Do arrebatamento das despedidas

16/11/2022 09:41

Por Sofia Quarezemin

Letras – Português

Bolsista PET-Letras UFSC

 

Poucos dias, duas despedidas; semana difícil para os emepebeseiros.

Milton Nascimento findou sua carreira neste domingo, 13 de novembro, numa despedida icônica e sensível, agraciada por tantas vozes e tantas célebres lágrimas. A turnê A última sessão de música andou pelo Brasil, pela Europa e pelos Estados Unidos marcando 60 anos de carreira e 80 de vida. Para a tristeza dos manezinhos, não passou pela ilha. Uma obra tão vasta e relevante realmente merecia uma despedida dos palcos tão bonita, “só dos palcos mesmo, da música, jamais”, diz o artista no vídeo de divulgação da turnê.

Diante da tristeza de ver se encerrar algo tão grandioso, fica a vontade do não-fim, a esperança do mais uma vez, mais uma canção, mas a última sessão de música precisava chegar pela urgente ação do tempo, e chegou em tom de emoção. Não se pode deixar de notar o feito raríssimo que é uma turnê de encerramento. A inteligência e sensibilidade em saber o momento de parar, ou a própria certeza do trabalho concluso, fazem dessa turnê um espetáculo à parte porque se trata do artista consagrando sua própria trajetória. Não um tributo ou uma homenagem de fãs ao músico, mas o contrário: A última sessão de música é, segundo o próprio Bituca, um presente de agradecimento aos fãs, uma ponta de areia, um ponto final cuja generosidade não se mede.

Para mexer com todos os corações, não fosse suficiente o teor saudosista da despedida, a abertura do show foi dedicada à Gal Costa. A cantora baiana findou em 9 de novembro (por curiosidade, dividindo data de falecimento com Cecília Meireles). Esse encerramento, que não a permitiu encontrar seu momento de parar, é tão curioso que a fez ganhar um show todinho em seu nome. Uma homenagem de um amigo sincero que amava tanto a força estranha de sua voz e que emocionou a todos cantando aquelas duas horas e meia que eram de encontro e também de despedida.

Imagem: Gal e Milton

FonteBlog do Cardosinho (2022)

Descrição de imagem: Trata-se de um retrato onde estão abraçados Gal Costa e Milton Nascimento. Ela usa uma camisa azul, cabelos volumosos e batom vermelho. Ele usa uma camiseta preta, cabelos trançados e uma boina bege. Ambos se olham e sorriem. Ao fundo, céu azul, uma estrada e montanhas.

Não me adapto à ideia do eterno, mas definitivamente há vozes que não conseguem acabar, porque quem morre de noite nunca mais acorda e quem morre de manhã nunca mais dorme. Quem morre de coração não sabe, mas o peito arde e se abre. Quem morre de dor sabe que só pode aprender uma lição que não vai servir de nada quando se encerrar a travessia. Há vozes que não conseguem acabar. Da notícia repentina da morte de Gal, fica a imensa vontade de gritar seu nome Gal. O nome Gal mais alto, feito de forças estranhas entre flores e estrelas. Uma voz Gal, um corpo tropical, um grito qualquer, uma cólera fa-tal. Essa constante agonia elétrica e bastante brasileira carrega o nome Gal. O imaginário festivo, São João e Carnaval, carregam a voz Gal.

Cologne Summer Schools: my experience as an international student

31/10/2022 09:19

Por Vítor Pluceno Behnck
Letras – Inglês
Bolsista PET-Letras UFSC

Since I was a child, I was always interested in foreign countries and cultures. I remember having a Larousse Encyclopedia (when the internet was not an accessible resource yet) where I would spend hours and hours staring at the countries’ flags and asking myself why the Nepalese flag had such a triangular design. The thing is: I always wanted to figure out the world and what is out there. The fact that when you cross an imaginary line there may be people speaking other languages and living in ways differently than I do always brightened my eyes.

I discovered that this was more possible than I thought in 2012 when my brother was selected by the Sciences Without Borders program (in Portuguese Ciências Sem Fronteiras – CsF) to study for two years in France with a full scholarship. I was a teenager at that time, and those two years completely changed my ambitions and my perception of how interesting it is to be an internationalized citizen. With the help of the government through public policies for Education, Science, and Innovation, people from the same background that I had were able to become better professionals and academics due to an international mobility experience.

That was the moment the idea of doing academic mobility started to chase me — or I started to chase it. In High School, I was selected as a semifinalist for the Youth Ambassadors Program from the Embassy of the United States in Brazil — almost there! After that, I started my undergraduate course in English at the Federal University of Santa Catarina in 2019. One year later, in March 2020, the pandemic paralyzed academic activities and my dreams of traveling abroad as a scholarship holder. 

Two years later, in 2022, it seemed that things were finally coming back to normal. We had vaccines, students were back at the universities, and I was in the final year of my undergraduate course. At that time, I was already dealing with the possibility of not having an international experience during my undergraduate course. The lots of answers telling me “thank you for your application, but no” were already part of my routine. After years of preparation and effort, I finally received a yes: on July 2nd, 2022, I received an e-mail from Cologne Summer Schools (CSS) offering me a full scholarship for a two-and-a-half-week summer school in Cologne, Germany. That was one of the most amazing days of my life.

One month and a few days later, I was in Germany. There, we had a lot of lectures on Inequality of Opportunity, which was the main topic of summer school. We visited the Haus der Geschichte Bonn (the House of the History of the Federal Republic of Germany), and local breweries in Cologne, and had the nicest time ever in an organ concert in the Cologne Cathedral. One of the most important things that I learned from summer school is that, in the entire world, we all have similar problems — most of them result from inequalities and the privileges of some social groups over others. To fight against inequality and create the conditions for people to aspire is necessary if we want to evolve as a society — otherwise, we will need to deal with the same issues that we face nowadays cyclically.

As a member of the University of Cologne KölnAlumni WELTWEIT, which is the official network for University of Cologne alumni, I invite you to get to know Cologne Summer Schools (clicking here) and apply to this wonderful program. Being part of CSS certainly change my life and my understanding of who I am, what the world is, and how many good opportunities there are in life. After that, I felt more prepared to tackle the issue of inequality in my country with an internationalized vision, fighting for social justice in a broader conception of it.

*Photo description: there is a group of students from different nationalities in front of the entrance of the House of the History of the Federal Republic of Germany in Bonn, Germany. Half of them are standing up, and half of them are crouching. The floor is dark and the wall behind them is made of big blocks of concrete, where it is possible to partially see the writings: “Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland”.

Carolina de Jesus: literatura, língua e resistência

25/10/2022 10:34

Por Laiara Serafim

Letras – Português

Bolsista PET – Letras

 

Neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) é, atualmente, considerada uma das maiores escritoras do país. Nascida no interior de Minas Gerais, na cidade de Sacramento. Carolina, apesar de ter cursado apenas a primeira e a segunda série do ensino fundamental, logo desenvolveu a paixão pela leitura e pela escrita. Aos 16 anos, Carolina mudou-se com sua família para São Paulo, onde trabalhou como catadora de papel e criou os seus três filhos .

Buscando um escape do seu cotidiano, Carolina encontrava na escrita o seu refúgio. Assim, foi nos cadernos velhos encontrados no lixo que Carolina começou a escrever, publicando seus primeiros poemas no ano de 1950 pelo jornal O Defensor. No entanto, sua principal obra trata-se do romance Quarto de despejo: diário de uma favelada, que narra relatos e sensações reais do cotidiano de uma mãe solteira, moradora da favela e catadora de papel.

Descrição da imagem: A imagem é uma foto em preto e branco de Carolina Maria de Jesus. Carolina, uma mulher de pele negra, está escorada em uma parede enquanto olha para a câmera. Sua expressão é séria, mas também doce. Ela veste uma camisa de gola V e usa um lenço na cabeça que cobre todo o seu cabelo que está preso.

Atualmente, obras da autora, como Quarto de Despejo e Diário de Bitita são leituras obrigatórias dos principais vestibulares do país. Entretanto, por um grande período de tempo, suas obras sofreram um apagamento. Apesar de ter recebido reconhecimento e premiações na época do lançamento de Quarto de despejo, após a publicação, Carolina foi praticamente esquecida pelo mercado editorial, o que a levou a trabalhar novamente como catadora de papel. Postumamente, levou anos para que Carolina começasse a receber algum reconhecimento na academia, por toda a importância histórica e cultural de suas obras.

Dentre muitos aspectos singulares que marcam as obras de Carolina estão a relevância histórica, por ser uma das primeiras mulheres negras a publicarem livros no Brasil, e a narrativa dura e cruel da vida real de uma mulher preta e favelada no século XIX. Porém, para além dos aspectos sociais, as obras de Carolina também são marcadas por uma subjetividade sensível, que leva o leitor a questionamentos profundos. Dentro de todos esses aspectos está a linguagem utilizada por Carolina, que colocam em xeque, para a crítica especializada e para os leitores e leitoras, o próprio conceito de língua padrão.

Desde as primeiras publicações de suas obras, a linguagem de Carolina é sempre carregada de polêmicas e discussões dentro da academia, dividindo muitos críticos entre aqueles que defendem a manutenção da linguagem e dos traços de oralidade e aqueles que defendem uma  reforma e correção segundo a norma padrão na escrita de Carolina. Assim, não seria diferente com as novas edições das obras de Carolina Maria de Jesus, da editora Companhia das Letras, publicadas em 2020, que trouxeram à tona algumas polêmicas, ao decidirem, junto ao conselho formado para editar as obras da autora, manter os traços originais das obras. Segundo Luiz Rebinski, em texto escrito para o jornal Rascunho: “[…]Esse foi o gatilho para o início de uma discussão quente que envolve escritores, revisores e críticos de diversas matizes […]. A professora Regina Dalcastagnè, do Departamento de Teoria Literária da Universidade de Brasília (UnB), tem se manifestado nas redes sociais criticando a decisão da editora. Para ela, a manutenção dos erros de grafia tem o efeito de “reduzir Carolina Maria de Jesus à sua baixa escolaridade […]”.

Entretanto, segundo Conceição Evaristo e  Vera Eunice de Jesus (2020), no prefácio da nova edição de Casa de Alvenaria , “[…] nossa proposta foi deixar a literatura, a escrita de Carolina poder ser, sem as tantas interferências que aconteceram nas publicações passadas e mesmo em algumas mais recentes”. Regina Dalcastagnè também levanta pontos importantes, como a ideia de não reduzir Carolina a sua baixa escolaridade e não compreender as suas obras como sendo apenas sobre os temas da fome e da miséria. Entretanto, é fundamental ressaltar que as obras de Carolina são também reflexos da vida precária e cercada por preconceitos que ela viveu. Acreditar que manter os textos com a sua escrita original seria, de alguma forma, rebaixar a grande autora que foi Carolina Maria de Jesus, é um reflexo de pensamentos elitistas que circundam a literatura e a academia. A linguagem utilizada por Carolina expressa a sua variação linguística e não apaga em nenhum aspecto a subjetividade e a genialidade da sua escrita. Obras literárias são compostas não somente por seu conteúdo literário, mas também por sua estética, forma e linguagem. Assim como Guimarães Rosa, em o Grande Sertão Veredas, uma linguagem própria que se torna característica do livro; Carolina, da sua forma e com sua singularidade, utiliza a sua variação linguística para escrever as suas obras e criar os seus mecanismos de linguagem.

Por séculos, e até os dias atuais, a língua foi utilizada como um mecanismo de segregação e opressão. Conforme Bagno (1999), o Brasil apresenta uma rica variedade cultural que é manifestada no uso que se faz da língua e, portanto, ocorre no uso uma manifestação das relações de poder, em que, o modo de uso da língua de um determinado grupo dominante é valorizado em detrimento dos demais usos da minorias sociais. Desse modo, as obras de Carolina representam o início de uma quebra com o cenário de segregação e uma resistência aos padrões impostos pelo sistema dominante em defesa do respeito às variações linguísticas pertencentes à população brasileira.

Por fim, fica a forte de recomendação para a leitura das obras de Carolina Maria de Jesus, nos textos originais e também daqueles que possuem a correção ortográfica, para, assim, ampliarmos o debate sobre variação e preconceito linguístico.

 

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49. ed. São Paulo: Loyola, 1999.

OLIVEIRA, Ana Maria Urquiza. A linguagem antirracista no discurso de protesto de Carolina Maria de Jesus –: variação linguística como marca de estilo e identidade. In: SÁ, Edmilson José de (org.). Apenas três…: discussões temáticas em língua, literatura e ensino. Arcoverde: Kandarus, 2021. p. 100-118. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Ana-Luiza-Couto/publication/353669637_A_escrita_ortografica_de_candidatos_do_ENEM_um_estudo_reflexivo/links/6109825a1ca20f6f86fcb1ae/A-escrita-ortografica-de-candidatos-do-ENEM-um-estudo-reflexivo.pdf#page=10. . Acesso em: 14 out. 2022.

PRADO, Luiz. Carolina Maria de Jesus é referência para quem contesta o poder. Jornal da USP, 2021 Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/carolina-maria-de-jesus-e-referencia-para-quem-contesta-o-poder/. Acesso em: 14 out. 2022.

REBINSKI, Luiz. Novas edições reacendem polêmicas sobre Carolina Maria de Jesus. Jornal Rascunho, 2021. Disponível em: https://rascunho.com.br/noticias/novas-edicoes-reascendem-polemicas-sobre-carolina-maria-de-jesus.  Acesso em: 16 out. 2022..

Quatro musicais sobre momentos históricos

24/10/2022 18:16

Por Manoela Beatriz dos Santos Raymundo

Letras – Inglês

Bolsista PET-Letras

 

Muitos musicais de teatro ficaram mais famosos com a vinda dos streamings, como Heathers, Dear Evan Hansen, entre outros. Boa parte desses musicais mencionados se passam em contexto escolar, mas alguns – que ficaram famosos – retratam momentos e contextos históricos marcantes e até alguns não muito mencionados atualmente. É a história de alguns deles que passo a contar, brevemente, e a recomendar.

1 – Six: Six é um musical britânico de 2017, adaptado em 2021 pela Broadway, escrito por Toby Marlow e Lucy Moss, que conta a história das seis esposas de Henrique VIII, rei da Inglaterra de 1509 a 1547. A premissa do show, proposta pelas esposas, é de contar sobre a vida de cada uma. Ao final, o público decidir quem sofreu mais, esta será a líder do grupo.

Descrição Imagem 1: Um quadrado preto escrito “Six” no centro, com o ponto do I sendo uma coroa dourada. Logo abaixo temos os sobrenomes das seis esposas em ordem: Aragão, Bolena, Seymour, Cleves, Howard e Parr.

Com uma visão mais contemporânea dos acontecimentos, usando de referências atuais para retratar alguns momentos, Six é o mais curto dos quatro musicais mencionados aqui, com cerca de uma hora de duração, com menos músicas do que boa parte dos musicais. Six ganhou dois Tony Awards em 2022 de Melhor Figurino e Melhor Design de Som, mas por ser um musical recente, ainda não possui muitas premiações.

2 – Les Misérables: Les Misérables (ou Les Mis) é um musical francês de 1980 composto por Claude-Michel Schönberg, adaptado em 1887 pela Broadway e em 2012 para os cinemas por Tom Hopper. O musical baseia-se no romance de Victor Hugo e se passa nos cenários da revolução do século XIX.

Diferente de Six, Les Mis não pode ser classificado como uma comédia. Contando uma história mais séria, Les Mis ganhou o Tony de melhor musical em 1987; já o filme ganhou o Oscar em algumas categorias como a de Melhor Atriz Coadjuvante, com Anne Hathaway, tendo sido aclamada pela crítica por  “ser a melhor atriz a interpretar Fantine”. Foi também indicado a melhor filme em 2013, perdendo para Argo.

Descrição Imagem 2: Fundo roxo escuro com uma menina de cabelo comprido usando uma boina preta no centro (representando Cosette, filha de Fantine), atrás dela uma bandeira. As cores do desenho se assemelham às cores da bandeira da França sendo, da esquerda para a direita, vermelho, brando e azul. Abaixo do desenho tem escrito Les Misérables, seguido abaixo pelo nome dos compositores do musica.

3 – Hamilton: Adaptado pela Broadway e composto por Lin-Manuel Miranda em 2015, Hamilton conta a história da vida do pai fundador Alexander Hamilton. Este musical retrata os altos e baixos da vida de Alexander, seu período em guerra e fora dela.

É um musical extenso, estando disponível nas plataformas de streaming online da Disney, e possui vários momentos que relatam a independência dos EUA da Inglaterra. Hamilton foi um recordista, sendo nomeado a dezesseis Tony e ganhando onze, incluindo melhor musical, em 2016.

Descrição Imagem 3: Um fundo dourado com a metade de cima sendo mais clara que a de baixo. No centro, uma estrela preta, com a ponta de cima sendo trocada pela silhueta de um homem apontando para cima. Sobrepondo a estrela temos escrito Hamilton, Um musical americano.

4 – Chicago: Chicago é um musical baseado na história de duas mulheres, Velma e Roxie, acusadas de assassinato, respectivamente, pela morte de seu marido e sua irmã –

depois de ter pego eles juntos, em 1924. A história mostra de uma sátira à justiça criminal e pelo conceito de celebridade criminal que gira em torno delas ao voltarem ao show business pela ajuda do advogado Billy Flynn.

Descrição Imagem 4: Um fundo vermelho com vários brilhos brancos. No centro temos o nome “Chicago”, virado na vertical de baixo para cima no mesmo tom de vermelho do fundo, mas cercado por um retângulo preto. Em ambos os lados do nome, temos uma mulher, uma com o cabelo comprido e uma curta, vestindo lingeries pretas, ambas mulheres  em escala de cinza.

Vencedor de seis Tony Awards, Chicago é o segundo musical com mais performances da Broadway, ficando atrás somente de O Fantasma da Ópera. Escrito por Maurine Dallas Watkins, em 1975, e recomposto em 1996, na Broadway, por John Kander e Fred Ebb, Chicago é um dos maiores clássicos dentre os musicais e é um dos favoritos da crítica desde seu lançamento. Há uma versão também premiada do musical para o cinema lançado em 2002, com Renée Zellweger e Catherine Zeta-Jones nos papéis centrais.

Certamente, esses quatro musicais são apenas um recorte de um amplo universo, que chega até aqueles mais densos, como Dancer in the Dark. O que os diferencia é justamente o apelo histórico e o jogo que fazem entre a realidade dos fatos e a fantasia. São musicais interessantes para aqueles que tem apreço pelos temas históricos e são uma ótima maneira de se aprofundar no mundo dos musicais.

Rupturas y transcendencias: ¿quiénes son los hijos de la Chingada?

26/09/2022 10:13

Por Pedro Pedrollo do Santos
Becario PET Letras
Letras Español

 

La historia, que no nos podía decir nada sobre la naturaleza de nuestros sentimientos y de nuestros conflictos, sí nos puede mostrar ahora cómo se realizó la ruptura y cuáles han sido nuestras tentativas para trascender la soledad.

(El laberinto de la soledad, p.36)

 

El laberinto de la soledad” (1950) es una de las obras del poeta, escritor y ensayista mexicano Octavio Paz. Ese importante ensayo de la literatura hispanoamericana ha influido en el pensamiento y en la literatura de lengua española. Paz — Premio Nobel de Literatura en 1990 — presenta una visión singular sobre la esencia de la individualidad mexicana y profundiza en las causas históricas responsables por quien son los mexicanos. Haciendo hincapié en la realidad histórica de México, el escritor analiza rasgos de la identidad nacional mexicana: expresiones, actitudes, gestos, ideas, costumbres, tendencias y ganas del pueblo. Desde el punto de vista del autor, la naturaleza y constitución del mexicano es el resultado de un largo proceso de transformación histórica en el que el mestizaje tiene un papel central.

 

Imagen 1 – Octavio Paz

Fuente: imagen de internet

Descripción de la imagen 1: La imagen en blanco y negro muestra a Octavio Paz en una especie de bosque, vestido con un traje y sentado en una silla mientras sostiene un libro abierto.

Para presentar la obra, elegimos el cuarto ensayo: “Los hijos de la Malinche”. En ese ensayo, Octavio Paz señala que México es impar con cosas buenas y malas tanto en las costumbres y cultura cuanto en la historia y tradición. En sus propias palabras: “Las circunstancias históricas explican nuestro carácter en la medida que nuestro carácter también les explica a ellas. Ambas son lo mismo.” (p. 30). Para él, los mexicanos al igual que su país son únicos con sus propios enigmas, contradicciones, misterios, ambigüedades e imprevisibilidades. Así como en los demás ensayos, en el cuarto ensayo se examina la cultura y el lenguaje mexicano y se demuestra que hasta las “groserías” (en específico la chingada y sus variaciones) tienen un porqué social, cultural e histórico.

Es importante mencionar que el título del ensayo hace referencia a la Malinche (traductora y amante de Hernán Cortez, la que abrió las puertas a la conquista de México), esa figura abstracta y ambigua tan traicionera o más bien estigmatizada en la cultura: hija de la Chingada, que “es una de las representaciones mexicanas de la Maternidad, como la Llorona o la ‘sufrida madre mexicana’” (p. 31). La Chingada — la madre que traicionó a los hijos — abrió una herida en la sociedad mexicana y, por lo tanto, todos los mexicanos son hijos de la Chingada, al igual que la Malinche. El escritor reflexiona de modo crítico sobre el caso y el hecho de que los mexicanos son hijos de una violación, es decir de la violencia de colonización española.

 

Descripción de la imagen: La imagen en blanco y negro es una pintura de Malinche, posa con un traje tradicional de su pueblo que es claro con algunas líneas geométricas, lleva un adorno de forma ovalada en la cabeza junto a una pluma, también lleva collares y pulseras.

 

A partir de esa figura mítica y de las ideas de Rubén Darío sobre la palabra “chingada”, Paz analiza el verbo “chingar” y sus innumerables usos y significados en el México y además en la cultura española y en la hispánica. Según él, conocer el verbo “chingar”, sus usos y variaciones, permite que se esté al tanto de la mexicanidad, pues “La palabra chingar, con todas estas múltiples significaciones, define gran parte de nuestra vida y califica nuestras relaciones con el resto de nuestros amigos y compatriotas. Para el mexicano la vida es una posibilidad de chingar o de ser chingado” (p. 31). Como contraposición, el autor habla de la virgen de Guadalupe. Sin embargo, al reflexionar sobre La Chingada y La Virgen destaca la pasividad de las dos figuras que son la encarnación de la condición femenina.

En síntesis, Octavio Paz nos invita a reflexionar junto a los mexicanos sobre su constitución histórica, política y social: una invariable búsqueda de su identidad y de encontrarse a sí mismos como nación. ¿Qué hace diferentes a los mexicanos? Parece ser la pregunta que invita al lector a saber quiénes son los mexicanos. Pregunto: ¿Quieres conocer las singularidades de México y de su pueblo? ¿Quieres entender más las relaciones de México con los demás países hispánicos y con España? Si contestas afirmativamente a esas preguntas, seguro que uno de los caminos más agradables, principalmente para los amantes de la historia y de la literatura, es la variada obra de Octavio Paz. Por lo tanto, elija “El laberinto de la soledad” y empieza un viajé en la historia, tradición y cultura mexicanas. ¡Disfrútala!

 

REFERENCIA

PAZ, Octavio. Los hijos de la Malinche. In: PAZ, Octavio. El laberinto de la soledad. 2. ed. México: Cátedra, 1992. p. 27-36.

‘Coralice’: as intersecções entre ‘Alice no País das Maravilhas’ e ‘Coraline e o Mundo Secreto’

12/09/2022 08:52

 Por Hanna Boassi

Bolsista PET-Letras

Letras Português

 

É provável que vocês conheçam a história de Alice, a menina que, perseguindo um coelho branco, caiu em sua toca e acabou parando em um mundo mágico chamado de “País das Maravilhas”. Mas e a história de Coraline, vocês conhecem?

 

No filme Coraline e o Mundo Secreto (2009), em um dia chuvoso que não pôde sair de casa, o pai de Coraline sugere a ela que conte o número de portas e janelas do novo apartamento em que estão vivendo. Durante essa atividade, Coraline encontra uma porta, pequena e murada, que é aberta por uma chave com formato de botão. Durante a noite, a garota vê camundongos indo em direção a pequena porta e os acompanha; chegando lá, se depara com um portal que a leva para outra dimensão, muito parecida com a dela, mas à primeira vista melhorada, onde tudo é perfeito e seus pais a dão toda atenção que ela necessita, porém, nessa dimensão, todos que ela conhece são iguais, com a diferença que possuem olhos de botões. Mesmo que Coraline dormisse naquela dimensão, ela acordava em sua vida monótona de sempre, o que a fazia ficar mais tentada a ir toda noite para sua realidade desejada. Entretanto, após algumas noites, as coisas fogem do controle de Coraline e ela começa a perceber que seu mundo perfeito não é tão perfeito assim.

 

Descrição da imagem: na imagem se observa a personagem Coraline Jones, que veste um pijama laranja, tem cabelos azuis e está ajoelhada abrindo uma pequena porta escondida atrás do papel de parede de uma sala em sua casa; é noite, o cômodo está escuro e há um feixe de luz sobre a menina. Ao fundo da sala, há uma lareira apagada; logo acima da lareira um quadro de um menino segurando um sorvete e nas laterais do quadro se vê duas janelas fechadas.

 

Coraline e o Mundo Secreto, dirigido por Henry Selick, é uma adaptação cinematográfica do livro de Neil Gaiman, Coraline. A animação, produzida em 2009 pela produtora Laika, teve indicações aos prêmios Oscar e Golden Globe, no ano de 2010, na categoria “Melhor Filme de Animação”. O filme narra as aventuras da personagem-título que se muda com seus pais para o condomínio Palácio Cor-de-Rosa. Os pais de Coraline trabalham compulsivamente e a menina, por se sentir abandonada, faz uma quase amizade com o neto de sua senhoria, Wybie – ela não aprecia a amizade, mas o menino é sua única companhia. Conhece seus estranhos vizinhos, Sr. Bobinski, o treinador de camundongos, as atrizes aposentadas, Spink e Forcible, e um misterioso gato preto que fica pelas redondezas do Palácio.

Descrição da imagem: A imagem representa o poster do filme Coraline, ao centro se vê a personagem caminhando, vestida com uma capa de chuva amarela e galochas também amarelas, segurando um graveto e acompanhada de um gato preto. Sobre eles há uma árvore, cujo os galhos formam a figura de uma mão monstruosa, e ao fundo uma lua representada na forma de um botão. Na parte superior, a frase “The braver you are, the more you’ll see.” e na parte inferior, o nome do filme Coraline.

 

 

Descrita Coraline, volto à Alice – que citei no início do texto – para comparar as animações Coraline e o Mundo Secreto, dos estúdios Laika, e Alice no País das Maravilhas (1951), dos estúdios Disney. Coraline, assim como Alice, busca por aventuras novas que a tire da monotonia do dia a dia, e assim acaba encontrando novos mundos que parecem sonhos realizados, mas que, no final, não são perfeitos.

Ainda com a perspectiva da história de Alice, na animação Alice no País das Maravilhas (baseada no livro de Lewis Carroll, Alice’s Adventures in Wonderland & Through The Looking Glass and What Alice Found There), a menina, enquanto estudava com sua mãe e cansada da sua rotina, se distrai com um coelho branco vestindo luvas de pelica e um relógio de bolso na mão que se queixa de estar atrasado. Movida pela curiosidade, Alice segue o coelho e acaba caindo em sua toca e aterriza no País das Maravilhas, lugar em que vive muitas aventuras e conhece personagens “ilustres”, tal como o Chapeleiro Maluco e o Gato de Cheshire.

 

Descrição da imagem: à esquerda é possível ver o nome do filme “Alice no País das Maravilhas” com uma fonte dourada e logo acima o nome “Disney” em fonte branca. Na direita se vê a personagem Alice, que tem cabelos loiros e veste um vestido azul, sobreposto com um avental branco, meias brancas, sapatos pretos e um laço azul escuro na cabeça. Na sua frente se vê o coelho branco vestido com uma roupa formal, gravata borboleta e óculos redondos, ele segura em sua mão esquerda um guarda-chuva fechado e em sua mão direita um relógio de bolso o qual encara. Sobre eles se observa um galho de árvore com o Gato de Cheshire sobre ele, o gato é rosa com listras roxas, tem olhos amarelos e um sorriso no formato de meia lua. Atrás deles pode se ver a Rainha de Copas, vestida de vermelho e segurando um flamingo rosa.

 

 

Uma figura semelhante nas duas histórias são os portais para uma outra dimensão: em Alice no País das Maravilhas, o portal se revela na toca de coelho e por uma pequena porta dentro da toca que se abre com uma chave escondida; já em Coraline e o Mundo Secreto, em um poço muito fundo no quintal do Palácio Cor-de-Rosa e pela pequena porta que a menina encontra explorando seu apartamento novo.

Outra figura presente nas duas obras é a do gato. Em Alice, ele aparece como o Gato de Cheshire, e em Coraline, ele aparece como um gato preto que a acompanha pela sua aventura entre os dois mundos.

Descrição da imagem: Na imagem temos o Gato de Cheshire, ele é rosa com listras roxas, tem olhos amarelos e um sorriso no formato de meia lua.

 

Descrição da imagem: Na imagem se vê um gato preto, com olhos azuis e orelhas pontudas

 

Na adaptação cinematográfica de Coraline, o elemento que aguça a curiosidade da menina são os camundongos que a levam até a porta-portal, se assemelhando mais ainda à obra de Carroll: “[…] o elemento usado por Gaiman (no livro) é a figura estranha que aguçará a curiosidade da menina. Neste caso, é a sombra que faz com que Coraline vá até a sala e veja a porta aberta, mesmo tendo certeza de que sua mãe a fechara. É devido a essa sombra que Coraline abre a porta no dia seguinte e, em vez de uma parede de tijolos, encontra um túnel, que a leva ao outro lado. Gaiman substituiu o coelho branco de Lewis Carroll pela sombra da “outra mãe” de Coraline” (CASTILHO, 2011).

Mas o que mais se aproxima nas duas obras é, de fato, a representação das duas personagens pela inocência da criança e o desejo por uma vida mais alegre e divertida. Na história de Alice, ela vai parar em um mundo desregrado, onde seus habitantes não medem suas ações e vivem quase como querem. Inclusive, a governante do País das Maravilhas, a famosa Rainha de Copas, que em qualquer desagrado pune os habitantes “cortando-lhes as cabeças!”. Enquanto em Coraline, a personagem vai parar em um mundo ( o “Outro Mundo”) em que precisa medir cada atitude e resolver situações pré-planejadas por sua criadora, a Outra Mãe, como se fosse um jogo e ela precisasse estar sempre um passo à frente para que ela possa ganhar e voltar para sua casa verdadeira.

As duas obras, por fim, têm efeitos semelhantes: as duas meninas desejam por aventuras e felicidade constantes, mas acabam percebendo que nada é como parece e, no final, ambas desejam voltar para suas vidas e aprendem a aproveitar o que já possuem.

 

REFERÊNCIA

CASTILHO, Natália de Melo. Intertextualidade entre Coraline e Alice’s Adventures in Wonderland & Through The Looking Glass and What Alice Found There. 2011. 29 f. Monografia (Especialização) – Curso de Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2011.

 

O romance de formação no contexto de obras escritas por mulheres

03/09/2022 09:01

Por Emmanuele Amaral Santos

PET-LETRAS

Letras Português

Em um vídeo elaborado pela TV Brasil no quadro “trilha de letras”, a escritora Carola Saavedra comenta que o “romance de formação” permite compreender um pouco mais sobre quais são as definições culturais que transformam uma criança em adulto. Dentre essas definições, podemos pensar em ritos de passagem como a menarca, mudanças na escolha das vestimentas, usos da linguagem, faixa etária e diversas responsabilidades que envolvem não só as escolhas do ser “em formação”, mas também o que é socialmente esperado dele.

Historicamente, a tradição canônica traz obras escritas e protagonizadas por homens brancos como exemplos de romance de formação por excelência, tais como David Copperfield, de Charles Dickens, e O apanhador no campo de centeio de J.D. Salinger.  Em contrapartida, as vivências femininas, que ainda são pouquíssimo representadas nos contextos de “romances de formação”, podem ser percebidas em diversas obras quando assumimos a ideia de que livros podem ser lidos e interpretados como “romances de formação” – escolha de narrar as vivências de um personagem no decorrer do seu processo de amadurecimento – tal como argumenta Saavedra. Deste modo, obras como Jane Eyre e A redoma de vidro também podem ser analisadas como exemplos dessa perspectiva.

Um maior número de escritos que se enquadrem como “romances de formação” permite são só investigar as diferenças e as semelhanças entre definições histórico-culturais para homens e mulheres em diferentes décadas, mas também como esses paradigmas ainda interferem em nossas concepções contemporâneas de “torna-se” adulto. Além disso, quando somamos essa escolha narrativa a aspectos autobiográficos, certas obras como Eu sei porque o pássaro canta na gaiola, de Maya Angelou, e os diários publicados de Maria Julieta de Andrade, Helena Morley e Anne Frank, podem ser incluídos como um importante material para entender mais intimamente sobre aspectos formadores característicos de cada época e suas dualidades.

Em Metáforas de vida e de escrita, apresentado na edição 203 da revista Cult, por exemplo, Miriam Adelman cita as percepções distintas da casa/ambiente doméstico como local restritivo para mulheres brancas e da perspectiva de um lar como sinônimo de uma liberdade e de uma segurança que era negada às mulheres negras. As nuances dessa dualidade perpassam violências estruturais e reflexões íntimas na obra de Maya Angelou, que relata a importância da comunidade afro-americana em um contexto de forte segregação racial, no qual a sua casa (segurança) virou seu bairro.

Assim, tanto Miriam Adelman quanto Carola Saavedra reafirmam a importância de perceber as dualidades de conceitos, percepções e objetivos da escrita de mulheres, identificando como essas obras expressam diversas vivências mais ficcionadas ou menos ficcionadas do que são as trajetórias de se compreender como mulher em diferentes recortes sociais, raciais e históricos.

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Descrição da imagem: Na imagem apresenta-se um livro apoiado em uma parede de fundo branco. A capa do livro é composta pelas feições de uma jovem mulher na horizontal, desenhadas a partir de traços beges em um fundo escuro no qual destacam-se os olhos e os lábios. Na bochecha inferior é possível identificar “Maya Angelou” em laranja ao lado de “eu sei porque o pássaro canta na gaiola”, escrito em bege.

REFERÊNCIAS

ADELMAN, Miriam. Metáforas de vida e de escrita. Revista Cult, 7 jul. 2015. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/metaforas-de-vida-e-de-escrita/. Acesso em: 02 set. 2022.

ROMANCE de formação. Direção de Emília Ferraz. São Paulo: Tv Brasil, 2019. YouTube (26 min.), son., color. Série Trilha de letras. Disponível em: https://tvbrasil.ebc.com.br/trilha-de-letras/2019/08/romance-de-formacao. Acesso em: 02 set. 2022.