Chamada para publicação na Preguiça: Revista (des)acadêmica do PET-Letras (4ª edição)

30/08/2021 11:53

 

Pensando em todo potencial criativo engavetado pela vida acadêmica, a Revista Preguiça propõe um lugar onde possam ser publicados pequenos textos literários de estudantes da UFSC e de autores(as) externos(as) à Universidade. Textos para serem lidos nos momentos de preguiça, nos breves ócios diários, nos intervalos obrigatórios, nos espreguiçamentos do dia. Textos para serem produzidos com preguiça, breves, de modo que as delongas sejam nossas e não deles. Textos preguiçosos por natureza, pela simples ausência de compromisso.

Prazo para submissão de textos: de 30/08/2021 a 12/09/2021.

Inscrição através do seguinte formulário: https://forms.gle/bQ1hF91aZELfzeU56

 

Ilustração por Lara Norões Albuquerque

#fotodescrição: Logo da Revista Preguiça, que consiste em uma sequência de ilustrações em forma similar a de aquarela de três rostos do bicho-preguiça. Da esquerda para a direita as ilustrações passam de tons mais escuros para tons mais claros, todas em escala de cinza.

PETLitterārium: vivências poéticas (volume 1)

27/08/2021 10:22

Este livro foi construído pelo trabalho, união e paixão de muitas pessoas diferentes, sendo a manifestação da multiplicidade de talentos e vivências de cada um de nós, além de conter em si os bons momentos que nos trouxe. […] foi idealizado e criado a partir das discussões realizadas no âmbito do PET-Letras UFSC no ano de 2020 e se desenvolveu de forma remota em meio a pandemia da COVID-19 […] Por fim, nosso maior desejo é que este livro contribua de alguma forma com um mundo melhor, mais alegre e mais justo, incentivando a produção literária e o prazer de sua leitura!
Equipe do PET-Letras UFSC
(Carlos Henrique Rodrigues e Ana Maria Santiago).

Em março de 2020, em decorrência da pandemia da COVID-19 e, consequentemente, da suspensão de atividades presenciais na Universidade Federal de Santa Catarina, nós, do Programa de Educação Tutorial dos Cursos de Letras, PET-Letras UFSC, reorganizamos nossas atividades para ocorrerem remotamente e, assim, mantermos em funcionamento nossos projetos de ensino, de pesquisa e de extensão.

Foi nesse contexto que o projeto, “PETLitterārium: leitura, prazer e (re)flexão”, foi idealizado e criado, como parte do projeto estruturante: PET-Grupos: interação e estudo. Em sua concepção original, a equipe pretendia criar um espaço de produção literária que pudesse ser compartilhada e discutida coletivamente. O projeto efetivou-se por meio de seis fases distintas: (1) etapa de produção; (2) etapa de compartilhamento; (3) etapa de leitura; (4) etapa de discussão; (5) etapa de revelação da autoria; (6) etapa de aperfeiçoamento e finalização dos textos.

O projeto incentivou os petianos e as petianas, estudantes dos cursos de Letras da UFSC (Português, Libras, Espanhol, Francês, Alemão, Inglês e Italiano) a explorarem sua criatividade na produção de poemas, contos e crônicas, os quais resultaram no livro PETLitterārium: vivências poéticas (volume 1), o qual é composto por três partes: (1) Poemas, com textos organizados em forma de verso, seguindo diferentes estilos e propostas; (2) Traduções, com aqueles escritos em língua estrangeira ou em escrita de sinais e que estão acompanhados por sua tradução para o português; e (3) Narrativas, com contos e crônicas.

Capa do livro**

O livro foi prefaciado pela profa. Dra. Eliane Debus e reúne mais de cinquenta textos, a maioria de autoria dos integrantes do PET, assim como conta com a participação de alguns convidados: um professor do Cursos de Letras Libras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UFSC, João Paulo Ampessan; duas doutorandas do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UFSC, Vitória Tassara e Ingrid Bignardi; um doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UDESC, Rogers Rocha; um servidor da Universidade Federal do Paraná e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Jonatas Medeiros; um professor do Instituto Federal do Sul de Minas, campus Inconfidentes, Davi Medeiros; e uma servidora do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, campus Juiz de Fora, Daniele Fabre.

Em breve, será realizado um Sarau On-line para o lançamento do livro! Mas você já pode ter seu livro nessa fase de pré-lançamento!

Baixe gratuitamente o seu e-book, clique aqui!

**DESCRIÇÃO DA CAPA DO LIVRO PARA TORNÁ-LA ACESSÍVEL*: A capa traz uma explosão, do centro para as extremidades, produzida com pó em diversas cores formando uma nuvem de fumaça colorida sobre um fundo preto com escritos centralizados e em letra branca. Tons de amarelo, laranja, vermelho, bordô, rosa, magenta, lilás, roxo, azul, ciano, verde, turquesa, marrom, bege, e suas variações, se misturam. No alto da página, está escrito: Carlos Henrique Rodrigues; na próxima linha: Ana Maria Santiago; e na seguinte, em letras menores e minúsculas: organizadores. Logo abaixo, mais próximo ao centro da página, o título, destacado e em letras maiores: PETLitterārium; na linha seguinte, em letras menores e minúsculas: vivências poéticas, com um pequeno desnível entre essas duas palavras; e na linha abaixo, em letras ainda menores: volume 1. Na parte inferior da página, há a logo da Editora Insular. Na contracapa, observa-se a mesma imagem da explosão, mas de ponta-cabeça, localizada na parte mais superior. Na metade inferior, há um trecho da apresentação do livro em letras brancas. E, logo abaixo, o ISBN da obra. Na 1ª orelha, sobre um fundo vermelho e em letras brancas, localiza-se esta descrição. Na 2ª orelha, sobre o mesmo fundo e cor de letra, estão os nomes dos participantes da obra em ordem alfabética, um em cada linha, sob o título: PARTICIPANTES DO VOLUME 1. Na lombada, de fundo também vermelho, encontra-se, em letras brancas, na parte central: PETLitterārium vivências poéticas; na parte superior: volume 1; e na inferior: a logo da editora Insular. * utilize a descrição para tornar a imagem da capa acessível

Já teve a oportunidade de conhecer “Gaibéus” de Alves Redol?

26/08/2021 20:28

Andréia Gomes Araújo,
Bolsista PET-Letras
Letras-Português

O livro Gaibéus, de Alves de Redol (1979), representa o rompimento de uma literatura que, até o momento, se apresentava de forma linear e padronizada dentro de um conceito de arte automatizada. Dito de outro modo, Alves revolucionou conceitos artísticos e abriu caminhos para que a arte fosse questionada em relação às suas limitações. Alves defendia que a arte deveria ter a função de favorecer o homem, e isso para a arte, segundo os vanguardistas de 1940 (em destaque os Presencista), afastaria a beleza artística na literatura; por isso, Gaibéus não poderia ser considerado arte.

Fonte: Imagem da Internet.*

O grande precursor do neorrealismo (nome dado a esta nova função) enfrentou também diversas dificuldades em relação à publicação da obra, pois, na época, se encontrava em um meio em que o poder fascista predominava, meio em que não era permitida a liberdade de expressão, principalmente se o assunto em questão fosse sobre política ou sobre causas sociais vividas pela sociedade mais fraca daquela época. António Alves de Redol não conseguiu vencer a censura, mas de alguma forma conseguiu driblar o poder que representava a ridicularizarão humana, apesar de que mais tarde teve a obra caçada.

Uma ruptura nos permite pensar o que é arte, defender a ruptura é defender que a arte deve sair do tradicionalismo e do arcaísmo, desta forma se tornando cada vez mais inovadora e interessante. O artista tem que mostrar o que tem de mais bonito de dentro para fora, usando técnicas mais humanas, que transpareçam a sua alma e sua criatividade. Repetir os outros, repetir os modelos é o mesmo que matar a criatividade, copiar e colar é o mesmo que dizer: “não sou capaz de inovar”.

Por isso, muitas vezes, temos que delirar em nossos pensamentos, para assim conseguirmos sair de uma linha de produção repetitiva, devemos estabelecer nossos próprios critérios com relação ao que seja arte e, de forma livre, usarmos a criatividade e deixar transparecer o que pensamos e sentimos, em tudo que viermos a produzir, é isso que o Alves de Redol trouxe com seu livro Gaibéus: o que ele pensa e sente no que se refere ao poder fascista e à forma como eram tratados, pelos coronéis, aqueles das classes menos favorecidas. Apesar de ter escrito seu romance de forma implícita devido à repressão, não deixou de passar, nas entrelinhas, a sua essência humana.

Fonte: Imagem da Internet.**

Dentro das muitas questões que podem ser abordadas no livro Gaibéus, destaco uma das principais: a preocupação do autor pelas causas sociais que, anteriormente, já vinham sendo abordadas em outros de seus escritos, mas que se concretizou com o romance Gaibéus. A preocupação social do autor fez com que ele trouxesse, para suas obras, personagens marginalizadas: que estão sempre excluídos por um capitalismo hipócrita e imbecil; que tratam a própria raça com desprezo e de forma desumana; e que igualam trabalhadores humildes aos animais e às máquinas.

Alves Redol foi muito importante para conscientização dos mais humildes que passavam pela desumanização e pelo tratamento animalesco dos mais poderosos. Muitos dos trabalhadores desta época não sabiam ler e, por isso, não tinha acesso à mensagem passada pelo autor. Alguns até conseguiam com que outros lessem para eles, mas uma minoria tinha este privilegio. Também não sei se adiantaria, pois, muitos dependiam de seu trabalho escravo para sobreviver, ganhavam pouco, mas sem esse pouco, não se manteriam vivos; sendo assim, se sujeitavam a situações humilhantes e se mantinham em silêncio, aceitando todo tipo de tratamento. E, por não terem escolha, sobreviviam entre a vida e a morte.

Referências:

REDOL, Alves. Gaibéus. 15. Ed. Lisboa: Publicações Europa-América, 1979. 348p.

Descrição*: Fotografia do autor Alves de Redol. É uma imagem que mostra ele do peito para cima, olhando de forma concentrada para seu lado esquerdo. É um homem banco e com face magra. Usa um casaco verde e uma boina preta.

Descrição**: Capa do livro “Gaibéus” de Alves de Redol. Na imagem, um homem em desenho passando a ideia um homem sofrido, carregando seus pertences nas costas, com um pedaço de pau que suporta uma trouxa de roupas. Está descolorido, com uma cor vermelha ao fundo formando um quadro a sua volta. Acima da imagem, o nome do autor: Alves de Redol, abaixo, o nome do livro: Gaibéus, e, em seguida, está escrito: Romance,  2 edição, livraria Portugalia Lisboa.

Tags: comunicaPET

Jogos Paralímpicos Tóquio 2021: ainda há mais emoção por vir!

23/08/2021 20:12

Ana Maria Santiago,
Bolsista de Acessibilidade – PET-Letras
Letras Português

Não faz muito tempo que a rotina de milhares de pessoas foi invadida pela transmissão do maior evento esportivo do mundo, os Jogos Olímpicos Tóquio 2021, ocorridos de 23 de julho a 08 de agosto de 2021, na capital do Japão. No entanto, a emoção única de acompanhar esportes diferentes e vibrar por atletas — que, de quase desconhecidos, passam a quase heróis no espaço de poucas horas —, provocando uma gama de emoções intensas, ainda não acabou. Vem aí, a partir dessa semana, os Jogos Paralímpicos Tóquio 2021!

Foram os ativistas da comunidade surda que, conforme os escassos registros disponíveis, deram o ponto de partida para as competições desportivas de pessoas com deficiência, com a fundação do Sports Club for the Deaf, em Berlim, no ano de 1888. Em 1924, federações de vários países enviaram atletas à Paris para a realização dos Primeiros Jogos Internacionais do Silêncio (First International Silent Games) que marcam o nascimento dos Jogos Mundiais para os Surdos (World Games for the Deaf), mais tarde reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional como as Olimpíadas dos Surdos.

No contexto do pós segunda guerra mundial, o esporte surgiu como forma de reabilitação para os veteranos no Spinal Injuries Centre (Centro de Lesionados Medulares) no Hospital de Stoke Mandeville, introduzido pelo então diretor, Ludwing Guttmann, considerado uma espécie de patrono dos jogos paralímpicos pelo seu importante envolvimento e entusiasmo com a causa. A ideia foi crescendo e, em 1948, foi promovido o primeiro Stoke Mandeville Games, nos jardins do próprio hospital, passando a ser um evento anual.

A partir daí, o esporte para pessoas com deficiência foi paulatinamente deixando de ser focado em apenas reabilitação e ganhando um maior aspecto de competição, com mais países se envolvendo na organização e oficialização. Considerando a estrutura capacitista da sociedade, que implica em uma série de dificuldades adicionais, como falta de investimento e patrocínio, o caminho foi, e ainda é, cheio de obstáculos. Os primeiros Jogos oficialmente reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional como Paralímpicos ocorreram apenas em 1988 e o Comitê Paralímpico Brasileiro foi criado em 1995 (HILGEMBERG, 2019). Fica o convite para você pensar e buscar um pouco mais sobre essa história e os tantos fatores que a tornam tão interessante.

Fonte: Logo dos jogos Paralímpicos*

O esporte, sobretudo o de alto rendimento, tradicionalmente é um espaço de celebração dos corpos de um certo padrão, os considerados fortes, bonitos e capazes. As pessoas com deficiência, nesse cenário, são vistas como fracas e sem habilidade por não corresponderem a essa corponormatividade. No entanto, esses paradigmas são subvertidos todos os dias e o esporte não precisa ser só reabilitação ou lazer para as pessoas com deficiência, tanto é que já ocupa o espaço de competição e meio de ganhar a vida profissionalmente para muitos. Ainda estamos longe de obter para os paratletas o mesmo nível de reconhecimento que recebem os atletas sem deficiência, mas estamos em movimento.

Atualmente, 22 modalidades integram as paralimpíadas, sendo elas Atletismo – Badminton – Basquetebol em cadeira de rodas – Bocha – Canoagem – Ciclismo (estrada e pista) – Esgrima em cadeira de rodas – Futebol de 5 – Goalball – Hipismo – Judô – Levantamento de peso – Natação – Remo – Rugby em cadeira de rodas – Taekwondo – Tênis de mesa – Tênis em cadeira de rodas – Tiro – Tiro com arco – Triatlo – Voleibol sentado, envolvendo pessoas com deficiência física, visual e intelectual, além das equipes e atletas sem deficiência, como corredores guia. Nesta edição, a delegação do Brasil é composta por 253 atletas, com representantes em 20 modalidades, além de grande expectativa de bons resultados. Os jogos serão transmitidos no canal SporTV, de 24 de agosto a 05 de setembro.

Para finalizar, um incentivo veemente e algumas dicas para você acompanhar, e aproveitar ao máximo, os Jogos Paralímpicos de Tókio. Lembre-se que é uma oportunidade sensacional para ver (e viciar em) esportes diferentes, além de incríveis, e o tamanho e beleza da nossa diversidade funcional. Mais importante, lembre-se que se admirar com alguém conseguindo fazer algo que você julgava impossível não precisa virar pornô de inspiração. Quando isso acontecer, aproveite para pensar sobre o motivo de você não achar possível, em primeiro lugar. Não desrespeite os atletas e sua carga exaustiva de treino dizendo que eles são super-heróis. E, por fim, torça conosco pelo Brasil!

A festa paralímpica vai começar.

* descrição comentada da imagem: O emblema paralímpico tem a forma de uma coroa de louros em um padrão de xadrez índigo. O design visa “expressar uma elegância refinada e sofisticação exemplificada pelo Japão”. O desenho na parte superior traz esse louro formado por quadrados e retângulos brancos e azuis dispostos ordenadamente formando uma imagem circular com a parte central superior aberta, simulando a coroa de louros. Logo, abaixo, temos em letras azuis maiúsculas: TOKYO 2020, e na linha seguinte, em letras menores, também azuis: PARALIMPYC GAMES. Abaixo está o símbolo dos Jogos Paralímpicos, composto por três “agitos” (símbolo que expressa o movimento em linhas assimétricas), das cores vermelha, azul e verde, da esquerda para direita, já que estas cores fazem parte da maioria das bandeiras de países no mundo. Os “agitos” estão apontando para um único ponto, em um campo branco.

Referências

Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: <https://www.cpb.org.br> Acesso em: 15 de Ago. de 2021.

HILGEMBERG, T. Jogos Paralímpicos: História, Mídia e Estudos Críticos da Deficiência. Recorde – Revista de História do Esporte, v. 12, p. 1-19, 2019.

Tags: comunicaPET

Literatura, Ancestralidade e Resistência

11/08/2021 00:02

Mirelle Araujo Ehrardt,
Bolsista PET-Letras
Letras – Alemão

Ao analisar brevemente a história do Brasil, é possível perceber com facilidade a exploração e perseguição a que os povos originários foram expostos, assim como ocorreu em outros países latino-americanos. Desde a chegada de expedições marítimas às terras que hoje compõem o Brasil, a invasão europeia levou uma série de flagelos para esses povos, entre os quais podemos citar rapidamente a exploração dos territórios, a violência e o extermínio de diversas etnias, bem como a exploração de mão de obra por meio de escravização, abusos sexuais e desrespeito às culturas, línguas e crenças desses povos.

Infelizmente, na atualidade, o ataque às populações indígenas ainda continua seguindo um projeto de genocídio e extermínio, que visa à aculturação desses povos. Tal projeto é permeado hoje pela invasão de garimpeiros e grileiros às terras indígenas já demarcadas, intensificando-se assim o desmatamento, e pela crença de que os povos tradicionais passam por um processo de transição até a assimilação da cultura ocidental dominante, o qual pode ser exemplificado pelo preconceito voltado aos indígenas que vivem em meios urbanos, frequentam universidades etc. Além disso, como já debatido no ComunicaPET 43, do mesmo modo que as comunidades e os povos indígenas estão diminuindo, muitas línguas indígenas também encontram-se em processo de extinção. Somado a isso, como também já explanado no ComunicaPET 31, a pandemia da Covid-19 e as dificuldades de acesso à saúde e a atendimentos médicos de qualidade contribuíram ainda mais para baixas na população indígena.

Fonte: Bicho Coletivo*

É nesse contexto de engajamento e resistência de minorias étnicas, culturais e linguísticas que a literatura indígena brasileira surge, a partir da década de 1990, alinhando-se ao movimento indígena brasileiro, na busca por visibilidade e protagonismo político que permitam o reconhecimento de suas reinvindicações. Nesse sentido, é importante destacar que a escrita de literatura pelos próprios indígenas se diferencia e se distancia muito das versões estereotipadas, e, por vezes, preconceituosas, dos povos tradicionais encontradas na literatura brasileira escrita por não indígenas, assim como nas lendas folclóricas amplamente divulgadas.

Segundo Peres (2018), “a forma como o indígena foi representado na literatura construiu e consolidou um imaginário, desdobrando, ainda nos dias de hoje, aspectos negativos: reservou-se e impôs-se o espaço da floresta e o tempo do século XVI como núcleos para a compreensão do indígena” (p. 109). Já para Daniel Munduruku (2016), precursor e importante escritor indígena de literatura infantil e infanto-juvenil, a literatura escrita por indígenas “traz um olhar sobre suas próprias sociedades e culturas” que não está contaminado pela perspectiva branca e eurocêntrica, consistindo-se em um ato de autoafirmação e autoexpressão identitária desses povos. Ele defende que esta forma de literatura não deve ser apenas adicionada à categoria de “literatura brasileira”, visto que fazer isso seria como “dividir com todos aqueles que escreveram, escrevem e escreverão coisas medíocres a respeito de nossa gente, um status que não foi construído por eles”.

Seguindo essa perspectiva, podemos destacar algumas características que diferenciam a literatura indígena de outras obras da literatura nacional. Dorrico et al. (2018) cita, como uma dessas características, a correlação entre literatura e política, que pode ser lida como crítica social e ao presente e como instrumento político para resistência desses povos. Fora isso, podemos perceber também, através de textos que misturam crenças e mitos ancestrais com ficção e relatos bibliográficos dos próprios escritores, as marcas da Ancestralidade, de uma poética que se constrói por meio da relação do indivíduo com a coletividade e as histórias passadas de geração em geração por meio da oralidade, a qual recebe o nome de “poética do eu-nós” (PERES, 2018). Dessa forma, a literatura escrita por indígenas também tem forte relação com a transmissão da Tradição ancestral desses povos, pois, ao ler o texto, o leitor tem a sensação de escutar um grande sábio (Ancião) narrando a história. Assim, as crenças e personagens míticos fazem-se presentes promovendo a preservação da Memória ancestral e cultural dos povos originários.

Fonte: Arte Lunetas **

Ficou interessado? Então aqui vai uma pequena lista com recomendações de alguns autores indígenas: Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Ely Macuxi,  Olívio Jekupé, Yaguarê Yamã, Kaká Werá e Márcia Kambeba. Ao clicar nos links inseridos nos nomes, você pode assistir a algumas entrevistas desses escritores no evento Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e Realizadores Indígenas. Não deixe de conferir!

Referências

DORRICO, J. et al. Literatura Indígena Brasileira Contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre: Editora Fi, 2018.

MUNDURUKU, Daniel. Literatura x Literatura Indígena: consenso? A produção de literatura dos indígenas brasileiros. Blog Daniel Munduruku, 2016. Disponível em: http://danielmunduruku.blogspot.com/2016/02/literatura-x-literatura-indigena.html

PERES, Julie S. D. A Leitura da Literatura Indígena: para uma cartografia contemporânea. Revista Igarapé, Porto Velho (RO), v.5, n.2, p. 107-137, 2018.

*Fotodescrição 1: ilustração em fundo bege de um jovem com um livro aberto nas mãos, do qual partem ramificações e folhas. O rapaz tem cabelo preto e liso na altura dos ombros, veste uma roupa verde clara que deixa seu peito exposto, mostrando pinturas corporais pretas típicas de povos indígenas. No rosto também aparecem pinturas, com destaque para a pintura vermelha na região dos olhos e lateral do rosto.

** Fotodescrição 2: foto de Daniel Munduruku. Ao fundo, vê-se uma estante branca com vários livros. Ele veste uma blusa rosa, usa um colar indígena com pedras pretas redondas e pedras brancas, com o formato mais longo e pontudo, além de portar uma faixa vermelha e bege na testa. Ele está sorrindo e segura um livro aberto nas mãos. Seu cabelo liso e preto fica na altura dos ombros.

Tags: comunicaPET

E aí, você já parou para pensar sobre pobreza menstrual?

26/07/2021 18:00

Moara Zambonim,
Letras – Português
Bolsista PET-Letras UFSC

Você sabia que uma pessoa que menstrua gasta em média cinco absorventes por dia? E isso dá, mais ou menos, 25 absorventes por período menstrual? Esses valores são uma média entre as pessoas que menstruam no Brasil, mas o tempo de sangramento pode ser ainda maior. Você já pensou que nada disso é de graça? Na maioria dos estados, você não pode ter acesso gratuito a esses produtos essenciais de higiene.

Recentemente, alguns estados começaram a investir na compra de absorventes descartáveis ou íntimos para distribuir nas escolas, como é o caso de São Paulo. Outros estão com processos tramitando na justiça para fazer o mesmo, como é o caso de Mato Grosso. Mas nem é preciso dizer que esses artigos não constituem luxo e, sim, extrema necessidade, e, portanto, deveriam ser distribuídos amplamente em postos de saúde, metrôs, entre outros, da mesma forma que ocorre com preservativos.

Fonte: imagens da internet em colagem feita pela autora* (imagem A, B e C)

Refletindo sobre isso, eu e uma amiga resolvemos fazer algumas contas e vimos que, com uma média de 45 reais, é possível comprar um pacote com 100 absorventes descartáveis no atacado. E com essa quantidade é possível ajudar no período menstrual de quatro pessoas. Então, com R$ 12,50 (doze reais e cinquenta centavos), já é possível cobrir os gastos de um ciclo menstrual, caso a pessoa escolha destinar esse valor a esse cuidado com a higiene.

Com base nesses cálculos, nos organizamos para receber doações em dinheiro e reverter na compra de produtos para higiene menstrual, como papel higiênico, sabonete e absorventes. Pensamos que nem conseguiríamos arrecadar muito dinheiro ou que não faríamos tanta diferença assim. Contudo, ao fim de um mês de arrecadação, conseguimos uma quantia muito maior: R$ 1.500, um mil e quinhentos reais! E, de pouquinho em pouquinho, vamos conseguindo nossas metas. Já imaginou se você organiza uma campanha dessas também? A quantidade de pessoas que podem ser ajudadas? Falamos um pouquinho sobre essas reflexões no Instagram, clique aqui para assistir ao vídeo. Nele, explicamos o porquê resolvemos abrir a nossa campanha e como as pessoas poderiam contribuir.

E, também, ficamos pensando que muitas pessoas nem percebem que não são apenas mulheres que menstruam. A negligência, se já tão grande quando tratamos de mulheres cis, fica ainda mais evidente quando se trata de outros corpos. Inclusive pensando nisso é que a Pantys, uma marca que produz calcinhas absorventes reutilizáveis, lançou uma cueca absorvente, uma parceria com homens trans que falam de seus ciclos menstruais.

A vergonha e o tabu que envolvem esse assunto, somados à não existência de um olhar atento para as questões envolvendo a menstruação e, ainda, a falta de políticas públicas efetivas acabam se tornando aliados fortes para a manutenção dessa desigualdade.

* descrição da imagem: A imagem é uma montagem com três quadros, formando um cartaz em tons pastéis de lilás e roxo. No lado esquerdo, vemos uma pessoa chorando encolhida. Em cima, há um balãozinho escrito “você sabe o que é pobreza menstrual?” No lado direito, vemos vários artigos relacionados às necessidades para os cuidados menstruais: uma torneira com uma gota de água, um coletor menstrual, um absorvente interno, um vaso sanitário e um absorvente descartável. Logo abaixo, vemos duas cédulas de dinheiro verdes, com um X sobre elas e um pequeno absorvente cor de rosa próximo ao dinheiro.

Tags: comunicaPET

Por que ler Terra Sonâmbula?

19/07/2021 13:06

Ananda Gomes Henn,
Graduanda em Letras – Português
Bolsista PET-Letras UFSC

            No livro Terra Sonâmbula (1992), do moçambicano Mia Couto, temos contato com um mundo de sonhos que se mistura a uma realidade caótica, de guerras e devastação. Ambientada no Moçambique pós-independência, arrasado pela guerra civil que se estendeu por dez anos, a narrativa começa com o velho Tuahir e o menino Muindinga, que, depois de deixarem o campo de refugiados onde se encontraram, empreendem uma longa caminhada por uma “estrada morta”, onde “[…] o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte” (COUTO, p. 9).

Fonte: Woo! Magazine*

            Essa estrada se faz presente durante todo o livro, infinito caminho do qual os dois personagens não escapam, embora se transfigure no decorrer da história, com sua paisagem mudando toda noite enquanto velho e menino dormem — no fim, percebem que não são eles que passam por ela, mas ela que passa por eles: “(e)ra o país que desfilava por ali, sonhambulante” (COUTO, p. 133).

            Uma das características do livro que mais chama atenção é a circularidade da narrativa. Esse é um elemento estrutural do livro, remetendo às narrativas orais da tradição africana. Outro elemento estrutural interessante é a divisão do livro entre dois percursos narrativos, que eventualmente se conectam através da circularidade da história — há dois narradores: um, em terceira pessoa, que narra de forma onisciente a história das personagens Tuahir e Muidinga; e outro, Kindzu, que em primeira pessoa conta a própria história. Nas duas narrativas esses narradores cedem o poder da palavra a outras personagens que expõem seus pontos de vista, provocando o efeito da polifonia — tão cara à modernidade, mas tradicional das narrativas orais africanas.

Fonte: Companhia das Letras**

            Outro elemento central é, certamente, o imaginário africano, moçambicano, que se faz presente no livro. Esse é um imaginário de convívio com os mortos, de magias, de referências da natureza que não são estáticas, de comportamentos atribuídos à terra, à água, aos animais, que têm uma relação intrínseca com a oralidade, com as crenças populares que perpassam todo dia a dia das pessoas. Existe, portanto, atrás do “mágico” do livro, toda uma tradução cultural de elementos mágicos que não são fantasia, algo que está sendo transposto para a realidade, mas, sim, algo real que está presente no cotidiano daquelas pessoas, que pertencem a uma cultura popular.

            O romance se destaca, portanto, como uma obra prima singular do século XX — e de todos os séculos — sobre personagens que se encontram dando voltas sem chegar a lugar nenhum porque não há aonde chegar, em uma terra esgotada pela guerra e pela violência gratuita. Fazendo uso do português colonizador em seu estado mais belo e poético, Mia Couto escreve uma história Moçambicana sobre uma terra e sobre um povo que carrega — em sua persistente caminhada — a esperança e o desejo por um final onde “[…] restará uma manhã como esta, cheia de luz nova [em que] se escutará uma voz longínqua como se fosse uma memória de antes de sermos gente. […] Essa voz nos dará força de um novo princípio e, ao escutá-la, os cadáveres sossegarão nas covas e os sobreviventes abraçarão a vida com o ingênuo entusiasmo dos namorados” (COUTO, p. 194). Um final-começo.

            Leia este livro!! Além disso, o filme que adapta o livro, lançado em 2007, está disponível na íntegra no Youtube.

 

Referências:

COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015.

*Descrição 1: Desenho reproduzindo uma cena do filme Terra Sonâmbula, retratando o menino Muindinga e o velho Tuahir em pé, cara-a-cara, olhando um para o outro. No fundo o céu em tinta azul se contrasta com a terra, amarela, e entre eles algumas árvores estão representadas de forma abstrata. O menino e o velho são negros, sendo que Tauhir apresenta uma barba espessa e cinzenta. Ambos estão vestindo camisas em tons terrosos; o velho também utiliza um boné estilo cap militar e carrega duas bolsas de ombro.

**Descrição 2: Imagem da capa do livro Terra Sonâmbula. A imagem retrata o desenho de um ônibus ao lado de uma árvore, ambos em preto, como se a cena fosse à noite, e ao fundo um azul profundo representando o céu ao anoitecer. Os troncos da árvore contêm bolas laranja, como se representando luzinhas, e no mesmo tom de laranja está o nome do autor, Mia Couto, no centro inferior da capa. Acima, no tronco da árvore, lê-se “Terra Sonâmbula” em letras garrafais em branco. Abaixo do título, a logomarca da editora Companhia das Letras.

Tags: comunicaPET

RESULTADO: CURSOS DE LÍNGUAS – PET-Idiomas On-line 2021.2

15/07/2021 21:29

O PET-Letras torna público o resultado do sorteio das vagas para a edição remota dos cursos de línguas do PET-Idiomas. No dia 16/07/2021, cada professor(a) entrará em contato com sua turma via e-mail e será disponibilizado o link para acesso à sala virtual. A confirmação da matrícula será no 1º dia de aula.

 

Para conferir a lista com os(as) alunos(as) sorteados(as), CLIQUE AQUI.

“Manhãs de Setembro”, um retrato necessário.

14/07/2021 20:28

Mayumi Motta Esmeraldino,
Bolsista PET Letras
Letras – Francês

A nova série da plataforma digital Amazon PrimeManhãs de Setembro” estreia a cantora Liniker nas telas cinematográficas e nos envolve em um retrato sensível de uma realidade brasileira ainda muito velada.

Cassandra (Liniker) é a personagem central da trama e nos apresenta uma mulher trans em busca da realização de seus sonhos na grande capital de São Paulo. Tudo parece estar percorrendo caminhos de avanço na vida da personagem, até que uma surpresa inesperada bate à sua porta: Leide (Karine Telles), mulher com quem Cassandra envolvia-se antes da transição de gênero e Gersinho (Gustavo Coelho), o filho de dez anos que Cassandra não sabia existir.

Fonte: Imagem da Internet*

Entre um relacionamento às escondidas e a carreira de cantora, Cassandra passa a viver um conflito que poderia ser típico de qualquer heroína: como controlar o incontrolável? Enquanto persiste na realização de seus sonhos e nega qualquer conexão afetiva com Gersinho, o menino busca incessantemente no ‘’pai’’ o amor e afeto que a vida carente não lhe permite encontrar. Apesar de muitas escolhas falhas, que se tornam justificáveis ao espectador, uma vez que as alternativas são escassas, Cassandra parece ativar (inconscientemente) um “instinto materno” com a aproximação inevitável do filho. A partir daí, em apenas cinco episódio, a trama nos surpreende fugindo das vias óbvias de roteiro nos trazendo personagens comuns da vida real, mas igualmente singulares e complexos.

Assim também se destaca Leide, que traz uma outra perspectiva da mesma história, tão dura quanto a de Cassandra. A vida da mãe solteira, pobre, sem amparo social, sem recursos, que por vezes se mostra imoral, mas que luta incessantemente pela sobrevivência de si e de seu filho. A personagem traz uma outra perspectiva da mesma história e se assemelha à Cassandra quando, por vezes, sem mostra também imoral, sem enquadrar-se no senso comum de “boa mãe’’.

“Manhãs de Setembro” vai muito além de visibilizar a dura realidade da mulher trans, preta e pobre no Brasil, ou da mãe solteira sem qualquer rede de apoio que sofre a pressão social de ser uma super heroína. A série retrata a vida de duas mulheres que, com todas as suas diferenças, lutam em igual perseverança contra as inúmeras adversidades de uma vida nada privilegiada. Cassandra e Leide inspiram encontrar algo a mais, algo que dê sentido à vida, algo que as permita ser quem simplesmente são, algo que parece não lhes ser permitido ter: a liberdade. Assim, com seus caminhos tortos cruzados, os personagens da série encontram entre si a afetividade do amor em todas as suas formas, nas mais puras e nas mais profanas, que não parecia ser possível existir em uma vida tão cinza mas também tão viva.

* Fotodescrição: Imagem com fundo desfocado onde há uma parede de tecidos cintilantes cor de cobre dependurados e um guitarrista sentado olhando para baixo enquanto toca a guitarra. Ao centro da imagem, em foco, uma mulher trans preta (personagem Cassandra) de cabelos cacheados cor de cobre presos em um coque meio solto. Ela veste uma blusa preta de mangas longas e segura um microfone à sua frente, cantando de olhos fechados.

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