Jogos Paralímpicos Tóquio 2021: ainda há mais emoção por vir!
Ana Maria Santiago,
Bolsista de Acessibilidade – PET-Letras
Letras Português
Não faz muito tempo que a rotina de milhares de pessoas foi invadida pela transmissão do maior evento esportivo do mundo, os Jogos Olímpicos Tóquio 2021, ocorridos de 23 de julho a 08 de agosto de 2021, na capital do Japão. No entanto, a emoção única de acompanhar esportes diferentes e vibrar por atletas — que, de quase desconhecidos, passam a quase heróis no espaço de poucas horas —, provocando uma gama de emoções intensas, ainda não acabou. Vem aí, a partir dessa semana, os Jogos Paralímpicos Tóquio 2021!
Foram os ativistas da comunidade surda que, conforme os escassos registros disponíveis, deram o ponto de partida para as competições desportivas de pessoas com deficiência, com a fundação do Sports Club for the Deaf, em Berlim, no ano de 1888. Em 1924, federações de vários países enviaram atletas à Paris para a realização dos Primeiros Jogos Internacionais do Silêncio (First International Silent Games) que marcam o nascimento dos Jogos Mundiais para os Surdos (World Games for the Deaf), mais tarde reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional como as Olimpíadas dos Surdos.
No contexto do pós segunda guerra mundial, o esporte surgiu como forma de reabilitação para os veteranos no Spinal Injuries Centre (Centro de Lesionados Medulares) no Hospital de Stoke Mandeville, introduzido pelo então diretor, Ludwing Guttmann, considerado uma espécie de patrono dos jogos paralímpicos pelo seu importante envolvimento e entusiasmo com a causa. A ideia foi crescendo e, em 1948, foi promovido o primeiro Stoke Mandeville Games, nos jardins do próprio hospital, passando a ser um evento anual.
A partir daí, o esporte para pessoas com deficiência foi paulatinamente deixando de ser focado em apenas reabilitação e ganhando um maior aspecto de competição, com mais países se envolvendo na organização e oficialização. Considerando a estrutura capacitista da sociedade, que implica em uma série de dificuldades adicionais, como falta de investimento e patrocínio, o caminho foi, e ainda é, cheio de obstáculos. Os primeiros Jogos oficialmente reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional como Paralímpicos ocorreram apenas em 1988 e o Comitê Paralímpico Brasileiro foi criado em 1995 (HILGEMBERG, 2019). Fica o convite para você pensar e buscar um pouco mais sobre essa história e os tantos fatores que a tornam tão interessante.
Fonte: Logo dos jogos Paralímpicos*
O esporte, sobretudo o de alto rendimento, tradicionalmente é um espaço de celebração dos corpos de um certo padrão, os considerados fortes, bonitos e capazes. As pessoas com deficiência, nesse cenário, são vistas como fracas e sem habilidade por não corresponderem a essa corponormatividade. No entanto, esses paradigmas são subvertidos todos os dias e o esporte não precisa ser só reabilitação ou lazer para as pessoas com deficiência, tanto é que já ocupa o espaço de competição e meio de ganhar a vida profissionalmente para muitos. Ainda estamos longe de obter para os paratletas o mesmo nível de reconhecimento que recebem os atletas sem deficiência, mas estamos em movimento.
Atualmente, 22 modalidades integram as paralimpíadas, sendo elas Atletismo – Badminton – Basquetebol em cadeira de rodas – Bocha – Canoagem – Ciclismo (estrada e pista) – Esgrima em cadeira de rodas – Futebol de 5 – Goalball – Hipismo – Judô – Levantamento de peso – Natação – Remo – Rugby em cadeira de rodas – Taekwondo – Tênis de mesa – Tênis em cadeira de rodas – Tiro – Tiro com arco – Triatlo – Voleibol sentado, envolvendo pessoas com deficiência física, visual e intelectual, além das equipes e atletas sem deficiência, como corredores guia. Nesta edição, a delegação do Brasil é composta por 253 atletas, com representantes em 20 modalidades, além de grande expectativa de bons resultados. Os jogos serão transmitidos no canal SporTV, de 24 de agosto a 05 de setembro.
Para finalizar, um incentivo veemente e algumas dicas para você acompanhar, e aproveitar ao máximo, os Jogos Paralímpicos de Tókio. Lembre-se que é uma oportunidade sensacional para ver (e viciar em) esportes diferentes, além de incríveis, e o tamanho e beleza da nossa diversidade funcional. Mais importante, lembre-se que se admirar com alguém conseguindo fazer algo que você julgava impossível não precisa virar pornô de inspiração. Quando isso acontecer, aproveite para pensar sobre o motivo de você não achar possível, em primeiro lugar. Não desrespeite os atletas e sua carga exaustiva de treino dizendo que eles são super-heróis. E, por fim, torça conosco pelo Brasil!
A festa paralímpica vai começar.
* descrição comentada da imagem: O emblema paralímpico tem a forma de uma coroa de louros em um padrão de xadrez índigo. O design visa “expressar uma elegância refinada e sofisticação exemplificada pelo Japão”. O desenho na parte superior traz esse louro formado por quadrados e retângulos brancos e azuis dispostos ordenadamente formando uma imagem circular com a parte central superior aberta, simulando a coroa de louros. Logo, abaixo, temos em letras azuis maiúsculas: TOKYO 2020, e na linha seguinte, em letras menores, também azuis: PARALIMPYC GAMES. Abaixo está o símbolo dos Jogos Paralímpicos, composto por três “agitos” (símbolo que expressa o movimento em linhas assimétricas), das cores vermelha, azul e verde, da esquerda para direita, já que estas cores fazem parte da maioria das bandeiras de países no mundo. Os “agitos” estão apontando para um único ponto, em um campo branco.
Referências
Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: <https://www.cpb.org.br> Acesso em: 15 de Ago. de 2021.
HILGEMBERG, T. Jogos Paralímpicos: História, Mídia e Estudos Críticos da Deficiência. Recorde – Revista de História do Esporte, v. 12, p. 1-19, 2019.