A vida e a obra de Oscar Wilde: quem ele foi e quem ele representa hoje?

05/06/2020 19:51

Luciana dos Santos,
Bolsista PET-Letras
Letras – Inglês

Oscar Wilde foi um autor irlandês do século XIX muito aclamado pela crítica. Contudo, não só a crítica julgou Wilde. O público também o julgou, o aplaudiu e o observou quando ele estava no pelourinho. Hoje, a sua figura tem outras representações e interpretações. Pode-se dizer que, na visão de alguns, o autor que foi do céu ao inferno, foi salvo como um mártir.

A biografia de Wilde poderia muito bem ser o plot de uma de suas peças de teatro. Filho de uma poetisa e um médico, Wilde teve uma origem privilegiada e o fim de sua vida foi caracterizado pelo anonimato e pela pobreza, sendo a sua própria vida uma das histórias de ascensão e queda mais marcantes na história da Literatura. Os acontecimentos que determinaram a sua queda foram em decorrência do envolvimento de Wilde com Lord Alfred Douglas, ou “Bosie”, relação que fez com que ele perdesse sua reputação e seu prestígio. Quando o pai de Bosie, Marquês de Queenberry, chamou Wilde publicamente de sodomita, Wilde deflagrou um processo contra ele por difamação. Contudo, ao final do primeiro julgamento, Wilde passou, de parte ativa no processo, ao banco dos réus, pelo crime de comissão de “ato libidinoso com homens”, devido a diversas provas de que Wilde se envolvia romanticamente com outros homens. Nisso, Wilde foi condenado à prisão, tendo que cumprir dois anos de trabalhos forçados, de 1895 a 1897.

Wilde e “Bosie” em Oxford, por volta de 1893 (British Library)*

Enquanto cumpria sua pena na prisão de Reading e quando se exilou após ganhar liberdade, Wilde escreveu sobre a experiência do cárcere. Dentre esses escritos, há o poema A Balada do Cárcere de Reading (The Ballad of Reading Gaol), inspirado no enforcamento de um dos prisioneiros, e algumas cartas que foram publicadas em jornais, nas quais ele denuncia casos de maus-tratos contra crianças, além das condições precárias de subsistência, e outras irregularidades na prisão. Ademais, outros detalhes de sua vida na prisão foram divulgados com a publicação póstuma de De Profundis, forma como é conhecida uma longa carta chamada Epistola: in Carcere et Vinculis que Wilde escreveu para Bosie enquanto estava na prisão. Esses escritos reforçam a visão de que Wilde era vítima de um sistema social repressivo e cruel, que ele fez questão de criticar e expor antes, e, principalmente, depois da sua experiência no cárcere.

Trevor Fisher (2008) compreende a evolução da reputação de Wilde em quatro fases: (1) estudante universitário em Oxford; (2) escritor com uma carreira literária de sucesso; (3) época das disputas judiciais e, em seguida, seu encarceramento; e (4) uma trágica figura cultural e literária. Na sua fase literária de escritor de sucesso, destacam-se obras como O Retrato de Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray); diversas peças que o autor escreveu, como A Importância de ser Prudente (The Importance of Being Earnest); contos, como O Crime de Lord Arthur Savile (Lord Arthur Savile’s Crime); e ensaios, como A Alma do Homem sob o Socialismo (The Soul of Man Under Socialism), no qual Wilde também tece críticas sociais.

Fonte: Arquivo pessoal de Luciana dos Santos**

Atualmente, sobre a imagem de Wilde vista pelo público atual, o que se predomina é a impressão de que ele foi um mártir por conta de seu comportamento que, hoje em dia, conhecemos como homossexualidade. Nos tempos de Wilde, pouco se falava sobre isso — nem se nomeava —, e havia muita repressão contra pessoas como ele, inclusive por meio de instituições jurídicas, com base em normas decretadas. Na atualidade, em nosso país, não se tratam mais de infratores da lei, mas continuam sendo indivíduos atacados e perseguidos em nossa sociedade, situação que persiste mais de dois séculos após o encarceramento de Wilde.

Oscar merece por muitos motivos ser lido, conhecido e reconhecido. Ele foi um artista extremamente talentoso e à frente de seu tempo: uma mente brilhante que foi vítima de um sistema, mas que deixou um belo legado. Vamos conhecer melhor Oscar Wilde? Que tal começar a lê-lo?

Referência

FISHER, Trevor. Oscar Wilde and the Dynamics of Reputation. The Wildean, No 33, pp. 57-65, Jul. 2008.

*fotodescrição: Wilde e Douglas aparecem juntos na foto antiga amarelada. Wilde tem cabelos escuros e está à esquerda, sentado em um banco, de pernas cruzadas, e olhando para nós. Ele está com a mão direita levantada e segurando um cigarro entre os dedos indicador e médio. Seu braço esquerdo dá a volta nas costas de Bosie, que está sentado ao seu lado esquerdo. Ele veste um paletó escuro com linhas verticais. À direita, sentado no banco, está Bosie, que tem cabelos claros e cruza as pernas, olhando o horizonte. Suas mãos estão em cima de um chapéu em seu colo. Ele veste uma calça bem clara e um paletó, um chapéu e uma camisa mais escuros.

**fotodescrição: Imagem com quatro livros sobre um fundo bordô texturizado. No topo da imagem, a parte de cima de um livro, com o nome Oscar Wilde em branco no topo com fundo preto, e “De Profundis” logo embaixo em preto em um fundo amarelo. Abaixo, o subtítulo “e outros escritos do cárcere”. À esquerda, um livro com um desenho de Oscar com a mão no queixo olhando para nós num fundo bege claro. Embaixo, está escrito “Contos Completos” em branco num fundo preto. À direita, um livro com uma capa com desenhos que remetem às penas de um pavão, com linhas cinza claro, fundo cinza chumbo e formas circulares vermelhas. Na parte de baixo da capa, há um retângulo vertical branco, onde está escrito em preto: Oscar Wilde, e, embaixo, O Retrato de Dorian Gray. No meio, em cima de todos os livros há um livro com uma foto preto e banco de Wilde no centro da capa, que tem um fundo cinza. Ele está usando um casaco de pele preto e olha para nós. No topo da capa, lê-se National Bestseller, e em baixo Oscar Wilde, em preto. Na parte de baixo da capa, está escrito o nome do autor da biografia Richard Ellman em preto.

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Como Você Anda Cultivando a sua Finitude?

04/06/2020 20:16

Juliana Maggio,
Bolsista do PET-Letras
Letras-Português

Seguimos com a constante impressão de que os dias passam em um piscar de olhos, que as semanas se encurtam entre uma reunião e a ida ao supermercado, que os meses e anos voam. Que será isso? Quantas coisas deixamos para depois, quantas tarefas optamos por pular ou, ainda, por fazer rápido, na intenção de aproveitar logo o descanso. Que descanso? Tempo de fato livre tem sido artefato de luxo em tempos contemporâneos.

Com o avanço da vida moderna e das tecnologias, os dias se reduzem a instantes valiosos, até mesmo monetariamente falando. Se hoje você fosse questionado sobre o que entende de tempo, como poderia conceituar o passado, o presente e o futuro? Estes são tempos do tempo, normalmente só nos permitimos pensar sobre o assunto quando se trata de verbos, mas e quando falamos do tempo? Segundo pensadores, vivemos em um constante instante que se reduz ao presente, isto é, o passado fica para trás cada vez mais que o instante-presente avança, já o futuro é tão longínquo e incerto, que não o conseguimos alcançar.

Nesta incessante busca por mais tempo, acabamos por vezes nos perdendo em coisas pequenas, que ao longo do tempo, percebemos que eram rasas. Essa noção de agitação, acaba causando uma sensação de ansiedade e, consequentemente, medo. Medo de perder tempo — medo até da solidão —; o que pode soar estranho em se tratando de uma era em que estamos conectados em tempo integral, uns aos outros, nas mídias digitais.

Foto da petiana Juliana assistindo Quanto Tempo o Tempo Tem, sentada no sofá marrom de costas para a câmera. Ela segura com as duas mãos o celular aberto no documentário da Netflix. Na tela, pode-se ver uma cena que mostra uma cidade em movimento e, no centro mais direita, lê-se os nomes dos produtores do documentário. Juliana está vestindo blusa de ombro a ombro rosa claro e uma calça preta, no colo tem uma almofada florida de fundo bege. A esquerda na foto, aparece seu cabelo castanho longo e liso e sua pele clara.

Mas afinal, quanto tempo o tempo tem? Esse é questionamento do documentário de mesmo nome, de Adriana L. Dutra e Walter Carvalho. Eles procuraram ao redor do mundo pessoas que pudessem responder a essa questão e, então, criaram esse documentário que aborda desde os pensamentos filosóficos às estatísticas sobre o funcionamento do tempo. O que tivemos foi um belo e rico material que não só se preocupou em falar sobre o tempo e seus anseios, mas também sobre conceitos como o de Transhumanismo, que significa melhorar o que a natureza fez. Isso porque somos parte da natureza, então a devemos melhorar e alterar através da tecnologia.

Imaginar um cenário em que vários computadores estarão infiltrados em nossos organismos já não é tão absurdo, visto que a medicina já se utiliza de algumas dessas tecnologias para melhorar a expectativa de vida das pessoas. E falando em expectativa de vida, esse é outro tema abordado no documentário, lá conseguimos perceber que a quarta idade já chegou para muitas nações (não devemos generalizar, pois os índices de desigualdade social só aumentam no mundo). Para muitos, os 80 anos são os novos 60.

Então, deixo aqui como sugestão para esses dias tão incertos, o documentário Quanto Tempo o Tempo Tem. E mais, o que você anda fazendo com o seu tempo? Como o administra? Como o concilia com o laser?; visto que a calmaria trás clareza, centralidade e reenergização. O que nos torna humanos é a finitude. Então a devemos aproveitá-la ao máximo, de preferência com qualidade.

“O tempo é precioso […]
viver com intensidade, isso que é a coisa mais preciosa que existe.
[…] dar valor a cada instante da existência, isso é que  vale”.
Monja Coen Sensei.

Fonte: Foto de Arquivo pessoal*

* fotodescrição: Foto da petiana Juliana assistindo Quanto Tempo o Tempo Tem, sentada no sofá marrom de costas para a câmera. Ela segura com as duas mãos o celular aberto no documentário da Netflix. Na tela, pode-se ver uma cena que mostra uma cidade em movimento e, no centro mais direita, lê-se os nomes dos produtores do documentário. Juliana está vestindo blusa de ombro a ombro rosa claro e uma calça preta, no colo tem uma almofada florida de fundo bege. A esquerda na foto, aparece seu cabelo castanho longo e liso e sua pele clara.

 

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Sobre salvar vidas e alimentar almas

03/06/2020 19:46

Vítor Pluceno Behnck,
Bolsista do PET-Letras
Letras – Inglês

Enquanto milhares de pessoas sofrem e perdem a vida por conta do novo Coronavírus (COVID-19), aqueles podem e conseguem, dentro das suas limitações, permanecer em casa, encontram-se num estado de isolamento não só físico, mas existencial: dentro de nossas casas, parece que nada mais faz sentido. Como ser produtivo enquanto a consciência pesa porque milhares têm de se expor e arriscar suas vidas na rua, já que são obrigados a alimentar o sistema que esperam que os alimentem de volta? Qual o sentido de manter essa lógica produtivista num momento em que o mundo para, e que a melhor maneira de salvar vidas é permanecendo reclusos em nossas casas?

Dentre tantas questões, aqueles que conseguem permanecer protegidos buscam refúgio naquilo que nos faz nos entendermos como humanidade: a arte. Nesse momento, são os filmes, as novelas, os livros, as séries e as músicas, por exemplo, que dão a tônica de nossos dias, permitindo-nos realizar uma “fuga” da realidade ou, até mesmo, repensar a nossa própria existência e, assim, ressignificar esses momentos que potencialmente são social e individualmente traumáticos. É um tanto irônico que, numa época onde a Ciência é percebida como indispensável para a prosperidade humana por sua fiel descrição dos fatos e da natureza — e que de fato é —, as mais abstratas e singulares maneiras de descrição da realidade e dos sentimentos, que são as manifestações artísticas, preenchem uma lacuna substancial na vida de milhões de pessoas enquanto cientistas buscam respostas sobre como resolver os problemas que estamos enfrentando.

(Reprodução: Instagram – @susanocorreia / Susano Correia.
Obra “homem morando onde não lhe cabe mais”. Óleo sobre tela, 88 cm x 115 cm. 2019.)*

(Reprodução: Instagram – @susanocorreia /  Susano Correia.
Obra “homem sufocado com sua própria delicadeza”. 2019.)**

Ao conceber o título desse texto, “Sobre salvar vidas e alimentar almas”, pensei em propor a reflexão: qual o papel que nós, profissionais da área de Linguística, Letras e Artes, desempenhamos durante uma pandemia global que duramente acomete milhares de pessoas diariamente e, ainda por cima, causa dor e sofrimento inclusive àqueles que não podem se despedir de seus entes queridos como habitualmente se fazia? Enquanto enfermeiros, médicos e demais profissionais da saúde lutam para salvar vidas, qual o nosso papel e de que modo podemos alimentar as almas que sobrevivem ao COVID-19, mas que talvez tenham dificuldades em sobreviver ao estranhamento da vida pós-pandêmica?

Uma coisa é certa: a arte, em todas suas facetas e modos de ser, desempenhará um papel ainda mais fundamental nos próximos anos ao tentar digerir o trágico embrolho histórico que estamos experienciando. No meio da “descoisificação”, da desconstrução e do repensar sobre tudo que entendíamos como cultura, sociedade e política, o esforço se voltará à tentativa de encontrar o que restará de humano na humanidade. E mais uma vez, a máxima de Ferreira Gullar ecoará novamente, e perceberemos que a arte existe porque a vida não basta.


(Reprodução: Instagram – @gabuffon / Gabriela Buffon. Obra “Mentecaptos”.
Colagem, 15 cm x 15 cm. 2020.)***

(Reprodução: Instagram – @gabuffon / Gabriela Buffon. Obra “O diálogo do olhar”.
Lápis de cor, carvão vegetal, lápis dermatográfico e colagem, 29,7 cm x 42 cm. 2020.)****

Por fim, gostaria de deixar a indicação de artistas e divulgadores de arte na internet. Começando pelos artistas citados na matéria: ambos catarinenses, Susano Correia (Instagram @susanocorreia) é artista natural de Florianópolis formado em Artes Visuais na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); e Gabriela Buffon (Instagram @gabuffon) é acadêmica da primeira fase de Artes Visuais na UDESC.

Além deles, recomendo o canal ViviEuVi  no YouTube, que possui um imenso e rico repertório de curiosidades e análises artísticas; e o aplicativo Google Arts & Culture (disponível para iOS e Android), que permite visitar museus e conhecer artistas pelo seu smartphone, dentre outros recursos. Vários museus estão realizando curadorias no Instagram, como @masp, @museelouvre, @vangoghmuseum, e o projeto de extensão do Instituto Federal Catarinense – Campus Concórdia, @museus.virtuais.ifc.

Fique em casa, e não esqueça de alimentar sua alma!

Fotodescrição: *Pintura de tinta a óleo de fundo azul escuro. Em destaque, um homem de pele branca com um aspecto sujo está nu. Ele está com os braços e a cabeça dentro de uma casinha, sendo que está com o rosto na porta com uma cara de desconforto, e os braços estão passando pela parede lateral da casa. A casinha paredes brancas, uma porta, uma janela quadrada ao lado dessa porta, e uma janela redonda mais acima, perto do telhado.

**Pintura de tinta a óleo com fundo azul claro. Em destaque é possível ver um homem, do peito para cima, de pele esbranquiçada. Ele está olhando para cima e possui o topo de sua cabeça pontuda. Sua boca e olhos estão abertas com flores que se assemelham a margaridas saindo dessas cavidades.

***Colagem de fundo branco. Na figura de fundo, há três colunas com 5 linhas cada, de pares de diferentes pessoas conversando com várias expressões faciais. No canto inferior esquerdo, há uma assinatura escrito “Norman Rockwell”. Acima dessa figura, centralizado, há várias letras de revistas coladas formando as palavras “Economiopia / Desenvolvimentir / Utopiada / Consumidoidos / Patriotários / Suicidadãos”.

****Obra abstrata de fundo branco em folha A4 com técnica de lápis de cor, carvão vegetal, lápis dermatográfico e colagem. Centralizado, há um desenho em preto que se assemelham a letra C, e nas extremidades círculos vermelhos. Algumas linhas pretas e vermelhas estão dispostas pela figura. É possível perceber formas abstratas em azul e verde dentro da letra C em destaque, e alguns rabiscos em amarelo no canto inferior esquerdo. Também é notável algumas formas redondas pela obra, que se assemelham a olhos. Na parte inferior da figura há um recorte em papel colado em que pode-se ler “O diálogo”. De cima para baixo, do lado direito, há as seguintes palavras coladas:”matriz / básico / capítulo / processo”. No canto inferior direito, a assinatura da artista: “Gabriela Buffon, 2020” em marrom.

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O fenômeno atual do “fascismo” e seus elementos em algumas palavras soltas

02/06/2020 15:39

Carlos Rodrigues,
Tutor do PET-Letras

Fascistas não passarão!
Sim, a história foi e será implacável!

Um dos importantes historiadores do fascismo, Stanley Payne, após dedicar boa parte de sua vida a identificar, descrever e conceituar o fascismo, considera que tal definição e compreensão não é algo simples nem fácil. Para ele, tal conceito político pode até ser usado, de certo modo, como um “termo vago”. Sabe aquele paradoxo socrático: “só sei que nada sei” (ipse se nihil scire id unum sciat)? Então, arrisco-me dizer que ele se aplica bem aqui: quanto mais estudo o(s) fascismo(s) menos o(s) compreendo em si mesmo(s), em sua lógica absurda.

Embora tenha sido combatido e derrotado, os elementos do fascismo italiano, vez por outra, teimam em ressurgir em algumas sociedades, como é o caso do Brasil de hoje, em que o fascismo vem recebendo seguidores, bem como atualizações e novas roupagens. Para continuarmos essa conversa, precisamos entender que uma primeira aproximação à compreensão do que é fascismo deve, a meu ver, enxergá-lo como um regime político situado em um dado tempo e espaço históricos. O facismo “primordial” é um fato experimentado no contexto italiano de Mussolini, de certa maneira instaurado em 1922 e concluído em 1943.

Todavia, o fascismo não é meramente um fato histórico, mas, sim, um processo historicamente constituído e manifesto, o qual pode ser identificado em distintos tempos e espaços para além da conhecida e famosa Itália Fascista. Ao assumir isso, torna-se possível não somente compreender historicamente esse regime político, mas perceber como seus elementos fundantes e característicos não tiveram início, meio e fim apenas no âmbito da Itália de Mussolini, tendo existências diversas, perpetrando e reerguendo-se em outros momentos, ainda que com novas máscaras e vestimentas.

Podemos imaginar que é como se a história se encarregasse de uma constante mudança marcada de idas e vindas, de um eterno retorno do velho transvestido de novo. É um pouco da ideia de Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794) aplicada à compreensão do devir da história. Explico. É como se o princípio da conservação de massa de Lavoisier — representado na célebre frase: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” — pudesse ser parafraseado e transposto à percepção do tempo histórico: “Na história humana, nenhuma fatídica realidade se perde, todas elas se transmutam e retornam”.

Enfim, diante dessa denominada “ameaça fascista” tão presente e intensa em nossos dias, é necessário fazer algumas perguntas no intuito de encontrar possíveis e plausíveis respostas: o que é fascismo? O que ele representa? Como ele se manifesta? Quais  elementos permitem compreendê-lo e identificá-lo?

Segundo o historiador italiano Emílio Gentile, podemos pensar o fascismo italiano, o mais conhecido e famoso de todos — primeiro experimento totalitário concretizado na Europa Ocidental —, a partir de três dimensões:

  • organizativa (como um movimento de massas organizadas e representadas por um partido-milícia, com a missão de regeneração nacional por meio da aniquilação de todo e qualquer adversário, bem como dos direitos do homem e do cidadão em prol da “nova civilização”);
  • cultural (como ideologia de característica anti-ideológica; cultura fundada em certo pensamento mítico e baseada na militarização da política, na sacralização do estado e na primazia absoluta da nação como uma comunidade etnicamente homogênea que deve ser formada por meio da aculturação e subordinação total dos indivíduos e das massas ao Estado e em prol do “homem novo”); e
  • institucional (como regime totalitário que se funda em um aparato de polícia para reprimir, controlar e/ou suprimir o individual e o coletivo; centralização do Executivo, que subordina a si o Judiciário e que defende a existência de um partido único, o qual existe em simbiose plena com o Estado que se encarrega da supressão das liberdades individuais).

Vale destacar que tais dimensões estão coordenadamente integradas e evidenciam a “sacralização da política” promovida pelo(s) facismo(s) e realizada, ao menos, por elementos totalitaristas, nacionalistas, antiliberais, antimarxistas, antipartidários, imperialistas e, até mesmo, racistas que deram forma e, portanto, caracterizaram o fascismo italiano, assim como outros fascismos.

Por outro lado, é importante entender que quando atacamos as pessoas que personificam determinadas “ideologias” e deixamos de combater sistemas já institucionalizados que geram e perpetuam vertentes fascista(s), autoritária(s), conservadora(s) e afins, estamos errando o alvo.

Ah, não posso deixar de dizer também que há, sim, uma diferença radical e antinômica entre o que foi o fascismo e o que seria a proposta do comunismo. Por isso, fascistas (assim como faziam “nazistas e franquistas”) queriam combater e eliminar — a todo custo e de maneira agressiva, violenta, militante e militarizada — qualquer traço que remetesse ao comunismo: o anticomunismo era uma de suas bandeiras, que fique bem claro, apenas uma delas.

O “fascismo” identificado e, até mesmo, reivindicado por grupos e representantes da política brasileira se aproxima, ao mesmo tempo que se afasta, dos demais regimes fascistas historicamente delimitados. Um rápido e despretensioso olhar permite-nos enxergar, nesse propagado “novo fascismo”, tanto uma série de elementos caros ao fascismo histórico quanto elementos que não são partilhados com certos regimes fascistas anteriores, um desses elementos não compartilhados é esse nacionalismo populista que defende à chegada ao poder por meio das eleições, a qual os governantes de inspirações e aspirações “(neo)fascistas” usam para bradar aos quatro ventos que são representantes legítimos do povo.

Por último, quero dizer que o que é denominado “fascismo” em nossos dias nem sempre é fascismo de fato e verdade, mas, nem por isso, é menos nocivo. Assim sendo, a campanha “antifascista” atual, que povoa as redes sociais, é um elemento indispensável à denúncia de irregularidades, de ameaças e de riscos, assim como à conscientização da sociedade tão desamparada e, até mesmo, confusa. Portanto, a campanha é um fôlego e uma esperança de combate aos reacionários — que são hostis à democracia, ameaçando-a —, em meio ao caos que está instaurado no Brasil e que vem sendo, dia a dia, regado a fake news, a mortes pela pandemia da COVID-19, a desemprego, a desigualdade de oportunidades, a crise econômica, a shows de horrores, estrelados pela trupe de governantes, a ausência de um governo do/para/pelo povo e assim por diante.

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Tradução, legendagem e promoção da acessibilidade

29/05/2020 17:48

Daniel Guilherme Gonçalves,
Bolsista PET-Letras
Letras – Libras

Iremos abordar uma área do conhecimento bastante relevante: a tradução para legendagem. Existem alguns tipos de tradução, como, por exemplo, a tradução intralingual (reformulação, que é a interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua), a tradução interlingual (tradução propriamente dita, que é a interpretação dos signos verbais por meio de outra língua) e a tradução intersemiótica (transmutação, que é a interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais). A tradução interlingual tem inúmeras manifestações e objetivos. Assim, apresentaremos um pouco sobre a legendagem realizada com base em traduções interlinguais, como por exemplo, a legendagem de filmes, de vídeos gravados em Libras, de documentários, entre outras.

A título de exemplo, podemos citar um vídeo gravado em Libras com sua legenda produzida em Inglês. Este vídeo irá permitir que os falantes de Inglês tenham acesso ao conteúdo, assim como os falantes de Libras. O acesso dos falantes de Inglês, que não sabem Libras, ocorre a partir da legenda em Inglês. O mesmo acontece com um vídeo em Libras com legenda em Português, ou um vídeo em ASL (American Sign Language) com legenda em Inglês. Todos esses exemplos são de traduções e legendagem interlinguais, pois as línguas usadas nos vídeos e em suas legendas são diferentes.

Ao falarmos de um filme que é produzido em Português com sua legenda nessa mesma língua, ou seja, também em Português, estamos nos referindo a um processo de legendagem intralingual. É importante entendermos então que existem dois tipos de legendas: a legendagem interlingual feita de uma língua para outra, como os exemplos citados anteriormente, e a legenda intralingual onde a língua do vídeo e a língua da legenda são as mesmas. Esse tipo de legendagem na mesma língua é muito usado para os surdos poderem acessar os conteúdos nacionais, assim como para estudantes de uma língua estrangeira poderem desenvolver suas habilidades, já que podem ouvir e, também, ler as legendas na língua que estão estudando.

Esses são dois processos típicos de legendagem, inter e intralingual, são processos distintos, pois, fazer um trabalho interlingual, onde um processo de tradução interlinguística ocorre é diferente de fazer uma tradução intralingual, onde há um processo de reformulação intralinguística, aquela tradução que ocorre na mesma língua. Além disso, o processo de legendagem é um processo que passa por diversas adaptações, de acordo com algumas normas técnicas, pois é preciso que a legenda se adeque aos elementos visuais que estão dispostos no vídeo, seja visível, respeite o tempo, possa ser lida pelo público etc.

Fonte: arquivo pessoal – Daniel em casa assistindo a um vídeo em ASL com legendas em inglês.*

Os filmes, documentários e vídeos diversos trazem, muitas vezes, informações auditivas que não são acessíveis ao público surdo ou com deficiência auditiva. No caso da legenda intralingual para surdos, o processo de legendagem tem uma série de questões culturais em que os tradutores devem fazer as adaptações necessárias para que o texto seja compreendido pelo público alvo por meio da legenda, a qual passa a indicar inclusive elementos sonoros importantes.

As janelas de Libras também são um tipo de legenda interlingual que não usa a escrita. Elas são mais comuns na TV que em filmes, por exemplo. Muitas vezes, vídeos que estão em uma língua de sinais estrangeira, como em ASL ou em Sinais Internacionais, ao circularem no Brasil recebem as janelas de Libras, que são resultado de traduções interlinguais, pois o vídeo está em uma língua de sinais estrangeira e sua “legenda”, a janela de Libras, está em uma língua de sinais nacional. Diante disso, é possível pensar que as janelas de Libras (ou de outra língua de sinais) tornam-se um tipo de legendagem interlingual, pois confere acesso ao que está sendo dito, seja em uma língua oral nacional ou estrangeira ou mesmo em outra língua de sinais desconhecida pelo público surdo.

* fotodescrição: Foto retirada de trás para a frente focando Daniel de perfil e a tela do notebook. Daniel está com uma jaqueta azul escuro com um capuz de interior em azul claro, o capuz esta na altura do pescoço. Ele está com seu notebook em uma mesa de vidro com cadeiras de metal e assentos floridos. Sobre a mesa observa-se um artefato indígena de decoração (uma canoa de madeira pequena, pintada e com alguns objetos dentro). No notebook, há uma cena do “Deafies in Drag” com dois surdos dialogando em ASL (Língua de Sinais Americana) e há a seguinte frase na legenda, em cor branca, “Because I love to draw”. Ao fundo, observa-se uma parede verde com a parte inferior de um quadro em tons verdes e vermelhos.

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As tecnologias, o ensino a distância e seus desafios

28/05/2020 18:57

Felipe Mateus dos Santos,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

Ao longo dos últimos anos, pôde-se observar um avanço muito marcante no desenvolvimento de novas tecnologias. Computadores mais rápidos e potentes, notebooks, tablets, kindles, smartphones, entre outros aparelhos, se estabeleceram como itens indispensáveis na nossa sociedade e se fizeram presentes em quase todos os momentos de nossa vida, na intenção de torná-la mais prática e rápida.

No âmbito educacional não é diferente. Em muitos ambientes escolares é possível notar como a tecnologia ganha, cada vez mais, espaço com a função de motivar e oferecer mais ferramentas ao processo de ensino-aprendizagem. Esse, por exemplo, é o caso de alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental de sete escolas da rede municipal de Joinville (SC), que, em 2014, receberam 4.000 tablets através do Projeto Escola Digital, como instrumento de complemento do aprendizado. É possível encontrar iniciativas semelhantes nas prefeituras de São Paulo (SP), Petrolina (PE), entre outras.

Esses são apenas alguns exemplos, entre muitos lugares do Brasil e do mundo, que fizeram da tecnologia um importante recurso no processo educacional, na tentativa de fazer com que tanto o aluno quanto o professor tenham um acesso mais rápido à informação desejada e à novas formas de aprender. É certo que o uso dessas tecnologias é muito favorável quando suas ferramentas são devidamente exploradas pelas instituições de ensino e quando fazem com que o aluno desenvolva mais interesse pelo conhecimento, que aparece, muitas vezes, de uma forma mais interativa e instigante através de uma tela.

Os recursos tecnológicos são muito úteis quando cumprem o propósito de servir como facilitadores da aprendizagem, dentro e fora das salas de aula, porém, a realidade de muitos alunos restringe o uso dessas ferramentas para além do ambiente escolar. Não podemos deixar de considerar que a exclusão digital ainda é intensa em várias regiões brasileiras. Faz-se necessário que tenhamos em vista esse panorama, quando analisamos o período de distanciamento social em que vivemos hoje, decorrente do novo coronavírus (Sars-CoV-2), que conduziu à suspensão das atividades escolares presenciais, por tempo indeterminado.

      Fonte: Charge produzida por Salomón (22 de abril de 2020)
em circulação nas redes sociais*

Com isso, projetos de ensino remoto e de educação a distância surgiram como uma alternativa de fazer com que os conteúdos que não estão sendo trabalhados em sala de aula cheguem aos alunos. Vemos, assim, movimentos de implementação de uma educação à distância, os quais enfrentam diversos obstáculos, trazendo à tona um processo que destaca as desigualdades sociais e evidencia as condições de vulnerabilidade existentes no Brasil.

Limitações de acesso a computadores e a conexão de qualidade com a internet; falta de espaço apropriado para o estudo em casa; ausência do contexto escolar com recursos, tais como a merenda; falta de acessibilidade nos conteúdos; evasão escolar; mais exposição à violência (sexual, física ou psicológica); baixa escolaridade dos familiares responsáveis em acompanhar os estudantes; esgotamento físico e emocional dos docentes, que ficam disponíveis até 24h diárias para tentar ajudar; dificuldade de professores entrarem em contato com os pais dos alunos; professores que não foram preparados para ministrar aulas on-line; e dificuldade em adaptar conteúdos, são só alguns exemplos de problemas abordados por Luiza Tenente em uma reportagem do G1, a qual contou com entrevista de pais de alunos e professores da rede municipal de São Paulo, destacando a posição excludente e insuficiente de contar com esse método de educação.

“[…] não é uma situação estruturada”, destaca Mauricio Canuto, professor de didática no Instituto Singularidades (SP) e um dos entrevistados da reportagem.

É certo que vivemos tempos ímpares em que são necessárias soluções inovadoras para os novos problemas, as quais precisam ser avaliadas e estudadas em diversos âmbitos. Entretanto, podemos perceber o quão inacessível a educação pode se tornar para pessoas de determinadas classes sociais, que vivem em localidades rurais e/ou que possuam algum tipo de deficiência, e, ainda que a tecnologia já esteja bastante difundida, não são raros os casos em que a falta dela ou também a utilização dos seus recursos de forma precária se torna mais um fator impeditivo que uma solução abrangente.

*Fotodescrição: imagem de uma charge em que um menino com roupas sujas e rasgadas, cabelo bagunçado e usando uma máscara suja no rosto, está em cima de uma caixa de madeira e apoiado nas pontas dos pés. Com um semblante triste e agoniado, ele segura um caderno e uma caneta, tentando olhar através de uma janela de vidro, fechada de um quarto, outro menino de roupa limpa e cabelo penteado, sentado em uma cadeira e apoiado em uma mesa, escrevendo em um caderno e assistindo a uma aula em um notebook a sua frente, folhas a sua esquerda e um livro azul com folhas ao lado, à direita.

 

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A História Secreta (1992) e O que te pertence (2016): leituras recomendadas

27/05/2020 17:01

Ananda Henn,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

Assim como muita gente que aproveitou o tempo livre da quarentena para atualizar as leituras, o que eu mais tenho feito nesse período é ler, ler e ler. Pensando nisso, vou apresentar e comentar dois romances contemporâneos que li recentemente e que gostei muito: A História Secreta (1992) e O que te pertence (2016). Os achei excelentes e, embora muito diferentes, os dois me envolveram completamente e me ajudaram a escapar, algumas horas por dia, da monotonia da quarentena.

Fonte: Arquivo pessoal – Ananda lendo O que te pertence*

A História Secreta, de Donna Tartt (1992)

Esse livro é o próprio memeessa festa virou um enterro”. Romance de estreia da americana Donna Tartt, mais conhecida pelo seu lançamento de 2013, O Pintassilgo (cuja adaptação para o cinema ninguém assistiu ano passado [link]), foi publicada no Brasil pela editora Companhia das Letras com tradução de Celso Nogueira. A extensa narrativa acompanha um grupo de seis estudantes de uma universidade de elite americana que, sob a influência de um carismático professor de Clássicos, descobre uma maneira de pensar e viver que é distante da existência monótona de seus contemporâneos. Porém, depois de um evento que os leva além do limite da moralidade normal, acabam passando da obsessão à compulsão e traição, e, por fim, ao mal.

Por mais que o livro comece já revelando a terrível ação central da trama — uma das primeiras informações dada ao leitor é que Bunny Corcoran havia sido assassinado e os autores do crime foram o narrador e seus amigos —, eu me vi imersa de tal forma na dinâmica desse excêntrico grupo de personagens que o assassinato se tornou, em alguns momentos, quase que uma inevitabilidade irrelevante. Você quer saber como tudo aconteceu, é claro, e o porquê deles terem matado Bunny, mas, acima de tudo, espera uma justificativa, a exposição inevitável de um fato que justifique o ato, anule-o de sua perversidade; quase que cegamente você se pega esperando (melhor, desejando) nada menos que um final glorioso para os personagens, independente do horror de suas ações. A ruína — merecida ou não — parece impossível para aqueles jovens estudantes tão magnéticos e interessantes, pertencentes a um mundo de arte, de Clássicos, de intelectualidade e de riqueza. Você, assim como eles, quer acreditar na beleza da vida que vivem. Porém, como lhes é ensinado em uma aula de grego: “beleza é terror” e, diante de tudo o que chamamos de belo, estremecemos.

O que te pertence, de Garth Greenwell (2016)

Se no livro anterior o plano de fundo da narrativa era aquele de beleza, pureza e luz, nesse encontrei o contrário. Na narrativa, breve e também em primeira pessoa, são temas como vergonha, doença, violência e dor que predominam. Esse romance de autoficção ­— o primeiro do americano Garth Greenwell — chegou ao Brasil ano passado em uma edição belíssima da Todavia, com tradução de José Geraldo Couto. Seguindo uma ordem não linear, o enredo parte do relacionamento que um professor americano estabelece com o jovem Mitko, que encontra em um banheiro público do Palácio Nacional da Cultura na capital da Bulgária, e a quem paga para fazer sexo. Ele continua a voltar a Mitko repetidamente, atraído por desejo, solidão e risco, e se vê emaranhado em um relacionamento em que a luxúria leva à predação mútua e a ternura pode se transformar em violência. Enquanto luta para reconciliar seu desejo com a angústia que este cria, ele é forçado a lidar com sua própria história, o mundo de sua infância no sul dos EUA, sua sexualidade, e o relacionamento com seu pai.

Uma das maiores riquezas desse livro é, definitivamente, sua prosa. Eu poderia ficar falando extensamente sobre como fiquei maravilhada pelas escolhas formais tomadas pelo autor para melhor contar essa história, mas me atentarei apenas a comentar a narração introspectiva do personagem principal. Como leitores, além de fatos que compõem um enredo, temos acesso a um narrador extremamente sensível e consciente, que não somente rememora momentos de sua vida, mas os reflete, ou melhor, reflete a si mesmo. Com uma narrativa densa e de imensa intensidade lírica, o livro apresenta uma reflexão inigualável sobre a complexidade de nossos desejos.

Fonte: Reprodução (O que te pertence – Editora Todavia; autor Garth Greenwell; A História Secreta – Editora Companhia das Letras; autora Donna Tartt)**

Essas, então, são as minhas duas recomendações para quem está procurando por livros envolventes e interessantes para ler enquanto estamos todos presos em casa. Deixo aqui, também, a dica para explorarem os outros títulos desses autores: gosto muito d’O Pintassilgo (2013), da Tartt, e o recém-lançado Cleaness (2020), de Greenwell (infelizmente ainda sem previsão de publicação no Brasil), foi uma das minhas leituras favoritas desse ano.

*Descrição da imagem 01: Ananda está sentada em uma cadeira de vime marrom, com uma almofada azul nas costas, e lê o livro O que te pertence, que cobre a parte inferior do seu rosto. Veste calça e casaco de moletom preto, camiseta verde escura e touca de tricô listrada em tons de azul, e usa óculos de grau com armação quadrada, de cor vermelho escuro. Seus cabelos castanhos e cacheados estão soltos. Ao seu lado pode-se ver parte de um rack branco de sala de estar, coberto de vasos de plantas, e ao fundo uma cortina branca de tecido fino.

**Descrição da imagem 02: Imagens das capas e autores dos livros lado a lado. Da esquerda para direita, capa do livro O que te pertence, em que se vê, em preto e branco, a fotografia de um fragmento de uma cama com o lençol branco amarrotado, e ao fundo, em tons de cinza, parte de uma janela coberta por cortinas de pano liso bem fino; a imagem da capa é emoldurada por linhas de cor rosa claro, nas quatro extremidades do livro; no centro da capa lê-se “O QUE TE PERTENCE”, no mesmo tom de rosa; acima do título, centralizado no topo superior, o nome do autor “Garth Grenwell”, em branco, e abaixo, centralizado no topo inferior, a logomarca da editora Todavia, quatro figuras geométricas que representam as formas que a boca faz quando se pronuncia as sílabas to-da-vi-a, também em branco. Ao lado, fotografia do autor Garth Greenwell, em preto e branco, enquadrada até a altura do tórax; o autor está com o rosto levemente inclinado para a direita, apoiado na mão direita, cujo dedo polegar toca seu queixo e o indicador, sua mandíbula; Greenwell possui pele clara, cabelos lisos, curtos e claros, e veste uma camisa social escura, tendo o olhar direcionado para a câmera com as sobrancelhas levemente arqueadas, sem sorrir. Á direita, imagem da capa do livro A História Secreta, em que se vê a fotografia do rosto de uma escultura da Grécia Antiga, em mármore branco, com o olhar direcionado para baixo e a cabeça inclinada para a direita, em frente a um fundo cinza; a fotografia apresenta um corte em sentido diagonal que vai do canto direito da extremidade inferior até a metade da extremidade esquerda da foto, fragmentando a imagem da escultura e revelando, no espaço entre os dois fragmentos, um fundo vermelho que preenche também a parte inferior da capa, onde se lê, centralizado em branco, “A HISTÓRIA SECRETA”, e abaixo, “O primeiro best-seller da autora de O Pintassilgo”; centralizado no topo superior da capa, em cima do cabelo da escultura, se lê “Donna Tart”, em vermelho, e no pescoço da escultura, alinhado à esquerda, a logomarca da editora Companhia das Letras, em branco. Por fim, á direita, fotografia da autora Donna Tartt, em preto e branco, enquadrada até a altura da cintura; a autora encontra-se com um braço apoiado em cima do outro, e cada mão segura o cotovelo do braço oposto; possui a cabeça levemente inclinada para o lado direito e o olhar direcionado também para a direita, acima do nível da foto, com um sorriso discreto; Tartt veste um terno escuro com camisa social branca com listras pretas, tem o cabelo liso e escuro cortado na altura no queixo e pele clara.

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As vantagens do Yoga para a vida cotidiana

26/05/2020 17:28

Ana Gabriela Dutra Santos,
Bolsista de Acessibilidade
Letras – Libras

Muito se ouve falar sobre o Yoga atualmente. Há muitas aulas sendo ministradas, inclusive virtualmente, e diversos cursos sendo ofertados em todo o país. Entretanto, algumas perguntas ainda são bem comuns: o que é Yoga? Como surgiu? Qual o seu propósito? Como ele pode auxiliar, inclusive, em nossas leituras e estudos?

O Yoga é uma filosofia milenar que teve sua origem na civilização do vale do Indo, embora se acredite que o Yoga é muito mais antigo do que se pensa, os seus registros primeiros foram feitos há, aproximadamente, seis ou sete milênios. A palavra Yoga deriva do sânscrito Yog que, de tantos outros significados que possui, também pode significar “unir”. De forma bem simplificada, o Yoga pode ser definido como o caminho que leva ao autoconhecimento, à realização de quem verdadeiramente somos. Assim, o Yoga tem o propósito de nos conduzir ao autoconhecimento, à consciência — acredita-se que praticar o Yoga é um viver consciente.

Fonte: Arquivo pessoal – Ana Gabriela fazendo Yoga*

A prática de Yoga é um suporte ao crescimento pessoal, os asanas (posturas), os pranayamas (respirações) e as meditações são o meio para que possamos nos lapidar e buscar a plenitude. É através da prática que começamos a perceber nossos medos, inseguranças, inquietações, desequilíbrios, limites, entre outros. Assim, a prática nos permite conhecer e lidar com cada aspecto nosso, nos ajuda a vencer os medos, a aquietar a mente, a manter o equilíbrio, durante situações difíceis ou desafiadoras, e a superar limites.

O Yoga, como já mencionado anteriormente, consegue nos tranquilizar e acalmar. Entretanto, quando necessitamos estar mais dispostos e com mais energia, também podemos conseguir por meio das práticas. Por exemplo, em aulas realizadas pela manhã, onde teremos o dia todo pela frente com trabalho, estudos, encontros etc., podemos fazer práticas que nos deixarão melhor preparados e dispostos para as atividades do dia. Da mesma forma, podemos realizar práticas, inclusive à noite, para podermos acalmar e relaxar, preparando nosso corpo e mente para o sono.

Todos benefícios que o Yoga proporciona reverberam nas diversas áreas de nossas vidas, inclusive em nossos processos de aprendizagem. O Yoga na educação, desde o nível básico até o nível mais elevado, pode-se mostrar muito eficiente. Já existem alguns estudos que indicam que as práticas de Yoga proporcionam aos estudantes mais disposição, atenção e concentração para as atividades escolares. Assim, se você é estudante e deseja estar mais concentrado para fazer suas leituras, para escrever textos, para estudar aquele conteúdo desafiador para você, sugiro que busque melhor conhecer o Yoga e começar a praticá-lo, pois, certamente, isso vai te auxiliar física, emocional e mentalmente.

* Foto descrição: Foto tirada de perfil em uma praia. Ao fundo o mar, algumas pedras, o céu azul com poucas nuvens e montanhas bem distantes. Contrastando com o mar e com a areia da praia, no canto superior direito e esquerdo da foto há alguns galhos de árvore. Na areia a Ana Gabriela faz um asana (perna direita flexionada com o calcanhar abaixo da pélvis e a perna esquerda para trás. Com o tronco alinhado a mão direita elevada pela frente do corpo na altura dos ombros com os dedos polegar e indicador encostados e os dedos médio, anelar e mínimo estendidos. A perna de trás está flexionada para cima e a mão esquerda segura o meio do pé esquerdo. A cabeça está alinhada com o tronco e o olhar está direcionado para a frente). Ela está de olhos fechados usando uma legging preta e um top vermelho. Seus cabelos estão caídos em seus ombros e seu semblante está tranquilo.

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Memorial virtual conta histórias de vítimas da Covid-19 no Brasil

25/05/2020 15:52

Moara Zambonim,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

O Brasil já ultrapassa a marca de 22 mil vítimas do novo coronavírus (SARS-CoV-2) na pandemia que já é uma das maiores crises sanitárias da história do país. Pensando em transformar a frieza das estatísticas e sensibilizar a população diante dos números, o projeto Inumeráveis tem reunido as histórias de centenas de brasileiros que perderam suas vidas em decorrência do vírus. O projeto também possui um perfil no Instagram: @inumeraveismemorial.

Fonte: imagem disponível no Instagram do Projeto*

No site do memorial, os nomes são exibidos em ordem alfabética, acompanhados da idade e de uma breve mensagem sobre cada uma das vítimas. Ao serem clicados, os nomes se tornam biografias, em geral curtas e leves, mas que buscam preservar um retrato íntimo e sensível dos homenageados:

Adonias Antunes Zebral, de 82 anos, era de

poucas palavras, mas muitos sorrisos”.

Erika Regina Leandro dos Santos, de 39 anos, era a

melhor amiga de infância de qualquer um em cinco minutos”.

O projeto atraiu mais de 60 mil seguidores nas redes sociais e já contou centenas de histórias, desde que foi lançado pelo artista visual Edson Pavoni no final do mês de abril, em colaboração com um grupo de jornalistas e outros artistas.

Para o trabalho ser feito, o memorial busca revisores e redatores voluntários que possam trabalhar com os relatos enviados por familiares das vítimas. Há também espaço para colaborar com checagem ou com pesquisa. Nesse último caso, o projeto incentiva que os voluntários localizem histórias, realizem entrevistas e, se houver consentimento, conte-as com “sensibilidade e delicadeza”.

Não há quem goste de ser número, gente merece existir em prosa”, resume Pavoni, idealizador do projeto, em post publicado no Instagram em 29 de abril.

Fonte: Arquivo pessoal. Moara em seu espaço de estudos**

Saiba mais sobre o projeto, clique aqui!

Se gostou da iniciativa e quer contribuir, seja voluntário. Clique aqui e se informe.

Ah, você também pode homenagear uma vítima da COVID-19 adicionando uma história. Para saber como, clique aqui.

* Fotodescrição: imagem com fundo cinza claro. Na lateral esquerda há um raminho de folhas finas e pontiagudas. Ao centro, escrito em preto, em letras maiores e em quatro linhas: “Não vamos / deixar nenhuma / história virar / número”, seguido de: “Ajude a construir o Memorial das / vítimas do coronavírus no Brasil.”, em letras menores e em duas linhas.

** Fotodescrição: Moara está sentada em uma mesa de vidro redonda com um computador preto à sua frente e um caderno aberto à sua esquerda. O caderno está escrito nas duas páginas e tem uma caneta-bic azul em sua lombada. Ela está de vestido cinza claro, com mangas de comprimento médio, usa óculos rosa e tem uma mão apoiando o queixo, pode-se ver que tem as unhas pintadas de vermelho. Ao fundo, uma porta de madeira escura.

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Um canto pela Latino-América: música e resistência

22/05/2020 12:24

Sarah Ortega,
Bolsista PET-Letras
Letras – Espanhol

Apesar da proximidade geográfica, pouco sabemos sobre os países que compõe a América Latina. Considerando essa realidade, este texto não intenta apresentar questões e/ou estratégias coloniais relacionadas às potências mundiais, e, sim, recomendar algumas músicas como modo de se aproximar à língua e à cultura desses vizinhos, muitas vezes, misteriosos para nós e, deste modo, proporcionar a oportunidade de compartilharmos, por meio da música, alguns conhecimentos sobre eles.

Começo, pela América do Sul, com a banda Perotá Chingó, formada por músicos da Argentina, do Uruguai e do Brasil. Músicas gostosas de ouvir, tais como “Oh Mamãe”, o clássico “Ríe Chinito” e, para arrepiar com a força vocal das cantoras, “Reverdecer”.

Fonte: Montagem feita por Sarah Ortega, a partir de fotografias disponíveis na internet *

Não poderia deixar de mencionar Violeta Parra, uma mulher chilena com músicas que mostravam a beleza da arte camponesa e do folclore chileno com suas letras belíssimas de cunho social e político. Experimente ouvir “Volver a los 17” na voz de Mercedes Sosa, mulher argentina e com a voz incrível, que gravou duetos com Milton Nascimento, assim como com Chico Buarque, Daniela Mercury e alguns outros cantores que, nós brasileiros, nos orgulhamos em ter. Ademais, outra cantora que conquista corações com músicas que exaltam a cultura mexicana é Natalia Lafourcade, inclusive em seu recente álbum: Musas.

Por fim, não poderia faltar a voz do México, único país da América do Norte que também faz parte da Latino América, a cantora que revolucionou a ranchera mexicana: Chavela Vargas. Rompendo com a realidade tradicional de sua época, usava roupas ditas como masculinas e aos 81 anos se assumiu como lésbica na TV mexicana. Com certeza ela irá revolucionar os seus ouvidos com suas músicas, como, por exemplo, “Paloma Negra”.

Vale destacar que estas foram algumas cantoras que cantaram em prol da identidade de seus países, de sua vida e cultura. Suas músicas belíssimas nos permitem conhecer muito sobre a Latino América. Portanto, a última recomendação que deixo para você, nosso leitor, é:

se permita ouvir a América Latina na voz de seu povo
e desfrute dessa cultura única e tão rica.

* fotodescrição: A imagem é uma colagem de cinco fotografias, em preto e branco, de mulheres. No lado esquerdo superior está Violeta Parra segurando um violão. Ela usa um lenço sobre a cabeça e uma regata por cima de uma camisa. No lado direito superior encontra-se Mercedes Sosa de mãos segurando-se uma a outra e próximas ao seu rosto. Ela tem cabelo preto e comprido e usa uma blusa de manga longa. No lado direito inferior, numa foto mais alongada que as demais, há Chavela Vargas sorrindo com a boca aberta, deitada em um gramado e vestindo um terno com uma flor pregada nele. Ao centro, no lado esquerdo, há a foto de Julia Ortiz com Dolores Aguirre encostada na sua face direita com um traço desenhado no buço, simulando um bigode, e, por fim, ao canto esquerdo inferior há Natalia Lafourcade olhando para cima. Ela possui cabelo curto e liso, usa um brinco de argola e veste uma camisa branca.

Tags: comunicaPET