrafamento, surgem especulações e más notícias trazidas por algum estranho ou outro. Quase todos ouviam o rádio até que as transmissões foram suspensas pelas rádios locais. O isolamento do grupo — “a sensação contraditória de enclausuramento em plena selva de máquinas concebidas para correr” (CORTÁZAR, 1972, p. 4) — e as privações que surgiram em horas e horas de congestionamento levaram à ajuda mútua, à necessidade de alguém comandar o grupo em busca de divisão de tarefas, como obter água e alimentos, em outras células com problemas semelhantes que se constituíram.  O convívio nessa circunstância produziu cuidados especiais com crianças, idosos ou freiras, ajuda de médico quando uma mulher adoeceu ou quando o homem da Caravelle cometeu o suicídio (fechado hermeticamente no porta-malas de seu carro) — o veículo do engenheiro do Peugeot 404 foi transformado em vagão-leito.

Voltaram todos a seus carros, alguns arrancaram com ímpeto. O 404 buscava manter-se paralelo a Dauphine, mas a grande aceleração impedia que as filas se mantivessem paralelas. Os motoristas do grupo adiantavam-se uns dos outros impelidos pelo ritmo da marcha, até que o grupo se dissolveu irrevogavelmente, dando fim à rotina e aos rituais mínimos que haviam vivenciado. “[…] e se corria a oitenta quilômetros por hora em direção às luzes que cresciam pouco a pouco, sem que já se soubesse bem para que tanta pressa, por que essa correria na noite entre automóveis desconhecidos onde ninguém sabia nada sobre os outros, onde todos olhavam fixamente para a frente, exclusivamente para a frente” (CORTÁZAR, 1972, p. 27 -28).     

Em seu trajeto, o leitor conhece o desconforto provocado pela vibração do sol sobre as pistas e as carrocerias, o que “dilatava a vertigem até à náusea” (CORTÁZAR, 1972, p. 5); ao amanhecer, essa necessidade de se agasalhar que nascia com o cinzento da madrugada (p. 15); a atitude dos viajantes que, pelas noites já tão frias, não pensavam em ficar fora dos automóveis. Conhece ainda: “pela primeira vez sentia-se frio em pleno dia, e ninguém pensava em tirar os casacos” (p. 19). “Conhece também a neve que isolava, pouco a pouco, os automóveis” (p. 21). Isso me fez refletir não somente sobre a questão do tempo nesse conto de Cortázar, como, também, sobre o significado que podemos atribuir a essa narrativa. Nela não há caracterização precisa do tempo — “O entardecer não chegava nunca” (p. 5); “Em dado momento” (p. 7); “Por volta das duas horas da madrugada” (p. 16), e, depois de um período, as chuvas e ventos que exasperaram os ânimos e aumentaram as dificuldades, por exemplo —, mas são apresentadas com minúcias as sensações das personagens em distintas situações. Esse é o interesse do autor. Seu modo de construir a narrativa traz uma névoa sobre o tempo dos fatos narrados. Névoa que é produtiva, porque o relato de um engarrafamento, perpassando distintas estações do ano, tira dos fatos narrados a natureza de meros fatos quotidianos, permitindo que alcancem outras dimensões.

Como refere o crítico e historiador literário Mário da Silva Brito (na orelha do livro de Cortázar):

“O quotidiano — como que nos adverte esse mestre da história curta — de um momento para outro é capaz de transformar-se em espanto, atingir o insólito, fazer-se fantasmagórico, alçar-se a atitudes imprevistas, tingir-se de insuspeitadas gamas, revelar-nos desconhecidos recantos do nosso ser”.

Depois da leitura desse conto, continuo lendo, com grande prazer, as narrativas de Julio Cortázar, e recomendo a vocês todos que também o façam!

* Descrição: o desenho mostra diversos carrinhos coloridos (amarelo, azul, verde, rosa, em tons pasteis), assim como alguns semáforos e setas indicando direção.

Referência:

CORTÁZAR, Julio. Todos os fogos o fogo. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1972.

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Você passa a noite em claro? Saiba como isso pode impactar a sua vida

21/03/2022 18:39

Isabella Flud,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

Sabe quando você não conseguiu dormir muito bem na noite passada e não compreende o conteúdo da aula no dia seguinte? Ou, até mesmo, quando você passa a madrugada em claro e acha que seu organismo não sofrerá as consequências? Pois bem, quer saber o porquê tudo isso acontece? A neurociência explica!

O professor doutor e divulgador científico Andrei Mayer, no quinto episódio de seu podcast intitulado “A culpa é do cérebro”, fala sobre a importância e a relevância do sono atreladas à qualidade de vida.

O sono é essencial para a saúde e para o bem-estar, não só para os humanos, mas para todas as espécies, já que passamos ⅓ da nossa vida dormindo. É uma necessidade primária, assim como comer e beber água. Além de ser imprescindível, uma noite mal dormida também afeta aspectos que estão ligados diretamente ao nosso cotidiano, como o humor, a motivação, a ansiedade, a capacidade de ter foco, entre outros.

Fonte da imagem: Banco de imagens do Canva

É provável que todos(as) já tenhamos passado noites em claro ou sem dormir bem, a maioria de nós, provavelmente, considera isso completamente inofensivo, embora seja bem divulgado que perder o sono tem efeitos dramáticos em nossas vidas, inclusive, nas habilidades mentais. A privação do sono pode nos deixar mal-humorados e irritados, justamente porque prejudica as funções cerebrais, como a tomada de decisões. Já é hora de acreditarmos e aceitarmos isso, não é mesmo?

O fato é que dormir menos do que o necessário também pode desencadear doenças e distúrbios. Estudos, como Roh et al. (2012), mostram que noites de privação de sono resultam no acúmulo de uma proteína no cérebro que está relacionada à doença de Alzheimer, destacando, mais uma vez, a importância de uma boa noite de sono para a saúde, inclusive para a do cérebro.

Por isso, reflita sobre como você tem passado as últimas noites e veja se o seu sono está sendo o suficiente. Alguns recomendam que se tenha entre sete e nove horas de sono por noite. Então, suas horas de sono tem sido o bastante para que você acorde descansado(a) e bem disposto(a)?

 Andrei Mayer e tantos outros pesquisadores — que também foram citados neste artigo — nos alertam que a falta de sono é acumulativa, ou seja, os resultados de cada noite mal dormida serão acumulados, aos poucos, em seu organismo. A única forma para resolver este problema é dormindo! O nosso aprendizado depende desse processo, já que dormir é um dos meios de consolidar a nossa memória.

Há um preço que o nosso corpo paga após uma noite em claro, isso é inegável. E a ciência consegue comprovar isso! Uma sugestão de leitura é o artigo de Van Dongen et al. (2004) intitulado, em tradução livre, “O custo cumulativo da vigília adicional: efeitos dose-resposta nas funções neurocomportamentais e fisiologia do sono da restrição crônica do sono e privação total do sono”, que trata sobre o efeito acumulativo da privação de sono, inclusive, a longo prazo.

Outra produção é a de Simon et al. (2020), sob o título, em tradução livre, “Muito ansioso e mal dormido”, que aborda a relação entre a falta de sono e a ansiedade, ou seja, dormir bem também pode contribuir positivamente com a melhora de um quadro clínico. Para concluir, também temos o artigo de Xie et al. (2013) sobre o processo de “limpeza” que acontece no cérebro enquanto dormimos.

Ainda ficou curioso e quer ler mais sobre o assunto? Que tal ler: “Por que nós dormimos?”, uma excelente obra escrita pelo neurocientista Matthew Walker e publicada pela editora Intrínseca em 2018.

Durma bem! 😉

Descrição*: Uma mulher negra com o cabelo enrolado castanho escuro, vestindo uma camisola listrada cinza e que está deitada em uma cama branca, com sua cabeça apoiada em um travesseiro branco e preto. Este fundo está desfocado. Em primeiro plano, há um móvel branco com um relógio preto e branco marcando o horário das 5h40, provavelmente, da manhã.

Referências:

SIMON, B; et al. Overanxious and underslept. Nature Human Behaviour, v. 4, p. 100-110, 2020.

ROH, J; et al. Disruption of the sleep-wake cycle and diurnal fluctuation of β-amyloid in mice with Alzheimer’s disease pathology. Science translational medicine, v. 4, n.150, 2012.

VAN DONGEN, H; et al. The cumulative cost of additional wakefulness: dose-response effects on neurobehavioral functions and sleep physiology from chronic sleep restriction and total sleep deprivation. Sleep. v. 25, n. 2, 2003.

XIE, L; et al. Sleep drives metabolite clearance from the adult brain. Nova York: Science, v. 342, n. 6156, 2013.

WALKER, M. Por que nós dormimos? São Paulo: Intrínseca, 2018.

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¿Sabe por qué es probable que Instagram y Facebook dejen de funcionar en Europa?

16/03/2022 19:27

Andres Salas Garcés,
Bolsista PET-Letras
Letras Libras

En el año 2020, la UE sorprendió a las empresas de tecnología con un fallo a la protección de datos para fiscalizar de la mejor manera cómo estas empresas estaban haciendo uso de estos datos. Desde dicho fallo, hasta la fecha, ni Facebook ni la Unión Europea (UE) han podido llegar a un acuerdo, pues la UE alega que los datos de los usuarios no están siendo usados de forma adecuada según el actual estándar de transferencia de datos de la UE, además de la inconformidad por parte del estado por la transmisión de dichos datos a las sedes de los Estados Unidos. Algo que no fue de agrado para los dueños de Meta, pues el principal negocio de Facebook es vender los datos y el comportamiento digital de sus usuarios.

 

Imagen de internet*

Pero bueno ¿Cuándo fue realmente que se comenzó con los comentarios de que Facebook e Instagram iban a salir de la UE?

En uno de sus últimos informes trimestrales que Facebook presenta, hizo un comentario que la UE tomó como amenaza y fue la siguiente:

Si no podemos transferir datos entre países y regiones en los que operamos, o si tenemos restricciones para compartir datos entre nuestros productos y servicios, esto podría afectar a nuestra capacidad para brindar nuestros servicios, la forma en que brindamos nuestros servicios o nuestra capacidad para orientar los anuncios

Luego Meta comenta que realmente le gustaría llegar a nuevos acuerdos en los cuales sean a fines para las dos partes, para después cerrar con la siguiente advertencia:

Si no se adopta un nuevo marco de transferencia de datos transatlánticos y no podemos seguir confiando en las SCC [Cláusulas contractuales estándar] o confiar en otros medios alternativos de transferencia de datos de Europa a los Estados Unidos, probablemente no podamos ofrecer un número de nuestros productos y servicios más importantes, incluidos Facebook e Instagram, en Europa

A este informe, la UE responde: “Podremos vivir sin Facebook, viviríamos realmente bien la verdad ¿Por qué pequeñas empresas tienen que pagar impuestos y no ellos? ¿Simplemente porque no están físicamente presentes?”

A ello Facebook realiza este comunicado:

Imagen de Internet**

 

Que estas dos redes sociales dejen de funcionar en dicho territorio, implicaría un golpe fuerte para muchas personas y pequeñas empresas que trabajan a través de ellos, de igual forma para la misma empresa Meta, pues Europa cuenta con más de 309 millones de cuentas activas, representando el tercer mercado más grande de Facebook, añadiendo que este año ha sido uno de los peores para Meta hasta ahora, pues en el mes de febrero del presente año sus acciones cayeron un 26% en un solo día.

Pues como dicen por ahí, la información es poder y Facebook lo sabe. La plataforma ha sido protagonista de varios escándalos como en el Brexit y elecciones de Trump. Lo que estos dos escándalos tienen en común, es la manipulación de usuarios que aún no están convencidos o indecisos, guiándolos al mejor postor de Facebook.

¿Qué podemos exigirle a una empresa a la cual le damos tanto poder? ¿Es mejor dejar de darle más poder a esta plataforma? ¿Cómo podemos asegurar que nuestros datos estén siendo usados de la mejor manera?

 

Descripción de la imagen*: Fondo azul claro con siluetas de muchas personas con pancartas y celulares, en el medio está la silueta de una persona dando un discurso, con un celular en la mano. Cada celular esta conectado con una linea entrecortada con los logos de Instagram, Pinterest, Youtube, Twitter, Facebook, Linkedin, cuadro blanco con un punto azul y otro rosa, y google.

Descripción de la imagen**: Imagen de titular de un comunicado de la empresa Meta con letra azul y fondo fondo blanco que dice: “Meta” de letra pequeña con una linea zul clara abajo de la palabra, con letra más grande y título principal“Meta Is Absolutely Not Threatening to Leave Europe”. Abajo de letra pequeña y de color gris “February 8, 2022”. Después de letra azul y también pequeña “By Markus Reinisch, Vice President, Public Policy Europe”.

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Uma reflexão sobre língua, lusofonia e pós-colonialismo

08/03/2022 20:37

Ananda Gomes Henn,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

Muito se discute em salas de aulas, redes sociais e mesas de bar sobre as particularidades do português falado no Brasil e na África, especialmente em relação àquele falado em Portugal. Opiniões diversas sobre o valor dessas diferenças e o que elas representam para seus falantes são expressas frequentemente e sem muita reflexão, como, por exemplo, a de que “estar em Portugal é ouvir o português correto”. Essa é uma afirmação bastante ousada para se fazer a respeito da língua oficial de nove países, localizados em quatro continentes diferentes. É importante, principalmente para nós, estudantes de Letras, refletirmos um pouco sobre a língua portuguesa e o papel que ela exerce para suas diferentes comunidades de falantes, a partir de uma perspectiva pós-colonial da lusofonia.

Como comenta Carmem Lucia Tindó Secco no podcast Língua Livre (2010), desde a colonização, a língua portuguesa convive com línguas originárias da África ou com línguas criadas a partir desse contato (línguas crioulas). É notável que, através desse contato com as línguas africanas, o português foi modificado para sempre: a influência que as línguas dos quatro milhões de africanos trazidos forçadamente ao Brasil se fez sentir em todos os níveis — seja lexical, semântico, prosódico ou sintático — e, de maneira rápida e profunda, na língua falada, o que deu ao português do Brasil um caráter próprio, diferenciado do de Portugal (CASTRO, 2011). Da mesma forma, o português falado na África já não é exatamente o mesmo que chegou com os colonizadores.

No documentário Língua – Vidas em Português (2001), filmado em cinco países (Brasil, Portugal, Moçambique, Índia e Japão), os indivíduos entrevistados falam a partir de um movimento pós-colonial, após a independência e uma ampliação da convivência colonial, dentro do quadro nacional da Nação (Angolana, Moçambicana etc.). Nas nações africanas, apesar disso, há uma continuidade da mentalide pré-independência — no sentido de “a língua portuguesa é a nossa língua” — o que estimula com que as línguas originárias sejam deixadas para trás. O nacionalismo, independência nacional, não produziu a autonomia e valorização dessas línguas nacionais/originárias. O português continua sendo a língua oficial, a língua utilizada nos lugares institucionalizados, onde o poder está centralizado.


Fonte: Cartaz do documentário Língua – Vidas em Português*

Nesse sentido, Carmem Tindó Secco (2019) problematiza a ideia de “lusofonia” — que, segundo ela, tem uma tentação imperialista de colocar Portugal no centro — e, em seu lugar, apresenta uma “lusografia”, conceito que faz referência ao português como a “língua de escrita”. O status oficial da língua portuguesa não necessariamente implica que ela é a língua mais falada. As políticas linguísticas governamentais a favorecem, afirmando-a como a língua dos negócios, da escolarização, ainda que prevaleça a oralidade e as línguas originárias, com um grande número de falantes que não é fluente em português.

Se interessou pelo assunto? Fica aqui a recomendação de dois podcasts muito interessantes que tratam do assunto e que inspiraram a escrita desse texto: o décimo primeiro episódio do Língua Livre Podcast, entrevistando a professora Carmem Tindó Secco, especialista em literaturas africanas em língua portuguesa; e o episódio do Fumaça Podcast em que o autor moçambicano Mia Couto discorre sobre literatura, língua portuguesa e colonialismo. Além disso, o documentário “Língua – Vidas em Português” está disponível na íntegra no YouTube.

Referências

CASTRO, Yeda Pessoa. Marcas de africania no português brasileiro. Africanias, 2011. Disponível em: < http://www.africaniasc.uneb.br/pdfs/n_1_2011/ac_01_castro.pdf>. Acesso em: 20 maio 2021.

SECCO, C. L. T. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.  In: PAIXÃO, V.; MACHADO, L.; SECCO, C. L. T. Língua Livre Podcast #1. 2019. 118 min. Disponível em: <https://www.lingualivre.com/post/ll_11>. Acesso em: 20 maio 2021.

LÍNGUA – Vidas em Português. Direção de Victor Lopes. 2001. (105 min.), son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JBmLzbjmhhg>. Acesso em: 20 maio 2021.

MIA Couto sobre literatura, língua portuguesa e colonialismo. Fumaça Podcast, jul. 2019. 64 min. Disponível em: < https://omny.fm/shows/eapenasfumaca/mia-couto-sobre-literatura-l-ngua-portuguesa-e-col>. Acesso em: 20 maio 2021.

*Descrição da imagem: Cartaz do documentário “Língua – Vidas em Português”. Na parte superior do cartaz há a fotografia de uma pessoa em pé na areia da praia, de perfil, olhando para o mar em sua frente. Acima, no céu da imagem, lê-se o texto “Algumas delas estão nesse filme”, e abaixo dos pés da pessoa, “Um documentário de Victor Lopes”. Embaixo da fotografia há o título do documentário em caixa alta, ocupando toda a largura do cartaz: “Língua”; linha abaixo: “Vidas em Português”. Abaixo do título lê-se “Uma produção Tvzero e Sambascope”, e embaixo há a imagem de alguns dos entrevistados: José Saramago, Martinho da Vila, João Ubaldo Ribeiro, Madredeus, Mia Couto. Abaixo disso, informação dos produtores do documentário.

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‘The Lost Daughter’ (2021): a review on a son’s vision

21/02/2022 18:51

Vítor Pluceno Behnck
Bolsista PET-Letras
Letras Inglês 

The sun carefully shines over the rocks and the blue sea. In the sand, Leda sits on a sun lounger while she takes notes. She is a middle-aged comparative literature professor taking a holiday in a coastal town in Greece, aiming to enjoy the serenity of her own company. While she enjoys an ice cream by the sea, a noisy and large Italian family arrives on the beach, disturbing her peace and tranquility. This is the main plot of The Lost Daughter (2021), a Netflix original production directed by Maggie Gyllenhaal, and based on the homonymous novel written by Elena Ferrante. Starring Olivia Colman as Leda, the movie had received three nominations for the Oscar 2022.

Source: Netflix.

The Lost Daughter aims to depicture a different view on maternity — and how conflictual and harmful it can be. Leda first overlaps her personal history with the Italians when Nina, a young mother, loses her daughter out of sight: at this moment, Leda has a flashback when she also lost one of her daughters — Bianca — on a beach as well. This is one of the many moments in the movie where Gyllenhaal used a narrative element called “psychological time” to travel through Leda’s thoughts and memories. This way, we are presented to the twenty-something almost divorced Leda, dealing with the weight of being (such as Nina is) a young mother, and at the same time, trying to build her academic trajectory.

The distance when traveling to international congresses, the articles written while taking care of her children, and the conflicts with her children’s father are some of the elements that represent how non-glorious maternity can be. This representation contrasts with how media uses to represent mothers — which are always cheerful and ready to abdicate their personalities and lives on behalf of their children and spouse. Thus, the movie narrates another side of being a mother, which can be seen as mean or perverse. Going on a holiday and having to deal with your own wounded self from the past was certainly not a piece of cake for Leda.

The Lost Daughter is, indeed, a captivating and not-obvious narrative. As daughters and sons, it is inevitable to watch the movie and do not think about how many times our mothers put themselves on a second place on behalf of us and the home “duties”. To acknowledge this sacrifices is not about feeling guilty for being born. In fact, it more has to do with reconsidering how do we see women, specifically mothers, in our society. Some of the questions that need to be addressed are: would things be different for Leda if her husband took care of the kids, as women usually do? How would it be if they had the same social expectations for raising their children — that is: how would it be if Leda was not seen as selfish? As Ferrante (2008, p. 1) wrote, “the hardest things to talk about are the ones we ourselves can’t understand”. That is why maybe society can not talk about the taboos behind being a mother: we still can not understand it.

References
FERRANTE, Elena. The Lost Daughter. New York, NY: Europa Editions. 1 ed. 2008.

Verbal description: Leda is a white woman with short and brown hair. She wears a white beach outfit and sits in a white sun lounger at the beach. She holds an ice cream with her right hand while her left hand is in behind her head. She looks to her right side with a disapproving face. Behind her we can see the sand, the sidewalk and some trees.

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L’approccio politico di Tabucchi in Sostiene Pereira (spoiler alert)

15/02/2022 14:35

Camila Vicentini Camargo
Bolsista PET-Letras
Letras Italiano

Sostiene Pereira è un romanzo scritto da Antonio Tabucchi, scrittore, critico letterario, traduttore e accademico italiano. Tabucchi era docente di lingua e letteratura portoghese all’Università di Siena e ha scritto moltissimi libri. Sostiene Pereira è stato pubblicato dalla casa editrice Feltrinelli nel 1994 e ha vinto nello stesso anno il Premio Campiello e il Premio Viareggio.

Immagine presa da Internet.*

È un romanzo davvero forte anche se segue una linea più leggera di scrittura. Le sentenze non hanno una difficoltà particolare e in realtà tutto viene raccontato in maniera ben lineare, però i dialoghi non vengono separati o marcati con segni grafici, il che ci chiede una lettura molto più attenta, affinché nessuna informazione si perda.

In questo testo si presenteranno e si confronteranno oltre a un tutto generale, alcuni aspetti più specifici scelti riguardo all’opera.

La storia viene raccontata in terza persona, è ambientata a Lisbona, nel 1938, durante il regime dittatoriale salazarista e accompagna il giornalista Pereira, un uomo di vita molto comune, che scriveva della cronaca nera in un gran giornale e che poi ha cambiato lavoro diventando dirigente della pagina culturale del Lisboa, un giornale locale.

Pereira vive sempre la stessa routine; parla dello stesso, mangia lo stesso, lavora, torna a casa, chiacchiera col ritratto di sua moglie e tutto si ripete. Tale ripetizione viene dimostrata dalla forma in cui Tabucchi scrive e costruisce le situazioni. Ci sono degli elementi sempre presenti: il ritratto; la limonata; il sudore; il ventilatore; il cardiologo ecc. e, inoltre, i paragrafi sono veramente lunghi, il che può farci sentire quasi un’angoscia per una vita che non va avanti oppure che è troppo ordinata, noiosa. Pereira dimostra di essere in dubbi in vari momenti. A volte sostiene la storia con sicurezza, a volte non tanto. Un altro elemento importante – forse il più importante – giacché si parla di ciò, è la ripetizione della frase «sostiene Pereira», non sempre in quest’ordine. La frase viene usata al presente, e tutto il resto al passato, quindi, mentre la lettura avanza, abbiamo la sensazione di stare ad accompagnare il giornalista in qualche testimonianza – non solo una testimonianza di chi racconta la propria vita, ma una testimonianza di chi deve sostenere qualche avvenimento. Infatti, a causa degli avvenimenti che ci porta la fine del libro, si percepisce il perché dell’argomentazione e giustificazione dei fatti.

Immagine presa da Internet.*

Il romanzo affronta punti interessantissimi per quanto riguarda la politica. Il paese vive una dittatura e l’opinione pubblica non viene così considerata. Pereira ha paura, odia la polizia, però non si manifesta tanto quanto vorrebbe. Sempre che si trova di fronte ad una situazione delicata in cui qualcuno gli chiede un posizionamento, lui si fa capire vagamente che è contro il regime attuale ma non dice mai il sufficiente. Quello si vede dai rapporti che stabilisce con gli altri personaggi – padre Antonio; Monteiro Rossi, nuovo collega di lavoro; Marta, la ragazza di Rossi; Bruno, il cugino di Rossi; Signora Delgado, chi conosce in treno per Coimbra; ecc.

Questi personaggi appariscono come se per aiutare Pereira a guardare la vita e la situazione politica attuale con più attenzione, ad usare la sua voce giornalistica per parlare del che veramente importa. Potremmo trovare questi fattori in alcuni brani, come con la signora Delgado che gli dice di esprimere il suo libero pensiero e di fare qualcosa per l’Europa; come Rossi, che sempre porta al giornale dei testi pieni di politica; o come Marta, che suggerisce delle personalità politiche che se ne potrebbero andare.

Sembra anche che il clima, lo spazio e le vie definiscono l’atmosfera in cui ci si deve immergere, forse non sempre ma in vari momenti. Per esempio: Pereira sente una frequente nostalgia e abita vicino a Rua da Saudade. La festa salazarista accade in Praça da Alegria. E proprio perché accade la festa, l’Avenida da Liberdade è tranquilla. E così via. Non è che i luoghi abbiano sempre un rapporto positivo o coerente con la storia, cioè, che rappresentino una parte o l’altra; anzi, può darsi che siano abbastanza contrastanti, pure ironici.

Pare che il lettore insieme a Pereira è sempre spinto a non dimenticare quello che succede nel paese. Il giornalista che allora usciva pian piano da una vita isolata dalla realtà, denuncia il regime sul Lisboa dopo aver perso il suo collega alla dittatura.

Tabucchi presenta in maniera intelligente e molto ben cucita quello che succedeva in Portogallo all’epoca, anzi nell’Europa. Autori molto conosciuti e anche polemici vengono citati nei capitoli, il che ci porta una conoscenza ancora più approfondita e contestualizzata. Tutti gli avvenimenti portano le più svariate sensazioni e la memoria di Pereira mentre racconta il passato ci fa vedere che ogni dettaglio è importante – dal più breve dialogo alla più grande tragedia. Infatti, molti sentimenti diversi sono provati dal lettore (così come dai personaggi). Angoscia, paura, nostalgia, tristezza, speranza e la voglia di cambiamenti. Quello Tabucchi è sicuramente riuscito a dimostrare. È come se volessimo, mentre lettori, cambiare la situazione; è come se fossimo in grado di fare qualcosa.

Infine, nonostante la storia affronti avvenimenti passati, quegli avvenimenti vanno ancora discussi proprio perché le persone li hanno vissuti – e li hanno sofferti – e quindi non ci si vuole vivere più le stesse realtà. È un libro abbastanza importante perché si mantenga la memoria dei fatti e la speranza per giorni migliori.

Recensione basata sul libro:
TABUCCHI, Antonio. Sostiene Pereira. Italia: Feltrinelli, 1994.

*descrizioni delle immagini: La prima immagine ci mostra Antonio Tabucchi, un uomo di mezza età, occhi castani e capelli grigi. Tabucchi ha la faccia seria e indossa abiti neri e occhiali da vista. C’è sfocato sullo sfondo un giardino e muri di una casa. La seconda immagine mostra sopra una superficie nera un’edizione del libro Sostiene Pereira appoggiato di lato. Si legge nel dorso in maiuscolo e in nero “Antonio Tabucchi” e poi “Sostiene Pereira”. La copertina è bianca e nella parte superiore si legge il nome dell’autore in rosso e il titolo del libro in verde. Sotto il titolo c’è un’immagine sfocata.

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Epidemia no Brasil: reflexos de uma má gestão em período pandêmico?

29/12/2021 20:11

Mariane Pordeus,
Bolsista Acessibilidade – PET-Letras
Letras Libras

O surpreendente aumento de casos de infecções pelo vírus Influenza, fora de época no Brasil, ocupou os noticiários no último trimestre, deste ano, apontando para uma epidemia vivida em meio a pandemia no Brasil.

Ano após ano, os vírus sofrem mutação genética e ficamos expostos às suas variantes. Prontamente, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) entra em cena disponibilizando em postos de saúde e clínicas privadas uma vacina atualizada para combater a nova ameaça da Influenza à saúde pública. Entretanto, no início da pandemia do novo coronavírus as medidas restritivas barraram esse processo, inibindo, quase que por completo, os casos de gripe pelo vírus influenza. A prevenção à COVID-19 — vírus respiratório com alto índice de transmissão — possuí um impacto muito maior ao vírus da gripe.

Fonte: Folha de S.Paulo.*

Em consequência disso, a população se esqueceu dos surtos de gripe anuais e o sistema imunológico não desenvolveu defesa diante das novas variações, o que resultou positivamente na diminuição de casos e de ocupações de UTI durante esse momento de sobrecarga nos hospitais em decorrência da COVID-19. Entretanto, a ausência de exposição natural ao vírus influenza nos deixou mais vulneráveis à sua nova forma.

Com a flexibilização das medidas de prevenção ao coronavírus, uma velha conhecida retorna: o vírus influenza A Subtipo H3N2 pertencente à uma nova cepa chamada de Darwin, por ter sido descoberta em uma cidade da Austrália com o mesmo nome. A cepa Darwin foi inicialmente identificada no Rio de Janeiro e vem contribuindo com um surto de casos em diversas regiões do Brasil em período atípico, sendo categorizada por especialistas como epidemia.

É importante destacarmos que o número de vacinados contra a gripe, neste ano, foi inferior aos anos anteriores e, também, a conciliação com o intervalo para a vacinação contra a COVID-19 pode ter agravado este baixo índice de adesão à vacina. Além disso, uma estranha ideologia negacionista presente no atual governo, e incentivada por ele, toma forma em confronto à cultura da vacina.

O discurso antivacina do presidente Jair Bolsonaro, contrapõe inclusive a postura que ele próprio defende: o exército na ditadura militar — tendo em vista que foi neste período que o PNI foi criado, com o objetivo de controlar o surto de doenças infecciosas da época. Infelizmente, pela primeira vez desde a sua criação, o PNI sofre ameaças. Em meio à epidemia, à pandemia e aos conflitos políticos, o que resta à população é permanecer fundamentada na cultura da vacinação, consciente de que programas de política pública como o PNI são reconhecidos mundialmente por seu caráter eficaz de controle de doenças infecciosas.

Sendo assim, que não sejamos infectados por essa onda negacionista, mas que estejamos atentos ao rumo dessa batalha biológica entre a humanidade e os vírus que a assolam.  É preciso atenção nacional para que a epidemia brasileira não coincida com a variante Ômicron do novo coronavírus. Esse cenário delicado e incerto resultaria em uma nova pressão aos hospitais e seria praticamente imprevisível e impossível prever o seu real impacto no Brasil.

Por fim, que possamos refletir acerca de nossa conduta individual pelo bem coletivo, afinal a vacinação tem o poder de erradicar enfermidades, mas uma população consciente tem o poder de mudar seu destino!

*descrição: O texto possui duas imagens reunidas. Na parte superior, um gráfico de mapa que indica os estados brasileiros que registraram aumento de casos de gripe. São eles: Amazonas, Acre, Rondônia, Amapá, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Enquanto Ceará, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não registaram aumento de casos. E Roraima, Pará e Piauí não informaram se houve ou não. Na parte inferior, a imagem organiza por estado o número de casos confirmados e mortes por causa da gripe. Respectivamente: Amazonas com 772 casos e nenhuma morte; Bahia com 185 casos e 2 mortes; Espírito Santo com 74 casos e nenhuma morte; Minas Gerais com 67 casos e nenhuma morte; Rio de Janeiro com 47 casos e 7 mortes; Pernambuco com 43 casos e nenhuma morte; Amapá com 37 casos e nenhuma morte; Goiás com 32 casos e nenhuma morte; Paraná com 20 casos e uma morte; Paraíba com 13 casos e nenhuma morte; Rio Grande do Sul com 13 casos e nenhuma morte; Santa Catarina com 7 casos e nenhuma morte; Ceará com um caso e nenhuma morte e Maranhão com um caso e nenhuma morte.

 

 

 

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