As facetas da polarização política no Brasil: estamos em perigo?
Mariane Pordeus,
Estagiária de Acessibilidade
Letras-Libras
A poucos meses das eleições de 2022, o Brasil já contabiliza 26 assassinatos por motivação política ou pelo exercício da atividade pública — de acordo com as pesquisas do jornal “O Estado de São Paulo”, o Estadão. Desde o ano de 2018, os homicídios por causa ideológica partidária têm se tornado mais frequentes.
Pode-se considerar que homicídios que tem por finalidade eliminar o adversário por divergências militantes opostas são o sintoma da política no Brasil contemporâneo, onde a população é categorizada como parte de um grupo extremo ou de outro. Para entender esse cenário, é importante contextualizar uma questão indispensável: o Brasil possuiria uma “democracia imperfeita”, ou seja, demonstra algumas fragilidades em comparação a outros países — esse índice provém da revista The Economist, publicação inglesa que avalia as democracias de 167 países desde o ano de 2006, com base em algumas regras internacionais.
Sendo assim, é comum que pessoas com posicionamentos políticos distintos apresentem comportamentos, cada vez mais, desiguais e intolerantes, configurando um posicionamento de extrema polarização política, em que há o esvaziamento ou silenciamento do centro para que os opostos se expandam e se fortaleçam. Trata-se de uma mudança de perspectiva, na qual o outro não é visto como adversário, mas como inimigo que deve ser exterminado. A postura de ódio citada no início, desta publicação, é uma demonstração real de como a convicção extremista pode ser fatal para a nossa “democracia imperfeita”.
Fonte: Imagem da Internet 01*
O extremismo pode ser seriamente arriscado, afinal se você está em extrema direita ou extrema esquerda, eventualmente pode ser que o diálogo não ocorra. Se não há debate, e apenas imposições antagônicas ao outro polo, é a morte das ideias! Assim, o diálogo não é incentivado e as vozes do meio são abafadas pelos gritos extremos, onde os beneficiados são os próprios políticos, partidos e grupos que se nutrem da intolerância para receber apoio crescente a sua vertente, afinal é mais fácil aceitar uma medida extrema quando se têm um inimigo que precisa ser eliminado a qualquer custo. A problemática dessa face extremista estaria na falsa democracia, visto que esta polarização desviaria a problemática real para enfatizar questões de cunho moral, em que propostas concretas não são viabilizadas, mas, sim, discussões redundantes acerca de temáticas relacionadas a costumes e comportamentos.
É importante destacar que, nós humanos, temos uma tendência a supervalorizar informações que corroboram as nossas convicções, enquanto aquelas que as contrapõem são descartadas facilmente; por isso, ainda hoje, muitos se prendem a desinformação veiculada por Fake News, porque é naturalmente confortável manter o posicionamento em vez de revê-lo. Há também o fator do pertencimento. Quando olhamos para o passado podemos perceber que somos seres coletivos e que buscamos fazer parte de um grupo, sempre nos adaptando ao meio e às circunstâncias necessárias à sobrevivência. Muitas vezes, isso implicava em renunciar à própria individualidade para compor um grupo com regras, crenças e valores.
Contrapondo à nossa realidade atual, este fenômeno seria perceptível em grupos sociais, onde há os polarizadores extremistas e aqueles que são voluntariamente subordinados com o único objetivo de manter o próprio prazer de fazer parte de algo, mesmo que não compreendam ou concordem plenamente. Pode-se considerar que essa face conivente não argumenta com o adversário, apenas o adjetiva, ou seja, em vez de fundamentar argumentações válidas, é mais fácil, odiosamente, adjetivar o outro como o “fascista”, “machista”, “comunista”, enfim, pouco se pensa em situações assim.
Em contrapartida às faces insalubres da polarização, é substancial evidenciarmos que há algo benéfico nisso tudo, tendo em vista que a divisão da sociedade em polos distintos faria parte do desenvolvimento da democracia. Desde que haja uma busca por soluções para os problemas recorrentes da sociedade, sem se deixar inflamar pelo discurso de ódio generalista, com respeito a democracia e diálogo em prol do bem comum, então está tudo bem! Dessa maneira, pessoas racionais e diversas que conseguem ver positividade na pluralidade social, onde pessoas com ideias diferentes não são inimigos, desarmam a armadilha extremista e por meio da face dialógica, escuta honesta e paciente conseguem negociar seus conflitos. Trata-se de uma sociedade humana, que apresenta necessidades contraditórias que precisam ser resolvidas, para isto a democracia se apresenta como campo aberto ao confronto e debate saudáveis.
Fonte: Imagem da Internet 02
É importante ter em mente que ambos os lados precisam buscar soluções para a sociedade e isso precisa ser o foco. É preciso considerar que a verdade não está necessariamente nos extremos, pois precisa ser construída coletivamente partindo-se de pontos de vista diferentes. Essa capacidade de ser, pensar e agir coletivamente é o diferencial que temos como seres comunicativos e políticos, ainda que todos inconclusos. Então, quando for tomar partido, lembre-se: os polos podem até ser distintos, mas o Brasil é uma nação só e no final quem paga a conta somos nós mesmos.
Nesse período eleitoral, busque uma postura crítica diante dos planos de governo apresentados, pondere as pautas e avalie o cenário político brasileiro dos últimos anos. Assim, quando a polarização se colocar como ferramenta de mera segregação, posicione-se em prol de uma sociedade democrática!
Descrição da imagem 01*: No centro superior da imagem o título “polarização política” escrito em preto destacado com grifo amarelo, abaixo uma charge com pessoas conversando. A cabeça das pessoas é de cubo mágico embaralhado.
Descrição da imagem 02*: Desenho de duas pessoas conversando calmamente, a pessoa da esquerda é roxa e seu balão de fala tem na cor laranja, a pessoa da esquerda é amarela e o seu balão de fala tem fundo azul, cada balão de fala tem desenhos diferentes como uma lâmpada, seta, rabiscos, interrogação também com cores diferentes. No espaço em comum entre os dois balões de fala há desenhos em roxo com fundo branco.
Sugestões de leitura:
NOSSA, Leonencio. Brasil tem 26 assassinatos por intolerância política em 2022. UOL, 2022. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2022/07/18/mortes-por-intolerancia-politica-no-brasil-ja-superam-as-de-4-eleicoes-nacionais.htm> Acesso em: 6 de agosto de 2022.
A new low for global democracy. THE ECONOMIST, 2022. Disponível em: <https://www.economist.com/graphic-detail/2022/02/09/a-new-low-for-global-democracy> Acesso em: 6 de agosto de 2022.
KNIESS, Andressa Butture. A polarização política no Brasil. IBPAD, 2022. Disponível em: <https://ibpad.com.br/politica/a-polarizacao-politica-no-brasil/> Acesso em: 6 de agosto de 2022.
Polarização política no Brasil. DESPOLARIZE, 2022. Disponível em: <https://despolarize.org.br/despolarize-divulga-pesquisa-polarizacao-politica-no-brasil/> Acesso em: 6 de agosto de 2022.