Genshin Impact: da diversão ao conhecimento

24/04/2023 08:51

Por Izabel Bayerl Bonatto

Letras-Português

Bolsista PET – Letras

 

Genshin Impact, lançado em setembro de 2020 pela empresa chinesa miHoYo, também conhecida por HoYoverse fora da China, é o mais novo jogo de RPG eletrônico de ação e aventura disponível para PlayStation 4, Windows, Android e IOS. O jogo em si é muito elogiado por causa de sua qualidade gráfica, das histórias de aventuras envolventes e da jogabilidade interativa.

Quando iniciado, o jogador deve escolher entre os gêmeos Aether ou Lumine para ser seu personagem principal, denominado então ‘viajante’, e que tem como companheira de viagem a Paimon enquanto exploram o mundo aberto de Teyvat. Ao longo do jogo, o jogador explora as sete nações que dividem Teyvat, governadas cada uma por um arconte elementar, lutando contra inimigos diversos e mistérios do mundo, a fim de descobrir o paradeiro de seu familiar depois de serem separados por uma deusa desconhecida.

Descrição da imagem: o fundo da imagem é o chão em detalhes de pedra; no canto superior esquerdo, está o nome do jogo “Genshin Impact”. No centro da imagem aparecem os dois irmãos gêmeos do jogo: do lado esquerdo está Aether, que possui cabelos dourados e veste uma roupa em tom de marrom e preto com adornos brancos e dourados; do lado direito está Lumine; ela também possui cabelos dourados, mas num tom mais claro, e veste um vestido branco com adornos em azul claro e dourado.

Como dito por Bloomfield (2022, p.50-51):

[…] dentre as muitas atividades a serem realizadas no jogo, o uso da matemática é indispensável devido a diversos fatores: elaboração de builds para fortificar os personagens, requisitando análises dos dados do personagem, as porcentagens de  artefatos, gestão de recursos, puzzles que desafiam os conhecimentos da área matemática do jogador pois o uso (e o conhecimento) de cálculos é necessário se quiser receber as recompensas de forma rápida.

O jogo ainda possui a possibilidade de controlar vários personagens, cada um com habilidades e elementos elementares únicos, que podem ser combinados em equipes para enfrentar os desafios que surgem no caminho. Além disso, o jogo apresenta um sistema de evolução de personagens, pelo qual o jogador pode melhorar as habilidades e equipamentos dos personagens para torná-los mais fortes e eficazes em batalha.

Nesse mundo mágico, existem as “visões elementais”, ou seja, sete elementos: Anemo (ar), Geo (terra), Electro (eletricidade), Dendro (planta), Cryo (gelo), Pyro (fogo) e Hydro (água). Cada um possui um símbolo específico e uma nação que o representa. Apesar de não ter uma visão elementar, o viajante pode controlar os múltiplos elementos do jogo, podendo ser utilizado apenas um por vez. Além disso, no mundo de Teyvat existem outros personagens que possuem uma dessas visões.

Outro aspecto importante são as combinações e reações físicas possíveis de serem feitas entre os elementos presentes no jogo: “Os elementos são utilizados para interagir com o cenário e também como poderes de ataque em lutas provocando reações físicas entre eles, as denominadas ‘reações elementais’, produzem diferentes efeitos nos inimigos e no ambiente do jogo. Essas reações ocorrem sempre entre dois elementos distintos e as nomeações delas são baseadas em conceitos físicos reais” (SILVA, 2022, p.20).

Um exemplo seria a combinação de Pyro (fogo) e Electro (eletricidade) que, quando combinadas, formam a reação física de sobrecarga, ou ainda Hydro (água) e Cryo (gelo) que ativam juntos a reação de congelamento, entre diversos outros.

Portanto, nota-se que em Genshin Impact, além da jogabilidade, ainda é possível notar-se a necessidade de conhecimentos básicos de matemática e física em diversos momentos ao longo do jogo. Vale ressaltar ainda que nem todas as nações estão disponíveis em Teyvat, apenas Mondstadt (anemo), Liyue (geo), Inazuma (electro) e Sumero (dendro) são jogáveis até o momento – as outras ainda estão em desenvolvimento e sem previsão de serem lançadas: Fontaine (hydro), Natlan (pyro) e Snezhnaya (cryo).

 .

REFERÊNCIAS

BLOOMFIELD, Fernanda Cristina Teixeira. Level up: estudo exploratório sobre jogos digitais não educativos como fonte de desenvolvimento da informação e do conhecimento. 2022. p. 67 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação) – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/handle/11422/16900.

SILVA, Arianne Dechen. Jogos e o ensino de física: possibilidades do uso do role playing game (rpg) computatorizado como recurso didático. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/238905.

Anonimato online: por que precisamos dele?

18/04/2023 10:54

Por Andrés Leonardo Salas Garces

Letras – LIBRAS

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O anonimato é uma ferramenta que se utiliza diariamente na sociedade e que pode ter diversas motivações e implicações, tanto positivas como negativas. “Tradicionalmente, aqueles que se beneficiaram do anonimato eram dissidentes, ativistas de direitos humanos, jornalistas e membros de comunidades vulneráveis” (KRAHULCOVA, 2021). Segundo a psicologia e a sociologia, o anonimato outorga para o sujeito um tipo de “poder” sobre a exposição da sua identidade, protegendo-o de consequências que podem vir no caso de ser exposto, no cotidiano. Um exemplo seria uma declaração de amor ou uma denúncia de algum crime. Outro exemplo, dessa vez em que a sociedade se beneficia do anonimato, é nas eleições presidenciais, como no caso do Brasil e da maioria dos países do mundo. Por lei, o governo está obrigado a garantir a privacidade do eleitor com objetivo de que o voto não seja ordenado ou conhecido por ninguém mais; no caso contrário, votar por aclamação, expresso oralmente ou sem privacidade, é considerado coercitivo – quer dizer, um voto influenciado. É o anonimato uma ferramenta necessária para garantir a liberdade de expressão e decisão dos cidadãos.

Em um artigo feito pelos pesquisadores Emily van der Nagel e Jordan Frith, de 2015, algumas pessoas argumentam que o anonimato é a causa do comportamento anti-social e que a eliminação do anonimato resolveria o problema. Por exemplo, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, afirmou que “ter duas identidades para si mesmo é um exemplo de falta de integridade”; sua irmã, Randi, diretora de marketing do Facebook, argumentou que o anonimato na internet deveria ser eliminado e que o comportamento anti-social é um produto do anonimato. No entanto, a identidade não é uma coisa singular e que a autenticidade não significa completa abertura. A apresentação da identidade é influenciada pelo contexto e pelo público. Além disso, as identidades online não podem ser dissociadas da economia política da internet. O Facebook é a maior rede social do mundo e a identidade que os usuários criam na plataforma é utilizada em vários outros sites da internet. O artigo conclui que a compreensão da identidade na internet não é simples e requer uma análise mais aprofundada das complexidades envolvidas.

A tentativa de identificação dos usuários pode se deparar em uma espécie de cruzada contra a “grande-internet-ruim”, promovendo medidas draconianas em nome da proteção dos vulneráveis. No entanto, as medidas muitas vezes acabam prejudicando aqueles que proclamam proteger. Um exemplo claro foram as políticas de privacidade do Facebook: elas obrigavam seus usuários a utilizar o seu nome real no perfil e com o tempo percebeu-se que isto pode ter consequências negativas, pois, afinal, quem se realmente se beneficia do anonimato neste contexto?

Pois bem, em uma pesquisa publicada pela The Geek Feminism Wiki, quase a metade da população mundial se beneficia de pseudônimos. Muitos deles pertencentes a diferentes grupos sociais, mas da longa lista desses grupos, os exemplos mais citados são de vítimas-sobreviventes de violência doméstica que utilizavam pseudônimos por medo a ser encontradas pelo perpetrador (WIKI, 2011). Foi por esse motivo e por alguns outros, como o possível acesso à informação delicada por ataques de hackers, que no ano de 2018 o governo alemão determinou que as políticas de identificação do Facebook eram ilegais.

Descrição da imagem: foto real de fundo cinza com 5 mulheres em ordem de estatura ascendente de direita para esquerda com roupas formais; elas estão segurando um papel tampando o rosto com um desenho de caras de diferentes expressões e formatos. A primeira mulher está vestida de terno aberto e saia cinza com camisa rosa; a segunda mulher de calças cinzas e camiseta branca; a terceira mulher está de terno fechado e calças vermelhas; a quarta mulher esta vestida de camisa branca com estradas finas pretas e calças pretas; a última mulher está de camisa azul claro com calças vermelhas.

Em conclusão, uma boa política pública deve ser baseada em evidências e não em opiniões pessoais ou anedóticas. Os cidadãos merecem uma abordagem regulatória adequada para o mundo interconectado em que vivemos e isso deveria começar com uma atualização da Lei de Privacidade, e não com ideias mal pensadas sobre dar às plataformas digitais cópias de nossos documentos de identificação mais confidenciais.

 

REFERÊNCIAS

KRAHULCOVA, L. Australian Digital Rights Watch. 2021. Disponível em: https://digitalrightswatch.org.au/2021/04/30/explainer-anonymity-online-is-important

WIKI, G. F. (2011). Harassment policy. Fandom. 2011. Disponível em: https://geekfeminism.fandom.com/wiki/Who_is_harmed_by_a_%22Real_Names%22_policy%3F

Inteligência Artificial: Até onde uma máquina é somente uma máquina?

09/04/2023 16:51

Por Manoela Beatriz dos Santos Raymundo

Letras – Inglês

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Descrição da Imagem 1: Vemos uma cidade futurista ao fundo, com prédios altos, com luzes em tons de azul. Na frente, à direita, vemos metade do rosto de Connor, andróide e um dos protagonistas do jogo Detroit Become Human. Ele tem a pele branca, cabelos e olhos castanhos e uma marca circular pequena do lado do rosto, logo acima da sobrancelha. Do seu lado, tampando parte da cidade ao fundo, temos o nome do jogo escrito Detroit Become Human em fonte branca.

É comum vermos máquinas fazendo o trabalho de pessoas e até nos auxiliando no dia a dia, como a Alexa, mas e se a tecnologia avançasse tanto que máquinas como essa começassem a agir como nós, viver como nós? Se você programa uma Inteligência Artificial para agir de maneira mais humana, capaz de sentimentos e tomadas de decisão como a nossa, o que a separaria de uma pessoa humana? Até onde essa máquina seria somente uma máquina?

Existem inúmeras obras que retratam civilizações avançadas e tecnológicas, como Eu, Robô e O Homem Bicentenário, ambas do escritor russo Isaac Asimov e adaptadas para o cinema. Esta temática está cada vez mais recorrente, como no recente Megan (M3GAN), de Gerard Johnstone. Na época em que Asimov escreveu, essa realidade tecnológica parecia distante demais para se pensar, mas estamos cada vez mais próximos delas do que imaginamos.

Descrição da Imagem 2: Um fundo verde com uma logo branca, semelhante a uma flor. Logo abaixo está escrito “Chat GPT” em fonte preta.

Assim é que, em novembro de 2022, foi lançado o Chat GPT, uma inteligência artificial (IA) que simulava um bate papo e respondia a perguntas de forma similar a uma pessoa, fornecendo informações e opiniões sobre diversos assuntos. O diferencial do Chat GPT, em comparação a outras IAs como a Instruct GPT (seu antecessor), é a capacidade de distinguir falsas afirmações, ao invés de forjar uma resposta que simulasse uma explicação do que lhe foi dito. Chat GPT também foi programado para não operar com solicitações racistas, sexistas e afins, apesar de ainda ter certas limitações como respostas confusas.

É de se esperar que esse tipo de avanço com inteligências artificiais seja assustador para alguns. Os próprios filmes nos mostram possibilidades de máquinas se virarem contra a humanidade. É por isso que existem conjuntos de “leis” para quando tratamos de inteligências artificiais: as três leis da robótica. Criadas por Isaac Asimov para seus livros, elas começaram a ser levadas em conta quando se abordava o assunto de IA:

1ª Lei: um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2ª Lei: um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.

3ª Lei: um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

Descrição da Imagem 3: Capa do livro “Eu, Robô”. Um fundo branco. No topo, o nome do autor “Isaac Asimov” em fonte cinza, logo abaixo em fontes maiores, o nome do livro “Eu, Robô”. Cobrindo parte do nome temos uma máscara futurista, com vários cabos e partes metálicas; no lugar dos olhos, duas pequenas lâmpadas.

 

As leis de Asimov cada dia passam a se tornar mais relevantes, tendo em vista o avanço que temos nas IAs. Porém, diferente de Asimov, existe um teste que é realizado em Inteligências Artificiais para verificar se a máquina poderia ser considerada “inteligente”: o Teste de Turing, proposto por Alan Mathison Turing (matemático e cientista da computação inglês). Trata-se de um jogo, chamado O Jogo da Imitação (que ganhou popularidade com o filme de mesmo nome estrelado por Benedict Cumberbatch). O jogo envolve três pessoas (A, B e C): A é uma máquina, enquanto B e C são seres humanos. O objetivo é que a máquina consiga convencer a pessoa C (o juiz) de que ele está conversando com um humano. Se o juiz não conseguir diferenciar a máquina e o humano, é considerado que a máquina passou no teste.

Chat GPT foi a segunda IA a conseguir passar pelo Teste de Turing. O primeiro foi um computador russo que se passou por um rapaz ucraniano de 13 anos chamado Eugene Goostman. Diferente do Chat GPT, Eugene passou no teste mas com algumas ressalvas. A máquina conseguiu convencer ser um adolescente de 13 anos, mas não possuía respostas 100% corretas, o que foi desconsiderado em parte por se tratar de um rapaz de 13 anos – digamos que ele  foi “ajudado” pelo contexto.

Descrição da Imagem 4: Na imagem temos Alan Turing, cientista da computação e matemático britânico. Ele tem pele branca, cabelos e olhos escuros e veste um terno. A imagem está em escala de cinza.

No caso do Chat GPT, podemos realmente considerar uma máquina “inteligente”? Muitos podem achar  até mesmo assustadora a ideia de que máquinas ficam mais inteligentes a cada dia que passa. Muitos criadores de conteúdo, como desenvolvedores de jogos, já imaginam esse futuro, como por exemplo David Cage, diretor de Detroit Become Human

Detroit Become Human é um jogo publicado em 2018 pela Sony Interactive para Playstation 4 e Microsoft Windows. O jogo se passa na Detroit futurista de 2038, onde andróides criados pela empresa CyberLife coexistem no dia a dia dos humanos, cumprindo funções antes destinadas a eles. Por conta disto, uma parcela da população vai contra a implementação dos andróides, alegando que não deveríamos utilizar máquinas para agir como pessoas. 

No jogo, androides que mudam sua maneira de agir em relação a programação que lhes foi dada são chamados Deviantes. Eles começam a duvidar de sua programação, passam a agir conta as ordens e a expressar sentimentos com relação às pessoas. Então, o que separaria esses deviantes de nós, humanos? Uma máquina capaz de expressar emoção, saudade, culpa e vontades, poderia estar próxima a ser uma pessoa. Vemos isso com Chat GPT,por exemplo, que é capaz de expressar opinião acerca de certos assuntos. O quão parecida é essa máquina em comparação a uma pessoa? E o quão distante ela está de ser tratada como um “ser”?

Onde encontro assistência e acolhimento na UFSC?

29/03/2023 07:48

Por Franciane Ataide Rodrigues

Letras Libras

Bolsista PET-Letras

 

O início de semestre traz consigo uma enxurrada de informações para os recém aprovados na universidade, nesse período muitos alunos estão em processo de adaptação em uma nova cidade e também à vida universitária. Nesse sentido, é muito importante que ao entrar na universidade, o indivíduo saiba como e onde procurar acolhimento dentro da instituição.

Descrição de imagem: Pessoas andando em frente ao prédio da reitoria UFSC campus Trindade. O prédio tem a parede decorada com peças coloridas de diversas formas, na forma de um mosaico. No canto superior direito, ramos de uma árvore em frente ao prédio; no canto inferior esquerdo uma moça de roupas pretas caminha em frente ao prédio. No canto superior esquerdo vários homens também caminham pelo campus em frente a reitoria; canto inferior esquerdo, há grama verde em frente ao prédio.

Dentre as opções de acolhimento disponibilizados para os estudantes estão os:

 

Pró-Reitoria de Permanência e assuntos estudantis – PRAE

Dentro da PRAE existe um departamento específico que exerce a função de acolhimento estudantil: o setor de Psicologia Educacional .

O atendimento tem como foco proporcionar a permanência dos/as estudantes e é direcionado para acadêmicos da UFSC com cadastro na PRAE ou oriundos de escolas públicas

Neste setor, os atendimentos realizados não são caracterizados como psicoterapias; a abordagem é focada em dificuldades ligadas ao contexto educacional, como ambientação na Universidade, sofrimento psíquico relacionado à vida universitária, relações com colegas, docentes e demais servidores/as da UFSC, construção de uma nova rede de apoio e como escuta para entender e direcionar o estudante.

Também são realizadas ações coletivas abertas a todos/as estudantes, com prioridade para aqueles com Cadastro PRAE ou que vieram de escola pública, como por exemplo o grupo Longe de Casa: e agora?,  que é voltado a estudantes que vieram de outras cidades para estudar na UFSC e estão nas primeiras fases do curso.

 

Serviço de atenção psicológica – SAPSI

Todos os atendimentos oferecidos pelo setor são gratuitos. Os serviços são oferecidos à comunidade interna e externa à UFSC, desde que a pessoa possa comparecer presencialmente ao SAPSI, que fica no departamento de psicologia no centro de filosofias e ciências humanas (CFH) bloco D, 2° andar no Campus Trindade.

O acolhimento Psicológico Geral acontece de modo presencial e em sessão única, podendo ser agendado retorno caso o profissional identifique essa necessidade. É realizado pelos estagiários e extensionistas supervisionados pela equipe de Psicologia do SAPSI. Na página,  também é possível encontrar indicações de clínicas sociais incluindo atendimento psicológico em Libras:

É importante ressaltar que cada serviço possui seu prazo e forma de inscrição.  Veja abaixo as opções de atendimentos de acolhimento psicológico oferecidos pelo SAPSI:

Acolhimento Psicológico Geral

Acolhimento Psicológico ao Luto

Acolhimento Psicológico Infantil

 

Coordenadoria de Relações Étnicos Raciais – Coema

Em 2022, a UFSC aprovou uma política de enfretamento e a erradicação do racismo institucional e quaisquer violações aos direitos humanos implantando o atendimento individual especializado por meio do Serviço de Acolhimento a Vítimas de Violências. Os agendamentos se sãopelo e-mail seavis@contato.ufsc.br.

Coordenadoria de Diversidade Sexual e Enfrentamento da Violência de Género – CDGEN/PROAFE 

A Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (PROAFE) criou a CDGEN para formalizar políticas de enfrentamento à fobia de gênero e às violências contra mulher no âmbito da UFSC; através deste setor é oferecido apoio institucional para a promoção dos direitos da população universitária de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexuais e demais (LGBTQIA+), além de mulheres vítimas de violências.

O departamento recebe e encaminha denúncias de discriminação por orientação sexual e identidade de gênero aos setores responsáveis, bem como o acolhimento/atendimento psicológico. O endereço e o contato são os seguintes:

  • Endereço: Térreo da Reitoria 1 – Campus Reitor João David Ferreira Lima – Bairro Trindade
    Florianópolis – Santa Catarina – Brasil
  • Telefone: (48) 3721-594

 

Em breve, a UFSC contará com o Serviço Especializado de Atendimento às Vítimas de Violências (SEAVIs), visando oferecer uma escuta e um trabalho qualificado aos sujeitos que têm seus corpos marcados pela violência, como a LGBTQIA+ fobia.

É de extrema importância que os alunos tenham seus direitos de permanência assegurados e de fácil acesso. Portanto, não hesite em usufruir das instâncias existentes na UFSC.

 

Slam Xodó e o amor em SC

20/03/2023 16:23

Por Angelo Perusso

Letras-Português

Bolsista PET-Letras

Antes de tudo, o que é slam? O slam é um tipo de competição de poesia falada, que foi criado na década de 1980, em Chicago, por Marc Kelly Smith. No slam, os poetas declamam seus textos autorais e são avaliados por jurados (geralmente escolhidos na plateia) e assim classificados até termos um vencedor. No contexto brasileiro, o slam se tornou um gênero literário de resistência, muito inspirado pelo rap, em que se priorizam temas como a experiência das pessoas periféricas e marginalizadas, bem como o combate a opressões como o racismo, o machismo, a lgbtqia+fobia entre outras ideologias e estruturas que tornam o mundo desigual.

O slam tem como característica fundamental dar voz. Todos podem competir e assistir, o que colabora para que textos poéticos, discursos e pessoas que geralmente são invisibilizadas pela sociedade possam ser ouvidos, apreciados e elevados pelo público. Além disso, o slam colabora para a construção de um saber coletivo. Tal fator se dá por três motivos: o primeiro é que o debate público feito com profundidade sobre diversos temas latentes na sociedade faz com que muitas pessoas possam se informar e aprender sobre diversos temas. O segundo é que, ao ter contato com a arte e a literatura produzida pelo slam, muitos jovens e adultos se sentem impulsionados a consumir literatura. Terceiro, porque a poesia do slam, além de ocupar o espaços das ruas e bares, também ocupa o espaço escolar tanto na produção de oficinas e demonstrações por parte de coletivos de poetas (como foi e é feito em Porto Alegre pelo coletivo Poetas Vivos) quanto em projetos como a construção do Slam Interescolar, em São Paulo, que é uma grande competição de poesia entre as escolas paulistas, que leva muitos jovens ao caminho da arte e que dá voz às suas questões e pensamentos.

No contexto de Santa Catarina, o movimento do Slam esteve adormecido, muito graças ao período pandêmico,  . O mais antigo que havia no estado, na cidade de Joinville, o Slam Guará, é referência no trabalho com o slam catarinense; ainda no norte do estado, atuou lindamente em 2022 o Slam Para Antonieta, que homenageia Antonieta de Barros e que tinha atuação itinerante entre Camboriú, Itajaí e Navegantes; já dentro da capital , surgiu o Slam Cruz e Sousa, homenageando o grande poeta Cruz e Sousa e que teve e tem atuação de referência na expansão do movimento do slam na cidade e no estado, e que teve grande papel na ressurreição do movimento aqui em Santa Catarina. Por fim, o Slam Estrela D’Alva, competição organizada por nós do PET-Letras e por mim, Angelo Perusso, que tem com diferencial e objetivo levar vozes periféricas e discursos excluídos do meio acadêmico para dentro do espaço universitário. Já em 2023, motivado pelo sucesso do slam no estado, surgiram diversos outros coletivos, como o Slam Carijó, Slam Dita, Slam Nosso Olhar, Slam Descoloniza Blu, Slam da Coline. O útimo deles, no qual componho a organização e que quero enfocar, é o Slam Xodó.

A foto mostra uma edição do slam xodó. Thuany está no centro do palco com o microfone na mão próximo à boca; ela é uma mulher negra, vestindo roupas brancas. Ao seu lado está Liza, olhando atentamente; ao redor vemos muitas pessoas, de costas, olhando a apresentação. No teto do espaço está um globo brilhante.

Como vimos, o slam tem muito espaço para textos mais sociais e combativos, entretanto, acaba acontecendo que alguns poetas prefiram falar sobre seus sentimentos, romances, amores e afetos – o que tem menos espaço nas competições de tema livre. O Slam Xodó foi criado com uma regra a mais: o poema tem de abordar o amor, em qualquer uma das suas formas. Pode ser sobre desamor, amor próprio, amor familiar, amor pelos pets, sobre afeto, sexo, aconchego, sobre todo o universo que compõe nossos xodós. Assim, as edições são noites de muito carinho; quem vai sai de lá abraçado, leve, em paz com o coração. De certa forma, a ideia do Slam Xodó se relaciona com o seguinte poema, de Sérgio Vaz:

Resistir ao lado das pessoas que a gente gosta,

deixa a luta mais suave, a gente não quebra, entorta.

As lágrimas ficam filtradas,

O suor mais doce e o sangue mais quente.

E sem que a gente perceba, percebendo,

as coisas começam a mudar à nossa volta.

E aquele sonho que parecia impossível,

acaba virando festa, enquanto a gente revolta.

O slam é um espaço de luta, disto não há dúvida. Porém, lutamos porque amamos. Lutamos porque amamos o povo e queremos que estes que amamos tenham uma vida justa, digna. Lutamos para que aqueles que amamos tenham comida, saúde, moradia, estudo, e a segurança de que podem viver em paz, sem ser alvos de políticas genocidas e sem ter seus direitos básicos negligenciados. Portanto, o amor é uma parte fundamental da luta, talvez de mãos dadas com a revolta, talvez um passo atrás, mas inegavelmente integrante da nossa busca por um mundo melhor. Logo, dentro deste movimento artístico e político, ele precisa ter também espaço, e essa é a ideia do Slam Xodó: espalhar o amor dos versos para os corações que amam a poesia.

Já aconteceram duas edições do Xodó: a primeira, no Espaço Multitudinal, no mês de fevereiro, e a segunda, na Casa Frisson , no último sábado, dia 18 de março, em que só competiram poetas mulheres e pessoas trans e não binárias. Ambos os eventos reuniram mais de 120 pessoas compondo o público e mais de 20 poetas em cada edição, o que evidencia: existe amor em SC.

Irmão do Jorel: imaginação e história

13/03/2023 06:37

Por Hanna Boassi

Letras – Português

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Irmão do Jorel (2014) é uma série em animação brasileira criada por Juliano Enrico e produzida em parceria pela Cartoon Network e Copa Studio. A série mostra a vida do garoto conhecido apenas como Irmão do Jorel, filho caçula de uma família de acumuladores presa nos anos 80; junto com sua melhor amiga Lara, enfrenta os desafios da vida, tentando sair da sombra de seu irmão celebridade.

É importante ressaltar o fato de que o personagem não tem um nome, sempre sendo relacionado ao seu irmão Jorel; esse desprezo pela sua identidade nos dá a ideia do apagamento da autonomia da criança, de seus problemas e vontades. Outro ponto que chama atenção na produção é que a animação se assemelha a muitas outras produções da Cartoon Network, sempre criando situações de forma mais lúdica. O diferencial de Irmão do Jorel é que os elementos da imaginação do personagem principal, que é uma criança, se misturam com a realidade, nos dando a possibilidade de ver o mundo com uma perspectiva mais infantil e imaginativa.

Dessa perspectiva lúdica, leiamos Vigotski (1982, p. 8): “A imaginação, como base de toda atividade criadora, se manifesta por igual em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e técnica.” Segundo Almeida e Souza (2021), a atividade imaginativa se liga com a realidade de diversas formas, como através de elementos tomados da realidade e aqueles extraídos de experiências anteriores, já que a fantasia se constrói a partir de elementos do mundo real. 

Sendo assim, as crianças têm maior facilidade de criar o seu mundo particular, mesmo sabendo da existência da realidade. Elas utilizam desse poder imaginativo para poder criar uma melhor forma de lidar com questionamentos e situações que possam ser expostas. No caso do Irmão do Jorel, podemos acompanhar a vida de uma criança excluída do ambiente em que vive, estando sempre à sombra de seus irmãos mais velhos, mas assistimos especialmente Jorel, que na trama é uma celebridade. 

Descrição da imagem: o personagem Irmão do Jorel está centralizado na imagem; ele é branco, com cabelos cacheados pretos, e veste uma regata preta, bermuda vermelha e galochas amarelas. Sua expressão facial é de deslumbramento e ele se encontra em meio a árvores. 

Algo muito presente em Irmão do Jorel são suas referências históricas e como são retratadas para o público infantojuvenil. No segundo episódio da primeira temporada, por exemplo, chamado “Gangorra da Revolução”, o pai do Irmão do Jorel conta-lhe, já no início, como é importante lutar por sua liberdade e como ele fazia isso em sua época de “revolucionário”. O pai do Irmão do Jorel ressalta a importância de uma revolução e de ser um revolucionário para o filho e, de uma forma satírica, ele conta histórias dos seus dias de revolução.

Descrição de imagem: seis policiais representados como palhaços estão enfileirados como uma barreira; atrás dele se observa um tanque de guerra verde, e à frente deles, o pai de Irmão do Jorel, vestido com uma fantasia de urso panda.

Mais adiante na narrativa, vemos o Irmão do Jorel lutando contra o autoritarismo de sua diretora junto de seus colegas, que desejam aproveitar mais tempo do recreio. Mas o que chama atenção no episódio são as diversas referências ao período da Ditadura Militar (1964-1985). Na animação, os policiais são retratados como palhaços: eles já haviam implantado uma ditadura repressiva onde os próprios palhaços eram proibidos de se divertir e fazer piadas.

Apesar de ser uma animação voltada para o público infantil, Irmão do Jorel pode ser utilizado para além do entretenimento e também como material de apoio didático, já que faz essa aproximação da história com um conteúdo de fácil entendimento para as crianças, o que faz com que o interesse em entender a história seja maior.

 

Referências

VIGOTSKY, L. S. A imaginação e arte em infância. Madrid: Akail, 1982.

ALMEIDA, Flávio Aparecido de; SOUSA, Luciano Dias de. O Ensino de História através da representação de identidade brasileira na animação Irmão do Jorel. In: ALMEIDA, Flávio Aparecido de. Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces – volume 2. São Paulo: Científica Digital, 2021. p. 144-155.

 

Conhecendo os princípios e categorias da Ecopedagogia

06/03/2023 15:55

Por Daniely Karolaine de la Vega e Emmanuele Amaral dos Santos

Bolsistas PET Letras

Letras Português

 

De acordo com Gadotti (2001, p. 81, grifo do autor), “[…] vivemos uma era de exterminismo”. Devido à produção industrial descontrolada, podemos destruir toda a vida do planeta Terra. Diante disso, as futuras gerações terão de realizar a árdua tarefa de obter soluções para esse problema. Esperamos que as providências sejam executadas antes que essa situação se torne irredutível. Por isso, precisamos ecologizar a economia, a pedagogia, a educação, a cultura, a ciência etc.

O desenvolvimento capitalista gera um grande potencial destrutivo que o coloca em uma posição negativa à natureza. O capitalismo ampliou a capacidade de destruição da humanidade e reduziu o bem-estar e a prosperidade desta. Entretanto, vivemos também na era da informação em tempo real, da globalização da economia, da realidade virtual, da quebra de fronteiras entre nações, da robótica e dos sistemas de produção automatizados.

Imagem 1:

Descrição da imagem: Em um fundo bege claro, aparece um planeta terra, em tons de verde, acima de uma mão rodada e com as unhas pintadas de verde. Estes são acompanhados de várias ilustrações em tons terrosos que fazem alusão à sustentabilidade, incluindo talheres de bambu, uma lâmpada e um ícone de material reciclável. Também é possível identificar duas nuvens no canto superior esquerdo e dois ramos de folhas que contornam o planeta Terra lateralmente.

O cenário está dado: globalização provocada pelo avanço da revolução tecnológica, caracterizada pela internacionalização da produção e pela expansão dos fluxos financeiros; regionalização caracterizada pela formação de blocos econômicos; fragmentação que divide globalizadores e globalizados, centro e periferia, os que morrem de fome e os que morrem pelo consumo excessivo de alimentos, rivalidades regionais, confrontos políticos, étnicos e confessionais, terrorismo (GADOTTI, 2001, p. 82, grifo do autor).

O contexto explicitado por Gadotti ainda se faz intrisicamente presente nas vivências contemporâneas, assim como a importância de refletir sobre a chamada educação do futuro. Podemos começar esse processo discutindo sobre algumas categorias que propõe a compreendê-la, como:

  1. Planetaridade: segundo Padilha et al. (2011, p. 239), esta categoria consiste em “tratar o planeta como um ser vivo e inteligente”. Está relacionada a optar por uma relação saudável e equilibrada com o contexto, consigo mesmo, com as outras pessoas e com os ambientes.
  2. Sustentabilidade: o tema da sustentabilidade surgiu na economia e na ecologia para se inserir definitivamente no campo da educação. Ele se fundamenta no lema “Uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta”, difundido pelo Movimento pela Carta da Terra na Perspectiva da Educação e pela Ecopedagogia.
  3. Virtualidade: esta categoria consiste na discussão atual sobre a educação à distância e o uso de internet nas escolas. A informação deixou de ser compreendida como uma área ou especialidade para se transformar em uma dimensão de tudo, alterando a forma como a sociedade se organiza, inclusive o modo de produção.
  4. Globalização: o processo de globalização está realizando mudanças na política, economia, cultura, história… Portanto, também na educação. É uma categoria que deve ser observada sob vários prismas. O global e o local se fundem em uma nova realidade: o “glocal”. Para pensar a educação do futuro, precisamos refletir sobre o processo de globalização da economia, da cultura e das comunicações.
  5. Transdisciplinaridade: embora com significados distintos, algumas categorias, muito próximas da transdisciplinaridade, como transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade e outras, também indicam uma nova tendência na educação, que é necessário analisar.

Essas categorias são essenciais para a compreensão das perspectivas atuais da educação, mas não bastam para entender a ecopedagogia como uma teoria da educação que impulsiona a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana. Para isso, precisamos desenvolver outras categorias relacionadas ao âmbito da subjetividade, da cotidianidade e do mundo vivido; categorias que estruturam a vida cotidiana, levando em conta as práticas individuais e coletivas e as experiências pessoais.

Para compreender o que é ecopedagogia, devemos começar por determinar o que é pedagogia e o que é sustentabilidade. Nos livros de Francisco Gutiérrez e Daniel Prieto sobre a “mediação pedagógica”, eles definem pedagogia como um trabalho de incentivo da aprendizagem por meio de recursos necessários para o processo educativo no cotidiano das pessoas. Para os autores, a vida cotidiana é o espaço do sentido da pedagogia, pois a condição humana caminha irremediavelmente por ela. A mídia eletrônica não anula esse espaço, uma vez que “a revolução eletrônica cria um espaço acústico capaz de globalizar os acontecimentos cotidianos” (GUTIÉRREZ, 1996, p.12 apud GADOTTI, 2001, p. 85), tornando o local global, e o global, local. Isso é o que denominamos, nas Organizações Não Governamentais (ONGs), de “glocal”. O cotidiano e a história se fundem em um só. A cidadania ambiental local se torna também cidadania planetária.

Contudo, “não podemos falar em cidadania planetária excluindo a dimensão social do desenvolvimento sustentável” (GUTIÉRREZ, 1996, p. 13 apud GADOTTI, 2001, p. 85). Essa advertência de Francisco Gutiérrez é elucidativa, pois é necessário diferenciar um ecologismo elitista e idealista de um ecologismo crítico que coloca o ser humano no centro do bem-estar do planeta. Porém, “o bem-estar não pode ser só social, tem de ser também sócio-cósmico” (BOFF, 1996, p. 3 apud GADOTTI, 2001, p. 85). O planeta é minha casa, e a Terra, meu endereço. Como posso viver bem em uma casa mal arrumada, mal cheirosa, poluída e doente?

Para Francisco Gutiérrez, parece impossível construir um desenvolvimento sustentável sem uma educação para o desenvolvimento sustentável. Para ele, o desenvolvimento sustentável carece de quatro condições fundamentais:

  1. economicamente factível
  2. ecologicamente apropriado
  3. socialmente justo
  4. culturalmente eqüitativo, respeitoso e sem discriminação de gênero.

A ecopedagogia como prática educacional também é articulada e incentivada por diversas instituições internacionais, como é o caso da UNESCO. No documento “Educação para os objetivos de Desenvolvimento Sustentável – Objetivos de Aprendizagem” publicado em 2017, por exemplo, a UNESCO descreve a organização da EDS (Educação para o desenvolvimento sustável)[inserir link], indicando objetivos, atividades e métodos a serem implementados por educadores, escolas e políticas públicas educacionais. Em consonância a agenda global para a educação até 2030, esse documento da UNESCO pensa a prática educacional ecopedagógica como um pilar essencial no processo de garantia dos diversos objetivos que compõem o desenvolvimento sustentável:

[…] que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e da não violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural[…]  (UNESCO, 2017, p.8)

Em âmbito nacional, podemos destacar o projeto (PECP) Programa educação para a cidadania planetária, desenvolvido entre os anos 2007 a 2011 em Osasco (SP) com intermédio do Instituto Paulo Freire. Esse programa concebe “[…] uma educação com visão de totalidade do conhecimento e dos saberes, superando a histórica fragmentação do conhecimento e considerando a sua complexidade.” (PADILHA, 2001, p.19), ou seja, o PECP evoca diversos conceitos essenciais para a ecopedagogia como a transdisciplinaridade e a planetaridade.

Outros conceitos relevantes para entender o programa são a cidadania planetária e a pedagogia da Terra. Ambos propõe a ideia de que a Terra é um organismo vivo ao qual somos interdependentemente ligados e que isso torna necessária a inserção de outros conceitos como  ecologia, ética, estética e sociedade no contexto escolar. Além disso, essa proposta de civilização planetária compreende o ser humano dentro da esfera de complexidade e diversidade da natureza, assim como a importância da manutenção dos direitos sociais, políticos, culturais e econômicos para a fundamentação dessa proposta tal qual descrevem os princípios da ecopedagogia.

 

REFERÊNCIAS

 

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra: ecopedagogia e educação sustentável. In: TORRES, Carlos Alberto (comp.). Paulo Freire y la agenda de la educación latinoamericana en el siglo XXI. Buenos Aires: CLACSO, 2001. p. 81-132.

PADILHA, Paulo Roberto et al. (org.). Educação para a cidadania planetária: currículo intertransdisciplinar em Osasco. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2011.

UNESCO. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a CulturA. Education for Sustainable Development Goals: learning objectives. Paris, 2017.

 

“O Quarto de Jack”: um mundo limitado a um quarto

13/02/2023 08:34

Por Daniely de la Vega

Letras Português

Bolsista – PET Letras

Indicado para Melhor Filme no Oscar do ano de 2016, O Quarto de Jack é uma adaptação do romance Quarto (2010), da irlandesa Emma Donoghue. O filme proporcionou indicações de Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado para Lenny Abrahamsson e Donoghue, respectivamente –, além da estatueta de Melhor Atriz para Brie Larson. Atualmente disponível para os assinantes dos serviços de streaming Star+ e Amazon Prime Video, a produção apresenta uma trama extremamente densa. O Quarto de Jack pode ser dividido em dois grandes momentos: o primeiro mostra o período de confinamento de uma mulher sequestrada quando adolescente com o filho gerado em uma relação não consensual com o sequestrador; e o segundo ocorre a partir da fuga arquitetada por ela.

Fonte: Google Imagens

Descrição da imagem: Joy segura Jack em seu colo. Joy é uma mulher branca de cabelo castanho vestida com um casaco cinza, e Jack é um menino branco vestido com uma touca cinza com formato de um animal e uma jaqueta de estampa quadriculada em tons de azul e verde. Eles olham um para o outro sorrindo. No fundo, há um céu azul e uma floresta com as dimensões de um cubo.

Joy (Brie Larson) e Jack (Jacob Tremblay) estão reféns em um pequeno quarto sem janelas e com isolamento acústico. Apesar das circunstâncias aterrorizantes vividas por ambos, Joy se empenha em tornar aquele ambiente agradável para o menino, que desconhece a existência de um universo além do quarto em que nasceu e cresceu até os 5 anos de idade. Joy cria um mundo que se limita ao quarto em que estão confinados, tendo cautela para que Jack não perceba que existe um mundo muito mais amplo fora daquele cômodo e, dessa forma, não sofra a frustração derivada do aprisionamento. O drama narrado por Jack mostra a rotina de ambos dentro do cativeiro, sendo o único contato com o mundo exterior as visitas do velho Nick – como mãe e filho chamam o sequestrador –, que leva comida, roupas e outras necessidades solicitadas.

Joy e Jack levam uma vida “normal” dentro de seu mundo limitado àquele quarto, com brincadeiras, sessões de alongamento, hora de contar histórias, dentre outras atividades, até que Joy elabora um plano para que o filho consiga fugir do cativeiro. Depois de conseguirem ser resgatados, eles precisam enfrentar a realidade do mundo real além do quarto. Desse modo, Joy e Jack entram em um processo de adaptação à nova realidade: enquanto Jack trabalha para superar dificuldades de comunicação social e conhecer o mundo do qual foi privado, Joy precisa lidar com seus pais e os traumas que adquiriu depois de ter sua vida interrompida aos 17 anos de idade.

A imersão que o filme produz é surreal, e não somos agraciados com muitos momentos de alívio. Quem se interessa por filmes densos que abordam aspectos psicológicos e filosóficos se apaixonará por O Quarto de Jack. O filme não é fácil de ser digerido, pois ele toca em assuntos extremamente sensíveis, como sequestro, cárcere privado e abuso sexual. A transformação de Joy e Jack é um labirinto de emoções, que arranca nosso fôlego e nos leva às lágrimas em incontáveis momentos.

Confira o trailer oficial:

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A influência da “book rede”

07/02/2023 11:05

Por Izabel Bayerl Bonatto

Letras-Português

Bolsista PET – Letras

 

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro (IPL) desde 2007, na sua 5ª edição realizada em 2019, houve um aumento de 3% da recomendação em sites especializados, blogs ou redes sociais como fator de influência na escolha de um livro para compra em comparação com 2015. Além disso, 25% das pessoas entrevistadas responderam que começaram a se interessar por literatura por causa de um influenciador digital, como youtuber, pela internet. A pesquisa tem como objetivo “[…] conhecer o perfil do leitor e do não leitor brasileiro, identificando seu comportamento leitor quanto a intensidade, forma, limitações, motivação, representações e condições de leitura e de acesso ao livro – impresso e digital” (CARVALHO et al., 2020).

As redes sociais ganharam uma utilidade a mais e nelas foi criada a famosa “book rede”, a qual viralizou durante a pandemia do COVID-19, e diversas pessoas fãs de literatura, denominadas então “bookstans”, passaram a criar perfis nessas redes – no TikTok (conhecido como Booktok) e no Instagram (denominado Bookstagram) – com o intuito de compartilhar suas leituras, dar sugestões de livros e falar a respeito dos temas e gêneros preferidos sobre literatura. Muitos desses perfis acabaram ganhando milhares de seguidores e, consequentemente, tendo mais influência de leitura sobre as pessoas que os acompanham.

A grande maioria dos livros considerados “best sellers” de 2021 e 2022, ou seja, os mais vendidos desses anos, tiveram um gigantesco volume de conteúdos produzidos em massa por esses perfis das ‘book redes’ e atingiram milhões de pessoas. Dentro dessa lista dos então considerados “queridinhos das book redes” estão: Os Sete Maridos de Evelyn Hugo (2017), de Taylor Jenkins Reid; Torto Arado (2018), de Itamar Vieira Júnior; Mentirosos (2014), de E. Lockhart; Mulheres que correm com os lobos (1989), de Clarissa Pinkola Estés; Enquanto Não Te Encontro (2021), de Pedro Rhuas; 1984 (1949), de George Orwell; Os Dois Morrem no Final (2017), de Adam Silveira; Vermelho, Branco e Sangue Azul (2019), de Casey McQuiston; A Garota do Lago (2019), de Charlie Donlea, Conectadas (2019), de Clara Alves. Há, claro, diversos outros.

O perfil da Letícia no Instagram (@biblioleticia), que tem como intuito falar sobre livros da comunidade LGBTQIA+, e o da Luana no TikTok (@luaninhareads), que aborda de livros temas mais abrangentes, são ótimos exemplos de brasileiras que fazem parte da “bookrede” e que fazem publicações mais descontraídas sobre literatura.

 

Descrição das Imagens: são duas imagens com fundo branco de duas capturas de tela de perfis de redes sociais. A primeira captura de tela é do perfil do Instagram do arroba biblioleticia, com a foto do perfil de uma arte de uma garota branca com cabelo curto castanho com as pontas azuis sorrindo no canto superior esquerdo, ao lado direito tem a indicação de duzentas e trinta e uma publicações, oitenta e quatro mil e trezentos seguidores e setecentos e vinte e nove seguindo. Em seu nome está indicado Leticia com dois traços na vertical seguido de Bookstagram e ela barra dela, abaixo indicando que é criador(a) de conteúdo digital); em sua biografia do aplicativo está o emoji de pastas e ao lado está escrito Bibi dois pontos Bibliotecário e Bissexual; abaixo está o emoji da bandeira LGBTQIA+ e escrito Representatividade LGBTQIA; mais abaixo está o emoji de brilho e sua idade vinte e seis anos, seguido do emoji de um livro aberto e o texto Lendo, dois pontos, priorado da laranjeira. A segunda captura de tela é do perfil do tiktok do arroba luaninhareads; seu nome está indicado como Luana e ela barra dela, e sua foto do perfil é de uma garota branca com cabelo loiro com a cabeça deitada sobre de uma pilha de livros; abaixo da foto está a indicação de duzentos e noventa e seis seguindo; ao lado direito cento e setenta e sete mil e setecentos seguidores e à direita cinto milhões e meio de curtidas. Abaixo dessas informações está aparecendo a opção de seguir o perfil; do lado, o símbolo do Instagram e uma seta apontando para baixo. Em sua biografia está escrito “sim é romance”. 

 

Vale ressaltar também, por fim, que comunidade “bookstan” ainda possui grande relevância se tratando da elevação as vendas do mercado literário em vários países, como aborda o jornalista Samuel Ruiz Anklam (UFRGS) em seu texto “Booktok impulsiona mercado literário e demonstra o impacto das redes sociais no consumo” de 2022, além de favorecer a visibilidade de diversos autores, tanto nacionais quanto internacionais.

BIBLIOGRAFIA

ANKLAM, Samuel Ruiz. Booktok impulsiona mercado literário e demonstra o impacto das redes sociais no consumo. 2022. Jornal da Universidade (UFGRS). Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/efeito-booktok-no-consumo-dos-leitores/. Acesso em: 04 fev. 2023.

CAMACHO, Gabu. Você sabe o que é um bookstan? 2020. Beco Literário. Disponível em: https://becoliterario.com/voce-sabe-o-que-e-um-bookstan/#:~:text=S%C3%A3o%20os%20bookstans%2C%20que%20al%C3%A9m,qualquer%20banda%2C%20cantor%20ou%20cantora.&text=Aquele%20f%C3%A3%20que%20acompanha%2C%20sabe,poderia%20ser%20somente%20%E2%80%9Cleitores%E2%80%9D. Acesso em: 04 fev. 2023.

NOVAES, Jamille. Carreira e Negócios: conheça a lista com os 10 livros mais vendidos em 2021. 2021. FDR. Disponível em: https://fdr.com.br/2021/12/27/carreira-e-negocios-conheca-a-lista-com-os-10-livros-mais-vendidos-em-2021/. Acesso em: 04 fev. 2023.

CARVALHO, Alexandre; et al. Pesquisas e Projetos IPL. Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. ed. 5, 2020. Disponível em: https://www.prolivro.org.br/5a-edicao-de-retratos-da-leitura-no-brasil-2/a-pesquisa-5a-edicao/. Acesso em: 04 fev. 2023.

THEONILA, Victoria. Livros “best sellers” em 2022. 2022. Revista L’Officiel. Disponível em: https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/livros-best-sellers-em-2022. Acesso em: 04 fev. 2023.

Experiências do ensino de literatura no ensino público

31/01/2023 13:06

Por Laiara Serafim

Letras-Português

Bolsista Pet – Letras

Recentemente, a professora de ensino público, Thaís Gonçalves Martins, concluiu o mestrado, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com um projeto intitulado Baú da Leitura, que visou o desenvolvimento da leitura e da escrita dos alunos do ensino fundamental, a partir de uma visão crítica gerada na interação com os colegas de sala e com a  professora.

No projeto, os alunos do 9° ano realizaram a leitura do livro A bolsa amarela de Lygia Bojunga. Por possuir um único exemplar na biblioteca da escola, a professora teve que imprimir diversas cópias do livro com recursos próprios, para que, assim, todos tivessem acesso à obra. A escolha da obra, segundo a professora, se deu com o intuito de gerar um reconhecimento entre os alunos e a obra, devido ao tema central do livro, que trata sobre os desejos da infância e adolescência de uma garotinha, a Raquel. Mas, sobretudo, porque o livro apresenta questões como o empoderamento feminino e as relações de poder existentes, o que tende a gerar juízos de valor e pensamentos reflexivos e críticos. Segundo a professora, “A leitura do livro A bolsa amarela foi feita de forma gradativa e dinâmica, tendo como instrumento de registro o diário de leitura” (MARTINS, 2022, p. 229). O projeto seguiu diversas etapas, iniciando com uma conversa dinâmica entre a professora e os alunos sobre desejos e vontades; em seguida, foi feita uma breve introdução à obra e realizadas várias formas de leitura – coletiva, individual, pela professora, etc.

Todas essas etapas foram divididas por semanas e em diferentes aulas, mas é importante ressaltar que a leitura foi realizada de diversas formas e em diferentes ambientes, desde a sala de aula até o pátio da escola, proporcionando aos alunos diferentes contatos e experiências com o processo de leitura. Durante cada etapa de leitura era realizada uma pausa para que os alunos pudessem anotar os seus pensamentos, dúvidas e comentários em seus “diários de leituras”, um fichário individual realizado por cada aluno, o que possibilitou o início da formação de um pensamento crítico e principalmente reflexivo. A ideia de formação de pensamento crítico a partir da leitura também é legitimada pelo professor Luiz Percival Britto, em seu ensaio Ao revés e do avesso, que defende, sobretudo, incentivar o desenvolvimento de leitores críticos, capazes de questionar o texto e absorver as ideias do autor de forma consciente.

Após o término da leitura na íntegra, os alunos realizaram uma socialização, na qual debateram sobre o livro, tiraram as dúvidas com a professora e tiveram conhecimento sobre os posicionamentos dos colegas. Por fim, cada aluno produziu uma resenha do livro A bolsa amarela, que foi exposta em um mural na escola.

Segundo a pesquisadora, as discussões e trocas de informações entre os colegas de sala foram essenciais para a compreensão do texto e para a concretização dos posicionamentos defendidos. Por sua vez, a produção do gênero diário de leituras gerou nos estudantes maior reflexão sobre o texto literário e maior interação com os personagens da história, sendo essa uma etapa fundamental para a formação de leitores literários. Para Martins, os projetos de leitura precisam ser organizados e sistematizados pois “[…] de nada adianta promover uma aula de leitura por semana para os estudantes sem propósitos e objetivos.” (MARTINS, 2022, p. 236).

Como aluna advinda de escola pública, entendo a importância dos projetos de leituras na escola, sobretudo entendo a importância do profissional de Letras e pedagogos para que esses projetos aconteçam, uma vez que é necessário tirar do financiamento pessoal para que as aulas de literatura aconteçam no ensino público. Para Britto (2015), a criação de projetos de leitura deve sempre manter um caráter ativo na defesa da leitura como direito e privilegiar os trabalhos nas escolas e bibliotecas públicas. Na atual conjuntura, faz-se cada vez mais  necessário formar cidadãos críticos. E para isso, é necessário formar jovens leitores.

Dada a importância da pesquisa, resolvi conversar com a professora Thaís, que me respondeu algumas questões (por meio de perguntas enviadas on-line):

Laiara: A sua tese é baseada em um projeto realizado em 2019, intitulado “baú da leitura”. Você tem dado continuidade ao projeto? Quais os resultados a longo prazo estão sendo gerados?

Thaís Martins: Não leciono mais na escola que realizei o projeto “baú da leitura”. Em 2020 pedi remoção e atuo em outras escolas, então, não tenho informações sobre a continuidade do projeto, o que sei é que a diretora tinha interesse em continuar, pois foi um projeto que movimentou a escola e proporcionou aos alunos o contato com o mundo da literatura.

Laiara: No texto, você diz ter escolhido o livro “Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, para o projeto, por ter como objetivo “encontrar uma adesão mais fácil dos estudantes”(MARTINS, 2022, p.226). Sabendo que o Brasil é um país com baixa adesão à leitura desde o ensino fundamental, quais as principais dificuldades encontradas ao trabalhar sobre um livro na sala de aula?

Thaís Martins: As dificuldades são inúmeras, pois o desinteresse pela leitura é uma questão que ultrapassa a sala de aula, e, se tratando das escolas públicas, as questões socioeconômicas influenciam muito, pois a maioria dos estudantes possui realidades cruéis, muitos vão para escola com o objetivo de fazer a única refeição do dia, como esse aluno vai se interessar pela leitura? Como vai ter vontade de ler algo? Outra dificuldade que encontramos é a concorrência com o mundo digital, no caso daqueles  estudantes que possuem condições financeiras um pouco melhores, pois não é fácil competir com jogos, videogames, redes sociais e as inúmeras atrações do mundo tecnológico.

Laiara: É sempre recorrente e, recentemente, reapareceu – principalmente na internet – o debate sobre a leitura de obras clássicas (como Machado de Assis, Clarice Lispector, Aluísio Azevedo) por estudantes no ensino fundamental e ensino médio. Qual o seu posicionamento sobre o tema? Quais mecanismos podem ser utilizados para romper as barreiras que existem entre o jovem leitor e os textos clássicos?

Thaís Martins: Parafraseando Antônio Candido, acredito que a literatura é um direito e um fator de extrema importância para a formação humana, dessa forma, a escola é o lugar que deve propiciar aos estudantes o contato com o mundo dos livros. Podemos utilizar muitos mecanismos para trabalhar com textos clássicos em sala de aula, por exemplo, o professor pode iniciar pelos contos de Machado de Assis, pois são textos mais acessíveis ao público jovem, com temas interessantes e polêmicos, uma leitura feita pelo professor com pausas para explicação sobre as palavras rebuscadas, situando o contexto histórico, com entonação e dramatização, ou seja, promover de forma mais lúdica e prazerosa a leitura de alguns textos clássicos pode ser um bom mecanismo.

Outro ponto que podemos observar nas escolas é a obrigação relacionada à leitura dos clássicos, o papel da escola é aproximar esses textos dos estudantes e não distanciar, portanto, obrigá-los a ler não é o caminho ideal. Acredito que uma boa estratégia é o trabalho com os seminários de literatura, nos quais a turma é dividida em grupos de trabalho, cada grupo precisa estudar uma determinada obra literária para apresentar aos colegas. Nessa proposta, alguns estudantes leem o livro na íntegra, outros leem os resumos, o importante é que de uma forma ou de outra acabam tendo contato com textos clássicos e não passarão pela Escola Básica sem conhecê-los.

Laiara: Em um trecho do texto é dito que “[…] os alunos recebiam o capítulo para leitura apenas no momento da aula. Para isso, a professora tirou cópias com recursos próprios, pois na escola havia apenas um exemplar do livro A bolsa amarela.” (MARTINS, 2022, p. 229). Dentre as diversas dificuldades que existem na formação de um leitor, você acredita que dentre elas está o baixo investimento na educação, especialmente em escolas públicas, com baixo repertório de livros nas bibliotecas ou, por vezes, escolas que não possuem nem mesmo uma biblioteca?

Thaís Martins: Com certeza, a situação da maioria das escolas públicas é precária, faltam bibliotecas, faltam profissionais especializados para trabalhar, faltam investimentos em acervos, em projetos, falta vontade dos responsáveis em investir na educação. Infelizmente, essa é uma triste realidade no Brasil, um país onde investimentos em educação são considerados despesas, um país onde os professores não são valorizados. Precisamos avançar em políticas públicas que tenham por objetivo uma educação de qualidade, enquanto isso, muitos professores seguem fazendo milagres em suas escolas, tirando dinheiro do próprio salário para tentar proporcionar uma formação digna aos seus estudantes.

Assim, reforço mais uma vez a importância de uma boa formação para os profissionais de Letras, mas, sobretudo, a importância do investimento governamental em escolas públicas, para que outros professores não precisem fornecer de recursos pessoais para proporcionar aos estudantes uma formação literária digna.

 

REFERÊNCIAS

BRITTO, Luiz Percival Leme. Ao revés do avesso: leitura e formação. São Paulo: Pulo do Gato, 2015. 144 p.

MARTINS, Thaís Gonçalves. Baú da leitura: uma proposta de formação crítica para os estudantes do ensino fundamental. In: LIMA, Sheila Oliveira; PASCOLATI, Sonia (org.). Práticas de leitura literária na escola. São Carlos: Pedro & João Editores, 2022. p. 223-239.