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DE FÉRIAS COM O PET | Rolês para aproveitar o que Floripa tem de melhor antes do fim das férias
Por Sofia Quarezemin
Letras – Português
Bolsista PET-Letras UFSC
Com a rotina corrida da faculdade, às vezes até esquecemos que moramos em uma ilha com tantas belezas naturais, né? Conhecer os cantos dessa cidade é uma aventura que vale muito a pena e pra quem chegou há pouco tempo é até difícil saber por onde começar. Nesse “De férias com o PET”, quero compartilhar meus rolês preferidos (até agora) pelo leste da ilha.
Para quem prefere água doce, a cachoeira da Costa da Lagoa é um excelente destino, porque é possível acessar por trilha ou ainda fazer um passeio de barco. O acesso para a trilha da Costa da Lagoa fica no bairro Canto dos Araçás, pertinho do centrinho da Lagoa da Conceição. A trilha dura em média duas horas com um trajeto bastante tranquilo, passando pela natureza exuberante e por algumas construções antigas, que datam da época da colonização. É realmente muito interessante conhecer a história da cidade e ao mesmo tempo ter esse contato com a natureza. Ao final da caminhada, a cachoeira proporciona descanso em águas calmas e tipicamente fresquinhas.
Uma outra opção para acessar a cachoeira é de barco, que também vale muito a pena por ser um passeio com lindas vistas da Lagoa da Conceição, com o valor da passagem a R$12,50. O passeio tem duração de 40 minutos e o ponto de embarque fica na região central da Lagoa, na Avenida das Rendeiras. Para acessar a cachoeira basta desembarcar no ponto 16, onde você também pode aproveitar os restaurantes na beira da lagoa e conhecer os artesanatos produzidos na região. Dalí, é só uma breve caminhada de 10 minutos até o destino final.

Descrição de imagem: A fotografia é feita de dentro de um barco de madeira, o que se pode perceber porque aparece a entrada e as janelas do barco, além de uma boia de cor laranja. Pode-se ver uma paisagem da lagoa em dia ensolarado, a água em tom esverdeado e com muitas árvores, além do céu azul e sem nuvens.
Se você prefere o mar, uma opção surpreendente é a Trilha do Gravatá, cujo destino é a Praia do Gravatá. O acesso para a trilha fica no morro da Praia Mole, onde é possível chegar de ônibus. O percurso tem duração média de uma hora e possui trechos um pouco mais intensos de subidas e descidas, com três mirantes em diferentes pontos do caminho. Lá do alto, é possível ver a extensão da Praia Mole e da Praia da Galheta, além, é claro, da Praia do Gravatá, e a melhor parte é se deparar com o infinito oceano que se mistura com o céu no horizonte. Ah, e também dá para acampar em um dos mirantes!
Por fim, a chegada à paradisíaca Praia do Gravatá é a recompensa perfeita para quem gosta de passar um tempo junto à natureza com tranquilidade e com a beleza típica que as praias de Floripa sempre esbanjam.
E aí, que tal aproveitar o último mês de descanso para conhecer mais um pouco da ilha? Não se esqueça que para rolês como esses, é sempre aconselhado levar protetor solar, repelente, algum lanchinho e bastante água! Em especial na Praia do Gravatá, que não possui nenhum tipo de comércio.

Descrição de imagem: vista ampla da paisagem em um dos mirantes da trilha. Na imagem, é possível ver uma parte mais próxima com grama e árvores. Mais distante, há uma grande formação rochosa em forma de ponta no mar. O mar e o céu estão azuis e se confundem no horizonte.
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A influência da “book rede”
Por Izabel Bayerl Bonatto
Letras-Português
Bolsista PET – Letras
Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro (IPL) desde 2007, na sua 5ª edição realizada em 2019, houve um aumento de 3% da recomendação em sites especializados, blogs ou redes sociais como fator de influência na escolha de um livro para compra em comparação com 2015. Além disso, 25% das pessoas entrevistadas responderam que começaram a se interessar por literatura por causa de um influenciador digital, como youtuber, pela internet. A pesquisa tem como objetivo “[…] conhecer o perfil do leitor e do não leitor brasileiro, identificando seu comportamento leitor quanto a intensidade, forma, limitações, motivação, representações e condições de leitura e de acesso ao livro – impresso e digital” (CARVALHO et al., 2020).
As redes sociais ganharam uma utilidade a mais e nelas foi criada a famosa “book rede”, a qual viralizou durante a pandemia do COVID-19, e diversas pessoas fãs de literatura, denominadas então “bookstans”, passaram a criar perfis nessas redes – no TikTok (conhecido como Booktok) e no Instagram (denominado Bookstagram) – com o intuito de compartilhar suas leituras, dar sugestões de livros e falar a respeito dos temas e gêneros preferidos sobre literatura. Muitos desses perfis acabaram ganhando milhares de seguidores e, consequentemente, tendo mais influência de leitura sobre as pessoas que os acompanham.
A grande maioria dos livros considerados “best sellers” de 2021 e 2022, ou seja, os mais vendidos desses anos, tiveram um gigantesco volume de conteúdos produzidos em massa por esses perfis das ‘book redes’ e atingiram milhões de pessoas. Dentro dessa lista dos então considerados “queridinhos das book redes” estão: Os Sete Maridos de Evelyn Hugo (2017), de Taylor Jenkins Reid; Torto Arado (2018), de Itamar Vieira Júnior; Mentirosos (2014), de E. Lockhart; Mulheres que correm com os lobos (1989), de Clarissa Pinkola Estés; Enquanto Não Te Encontro (2021), de Pedro Rhuas; 1984 (1949), de George Orwell; Os Dois Morrem no Final (2017), de Adam Silveira; Vermelho, Branco e Sangue Azul (2019), de Casey McQuiston; A Garota do Lago (2019), de Charlie Donlea, Conectadas (2019), de Clara Alves. Há, claro, diversos outros.
O perfil da Letícia no Instagram (@biblioleticia), que tem como intuito falar sobre livros da comunidade LGBTQIA+, e o da Luana no TikTok (@luaninhareads), que aborda de livros temas mais abrangentes, são ótimos exemplos de brasileiras que fazem parte da “bookrede” e que fazem publicações mais descontraídas sobre literatura.


Descrição das Imagens: são duas imagens com fundo branco de duas capturas de tela de perfis de redes sociais. A primeira captura de tela é do perfil do Instagram do arroba biblioleticia, com a foto do perfil de uma arte de uma garota branca com cabelo curto castanho com as pontas azuis sorrindo no canto superior esquerdo, ao lado direito tem a indicação de duzentas e trinta e uma publicações, oitenta e quatro mil e trezentos seguidores e setecentos e vinte e nove seguindo. Em seu nome está indicado Leticia com dois traços na vertical seguido de Bookstagram e ela barra dela, abaixo indicando que é criador(a) de conteúdo digital); em sua biografia do aplicativo está o emoji de pastas e ao lado está escrito Bibi dois pontos Bibliotecário e Bissexual; abaixo está o emoji da bandeira LGBTQIA+ e escrito Representatividade LGBTQIA; mais abaixo está o emoji de brilho e sua idade vinte e seis anos, seguido do emoji de um livro aberto e o texto Lendo, dois pontos, priorado da laranjeira. A segunda captura de tela é do perfil do tiktok do arroba luaninhareads; seu nome está indicado como Luana e ela barra dela, e sua foto do perfil é de uma garota branca com cabelo loiro com a cabeça deitada sobre de uma pilha de livros; abaixo da foto está a indicação de duzentos e noventa e seis seguindo; ao lado direito cento e setenta e sete mil e setecentos seguidores e à direita cinto milhões e meio de curtidas. Abaixo dessas informações está aparecendo a opção de seguir o perfil; do lado, o símbolo do Instagram e uma seta apontando para baixo. Em sua biografia está escrito “sim é romance”.
Vale ressaltar também, por fim, que comunidade “bookstan” ainda possui grande relevância se tratando da elevação as vendas do mercado literário em vários países, como aborda o jornalista Samuel Ruiz Anklam (UFRGS) em seu texto “Booktok impulsiona mercado literário e demonstra o impacto das redes sociais no consumo” de 2022, além de favorecer a visibilidade de diversos autores, tanto nacionais quanto internacionais.
BIBLIOGRAFIA
ANKLAM, Samuel Ruiz. Booktok impulsiona mercado literário e demonstra o impacto das redes sociais no consumo. 2022. Jornal da Universidade (UFGRS). Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/efeito-booktok-no-consumo-dos-leitores/. Acesso em: 04 fev. 2023.
CAMACHO, Gabu. Você sabe o que é um bookstan? 2020. Beco Literário. Disponível em: https://becoliterario.com/voce-sabe-o-que-e-um-bookstan/#:~:text=S%C3%A3o%20os%20bookstans%2C%20que%20al%C3%A9m,qualquer%20banda%2C%20cantor%20ou%20cantora.&text=Aquele%20f%C3%A3%20que%20acompanha%2C%20sabe,poderia%20ser%20somente%20%E2%80%9Cleitores%E2%80%9D. Acesso em: 04 fev. 2023.
NOVAES, Jamille. Carreira e Negócios: conheça a lista com os 10 livros mais vendidos em 2021. 2021. FDR. Disponível em: https://fdr.com.br/2021/12/27/carreira-e-negocios-conheca-a-lista-com-os-10-livros-mais-vendidos-em-2021/. Acesso em: 04 fev. 2023.
CARVALHO, Alexandre; et al. Pesquisas e Projetos IPL. Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. ed. 5, 2020. Disponível em: https://www.prolivro.org.br/5a-edicao-de-retratos-da-leitura-no-brasil-2/a-pesquisa-5a-edicao/. Acesso em: 04 fev. 2023.
THEONILA, Victoria. Livros “best sellers” em 2022. 2022. Revista L’Officiel. Disponível em: https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/livros-best-sellers-em-2022. Acesso em: 04 fev. 2023.
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DE FÉRIAS COM O PET | Você nunca se perguntou se os vírus de computador são feitos pelas mesmas empresas de antivírus?
Por Andrés Leonardo Salas
Letras-Libras
Bolsista Pet – Letras
Se pensarmos na quantidade de programas maliciosos que estão sendo produzidos cada dia, mais efetivos e poderosos, é preciso que nos questionemos: como as empresas de antivírus conseguem reconhecer e combater esses programas quase que instantaneamente e com tanta efetividade?
Bom, há uns dias escutei uma entrevista de um dos funcionários do laboratório de Kaspersky o entrevistador perguntava a mesma coisa e a resposta foi “interessante”.
Ele começou com uma linha de tempo da evolução dos programas maliciosos ou Malwares. Por volta de 2010, os vírus se criavam principalmente para monetizar anúncios, quer dizer, quando um computador era atingido, se abriam muitas janelas de anúncios “do nada ”, que deixavam o computador inservível momentaneamente.

Imagem: Malware de anúncios
Descrição da imagem: tela de Windows de uma versão antiga de fundo azul, com muitas janelas de anúncios abertas em inglês
Talvez até você chegou a ser vítima de um desses, certo? Isto acontecia com o fim de monetizar visualizações com os anúncios pagos. Se uma empresa pagasse por uma campanha publicitária nessa época, era muito provável que iam atingir pessoas desesperadas querendo jogar o computador pela janela. Existia outro método mais silencioso, ainda: fazia-se com que os computadores de muitas vítimas formassem parte de uma rede, sem eles perceberem, e trabalharem em conjunto para atacar um alvo específico.
Hoje existem programas mais modernos e rentáveis para os criminosos; o ranzomware é outro tipo de malware o qual tem como objetivo encriptar todos os arquivos do computador das vítimas: fotos, vídeos, documentos, programas etc. Quer dizer que esses arquivos vão ficar impossíveis de ler sem a chave certa. Depois de enviar o vírus, o hacker mandava uma mensagem de recompensa para desencriptar os arquivos em troca de dinheiro.
Uns dos problemas que tinha o browser Internet Explore (graças a Deus, substituído hoje em dia) é que na hora de se executar e navegar na internet ele utilizava componentes do próprio Windows, facilitando o acesso aos malware ao sistema operativo, simplesmente visitando um site qualquer. Hoje, os browsers trabalham em uma espécie de bolha controlada (Sanbox), que não tem acesso ao sistema operativo; assim é mais difícil ser infectado só visitando um site, claro, desde que não seja dado um click ou feito download de nenhum arquivo.
Então, depois do ano 2010 mais ou menos os vírus sofreram uma revolução para gerar dinheiro e não para fazer danos. Por sua vez, os sistemas operacionais ficaram cada vez mais difíceis e complexos, portanto os malwares deveriam atingir o mesmo nível de complexidade e isto requer muito trabalho e um conhecimento profundo especializado.
Só existem vírus para Windows?
O entrevistado Marc Rivero, informa que os vírus para o sistema operativo Windows são mais comuns por questão de mercado, já que quase 90% da população mundial o utiliza; portanto, para os hackers, é mais interessante criar seguir criando malwares para dito sistema operativo. Porém, com a chegada das criptmoedas e com elas a mineração com placas de vídeo, administradas pelo sistema operacional de código aberto, o Linux, hoje é bastante comum na internet malwares para atacar esses sistemas.
Como os antivírus reconhecem um malware?
Um malware nada mais é que uma série de comandos que nem um instalador de Google Chrome; quando você instala um programa, ele diz para o computador: criar um arquivo aqui, outro aqui, substituir, fazer download, dar permissões etc. Então, o antivírus o que faz é analisar os comandos mais comuns dos malwares, pois eles têm uma base de dados onde existem milhares de comandos de desses malwares conseguindo notificar uma ameaça ainda antes de se executar.
A entrevista com Marc me esclareceu muitas dúvidas, e uma delas é que qualquer sistema operacional é vulnerável, ainda os produtos Apple se o mercado deles seguir crescendo.
Por outro lado, algumas recomendações que ele fez:
1) Ter cuidado com os programas piratas, pois quando o programa é de graça o pagamento são seus dados.
2) Trabalhar sempre em um usuário que não tenha permissões de administrador.
3) Manter atualizado o sistema operacional
REFERÊNCIA
NATE, Gentile. ANTIVIRUS: ¡TODO lo que siempre has querido SABER! 2023. Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=SbdO7BAsGq8. Acesso em: 4 fev. 2023.
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Seleção | Voluntariado PET
Edital novo pra voluntariado do PET Letras!
Inscrições: 1º de fevereiro às 12h do dia 10 de fevereiro de 2023, por email.
Seleção: análise de documentos e entrevista em 14 de fevereiro, on-line.
Confira as informações no edital: http://campodiscursivo.paginas.ufsc.br/extensao/
ATUALIZAÇÃO: LISTA DE CANDIDATAS INSCRITAS
1- Mariana Farias Romeira
Matricula: 201015522- Ingryd Giovanna Lima Pereira
Matricula: 20104453Aas entrevistas acontecerão de forma remota, no dia 14 de fevereiro, nos seguintes horários:
Mariana – 14h
Ingryd – 14h20min
As candidatas serão informadas por email sobre o link de acesso e devem ter câmera e microfone para a entrevista.
RESULTADO FINAL
O resultado final da seleção, conforme edital n.1/2023, tendo em vista o IAA e as entrevistas realizadas com as candidatas, é o seguinte:
1º lugar:
Ingryd Giovanna Lima Pereira
Matricula: 201044532º lugar
Mariana Farias Romeira
Matricula: 20101552A Comissão de Seleção considera aprovadas as duas candidatas.
Florianópolis, 15 de fevereiro de 2023.
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Experiências do ensino de literatura no ensino público
Por Laiara Serafim
Letras-Português
Bolsista Pet – Letras
Recentemente, a professora de ensino público, Thaís Gonçalves Martins, concluiu o mestrado, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com um projeto intitulado Baú da Leitura, que visou o desenvolvimento da leitura e da escrita dos alunos do ensino fundamental, a partir de uma visão crítica gerada na interação com os colegas de sala e com a professora.
No projeto, os alunos do 9° ano realizaram a leitura do livro A bolsa amarela de Lygia Bojunga. Por possuir um único exemplar na biblioteca da escola, a professora teve que imprimir diversas cópias do livro com recursos próprios, para que, assim, todos tivessem acesso à obra. A escolha da obra, segundo a professora, se deu com o intuito de gerar um reconhecimento entre os alunos e a obra, devido ao tema central do livro, que trata sobre os desejos da infância e adolescência de uma garotinha, a Raquel. Mas, sobretudo, porque o livro apresenta questões como o empoderamento feminino e as relações de poder existentes, o que tende a gerar juízos de valor e pensamentos reflexivos e críticos. Segundo a professora, “A leitura do livro A bolsa amarela foi feita de forma gradativa e dinâmica, tendo como instrumento de registro o diário de leitura” (MARTINS, 2022, p. 229). O projeto seguiu diversas etapas, iniciando com uma conversa dinâmica entre a professora e os alunos sobre desejos e vontades; em seguida, foi feita uma breve introdução à obra e realizadas várias formas de leitura – coletiva, individual, pela professora, etc.
Todas essas etapas foram divididas por semanas e em diferentes aulas, mas é importante ressaltar que a leitura foi realizada de diversas formas e em diferentes ambientes, desde a sala de aula até o pátio da escola, proporcionando aos alunos diferentes contatos e experiências com o processo de leitura. Durante cada etapa de leitura era realizada uma pausa para que os alunos pudessem anotar os seus pensamentos, dúvidas e comentários em seus “diários de leituras”, um fichário individual realizado por cada aluno, o que possibilitou o início da formação de um pensamento crítico e principalmente reflexivo. A ideia de formação de pensamento crítico a partir da leitura também é legitimada pelo professor Luiz Percival Britto, em seu ensaio Ao revés e do avesso, que defende, sobretudo, incentivar o desenvolvimento de leitores críticos, capazes de questionar o texto e absorver as ideias do autor de forma consciente.
Após o término da leitura na íntegra, os alunos realizaram uma socialização, na qual debateram sobre o livro, tiraram as dúvidas com a professora e tiveram conhecimento sobre os posicionamentos dos colegas. Por fim, cada aluno produziu uma resenha do livro A bolsa amarela, que foi exposta em um mural na escola.
Segundo a pesquisadora, as discussões e trocas de informações entre os colegas de sala foram essenciais para a compreensão do texto e para a concretização dos posicionamentos defendidos. Por sua vez, a produção do gênero diário de leituras gerou nos estudantes maior reflexão sobre o texto literário e maior interação com os personagens da história, sendo essa uma etapa fundamental para a formação de leitores literários. Para Martins, os projetos de leitura precisam ser organizados e sistematizados pois “[…] de nada adianta promover uma aula de leitura por semana para os estudantes sem propósitos e objetivos.” (MARTINS, 2022, p. 236).
Como aluna advinda de escola pública, entendo a importância dos projetos de leituras na escola, sobretudo entendo a importância do profissional de Letras e pedagogos para que esses projetos aconteçam, uma vez que é necessário tirar do financiamento pessoal para que as aulas de literatura aconteçam no ensino público. Para Britto (2015), a criação de projetos de leitura deve sempre manter um caráter ativo na defesa da leitura como direito e privilegiar os trabalhos nas escolas e bibliotecas públicas. Na atual conjuntura, faz-se cada vez mais necessário formar cidadãos críticos. E para isso, é necessário formar jovens leitores.
Dada a importância da pesquisa, resolvi conversar com a professora Thaís, que me respondeu algumas questões (por meio de perguntas enviadas on-line):
Laiara: A sua tese é baseada em um projeto realizado em 2019, intitulado “baú da leitura”. Você tem dado continuidade ao projeto? Quais os resultados a longo prazo estão sendo gerados?
Thaís Martins: Não leciono mais na escola que realizei o projeto “baú da leitura”. Em 2020 pedi remoção e atuo em outras escolas, então, não tenho informações sobre a continuidade do projeto, o que sei é que a diretora tinha interesse em continuar, pois foi um projeto que movimentou a escola e proporcionou aos alunos o contato com o mundo da literatura.
Laiara: No texto, você diz ter escolhido o livro “Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, para o projeto, por ter como objetivo “encontrar uma adesão mais fácil dos estudantes”(MARTINS, 2022, p.226). Sabendo que o Brasil é um país com baixa adesão à leitura desde o ensino fundamental, quais as principais dificuldades encontradas ao trabalhar sobre um livro na sala de aula?
Thaís Martins: As dificuldades são inúmeras, pois o desinteresse pela leitura é uma questão que ultrapassa a sala de aula, e, se tratando das escolas públicas, as questões socioeconômicas influenciam muito, pois a maioria dos estudantes possui realidades cruéis, muitos vão para escola com o objetivo de fazer a única refeição do dia, como esse aluno vai se interessar pela leitura? Como vai ter vontade de ler algo? Outra dificuldade que encontramos é a concorrência com o mundo digital, no caso daqueles estudantes que possuem condições financeiras um pouco melhores, pois não é fácil competir com jogos, videogames, redes sociais e as inúmeras atrações do mundo tecnológico.
Laiara: É sempre recorrente e, recentemente, reapareceu – principalmente na internet – o debate sobre a leitura de obras clássicas (como Machado de Assis, Clarice Lispector, Aluísio Azevedo) por estudantes no ensino fundamental e ensino médio. Qual o seu posicionamento sobre o tema? Quais mecanismos podem ser utilizados para romper as barreiras que existem entre o jovem leitor e os textos clássicos?
Thaís Martins: Parafraseando Antônio Candido, acredito que a literatura é um direito e um fator de extrema importância para a formação humana, dessa forma, a escola é o lugar que deve propiciar aos estudantes o contato com o mundo dos livros. Podemos utilizar muitos mecanismos para trabalhar com textos clássicos em sala de aula, por exemplo, o professor pode iniciar pelos contos de Machado de Assis, pois são textos mais acessíveis ao público jovem, com temas interessantes e polêmicos, uma leitura feita pelo professor com pausas para explicação sobre as palavras rebuscadas, situando o contexto histórico, com entonação e dramatização, ou seja, promover de forma mais lúdica e prazerosa a leitura de alguns textos clássicos pode ser um bom mecanismo.
Outro ponto que podemos observar nas escolas é a obrigação relacionada à leitura dos clássicos, o papel da escola é aproximar esses textos dos estudantes e não distanciar, portanto, obrigá-los a ler não é o caminho ideal. Acredito que uma boa estratégia é o trabalho com os seminários de literatura, nos quais a turma é dividida em grupos de trabalho, cada grupo precisa estudar uma determinada obra literária para apresentar aos colegas. Nessa proposta, alguns estudantes leem o livro na íntegra, outros leem os resumos, o importante é que de uma forma ou de outra acabam tendo contato com textos clássicos e não passarão pela Escola Básica sem conhecê-los.
Laiara: Em um trecho do texto é dito que “[…] os alunos recebiam o capítulo para leitura apenas no momento da aula. Para isso, a professora tirou cópias com recursos próprios, pois na escola havia apenas um exemplar do livro A bolsa amarela.” (MARTINS, 2022, p. 229). Dentre as diversas dificuldades que existem na formação de um leitor, você acredita que dentre elas está o baixo investimento na educação, especialmente em escolas públicas, com baixo repertório de livros nas bibliotecas ou, por vezes, escolas que não possuem nem mesmo uma biblioteca?
Thaís Martins: Com certeza, a situação da maioria das escolas públicas é precária, faltam bibliotecas, faltam profissionais especializados para trabalhar, faltam investimentos em acervos, em projetos, falta vontade dos responsáveis em investir na educação. Infelizmente, essa é uma triste realidade no Brasil, um país onde investimentos em educação são considerados despesas, um país onde os professores não são valorizados. Precisamos avançar em políticas públicas que tenham por objetivo uma educação de qualidade, enquanto isso, muitos professores seguem fazendo milagres em suas escolas, tirando dinheiro do próprio salário para tentar proporcionar uma formação digna aos seus estudantes.
Assim, reforço mais uma vez a importância de uma boa formação para os profissionais de Letras, mas, sobretudo, a importância do investimento governamental em escolas públicas, para que outros professores não precisem fornecer de recursos pessoais para proporcionar aos estudantes uma formação literária digna.
REFERÊNCIAS
BRITTO, Luiz Percival Leme. Ao revés do avesso: leitura e formação. São Paulo: Pulo do Gato, 2015. 144 p.
MARTINS, Thaís Gonçalves. Baú da leitura: uma proposta de formação crítica para os estudantes do ensino fundamental. In: LIMA, Sheila Oliveira; PASCOLATI, Sonia (org.). Práticas de leitura literária na escola. São Carlos: Pedro & João Editores, 2022. p. 223-239.
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Literatura para uns, pornografia para outros: uma breve reflexão
Por Pedro Pedrollo
Letras-Espanhol
Bolsista PET-Letras
Quando, de alguma maneira, nos deparamos com temas complexos, como pornografia e erotismo, podemos pensar, de modo mais simplificador, que a pornografia seria algo mais explícito, ou mesmo escancarado, em que tudo pode ser “mostrado ou dito”, enquanto o erotismo seria algo mais velado, dotado de certa sutileza. Esse tipo de compreensão, ainda que possa ser considerado comum e mesmo aceitável, revela algumas perspectivas socio-historicamente construídas sobre como o moralismo, e sobre outros princípios em que a sociedade tende a se basear, podem nos levar a uma valoração específica para os produtos sociais — arte, literatura, filmes, teatro etc. —, ou mesmo para os termos que os definem e qualificam, no caso dos que abordam o sexo, como pornográficos e/ou eróticos; termos os quais, entretanto, se confundem, aproximam-se e se distanciam.
Nesse sentido, parece que seria mais fácil para uma sociedade — forjada em bases religiosas, por exemplo, tendo o sexo como um tabu — aceitar e endossar a abordagem do sexo, e de questões relacionadas a ele, por meio de entrelinhas. Dito de outro modo, haveria certa concessão, ou mesmo aceitação, ao sexo abordado de modo mais implícito do que ao sexo tratado de modo explícito. Essa perspectiva seria responsável por atribuir juízos de valor aos produtos sociais que, de alguma maneira, abordam o sexo. Assim, isso faria com que as obras, por exemplo, que possuam “cenas de sexo” escancaradamente manifestas, recebessem menos valor e, por sua vez, prestígio do que aquelas em que tais cenas seriam apenas sugeridas: estivessem em suas entrelinhas.
Todavia, algo que é muito interessante de se considerar, ao pensar nos conceitos de erotismo e pornografia, são os renomados escritores que se inseriram no tema sexual, inclusive se ocupando de uma abordagem mais desvelada e de uma visão mais escancarada do sexo, e que receberam, ainda que alguns tardiamente, reconhecimento por suas obras: Francesco Petrarca, Dante Alighieri e Pietro Aretino, por exemplo. A partir deles, é possível refletir sobre o tema e observar como o abordam de modo explícito, sendo tal abordagem, até mesmo, considerada extremamente obscena ou mesmo degradante. Um autor muito citado e conhecido, no âmbito de tal temática, é o Marquês de Sade, que, inclusive, citou reconhecidos filósofos em sua obra — tais como Rousseau, Montesquieu e Diderot —, ao tratar de contextos sexuais, que podem ser definidos como extremos.
Compreender como a abordagem do sexo tende a ser aceita ou rejeitada socialmente e os porquês de sua ocorrência, envolve uma diversidade de questões culturais, históricas, éticas, ideológicas, morais etc. Cientes disso, cabe-nos considerar que o erotismo “não mostraria tudo” e assim se aproximaria do belo, do que pode ser dito, do que é aceito e desejável; já a pornografia, por outro lado, ao basear-se na “abordagem explícita do sexo” (ou mesmo dos órgãos sexuais) se tornaria inaceitável, pois faria com que o sexo fosse algo feio, errado e sujo. Ainda que, tais conceitos, sejam variáveis, a depender de onde, de quando e de como, por exemplo, são empregados, os produtos sociais têm sido, historicamente, classificados e valorados por meio de opostos: bom e mau, belo e feio, limpo e sujo, moral e imoral, erótico e pornográfico, e assim por diante. Nessa perspectiva, tende-se a considerar algo erótico como “bom, belo e limpo”, e pornográfico como “mau, feio e sujo”, por exemplo. Entretanto, vale dizer que aquilo que ontem era considerado absurdamente pornográfico, imoral e ofensivo, pode tornar-se aceito amanhã, sendo visto como erótico e aceitável, e vice-versa.

Descrição da imagem: uma mulher branca e loira segurando um livro enquanto usa roupas intimas pretas
e transparentes e um hobby vermelho, enquanto faz uma cara de surpresa.
Sem aprofundar em um tratamento teórico ou mais acadêmico do tema, vale incentivar algumas reflexões sobre o modo como lidamos com o sexo e com sua abordagem nos produtos sociais, qualificando as obras como eróticas (aceitáveis e permitidas) ou pornográficas (inaceitáveis e proibidas). Além disso, há que se considerar o que há por detrás de nossos julgamentos e o que eles provocam. Um olhar sobre a estrutura social permite que se observe o sexo sendo posto como tabu, em várias sociedades e momentos históricos. Diversas convenções sociais passaram a servir de base para se julgar e qualificar as pessoas e os produtos sociais, a partir do modo como atendiam a tais convenções que estabelecem como, quando e onde se poderia abordar o sexo e seus temas afins. Afastar-se de tais convenções, ou seja, quebrar as regras, poderia colocar a pessoa e suas obras numa situação de marginalização, considerando-a promiscua, obscena, perversa e de menor valor social, visto que ela corromperia a “pureza” almejada para o humano em certas sociedades, culturas, religiões e/ou cosmovisões.
Podemos considerar que quando decidimos dizer o que é e o que não é erótico e/ou pornográfico, estamos reproduzindo nossas crenças, tradições e cosmovisões, ou seja, o imaginário social, que nos constitui e nos move em direção à reprodução de certos padrões e convenções, sejam eles vistos como mais moralistas ou não. Portanto, se, em nosso crivo, acreditamos que devemos aceitar o sexo sendo abordado apenas no que é erótico e rejeitar aquilo que seria visto como pornográfico, nos afastaremos de certas obras. E isso pode nos impedir de ampliar nosso contato com aqueles produtos sociais que não estão forjados dentro do que seria “aceitável e permitido” a nós mesmos. Cientes disso, podemos assumir uma postura mais crítica diante das convenções sociais, e de seu impacto sobre os produtos sociais, e entender que os limites sobre o erótico e o pornográfico são por demais tênues e que talvez seja mais produtivo circular por eles do que tentar aplicar um juízo de valor que nos posicione em prol do erótico e em detrimento do que seria pornográfico, por exemplo.
Há certos olhares para história que dizem que a pornografia seria um fenômeno de mercado, inaugurado no Renascimento e que se caracterizaria pelas imagens e palavras que ferem o pudor. Nesse sentido, o fenômeno da pornografia teria inaugurado uma nova forma de representar o sexo. Pietro Aretino seria um dos autores que teria tido a intenção de tornar o sexo mais realista, contribuindo para que a temática, que, até então, circulava em meios mais restritos, passasse a ser mais acessível a círculos mais amplos. Inclusive há quem defenda que isso teria tido um papel fundamental para a consolidação do mercado da pornografia comercial, que teria a intenção de vender sexo, e de sua aproximação com a arte erótica, que usaria símbolos sexuais para falar de coisas que transcendem o sexo.
De certa maneira, observa-se, atualmente, uma significativa circulação de pornografia, a qual é inclusive “tolerada” em seus círculos mais restritos. É interessante notar que quando essa pornografia vem à tona, em círculos sociais mais amplos e abertos, ela é alvo de intensas críticas e, muitas vezes, considera-se um escândalo, um atentado ao pudor. Se olharmos para a literatura que aborda o sexo e o modo com ela foi e vem sendo recebida socialmente, veremos casos interessantes, como o de Madame Bovary, de Flaubert, pois, ao tratar da história de uma adúltera, em sua obra, com um conjunto de detalhes e cenas de sexo, ele foi alvo de muitas críticas e julgamentos. Entretanto, há quem diga que, mesmo com o incomodo social gerado, a obra não poderia ser considerada pornográfica, já que era de um grande autor, tinha grandes qualidades estilísticas etc., o que contraria certas ideias, sobre o teor e caráter da pornografia, e nos faz refletir sobre quais seriam os elementos que nos levam a aceitar ou a rejeitar determinadas obras e a classificá-las como eróticos ou pornográficas, como merecedoras ou não de nossa atenção. Outro exemplo interessante é Contos d’Escarnio: textos grotescos, de Hilda Hilst, formado por um conjunto de contos em que o sexo é tema recorrente, que passa por críticas, rejeições e julgamentos.
Será que vemos o sexo e sua abordagem como um risco ou um perigo para a sociedade, a ponto de termos que considerá-lo um tabu e de rejeitar obras que o abordem explicita e livremente? Em “Conhecimento Proibido”, de Roger Shattuck, há uma discussão sobre os possíveis problemas que a sabedoria pode trazer e sobre a necessidade de se proibir alguns conhecimentos, já que, em tese, certas verdades poderiam causar males a sociedade. O autor questiona: “[…] deveremos acolher entre nossos clássicos literários as obras de um autor violou e inverteu todos os princípios de justiça e decência humana desenvolvidos ao longa de 4 mil anos de vida civilizada?” (SHATTUCK, 1999, p. 196)
Esse questionamento pode nos levar a diversos outros: inclusive sobre os limites que deveriam ter ou não os produtos sociais em relação às temáticas abordadas e ao como realizar tal abordagem. Contudo, considero que o mais importante é podermos refletir sobre os porquês de se aceitar determinadas obras e de se rejeitar outras e o como o posicionamento assumido nos conduzirá a certas obras e nos afastará de tantas outras.
Embora saibamos diferenciar realidade e ficção, precisamos também saber ponderar a respeito de como uma interfere na outra, não é mesmo? Por mais que possam ser encontrados exemplos de pessoas que se valeram de ficção para justificar suas ações reais, como os suicídios cometidos após a leitura de O Sofrimento do Jovem Werther de Goethe, temos que nos perguntar se os problemas sociais estariam delimitados e definidos pelas obras literárias, artísticas, teatrais, musicais que circulam socialmente; e se seriam provocados por seus conteúdos e modos de abordar seus temas. Teria sentido censurar as obras e eliminar aquelas que fugiriam dos padrões de determinadas épocas, sociedades e/ou culturas? Uma possibilidade de se refletir sobre tal questionamento pode ser encontrado na obra Um Mais Além Erótico: Sade, de Octavio Paz (1999, p.83) que afirma: “[…] o perigo de certos livros não está neles próprios, mas sim na paixão de seus leitores”.
Classificar uma obra como erotismo ou como pornografia e, consequentemente, assumir julgamentos de valor que rejeitem determinadas obras e as marginalizem, não deve ser visto como algo simples e natural. Portanto, como afirmei, é extremamente relevante refletir sobre o que estaria por detrás de certas classificações e julgamentos de valor e sobre como isso pode afetar as obras, o modo como nos relacionamos com elas e, até mesmo, como isso pode nos atingir. Além disso, uma obra definida como pornografia não deixa de ser um produto social que compartilha características com diversas outras obras, sejam elas eróticas ou não.
Leituras recomendadas:
BATAILLE, Georges. A literatura e o mal. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
HILST, Hilda. Contos d’escarnio textos grotescos. São Paulo: Globo, 1990.
MAINGUENEAU, Dominique. O discurso pornográfico. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
PAZ, Octavio. Um mais além erótico: Sade. São Paulo: Mandarim, 1999.
SCHATTUCK, Roger. Conhecimento proibido. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
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DE FÉRIAS COM O PET: Criando um mundo dentro de casa com Dungeons and Dragons
Por Manoela Beatriz dos Santos Raymundo
Bolsista PET-Letras UFSC
Letras – Inglês
Desde o lançamento de Stranger Things, a franquia Dungeons and Dragons (ou D&D) vem chamando mais público para sua comunidade e incentivando cada vez mais pessoas a jogarem RPG. RPG (ou Role Playing Game) é um jogo de interpretação, onde o Jogador irá interpretar um Personagem, que o jogador vai criar do jeito que quiser, tomando decisões para as situações em que ele está e conversando com os outros personagens da maneira que ele conversaria. É normalmente jogado usando um conjunto de 7 dados com vários lados e papéis; de resto, é só chamar os amigos e começar uma aventura!

Descrição da Imagem 1: Fundo branco com um conjunto de 7 dados azuis com as bordas em dourado com números estampados em cada um dos lados dos dados. Cada dado possui um número diferente de lados, sendo um deles de quatro lados, um de seis lados, um de oito lados, um de dez lados, outro de dez lados mas com números de 10 a 90, um de doze lados e um de vinte lados no centro da imagem.
Além da função de Jogador, temos o Mestre, ou o DM. Diferente dos outros, o DM não controla um Personagem; ao invés disso, ele é quem inventa e constrói todo o mundo onde a aventura vai se passar, quem irá interpretar os Personagens Não Jogáveis (PNJ ou NPC) e quem irá passar todos os desafios para os jogadores.
Existem diferentes sistemas de RPGs. Dungeons and Dragons é um dos mais famosos, se passando majoritariamente em um mundo medieval, mas existem vários outros sistemas para pessoas que não gostam muito da ideia de um mundo antigo e com magia. Um exemplo é Tormenta, um sistema brasileiro no estilo medieval assim como D&D e que ficou muito famoso no início dos anos 2000.

Descrição da Imagem 2: Ao fundo uma sala em chamas e com destroços. Ocupando boa parte da imagem temos a deusa dragão Tiamat, um enorme dragão de cinco cabeças, uma azul, uma verde, uma preta, uma branca e uma vermelha. No canto superior esquerdo o logo da marca Dungeons & Dragons em vermelho com o “&” em branco e representado por um dragão cuspindo fogo.
Na mesma época de D&D, meados de 1991, começaram a ficar famosos outros sistemas como Vampiro, a Máscara (voltado a um mundo cheio de vampiros e outras criaturas fantasiosas), O Chamado de Cthulhu (um sistema de investigação e terror, com monstros além da nossa compreensão) e mais tarde Pathfinder (também com um mundo medieval).
Existem muitos sistemas com mundos específicos para agradar cada tipo de jogador. Por exemplo, para aqueles que preferem um mundo mais atual, mas ainda assim com um pouco de magia e criaturas sobrenaturais, temos o Ordem Paranormal RPG, um sistema brasileiro criado pelo youtuber e streamer Rafael Lange (Cellbit), em 2021, que se passa num Brasil onde monstros e lendas podem se tornar reais e afetam nosso mundo de diversas maneiras. Nesse contexto, uma organização, a Ordo Realitas, pretende impedir que o “paranormal” venha para nosso mundo.

Descrição da Imagem 3: Fundo num corredor escuro. Quatro personagens na frente sendo eles, da esquerda para a direita: Elizabeth Webber, uma mulher de pele branca, cabelo curto preto, usando um jaleco branco e luvas azuis, segurando uma pistola; Thiago Fritz, um homem branco de cabelo marrom curto em topete, vestindo uma camiseta social vermelha com um colete e gravata pretos, segurando uma lanterna; Daniel Hartmann, um homem branco com o cabelo ruivo raspado dos lados e preso em um rabo de cavalo curto, com uma barba longa e vestindo uma jaqueta cinza, segurando uma lanterna enquanto ilumina um livro na outra mão; e Alexsander Kothe, um homem alto de pele negra, cabelo raspado, com um pequeno óculos redondo, moletom amarelo e jeans escuro. A frente deles, em letras grandes e brancas está escrito “A Ordem Paranormal, O RPG”.
Mas se você não sente que sabe o suficiente ainda ou quer mais uma dica para se divertir durante as férias, mas não está afim de jogar, que tal assistir outras pessoas jogando? Existem várias pessoas que além de jogarem com seus amigos também jogam e filmam seus jogos e publicam vídeos no Youtube desses jogos. Alguns exemplos famosos são o Critical Role, o Ordem Paranormal e o Jovem Nerd – sendo os dois últimos brasileiros.

Descrição da Imagem 4: Fundo preto, centralizado na frente, um desenho branco de um dado de 20 lados comumente usado em jogos de RPG. No meio do dado está escrito “Critical Role” com o “t” em formato de espada, cruzando o meio do “o” na linha de baixo.
São diversas opções para passar o tempo e se divertir com os amigos durante as férias. E você, qual desses você escolheria para jogar, ou até para ser o DM?
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De férias com o PET: A língua artificial de Avatar
Por Franciane Ataide Rodrigues
Bolsista PET-Letras UFSC
Letras-Libras
Nada melhor que curtir as tão esperadas férias e poder aprender relaxando. Uma ótima opção para isso é um cineminha e o filme Avatar: o caminho da água é uma ótima indicação. O filme já ultrapassou Homem aranha: Sem volta para casa e se tornou a sexta maior bilheteria do cinema!

A imagem é um poster de divulgação de filme. Há um rosto de uma criatura azul com olhos verdes e seu cabelo esvoaçando; a criatura está com olhar fixo e atento. No rosto desse ser também é possível identificar pontos iluminados e traços luminosos esbranquiçados que atravessam diagonalmente o rosto em destaque. No canto inferior esquerdo o título do filme, em letras azuis, “Avatar: o caminho da água” e data de lançamento do filme “15 de dezembro “. No canto inferior direito, os lábios entreabertos da criatura.
A narrativa passa no universo de Pandora, que contêm diversidade de biomas, tribos, tradições e línguas. Para dar veracidade à Pandora, uma das ferramentas utilizadas foi a criação de línguas artificias, o que deve interessar a quem estuda Letras.
Na’vi é uma língua criada para os habitantes de Pandora, o idioma foi criado pelo linguista Paul Frommer, que tem doutorado em Linguística e é professor da Universidade do Sul da Califórnia. Para o diretor do filme, James Cameron, a língua deveria ser aprendida pelos personagens ficcionais e pronunciada pelos atores reais, e não se assemelhar a nenhuma língua humana.
O processo de criação de Na’vi começou em 2005, a partir de trinta termos com sonoridade semelhante à das línguas polinésias, Frommer criou um “vocabulário alienígena” composto por mil palavras, com estruturas sintáticas e morfológicas emprestadas de diversas línguas. Também foi estabelecido contraste de tons, vogais com diferentes durações e consoantes ejetivas. Para fugir da semelhança com línguas derivadas do latim ou do germânico e se tornar estranha aos ouvidos ocidentais foram excluídos sons comuns dessas línguas como B, D, G, e CH, e foram incluídos grupos de sons dificilmente utilizados em idiomas acidentais como Kx, Tx e Px. Sons produzidos com a língua e lábios sem ajuda dos pulmões foram fundamentais; a presença de infixos e o uso de modificadores de verbos no meio das palavras em vez de no início ou final delas também.
Em 2009, ano de lançamento de Avatar, Na’vi contava com um vocabulário de mais ou menos mil palavras, mas o entendimento gramatical da língua estava limitado apenas a Fromme; por esse motivo ele criou o blog Learn Na’vi , onde é possível entender as regras gramaticais, detalhes da fonética, fonologia, textos e poemas já redigidos na língua. Hoje estima-se que o vocabulário de Na’vi seja de duas mil palavras e que possua cinquenta a cem pessoas que se tornaram fluentes em sua fala e escrita.
Na sequência do filme Avatar: o caminho da água, o que é mais interessante, foi criada uma nova língua artificial, a Língua de Sinais Na’vi , por CJ Jones, ator americano bastante conhecido por suas contribuições para a representação dos surdos no cinema, na TV e em Hollywood. A língua de sinais Na’vi (NSL) foi produzida para ser usada ao longo do filme, provavelmente pelo Clã Metkayina, um clã que vive nos recifes de Pandora. Por viverem submersos, o clã se beneficiaria de uma língua de sinais para se comunicar.
Agora é só aprender essas novas línguas artificiais e viajar nas férias no mundo de Pandora.
BIBLIOGRAFIA
BOASSI, Hanna. Línguas artificiais: Você sabe o que são? 2022. Disponível em: https://petletras.paginas.ufsc.br/2022/05/15/linguas-artificiais-voce-sabe-o-que-sao. Acesso em: 19 fev. 2023.
MARGARITA, Diana. Língua artificial do filme Avatar. 2013. Disponível em: http://www.tradutoradeespanhol.com.br/2013/01/lingua-artificial-do-filme-avatar.html?m=1. Acesso em: 19 jan. 2023.
LEAR NA’VI SING LANGUAGE. Produção de Cj Jones. [S.I.], 2022. son., color, legendado. Disponível em: https://youtube.com/playlist?list=PL9R-Yt3TTkd5J582DdQwVzIDAneQvzCzY. Acesso em: 19 jan. 2022.
MURANO, Edgard. A língua de Avatar. 2010. Disponível em: https://edgardm.wordpress.com/2010/03/18/a-lingua-de-avatar/. Acesso em: 19 jan. 2023.
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Tri, Afu e Baita: como funcionam?
Por Angelo Perusso
Bolsista PET-Letras UFSC
Letras – Português
Ao nos depararmos com alguém nascido em Porto Alegre naturalmente associamos a fala dessa pessoa a expressões como “bah, tri legal né, guri”, por serem expressões muito presentes no vocabulário da maioria das pessoas nascidas na capital gaúcha. Neste texto, tendo em vista essas variedades, trataremos mais especificamente de adjetivos intensificadores que também podem atuar como adjetivos positivos, por exemplo, o consagrado “tri”. O “tri” (além de ser o nome do cartão do ônibus de Porto Alegre) é também uma expressão que pode atuar nessas duas funções, pois quando temos uma frase do tipo “esse teu tênis é tri feio”, ele está atuando como atuaria o “muito”, o “mega”, o “super”, entre outros termos usados para atribuir intensidade. Ou seja: o tênis não é somente feio, mas “tri” feio. Quando o “tri” aparece neste uso, ele está mais próximo do seu sentido original, que a Zero Hora, jornal típico de Porto Alegre, explicou em uma matéria de 2018, e que é o seguinte: a expressão se popularizou nos anos 1970, logo após o Brasil ser tricampeão da Copa do Mundo de Futebol. Logo, tudo que era muito bom (ou muito ruim, ou muito qualquer coisa), era três vezes bom, então era “tri.” Porém, o que decorreu disso foi que o porto-alegrense pegou gosto pelo tal do “tri” e eventualmente começou a dispensar o adjetivo que vinha depois, quando se tratava de coisa boa. Logo, se algum porto-alegrense vir o seu tênis novo e disser “bah, que tri”, ele quer dizer que o tênis está aprovado, que é bonito, ou legal, ou qualquer coisa boa.

Ainda na fala do porto-alegrense, há um outro exemplo bastante comum de casos como esse, que é do “afudê” e do “afu”, que são pai e filho. Em um passado distante, o termo mais comum era o “afuzel”, que é avô do “afu”. Essa expressão era usada para expressar que algo era bom, bonito, legal, entre outras coisas boas. Lentamente, o “afuzel” foi substituído pelo “afudê”, que significa a mesma coisa: algo bom. “Bah, que afudê teu tênis”: se seu amigo disse isso, pode sair pra festa tranquilo com o teu tênis novo, ele é bonito. Se tu contar que foi de férias para Floripa e teu amigo te disser “afudê, meu”, significa que ele achou “bem legal”.
Porém, surgiu uma abreviação, que é o “afu”, e que por sua vez funciona muito mais como intensificador, mas também pode ser visto como adjetivo positivo. Por exemplo, se alguém se aproxima de ti e diz “tu tá cheiroso afu, hein meu?”, significa que tu está muito cheiroso, assim como se alguém disser que tu é “feio afu”, significa que tu é muito feio. No caso do “afu”, nos dias atuais, essa é a forma amplamente mais popular de utilizá-lo, como um intensificador do que vem a seguir. Até pouco tempo atrás e, provavelmente, por causa da relação com o “afudê”, era possível se deparar com diálogos do tipo “como foi o jogo?”, “foi afu”. Logo, aqui nessa função, o adjetivo intensificador “afu” também vai assumir uma postura de adjetivo positivo, assim como faz o “tri”. Entretanto, é necessário pontuar que o “tri” é muito mais produtivo na fala.
Agora, subamos para a praia veranear e falemos então de uma expressão que, embora também aconteça na fala porto-alegrense e de outros lugares, aparece com os dois sentidos, que buscamos na fala dos moradores da Ilha de Santa Catarina, especificamente a dos nativos, que é o “baita”. Conversando com uma amiga um dia desses, ela me disse que os nascidos e crescidos em Florianópolis, popularmente chamados de “manezinhos”, se fossem flertar com uma menina, poderiam dizer a frase “tais uma baita hein, feia”. Aqui, vemos o termo “baita” aparecer como um substituto para “bonita” ou “atraente”. É possível ver ainda, ao mostrar o tênis novo ou contar uma história, reações como “que baita”, que seria justamente o “baita” aparecendo na função do “legal”. Outro caso ainda é quando ouvimos que “foi um baita jogo” ou que alguém viu um “baita filme”. Essa pessoa muito dificilmente estará se referindo ao tamanho do jogo ou o tamanho do filme, mas sim a sua qualidade; logo, essas frases poderiam ser substituídas por “foi um ótimo jogo” e “um ótimo filme.” Ou seja, nessa maneira de utilizar a expressão ela está agindo como um adjetivo positivo, mas em sua função original ela age do mesmo jeito que o “tri” agia quando surgiu, que é na função de intensificador.
A grande questão é que o baita na função de intensificador apresenta nuances, pois ele pode indicar intensidade, mas também tamanho. Voltando à fala porto-alegrense, alguém pode dizer que teve que subir uma “baita lomba”, ou seja, um grande morro, mas também pode dizer que alguém é um “baita de um mala sem alça”, ou seja, uma pessoa “muito chata”. Por vezes também é possível confundir se o baita está agindo como um adjetivo que indica que algo é bom ou grande, por exemplo, na frase “ele é um baita homem”. É possível interpretar que o homem em questão é grande, mas também que ele é um homem bom, honrado. Logo, vemos que o “baita” também pode aparecer tanto na função de adjetivo positivo como de intensificador.
Algo semelhante, e que nos ajudará a entender esses processos, é explicado por Basso (202, p.6). Ao fazer uma análise do intensificador “puta”, ele percebe que a maneira que um intensificador se comporta vai variar de acordo com o que ele está se combinando. No caso do “puta”, vemos que quando ele está combinado com um nome, ele pode ser substituído por “ótimo” ou “bom”, como em “João tem um puta emprego”. Por outro lado, se o “puta” estiver combinado com um adjetivo, ele então poderá ser substituído por “muito” ou “bastante”, como em “ele é um puta chato”.
O “baita” se comporta da mesma maneira, pois poderíamos dizer que “João tem um baita emprego”, colocando o baita como um intensificador nominal e atribuindo assim o caráter de “bom” ou “ótimo”, bem como poderíamos utilizar “Ele é um baita chato”, colocando o “baita” como intensificador adjetival e atribuindo assim o caráter de “muito chato”. Algo parecido (mas não igual) pode ser feito também com o “afu” e com o “tri”, pois se disséssemos que “João tem um emprego tri” ou “um emprego afu”, estaríamos combinando nossos intensificadores com um nome, e eles estariam atribuindo a ideia de “ótimo” ou “bom” a esse nome; porém, nesses casos, precisam aparecer somente após o nome na sentença. Caso utilizássemos “ele é tri chato” ou “ele é chato afu”, teríamos os intensificadores combinados com adjetivos, atribuindo característica de “muito” ou “bastante” ao adjetivo. Novamente, como vimos, o “tri” muda de posição e, ao se combinar com o adjetivo, aparece antes dele na sentença, enquanto o “afu” permanece sempre após o termo que ele se combina.
Por fim, cabe dizer que se tu chegou até aqui e não entendeu nada, então esse texto foi “tri nada a ver”.
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DE FÉRIAS COM O PET: One Day at a Time: se sinta parte da família Alvarez
Por Hanna Boassi
Bolsista PET-Letras UFSC
Letras – Português
Você está de férias e não sabe mais o que fazer para sair da monotonia? Vou te apresentar uma família muito interessante e talvez você queira fazer parte da rotina deles.
Em 2017, a sitcom One Day at a Time foi estreada pela Netflix, nela acompanhamos o cotidiano de uma família hispano-americana nos Estados Unidos. A família Alvarez é composta por Penélope (Justina Machado), uma enfermeira e ex-militar e mãe solo, Lydia (Rita Moreno), sua mãe, que se mudou para os Estados Unidos com seu falecido marido após ter fugido de Cuba, e seus dois filhos, Elena (Isabella Gomez), a mais velha, militante e estudiosa, e Alex (Marcel Ruiz), o caçula, que é mimado pela a avó – ou, para eles, Abuelita.
Além da família, outros personagens muito presentes nos episódios são Schneider (Todd Grinnell), dono do prédio onde a família mora, e o Doutor Berkowitz (Stephen Tobolowsky), chefe de Penélope e par romântico de Lydia.

Descrição da imagem: Em um fundo amarelo, podemos observar os personagens da série One Day at a Time centralizados na foto. À esquerda se vê Elena, uma mulher de cabelos longos e castanhos, vestindo uma jaqueta azul sobre uma camisa cinza; ela usa óculos e está olhando para sua direita, onde se encontra Lydia, sua avó, que tem cabelos curtos e castanhos, também usa óculos e veste um vestido azul claro. Ao lado direito de Lydia se vê Penélope, que tem cabelos médios castanhos e cacheados e está vestindo uma camisa verde. Na ponta direita se vê Alex, que tem cabelos curtos e castanhos e veste uma camisa xadrez cinza. Atrás da família se vê Schneider, que tem cabelos e barba castanhos, utiliza um óculos e uma camisa azul clara, e o Doutor Berkowitz, personagem secundário da série, careca, utiliza um óculos e uma camisa vermelha.
Esse é o tipo de série que você escolhe ver quando precisa de certo conforto, mas, além de ela fornecer esse carinho, ela também consegue abrir nossos olhos para temas de extrema importância. A série aborda em seus episódios temas importantes como xenofobia, homofobia, depressão, ansiedade, religião, sempre de uma forma bem humorada. No desenvolvimento dos personagens e de seus relacionamentos é possível se identificar sempre em alguma situação em que nos reconhecemos, já que os autores tentam retratar de forma suave a relação familiar entre eles, com conflitos que todos temos em casa.
Além de gargalhadas, tenho certeza que você vai se emocionar com a família Alvarez, principalmente com as descobertas de Elena e Alex sobre a vida e o mundo. Infelizmente, após três temporadas, a série foi cancelada pelo serviço de streaming Netflix. Foi “resgatada” pela Pop para uma quarta temporada e, depois, cancelada novamente. Apesar disso, e pelo grande sucesso da série, muitos fãs lutam pelo seu retorno. Tenho certeza que é uma série que vale seu tempo de lazer e que pode te proporcionar momentos maravilhosos. Assim como cada fã, após alguns episódios, você vai se sentir parte dessa família.
