Programa de Educação Tutorial dos Cursos de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina
  • Literatura como arte essencial para identificação humana: breve comparação entre as obras “A teoria do romance”, de George Lukács, e “Problemas da Poética de Dostoiévski”, de Michail Bakhtin

    Publicado em 28/12/2023 às 13:58

     Por Luísa Wierenicz D’Alberto

    Bolsista PET-Letras

    Letras-Português

     

    Analisando os gêneros literários, pode-se notar, através da evolução da literatura, uma exemplificação da identificação do homem como indivíduo. Considerando que obras literárias, muitas vezes, refletem e traduzem a sociedade da época em que se originam, é perceptível que no caminho entre a tragédia e o romance, o homem se deparou com a realidade da experiência individual.

    A partir disso, observando a obra A Teoria do Romance, de Georg Lukács, percebe-se que o autor define o romance como uma forma que sedimenta a perda dos vínculos comunitários. Essa perda, apesar de particular para cada pessoa que a sofre, gera uma dessacralização dos vínculos sociais, pois é o momento que o homem perde seus símbolos. Os símbolos são como rupturas da totalidade – que é o que o romance, apesar de não proporcionar, tem a intenção de buscar -, porém, de acordo com a visão de Lukács, no gênero romance esses símbolos passam a se realizar a posteriori, justamente pela perda do seu referencial. Isto é, na epopeia clássica, era apresentado à sociedade símbolos concretos, e agora, esses símbolos apenas traduzem a ruptura da comunidade.

    Descrição da imagem: capa do livro “A Teoria do Romance” de Georg Lukács. O fundo é marrom claro, com dois detalhes em preto e verde nas laterais da imagem.

     

    Além disso, o autor ainda prevê que essa ruptura que ocorre na sociedade causa uma espécie de ciclo de vingança, pois quando acontece o senso de individualidade, o homem também considera a justiça, os direitos, os deveres etc., quase que como uma crise existencial.

    Esse texto de Lukács também tem seus tensionamentos. Um deles, na discussão de Bakhtin acerca da polifonia dos romances de Dostoiévski. Mikhail Bakhtin, apesar de diversas vezes apresentar uma visão distante da de Lukács, expõe uma radicalização intensa da lógica do indivíduo e considera que a origem do romance se deu através dessa quebra da lógica – e é aí que Bakhtin e Lukács se encontram, pois ambos possuem a visão da crise de gênero. Na obra de Bakhtin, o romance polifônico envolve uma multiplicidade de consciência e de vozes. Esse tipo de romance, mais uma vez, é totalmente contrário ao padrão da epopeia. A diferença principal entre os dois autores é que Lukács se origina do romance e da tragédia, enquanto Bakhtin praticamente inova e origina um terceiro gênero.

    Descrição da imagem: fundo marrom claro, com um homem branco, Mikhail Bakhtin, no centro. Cabelos e barbas escuras, usando uma camisa branca

    Ora, se entendemos que a literatura é uma arte essencial e extremamente relevante para o entendimento e identificação humana, a problemática do romance deixa fica clara a busca do homem pelo sentido da vida e dele mesmo, busca que causou essa crise de gênero, de representatividade, de perda do referencial.


  • A língua e o rap em “Pra Curar a Dor do Mundo”, de Marcelo D2

    Publicado em 19/12/2023 às 12:20

    Por Angelo Gabriel Cassariego Perusso

    Bolsista PET-Letras

    Letras-Português

    A língua utilizada nas canções de rap tem o potencial de dizer muito tanto sobre este gênero musical quanto sobre  o país em que vivemos. Neste texto, olharei mais a fundo para dois aspectos em que se pode refletir a respeito da língua utilizada no rap em geral e, mais especificamente, na canção Pra Curar a Dor Do Mundo, de Marcelo D2, integrante do álbum Iboru. O primeiro deles é a presença de palavras em banto, yorubá e quimbundo nas canções, e o segundo é uso de uma variação dialetal atribuída às classes populares, para que todos entendam.

    Imagem: capa do álbum de Marcelo D2

    Vou a um pouco de literatura. Em Pele negra, máscaras brancas, Frantz Fanon (1952, p. 18) pontua que “tão mais branco será o negro antilhano, quer dizer, tão mais próximo estará do homem verdadeiro, quanto mais tiver incorporado a língua francesa” e que “Todo povo colonizado – isto é, todo povo em cujo seio se originou um complexo de inferioridade em decorrência do sepultamento da originalidade cultural local – se vê confrontado com a linguagem da nação civilizadora, quer dizer, da cultura metropolitana. O colonizado tanto mais se evadirá da própria selva quanto mais adotar os valores culturais da metrópole. Tão mais branco será quanto mais rejeitar sua escuridão, sua selva.”. Além disso, comenta que os jovens negros da Martinica eram ensinados a desprezar o patoá, língua nativa, e valorizar a língua da Metrópole.

    Se a colonização se esforçava em hierarquizar as línguas faladas no país colonizado de maneira a colocar as línguas de origem das pessoas colonizadas como inferiores às línguas europeias, o rap nacional parece ter entendido, em combate a essa ideia colonial, que valorizar as línguas africanas é uma maneira de manter viva essa história, essas pessoas e essas memórias que a colonização se esforçou em apagar. Olhemos agora para a canção “Pra curar a dor do mundo”. de Marcelo D2, que reúne diversas palavras do banto, pois a canção (bem como todo o álbum, chamado “Iboru”) traz em si diversas palavras e expressões utilizadas na religião de matriz africana Ifá, que o rapper é praticante. A canção diz:

    No clarão de Zambiapungo

     

    Malungo deitou pra Tempo

    Macura Dilê, meu dengo

    Tempo macura Dilê

     

    Quem curou a dor do mundo

    No tronco da gameleira

    Fez mingau de carueira

    Canjica no Canjerê

     

    Bota o mel no coco verde

    Não breca o bote da onça

    Chama o caboclo de lança

    Faz moqueca pro erê

    […]

    Não sabe onde o sonho cessa

    Quem na mata a fera amansa

    Pra vida bate cabeça

    Dribla a morte enquanto dança

     

    Alimenta o tambor

    Dá o doboru de Kavungo

    Mugunzá e orobô

    Pra curar a dor do mundo

    […]

    Tempo espalha a semente

    E o pão que a mão amassou

    Passado ampara o presente

    Futuro é de quem lembrou

     

    E sabe que tempo passa

    O tempo nunca adormece

    Zaratempo só abraça

    Quem no tempo permanece”

    […]

     

    O que eu vi sou Eu

    O que eu senti, o que eu sofri, sou Eu

    Sou Eu quando eu quero, até quando eu não quero ser

    Por isso Eu só morro quando o meu samba morrer

     

    Sou Eu andando fora da linha

    Sou Eu andando nos trilhos

    Sou Eu no sorriso dos meus antepassados

    E também no sorriso dos meus filhos

     

    Sou Eu na dor e no prazer

    Por isso eu só morro quando o meu samba morrer

    Eu sou a força da minha mãe e fraqueza dela também

    Eu sou a alegria do meu pai e a tristeza dele também

     

    Sou novo, tradição

    Sou rap, samba no pé

    Soldado filho de Ogum, certeza do meu Axé

    De tudo o que passou por mim

    Eu sou o que eu posso ser

    Por isso eu só morro quando o meu samba morrer”

     

    Antes de desenvolver a argumentação a respeito da relação entre a canção e os elementos comentados anteriormente, cabe pontuar que “Zambiapungo” é a entidade máxima do Candomblé Bantu. Seu nome vem do título atribuído ao monarca do Reino de Loango, e significa “Senhor do Mundo”. Além disso, existem os inquices, entidades que fazem o intermédio entre Zambi e o mundo espiritual com o mundo dos humanos. “Tempo”, citado na canção, é o inquice da atmosfera, da tempestade, do vento, bem como da passagem do tempo e das estações. A saudação para esse inquice é “Zaratempo macura dilê”, que, de acordo com Luiz Antônio Simas, compositor da canção, significa algo como  “Tempo é a casa que cresce; passando a ideia de que Tempo não tem fim e nem começo.”

    Zambi, por sua vez, é o senhor do mundo, e para curar a dor do mundo vem o Tempo e a reafirmação, o empoderamento, a potência, a prática, o axé, e a música feitas por aqueles que foram colonizados e apagados. O rap que louva a religião de matriz africana, que louva Zambi e seus inquices está, fundamentalmente, atuando no processo de devolver essa fé e essa cultura a um lugar de respeito e valorização, de combater o apagamento feito pela colonização.

    No que diz respeito à língua, quem não conhece o significado dessas palavras fica alheio ao significado completo da canção, e isso também marca dois elementos importantes: o “pretuguês”, de Lélia González (2020, p.116) “[…]que nada mais é do que marca de africanização do português falado no Brasil” colocado no pedestal que merece estar – afinal, o Brasil fala um português influenciado pelo banto, pelo quimbundo, pelo iorubá, e por outras línguas africanas e isso não é só uma característica, mas uma marca de resistência, um combate ao apagamento cultural que a colonização se empenhou em fazer.  Quando se fala e se faz arte nas línguas que foram apagadas, isso também estabelece uma negação a essa imposição. O Brasil hoje fala português porque foi forçado, D2 fala em Banto porque esta língua fala com ele, porque representa sua ancestralidade e sua fé.

    Já no que diz respeito ao fato de que o rap utiliza, comumente, uma linguagem acessível a todas as pessoas, podemos novamente dialogar com Lélia González e Fanon. Frantz Fanon (1952, p.19) diz que “Num grupo de jovens antilhanos, aquele que se exprime bem, que possui o domínio da língua, inspira extraordinário temor; é preciso tomar cuidado com ele, é um quase branco. Na França se diz: falar como um livro. Na Martinica: falar como um branco.” Aqui é válido perceber que o rap não fala o português falado pelas elites, majoritariamente brancas em nosso país, nem como os livros, majoritariamente escritos de acordo com a norma padrão, mas sim como o povo. O rap fala da mesma maneira que a periferia, que a classe trabalhadora, que os jovens, que a comunidade de prática do hip hop, e isso pode ser explicado por Lélia González no livro “Por um feminismo afro-latino-americano”, que diz: “Toda linguagem é epistêmica. Nossa linguagem deve contribuir para o entendimento de nossa realidade. Uma linguagem revolucionária não deve embriagar, não pode levar à confusão”, ensina Molefi Kete Asante” (2020. p. 124).

    O rap, enquanto gênero musical que tem um papel político fundamental na nossa sociedade  – de levar consciência de classe e combater o racismo e outras opressões – precisa dialogar, também no nível da variedade linguística utilizada nas letras, com as pessoas que são o seu público alvo. Fica claro para mim que o rap entendeu a frase “O problema não é mais conhecer o mundo, mas transformá-lo” (Fanon, 1952, p.18) e é justamente a isso que se dispõe.

     

     

    REFERÊNCIAS

    FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Bahia: Editora Edufba, 2008.

    GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo-afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

     

     

     


  • Sinais Caseiros: línguas que emergem através do isolamento linguístico

    Publicado em 28/11/2023 às 15:27

    Por Franciane Ataide Rodrigues

    Letras Libras

    Bolsista PET-Letras

     

    Quando pensamos em indivíduos surdos e na existência da comunidade surda brasileira, comumente os relacionamos ao uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), porém grande parte dos surdos nasceu em famílias ouvintes, usuárias do português e, geralmente, não usuárias nem conhecedoras da Libras.

    Cerca de 90 a 96% das crianças com surdez pré-linguística − isto é, que nasceram surdas ou ficaram surdas até os três anos − têm pais ouvintes que, em geral, não são usuários de uma língua de sinais. Esse quadro vale para o Brasil: 90% das crianças surdas têm pais ouvintes (Rosa, 2022, p. 71).

     

    É dentro desse contexto de isolamento linguístico no ambiente familiar, de isolamento geográfico, de ausência da socialização com a comunidade surda e a privação ao acesso à língua de sinais brasileira (Libras) que se manifesta a necessidade de uma comunicação “rudimentar”, fazendo com que nasçam as “línguas de sinais caseiras”. Essas são sistemas de comunicação gestual ou visual improvisados e usados por pessoas surdas em situações de necessidade emergencial de comunicação, sobretudo com ouvintes não falantes de Libras, e que não possuem o domínio da língua de sinais formal por não receberam os inputs linguísticos necessários para usá-la.

     

    Destarte, estes sinais são caracterizados como “as maneiras únicas, os modos de fazer gestos ou de sinalizar de cada indivíduo, que são usados na família, em casa – daí a denominação ‘sinais caseiros’ ou ‘gestos caseiros’ (Matos, 2016, p. 129)

     

    Tais sinais podem ser baseados em necessidades específicas da rotina e do ambiente familiar e podem não seguir regras rígidas no seu processo de criação estrutural. Diferentemente da língua de sinais brasileira, os sinais são convencionados no seio familiar contendo características icônicas ou arbitrárias ao referencial desejado, bem como recebem influência do contexto social experienciado.

    Por exemplo, se forem pescadores, os sinais caseiros que emergem podem ser relacionados aos frutos do mar, areia, barraca e outros; numa família da zona rural, eles podem ser relacionados a boi, vaca, leite e assim por diante. Isto também acontece com familiares de surdos que moram na zona urbana, cujo filho e/ou os pais não tiveram contato com a comunidade surda utente da língua de sinais oficial (Adriano, 2010, p. 34)

     

    Por serem de caráter emergencial e de uso restrito a apenas um núcleo social, esses sinais podem, muitas vezes, ser usados apenas no momento da ocorrência da situação e entendíveis apenas pelo núcleo que convencionou o uso dos sinais. Sendo assim, é importante esclarecer que a eficácia da transmissão de mensagens durante o processo comunicacional por meio de sinais caseiros pode variar e influenciar na compreensão mútua.

    A seguir, apresentamos sinais caseiros convencionados pelo núcleo familiar de Simone Schirlei Sarmento. Simone é uma mulher surda oralizada criada em uma família ouvinte. Nascida em Florianópolis, até os seus dezesseis  anos teve contato somente com ouvintes, onde aprendeu a oralizar e criou sinais caseiros para facilitar a sua comunicação com eles. Aos dezessete anos, começou a estudar na Fundação Catarinense de Educação Especial, em São José, quando aprendeu Libras e iniciou seu contato com a comunidade surda. Atualmente, ainda utiliza os sinais particulares dentro de casa, com a sua família, porém sua convivência com os amigos surdos está mais forte, o que fez aumentar seu vocabulário em Libras. Simone é mãe de 3 filhos ouvintes, considerados Codas. A seguir, serão apresentados por uma das filhas de Simone, Samanta Schirlei Pacheco, alguns sinais caseiros convencionados pela família.

    Nas colunas superiores estarão os sinais usados em Libras e, nas colunas inferiores, estarão localizados os sinais caseiros convencionados no núcleo familiar de Simone:

     

    1- Sinal em Libras da palavra “mentira” e, posteriormente, o sinal caseiro.

    2- Sinal em Libras do vocábulo “mãe” e, posteriormente, o sinal caseiro.

    3- Sinal em Libras do termo “médico” e, posteriormente, o sinal caseiro.

     

    Em vias de síntese, é importante ressaltar que muito embora os sinais caseiros sejam uma “porta” para a aquisição de uma língua formal e proporcionem um meio de transmissão de mensagem com a possibilidade de comunicação, ainda assim possuem um alcance de compreensão dos signos linguísticos estritamente dependente do ambiente familiar e com um sinalário restrito. Da informação apresentada, decorre, pois, a necessidade urgente do acesso a uma língua com estrutura linguística completa que possibilite conversas mais profundas e estruturadas, desempenhando um fortalecimento linguístico na pessoa surda.

     

    REFERÊNCIAS

    ADRIANO, Nayara de Almeida. Sinais caseiros: uma exploração de aspectos linguísticos. 2010. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

    ROSA, Maria Carlota. Uma viagem com a linguística: um panorama para iniciantes. São Paulo: Pá de Palavra, 2022.

    MATOS, Pâmela do Socorro da Silva. Gestos de surdos e ouvintes: o contar história sem uso da voz. 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2016.


  • Criando magia: um relato de experiência

    Publicado em 21/11/2023 às 08:24

    Por Lara Malafaia Vieira

    Bacharelado em Letras-Libras

    Bolsista Acessibilidade PET-Letras

     

    No ano de 2018, enquanto ainda fazia a faculdade de fonoaudiologia, tive minha primeira experiência de intercâmbio. Nunca tinha passado pela minha mente em morar três meses fora do país, longe da minha família –  e ainda mais trabalhando com merchandise, ou seja, com a venda de produtos como camisetas, canecas, ursinhos de pelúcia, no Walt Disney World Resort em Orlando.

    Para começar, passei perrengue no aeroporto e a viagem, que deveria ser de 10 horas, levou 24 horas. Chegando lá fui direto para o hotel em que ficaria com uma amiga; no dia seguinte seguiríamos para o condomínio que moraríamos nos próximos meses. O nome do condomínio era Chatham Square, e lá morei com mais cinco “gringas”, cada uma de um estado norte-americano diferente. Eu era a única brasileira vivendo uma cultura muito diferente, enquanto minhas amigas brasileiras acabaram “caindo” com outras brasileiras, então tinham o “gostinho de casa” constantemente. Já eu acabei ficando com as norte-americanas e fiquei muito amiga de uma delas. Ela me apresentou os musicais mais conhecidos nos EUA e ainda me fez comer os famosos biscoitos de natal, construindo ainda a Gingerbread House, aquela casinha que vemos em filmes (algo me chocou: eles não comem a casinha, eles deixam simplesmente em exposição até o mês de janeiro).

    Meu local de trabalho era a World of Disney, a maior loja da Disney do mundo, localizada na Disney Springs. A loja tinha seis grandes áreas de produtos separadas por temas como Star Wars, princesas, seasonal, camisetas gráficas, roupas em geral e um combinado de pelúcias e as famosas orelhinhas; três áreas de caixas registradoras; e três estoques. Cada dia recebíamos de duas a três posições de trabalho, indo desde trabalhar no caixa até atender os pedidos dos Cast Members (CM), trabalhadores, no back of the house, lugar onde os clientes não podiam entrar.

    Descrição da imagem: em frente a uma parede de prateleiras com bonés coloridos, uma moça morena de cabelos pretos longos, óculos preto, vestida com uma camiseta de manga comprida xadrez com tons de azul e cinza, calça jeans e uma bolsa lateral retangular preta com pins coloridos. A moça está apontando para o crachá com os dedos indicadores.

    Além de poder trabalhar diariamente no mundo Disney, eu tinha livre acesso aos parques e aos resorts durante meu período de trabalho no intercâmbio. Então, todos os dias antes do trabalho, dava uma passada em algum dos parques para poder ir em algum brinquedo ou comer algo para depois ir trabalhar.

    Para trabalhar na Disney temos que saber e colocar em prática as quatro (agora cinco) “Keys”., que são: show, cortesia, segurança, eficiência e a última adicionada, inclusão. Essas cinco chaves são essenciais para um atendimento “no estilo Disney”, causando uma experiência mágica para seus clientes.

    Essa experiência foi tão mágica para mim e boa para meu crescimento pessoal que, em 2022, no meio da faculdade de Letras-Libras, decidi voltar para o intercâmbio; porém, desta vez morei com mais três brasileiras, uma delas minha amiga de Floripa; morei em um condomínio recém inaugurado; e trabalhei em uma área diferente. Eu era Quick Service; nessa área, trabalhava com venda de comidas e bebidas no restaurante Pizzafari no parque Animal Kingdom.

    Descrição da imagem: em frente à cozinha com bancadas (e  potes, paredes de azulejos coloridos formando desenhos do fundo do mar e três pessoas), encontra-se uma moça morena (a autora do texto) com cabelos pretos presos em coque baixo, óculos, chapéu, vestida com uma camiseta de manga longa estampada com tons de verde, com barra da manga em verde escuro, um avental verde claro por cima, e o crachá com o nome preso do lado direito.

     

    O “Pizza”, para os íntimos, era um restaurante que vendia três sabores de pizza: queijo, pepperoni e salsicha com pepperoni; saladas Caesar com e sem frango; sanduíche de frango parmegiana; os famosos cupcakes decorados; e bebidas diversas. Durante o momento de trabalho lembro como meus co workers, achavam estranho as famílias brasileiras pedirem ketchup, maionese e mostarda para comerem junto com a pizza.

    Uma das posições de trabalho que mais gostava era ficar ou de filler, que montava as bandejas com as comidas, ou na de greeter, que ficava dando boas-vindas na porta. Nessa segunda posição  eu tinha um grande contato com as pessoas que estavam passeando pelo parque e dava dicas sobre locais para comer, melhores brinquedos para ir, onde tirar foto com os personagens etc.

    Essas experiências de intercâmbio me fizeram pensar em como minha segunda faculdade poderia entrar nessa vivência do mundo Disney, até que um dia atendi uma guest italiana surda que conseguiu se comunicar comigo por meio de sinais internacionais. Eu entendi tudo o que ela estava dizendo, por mais que não soubesse sinais internacionais. Minha irmã, que foi fazer o intercâmbio comigo, me fez uma surpresa e pediu para confeccionarem uma name tag que é nossa identificação de nome, país e língua que falamos, com a escrita sign language (escrita de sinais).

    Descrição da imagem: em frente do castelo do Magic Kingdom iluminado com tons de azul, roxo e rosa; é noite e várias pessoas estão ao fundo. Numa nametag está escrito: o símbolo de 50 anos da Walt Disney World, Laila, Niterói, Brazil, “the most magical place on earth” e português. Ao lado, na outra nametag, está escrito: o símbolo de 50 anos da Walt Disney World, Lara, Niterói, Brazil, “the most magical place on earth”, português e duas configurações de mão em “S” e “L”.  

     

    Cada um dos intercâmbios criou amizades que ainda nutro. Penso que sou muito feliz por ter essas experiências e pelas pessoas e memórias que carrego comigo.


  • Libras: uma língua ágrafa?

    Publicado em 18/11/2023 às 17:12

    Por Franciane Ataide Rodrigues

    Letras Libras

    Bolsista PET-Letras

    As “línguas ágrafas” são formas de comunicação que não possuem um sistema de escrita reconhecido. Estas não possuem um meio de representação gráfica padronizado, como o alfabeto ou qualquer outro tipo de conjunto de caracteres usados para registrar o idioma.

    Em diversas culturas e comunidades, a comunicação oral permanece sendo a principal ferramenta de comunicação e transmissão de tradições, culturas e legados. As línguas ágrafas acabam sendo transmitidas de geração em geração principalmente por meio de comunicação oral, o que dificulta os registros e a preservação dessas línguas, pois esses seriam fundamentais para estudos e preservação.

    Tendo em vista que a Libras não é uma língua oral, que sua modalidade é espaço-visual, totalmente independente do português, seria ela, então, uma língua ágrafa? De fato, há alguns anos, a Libras era considerada uma língua ágrafa e suas únicas formas de registro eram por meio de desenhos de mãos, fotografias e filmagens caseiras como vídeo cassete e em alguns DVDs.

     Descrição de Imagem: Em um fundo azul, no centro da imagem, está uma mulher de camiseta preta. Ela é branca, de cabelos escuros e o rosto está em expressão neutra enquanto realiza o sinal em Libras da palavra “acessibilidade”. 

     

    Entretanto, em 1974, Valerie Sutton, dançarina e coreógrafa, desenvolveu um sistema de registro para coletar passos de danças chamado DanceWriting, ao mesmo tempo em que na Dinamarca diversos estudiosos buscavam uma  maneira de registrar as línguas de sinais.

    Descrição de imagem: a imagem apresenta a capa do livro “Sutton Movement Shorthand”, publicado em 1974. Em um fundo bege, está uma jovem dançarina. Ela é branca, tem cabelos negros presos em um coque e está vestida com uma calça preta e uma blusa preta de mangas compridas. A dançarina está em uma pose elegante, indicando movimento e graciosidade. Na lateral esquerda da imagem está escrito o título “Sutton Movement Shorthand”. Acima deste, nota-se o símbolo em DanceWriting que representa o movimento da jovem dançarina. Na parte inferior da capa, encontra-se a inscrição “BOOK ONE. The classical Ballet Key. Valerie Sutton”, fornecendo informações adicionais sobre o conteúdo do livro.

     

    É, pois, neste contexto que ocorre a transição de DanceWriting para SignWriting. O sistema desenvolvido por Sutton despertou o interesse dos pesquisadores dinamarqueses da Universidade de Copenhague, o que motivou o convite de Lars von der Lieth e Jan Enggaard Pedersen para que ela, em 1974, realizasse os primeiros registros de movimentos ainda inspirados no sistema que havia criado.

    Valerie Sutton ensinando SignWriting em 1985

    Descrição de Imagem: em frente a uma lousa verde, uma moça jovem, branca, de cabelos curtos e loiros, vestida com uma blusa verde clara e com a parte de baixo bege, ensina o sistema SignWriting.

     

    Deste modo, entre 1975 e 1980, o sistema passou por diversas modificações até se tornar o que hoje conhecemos como SignWriting e se espalhar pelo mundo. No Brasil, as pesquisas sobre SignWriting tiveram início em 1996 por intermédio do Dr. Antônio Carlos da Rocha Costa, da PUCRS, em parceria com as professoras Marianne Stumpf e Márcia Borba, atuantes da área de computação na Escola Especial Concórdia. Estes desenvolveram um grupo de trabalhos e, a partir disso, o sistema começou a ser difundido no território brasileiro.

    O desenvolvimento deste sistema, usado para registrar os sinais de Libras, representa uma conquista muito significativa para a comunicação da comunidade surda, sendo uma forma de preservar a história da língua, para que ela não se perca, de perpetuar conhecimentos e interpretações de mundo, sentimentos e de realizar estudos linguísticos que contribuam para a valorização e desenvolvimento da transmissão de ideias entre surdos e ouvintes. Embora existam outras formas de registro da Libras desenvolvidos no Brasil, como os sistemas SEL e ELiS, o  SignWriting continua o principal sistema usado para registro da língua; apesar de não estar muito presente apenas em contextos acadêmicos e não seja do conhecimento de todos os surdos, é um sistema completo, capaz de realizar registros gráficos dos léxicos usados na comunicação sinalizada viso-espacial.

    REFERÊNCIAS

    CRISTIANO, Almir. Valerie Sutton. Libras, 2017. Disponível em: https://www.libras.com.br/valerie-sutton. Acesso em: 10 nov. 2023.

    SUTTON, Valerie. A Global Writing System For A Global Age. Disponível em: https://www.valeriesutton.org/lifestory/autobiography. Acesso em: 10 nov. 2023.

    SIGNWRITING. History of SignWriting. Disponível em: https://www.signwriting.org/library/history/hist010.html. Acesso em: 10 nov. 2023.

     


  • O dispositivo sensitivo/ mágico da protagonista do conto “A menina de lá”

    Publicado em 14/11/2023 às 07:14

     Por Anna Letícia de Abreu

    Letras Língua Portuguesa

    Voluntária – PET Letras

     

     

    Mestre da palavra, Guimarães Rosa guia habilmente seus leitores por intrincados e imagéticos caminhos da linguagem, consolidando-se como um dos luminares da literatura. Sua prosa se caracteriza por uma linguagem rica, repleta de neologismos, arcaísmos e construções sintáticas complexas. Em A Menina de Lá, G. Rosa trabalha uma trama onde a magia se manifesta de uma forma sutil, através de elementos sensitivos que nascem da personagem principal, Nhinhinha. O conto explora a quebra de convenções da realidade, introduzindo elementos sobrenaturais de forma sutil e encantadora. A descrição dos personagens e cenários destaca-se como um componente essencial, revelando nuances mágicas que permeiam a trama.  Rosa traz a exploração da condição humana no conto; nessa leitura, os elementos escolhidos transportam os leitores para um universo onde a fronteira entre o ordinário e o extraordinário se dissolve, onde o real e o irreal se fundem – característica presente também em outras obras emblemáticas do autor.

    Descrição da imagem: a imagem é uma pintura óleo sob a tela; o fundo é composto por tons de verde, claro e escuro, com textura de folhas voando com o vento; há um balanço de corda amarrado em um único galho marrom. Nele, está uma sentada uma menina branca, com tranças laranjas, se balançando. Ela usa um vestido até o joelho, de mangas compridas na cor creme, um chapéu da mesma cor. Também usa uma meia calça laranja e botas pretas.

     

    O dispositivo sensitivo, presente nessa obra, se revela por meio de elementos específicos dentro da narrativa que são determinantes para o sentido, como a descrição de Nhinhinha, desde do que ela é, de como as pessoas ao redor a veem e até os comportamentos inexplicáveis dela. As atitudes intrigantes e, por vezes, questionáveis, desde os primeiros momentos do conto, incitam um pequeno incômodo ao leitor, a presença de algo inalcansável e incompressível vem como uma incessante reflexão. A ênfase na descrição assume uma importância central dentro do dispositivo sensitivo, pois é por meio dela que identificamos elementos que transcendem a realidade cotidiana, manifestando-se não apenas nas características da personagem, mas também infiltrando-se em objetos e cenários com uma atmosfera sobrenatural.

    Num dos trechos, a menina chamada de Maria, ou Nhinhinha, é descrita em uma das vezes como “[…] muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.”, “[…] sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia.”. Os comportamentos que Nhinhinha apresenta no conto, junto a suas descrições, são incomuns; e como fogem da lógica humana-comum, se encaixam no dispositivo mágico/sensitivo. Desde o princípio o leitor é levado a questionar o porquê de uma menina de quatro anos agir de tal forma, fazer questionamentos mais complexos e até realizar ações para além de qualquer criança da sua idade.

    Percebe-se também a presença do dispositivo sensitivo nas interações que acontecem no conto; é possível notar-se a estranheza nas falas de menina tão pequena, “Ouvia o Pai querendo que a Mãe coasse um café forte, e comentava, se sorrindo: – “Menino pidão… Menino pidão…” Costumava também dirigir-se à Mãe desse jeito: – “Menina grande… Menina grande…”.  O último fator que nos confirma o dispositivo sensitivo/mágico materializado em Nhinhinha  que há uma quebra de convenções da realidade: o leitor é exposto a situações que já não condizem mais com a realidade humana, como quando Nhinhinha consegue “realizar” seus desejos, “[…]Eu queria o sapo vir aqui”, […] reto, aos pulinhos, o ser entrava na sala, para aos pés de Nhinhinha –”.

    Para além da comprovação gradual do fenômeno mágico ao longo da história, G. Rosa, como de costume, deixa esse espaço amplo de interpretação, convidando o leitor a mergulhar em camadas mais profundas de significado. Nhinhinha, encantadora e sutil, não apenas personifica os poderes mágicos que carrega consigo, mas também representa uma miríade de possibilidades interpretativas, seja para os pais ou em outras dimensões simbólicas dentro do próprio conto. A complexidade da narrativa de G. Rosa, entrelaçada com elementos espirituais, confere uma graciosa expressão ao dispositivo sensitivo, escolhendo uma criança como portadora desses dons extraordinários. Nesse cenário, o leitor é conduzido por caminhos onde esse  extraordinário se mistura ao cotidiano, revelando uma magia que vai além das palavras e ressoa nas múltiplas facetas da experiência humana.


  • Para além de um teto todo seu: a invisibilidade de Júlia Lopes de Almeida

    Publicado em 09/11/2023 às 06:28

     Por Monisse da Cunha Silva

    Letras-Português

    Voluntária PET

    “Os homens tiveram todas as vantagens em relação a nós no que diz
    respeito a contar sua versão da história. Eles tiveram uma educação muito mais
    refinada; a pena sempre esteve em sua mão.”
    Jane Austen – Persuasão

     

    Descrição de imagem: A imagem consiste em uma colagem que apresenta duas fotografias de mulheres dispostas da direita para a esquerda: Virginia Woolf e Julia Lopes de Almeida. O fundo da imagem é feito para parecer um pedaço de papel que imita uma carta, e um círculo no centro da imagem exibe as duas fotos sobrepostas. No canto superior direito e no canto inferior esquerdo, há flores cor-de-rosa. A imagem não contém texto.

     

    Em 1929, Virginia Woolf (2019) lançou Um teto todo seu, um ensaio composto a partir de duas palestras proferidas pela autora na Inglaterra no ano anterior. As palestras abordaram as condições materiais e intelectuais das mulheres escritoras no país. Sua importância reside, entre outros motivos, no fato de ter colocado no cerne do debate acadêmico e do meio literário a questão do que significa para as mulheres escrever e sob quais condições elas têm realizado, ou não, esse trabalho, além de explorar as razões por trás dessas condições. Ao escrever este ensaio, Virginia reivindicava a autonomia financeira para que as mulheres pudessem escrever: um quarto todo seu e uma quantia de libras mensais.

    Podemos analisar o apagamento histórico de Júlia Lopes de Almeida, uma escritora carioca nascida em 1862, a partir deste ensaio de Woolf. Lopes deixou uma contribuição notável para a literatura e o jornalismo ao longo dos séculos XIX e XX. Nasceu em uma época em que as mulheres frequentemente não eram reconhecidas em suas respectivas profissões e na sociedade, enquanto a educação formal era um privilégio concedido a poucas delas. De uma família de imigrantes abastados, desfrutando do privilégio de uma educação formal abrangente. Seu pai, que era proprietário de uma escola, apoiou desde cedo sua inclinação pela escrita. Assim, desde muito jovem ela participou de várias rodas intelectuais – e no meio dessas rodas surgiu a Academia Brasileira de Letras. Mesmo depois de se casar, Júlia não foi impedida de continuar escrevendo, uma condição que a colocava em uma posição privilegiada para os padrões de sua época. Apesar de desfrutar de privilégios relacionados à sua raça e à sua classe social, a autora experimentou um apagamento histórico, com escassa menção ou discussão sobre ela dentro e fora do âmbito acadêmico. Por que, mesmo tendo suportes financeiros e “um quarto todo seu” para escrever, esses elementos não foram suficientes para evitar esse desfecho?

    Isso nos faz refletir sobre como a história literária tem uma tendência a priorizar autores do sexo masculino, relegando as contribuições femininas a um plano secundário. Essa falta de visibilidade das mulheres não se limita apenas à literatura, mas se estende a diversos contextos que envolvem a expressão, evidenciando o quanto as mulheres foram historicamente silenciadas. Isso não afeta apenas a esfera artística, mas também se estende a como as mulheres sentem, vivem e percebem o mundo ao seu redor.

    A arte, sobretudo quando vista a partir da perspectiva das mulheres, transcende a mera expressão e se torna uma ferramenta de intervenção na realidade. Julia Lopes produziu obras que exploraram o insólito dentro do âmbito da vida cotidiana, ao mesmo tempo em que denunciou as limitações impostas às mulheres, demonstrando sua versatilidade em diversos gêneros literários, e engajando-se na luta pelo direito ao voto feminino.

    Dessa forma, com base nessa breve reflexão, podemos reconhecer o ensaio de Virginia Woolf como uma ferramenta que permite estabelecer diálogos e análises das obras de escritoras, permitindo uma abordagem da literatura produzida por essas mulheres que transcende o texto em si. Isso envolve a consideração de vários aspectos de suas trajetórias, incluindo como gênero, raça e classe social se entrelaçam e impactam suas carreiras como escritoras, bem como influenciam a circulação e a recepção de suas obras.

     

    REFERÊNCIAS

    Woolf, Virginia. Um teto todo seu. Nova Fronteira, 2019.

     


  • SEPEX 2023: Libras? Onde?

    Publicado em 29/10/2023 às 08:30

    Por Bruno dos Santos Camargo
    Letras – Libras
    Estagiário de Acessibilidade

    “Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa.
    Quando eu rejeito a língua, eu rejeitei a pessoa porque a língua é parte de nós mesmos.
    Quando eu aceito a língua de sinais, eu aceito o surdo. […]”

    Terje Basilier

     

    Durante a última semana, de 23 a 27 de outubro, aconteceu a 20ª edição da Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (SEPEX) da Universidade Federal de Santa Catarina. Contando com uma programação diversificada que envolvia palestras, rotas temáticas, apresentação de estandes e um vasto cronograma de atividades culturais e artísticas, estima-se que cerca de 50 mil pessoas circularam pelas dependências da universidade que hoje encontra-se entre as cinco melhores instituições de ensino superior do Brasil (UFSC, 2023). Com assuntos das mais variadas áreas do conhecimento, os 73 estandes localizados no Hall do Centro de Cultura e Eventos traziam olhares curiosos de centenas de escolas, professores e membros da sociedade civil, atraindo muitas reportagens e notícias veiculadas nas mídias.

    Descrição da imagem: no estande do PET Letras, um homem observa os banners enquanto outro sinaliza uma pergunta em Libras. Um membro do PET Acessibilidade observa a sinalização e prepara-se para responder.

     

    O PET Letras, por sua vez, marcou presença em todos os dias do evento. O estande do Programa esteve em evidência todos os dias. A Profa. Dra. Roberta Pires de Oliveira fez uma participação importantíssima, explicando sobre o processo de pesquisa acadêmica e proporcionando um espaço de interação e exposição das pesquisas em andamento de integrantes do PET. No CinePET, curtas de animação complementavam a programação durante os dias do evento. Além disso, na quinta, o lançamento da Revista Preguiça: Slam Estrela D’Alva foi um sucesso e a poesia ocupou mais uma vez o Varandão do CCE ,com mais uma edição da renomada competição – que teve como vencedor um poeta surdo graduando em Letras Libras. Por fim, o PET encerrou sua participação na semana com chave de ouro através de uma oficina de Libras ministrada pelo PET-Acessibilidade, onde os espectadores puderam participar de jogos de Libras e tirar suas dúvidas sobre a língua e a cultura Surda.

    Descrição da imagem: em pé, poeta faz sua apresentação em Libras no Slam Estrela D’Alva. À esquerda, uma intérprete faz a interpretação para o português. No canto da imagem, um grupo de jurados avalia a poesia.

    É fácil observar a relevância do evento e a importância de apresentar à sociedade os conhecimentos desenvolvidos pela universidade, que também é referência internacional nas pesquisas sobre Língua de Sinais e Comunidades Surdas, as quais, mais uma vez, foram negligenciadas durante todo o evento.

    Infelizmente, não havia monitores-intérpretes da SEPEX, uma vez que na comunicação endereçada aos graduandos não tinha a informação da necessidade de estudantes para interpretação. O procedimento adotado pela organização era simples: caso a pessoa surda desejasse assistir a alguma apresentação, deveria comunicar aos monitores que, por sua vez, tentariam encontrar alguém que soubesse Libras e estivesse passando por ali, correndo o risco de não encontrar voluntários disponíveis para suprir a demanda ou uma demora muito grande até que encontrasse alguém apto.

    O problema não se limitou à atuação dos intérpretes em formação no evento, pois até mesmo a mesa de debate sobre Ações Afirmativas na UFSC com a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (PROAFE) foi cancelada na semana, por não haver intérpretes de Libras  – esse problema, aliás, tem sido recorrente na UFSC e essa falta de intérpretes nos espaços é uma questão que afeta diariamente a vida das pessoas.

    Apesar do problema relativo ao direito das pessoas surdas, a SEPEX 2023 foi um ótimo espaço de divulgação científica e proporcionou ambientes sensacionais de aprendizado e interação – em sua grande maioria, infelizmente limitados, apenas à comunidade ouvinte. Uma possível alternativa para essa questão seria a criação de uma comissão específica para tratar sobre assuntos de Segurança Linguística e Acessibilidade dentre os organizadores do evento. Esta comissão teria o papel de atentar para questões de interpretação em Libras, no caso da Comunidade Surda, interpretação em outras línguas (para as demais comunidades linguísticas da UFSC) e acessibilidades ao espaço do evento. Com isso, os conhecimentos desenvolvidos em nossa Universidade não se limitariam aos usuários da Língua Portuguesa, já que, ao mesmo tempo em que construímos uma universidade de ensino público, gratuito e de qualidade, podemos respeitar e contemplar a pluralidade de nossa sociedade.

    REFERÊNCIA

    UFSC. Ranking internacional classifica UFSC entre as cinco melhores universidades federais do Brasil, 2023. Disponível em: https://noticias.ufsc.br/2023/09/ufsc-e-a-7a-melhor-universidade-do-brasil-em-ranking-da-times-higher-education.  Acesso em: 27 out. 2023


  • Nova Edição da Preguiça – especial Slam Estrela D’Alva

    Publicado em 26/10/2023 às 08:39

    O PET-Letras caba de lançar mais uma edição da  Revista Preguiça, v. 4, n. 1, 2023.

    Dessa vez, Angelo Perusso e Atilio Butturi Junior organizaram  uma edição só de slam – do Slam Estrela D’Alva, que o Angelo, que é nosso aluno e petiano, criou e do qual é slam master.

    São 14 poesias e 12 vídeos dessas poesias – duas pessoas não puderam estar aqui.

    O material está em:

    https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/preguica/issue/view/410

    Você pode  e deve se cadastrar como leitor, leitora etc na Preguiça!


  • Nossa nova ID visual

    Publicado em 24/10/2023 às 10:35

    A partir de agora o PET-Letras UFSC tem uma nova identidade visual, em colaboração com o @longe_far.

    Quisemos materializar os encontros, os afetos e a multiplicidade de pessoas que estão no PET, nas Letras e na UFSC.