Adaptação de obras literárias: “As meninas”, de Lygia Fagundes Telles

06/09/2024 08:09

 

Por Daniely de Lavega

Bolsista PET Letras – CNPq

Letras Português

A relação entre a literatura e o cinema gera debates acalorados entre os críticos. Há movimentos que defendem a “autonomia do cinema”, assim como existem os que consideram a literatura como “arte verdadeira”. Entretanto, também há teóricos que não julgam essa relação como prejudicial para algum dos lados. Segundo Amorim (2010), tanto a literatura quanto o cinema são estruturas da linguagem, bem como ambas as artes se constituem, principalmente, por meio do gênero narrativo. A literatura e o cinema se assemelham por serem artes narrativas, que contam uma história, sendo justificável que o cinema tenha se apropriado da literatura para impulsionar seu próprio desenvolvimento.

Hutcheon (2011) argumenta que, atualmente, as adaptações estão em todos os lugares: na televisão, no cinema, no teatro, nos quadrinhos, nos videogames, em parques temáticos e muito mais. Em seu livro Uma teoria da adaptação, a autora também levanta uma discussão importante sobre a tendência de considerar as adaptações como inferiores. De fato, há um pensamento disseminado de que as adaptações não alcançam a consistência artística das obras literárias. Em vista disso, a autora sugere os seguintes questionamentos:

Se as adaptações são, por definição, criações tão inferiores e secundárias, por que estão assim presentes em nossa cultura e, de fato, em número cada vez maior? Por que, de acordo com as estatísticas de 1992, 85% de todos os vencedores da categoria de melhor filme no Oscar são adaptações? Por que as adaptações totalizam 95% de todas as minisséries e 70% dos filmes feitos para a TV que ganham Emmy Awards? (Hutcheon, 2011, p. 24).

 

Contudo, o que é, afinal, uma adaptação? De acordo com os dicionários, o termo “adaptar” significa ajustar, alterar, tornar adequado. Sendo assim, Hutcheon (2011) propõe o estudo da adaptação a partir de três perspectivas diferentes: como uma entidade ou produto formal, como um processo de criação ou como um processo de recepção.

Como uma entidade ou produto formal, a adaptação pode ser vista como a transposição de uma obra para outro meio ou formato. Essa “transcodificação” pode resultar em uma mudança de perspectiva, ou seja, em recontar a história sob um novo ponto de vista. Como um processo de recriação, a adaptação envolve tanto a (re)interpretação quanto a (re)criação da obra original, permitindo uma apropriação do texto-fonte e sua reinvenção. Por fim, enquanto processo de recepção, a adaptação pode ser entendida como uma forma de intertextualidade, ou seja, um palimpsesto.

Em vista disso, adaptar um texto literário seria uma forma de analisá-lo ou interpretá-lo, permitindo a criação de diversas adaptações a partir de uma única fonte. Portanto, uma adaptação cinematográfica seria uma leitura de uma obra literária, que permite novas interpretações do público e não deve ser definida como inferior ao texto-base (Amorim 2010).

Com fundamento nisso, refletindo sobre a adaptação como leitura, seria possível discutir a qualidade da adaptação em relação ao texto original? Seria possível utilizar o argumento da crítica contemporânea de que “o filme não é fiel ao livro”?

Para Hutcheon (2011), adaptar não tem relação com fidelidade. Sendo assim, fidelidade não deve ser um parâmetro de julgamento para as obras adaptadas. A autora salienta que, por um longo tempo, esse critério foi comum para discutir as obras adaptadas, principalmente quando se tratava de obras literárias canônicas. Já para Amorim (2010), o mito da fidelidade pode ser classificado como preconceito, considerando que todas as adaptações são leituras. Portanto, exigir fidelidade seria como exigir uma leitura única e universal de um texto literário.

Para exemplificar o que foi discutido, podemos analisar o romance As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, publicado em 1973. Tendo como cenário o cotidiano urbano de São Paulo durante a Ditadura Militar (1964-1985), o livro apresenta a trajetória de três jovens mulheres com personalidades e objetivos muito distintos. A narrativa é conduzida de forma alternada entre um narrador onisciente e três narradoras-personagens.

Ana Clara Conceição, uma jovem de origem pobre, mira o casamento como uma forma de melhorar sua posição social, apesar de seus problemas com a dependência química. Lia de Mello Schultz, uma ativista social, se empenha em libertar seu namorado, que está detido pela Ditadura Militar. Enquanto isso, Lorena Vaz Leme, que vem de uma família abastada, busca superar seus traumas pessoais por meio de um relacionamento com um homem casado.

A adaptação para o cinema, feita por Emiliano Ribeiro e lançada em 1995, oferece uma visão diferente das protagonistas, refletindo a leitura particular do diretor ao transformar o romance em filme.

Descrição da imagem: Drica Moraes, Adriana Esteves e Cláudia Liz em uma cena da adaptação de As Meninas. Na imagem, a personagem de Adriana Esteves está dentro de uma banheira, enquanto Drica Moraes e Cláudia Liz permanecem próximas, interagindo com ela em uma conversa intensa. Imagem encontrada no Google Imagens.

 

No filme, Lia é interpretada por Drica Moraes, uma atriz magra, alta e branca, contrastando com a descrição da personagem no romance, que é gorda, desleixada e tem um cabelo indomável. Lorena, vivida por Adriana Esteves, demonstra uma personalidade mais racional do que no livro. Já Ana Clara, interpretada por Cláudia Liz, é a que mais se assemelha à personagem original: muito vaidosa e frequentemente vista sob a influência de álcool e drogas ao longo do filme.

No livro, a alternância entre as narradoras dá origem a uma narrativa fragmentada, criando uma estrutura mais caótica e confusa. Em contrapartida, na adaptação para o cinema, a história segue um formato mais linear, tanto em termos de tempo quanto de espaço, uma vez que o ponto de vista é externo. Isso torna o contexto histórico, social e político mais explícito e fácil de compreender. Dessa maneira, a adaptação do diretor enfatiza a repressão e a violência que marcaram o período da Ditadura Militar.

É relevante notar que o filme inclui cenas que não estão presentes no romance. A exclusão de algumas cenas e a adição de outras, que retratam a brutalidade da Ditadura Militar, reforçam a ideia de que a intenção de Emiliano Ribeiro é justamente denunciar essa realidade. No entanto, ambas as obras tratam com maestria a relação entre o contexto histórico e o desenvolvimento das personagens.

Podemos concluir que tanto a literatura quanto o cinema se encontram no ato de contar histórias, porém são formas autônomas de expressão (Amorim, 2010). Devido à tentativa de atingir a burguesia, o cinema se apropriou de obras literárias canônicas como textos-fontes, tornando a adaptação parte de nossa cultura contemporânea. Por último, vimos a questão da fidelidade da adaptação em relação à obra literária, que se revelou um mito quando contemplamos o filme como uma leitura do texto-fonte, uma leitura que é suscetível a múltiplas interpretações. Portanto, a adaptação deve ser vista como algo diferente da mera reprodução.

 

REFERÊNCIAS

 

AMORIM, Marcel Álvaro de. Ver um livro, ler um filme: sobre a tradução/adaptação de obras literárias para o cinema como prática de leitura. In: XIV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA, 4., 2010, Rio de Janeiro. Anais […]. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2010. p. 1725-1739. Disponível em: http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/publicacoes.html. Acesso em: 2 jul. 2023.

 

HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Tradução de André Cechinel. 2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2011.

Comunicado do Centro Acadêmico Livres de Letras e Secretariado Executivo

04/06/2024 14:38

“Como estão todos cientes, a categoria discente da UFSC está em greve desde o dia 13 de maio. Na última terça-feira (28), ocorreu uma sessão do Conselho Universitário, na qual foram aprovadas atualizações à Resolução Normativa Nº 132/2019. Escrevemos, portanto, para informar aqueles que não estão familiarizados com a resolução, que resguarda os direitos da nossa categoria neste momento de greve (ou paralisação, como consta no documento).

Ressaltamos os seguintes trechos:

“Art. 2º Ficam suspensos, excepcional e temporariamente, os efeitos do parágrafo 2º do artigo 69 da Resolução Normativa nº 017/CUn/97, assim como dos artigos 57 e 58 da Resolução Normativa nº 154/VUn/2021, que tratam da frequência e da avaliação do aproveitamento escolar, desde as datas da constatação da paralisação estudantil, iniciada a partir das Assembleias Gerais do Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos e da Associação de Pós-Graduandos, até a data de seu encerramento, decretada em novas assembleias dos respectivos setores estudantis e informada pelas entidades à Administração Central.”

“§ 2º As frequências eventualmente computadas em qualquer atividade acadêmica, inclusive estágio básico e teórico-práticos, estágios profissionais, trabalhos de campo, residência médica e estágios dos cursos de licenciatura no período de paralisação discente serão preservadas e compensadas nos novos cronogramas de reposição de conteúdos a que se refere o artigo 3º, parágrafo 2º, desta resolução normativa.”

No mencionado Art. 3º, o documento resolve “determinar que sejam garantidos ao corpo discente a reposição de conteúdo programático, a realização de atividades avaliativas, inclusive àquelas aplicadas pelos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, e o controle de frequência efetuados durante o período de paralisação estudantil em novas datas”.

“§ 3º O docente, ao marcar novas datas para atividades avaliativas, deverá ofertar aos discentes período razoável de preparação, atentando às demais atividades avaliativas de outras disciplinas cursadas pelos discentes, sendo vedada a realização dessas atividades por 10 (dez) dias úteis após a comunicação do término da paralisação estudantil.”

Por fim, ressaltamos o Art. 6º: “Não serão suspensos em função da paralisação os pagamentos de bolsas e demais auxílios operados pela administração central”. A respeito das diferentes modalidades de bolsas, sugerimos a leitura integral do documento, que será publicado nos meios oficiais da universidade.

Com essa breve exposição da resolução, esperamos ter solucionado as dúvidas dos diversos docentes que entraram em contato com os estudantes pedindo esclarecimentos a respeito do assunto.

Acima de tudo, esperamos ter esclarecido que os direitos da categoria discente estão resguardados pela resolução e que quaisquer ameaças de reprovação (seja por frequência ou por notas), de cortes de bolsas ou de perda de conteúdos programáticos não poderão ser concretizadas.

Certos de seu apoio em nossa luta pela educação pública,

Centro Acadêmico Livre de Letras e Secretariado Executivo”.

Além deste comunicado do CALL, há uma CARTA DE REIVINDICAÇÕES DOS/DAS/DES ESTUDANTES DO CCE, que poder ser conferida AQUI.

Libras: uma língua ágrafa?

18/11/2023 17:12

Por Franciane Ataide Rodrigues

Letras Libras

Bolsista PET-Letras

As “línguas ágrafas” são formas de comunicação que não possuem um sistema de escrita reconhecido. Estas não possuem um meio de representação gráfica padronizado, como o alfabeto ou qualquer outro tipo de conjunto de caracteres usados para registrar o idioma.

Em diversas culturas e comunidades, a comunicação oral permanece sendo a principal ferramenta de comunicação e transmissão de tradições, culturas e legados. As línguas ágrafas acabam sendo transmitidas de geração em geração principalmente por meio de comunicação oral, o que dificulta os registros e a preservação dessas línguas, pois esses seriam fundamentais para estudos e preservação.

Tendo em vista que a Libras não é uma língua oral, que sua modalidade é espaço-visual, totalmente independente do português, seria ela, então, uma língua ágrafa? De fato, há alguns anos, a Libras era considerada uma língua ágrafa e suas únicas formas de registro eram por meio de desenhos de mãos, fotografias e filmagens caseiras como vídeo cassete e em alguns DVDs.

 Descrição de Imagem: Em um fundo azul, no centro da imagem, está uma mulher de camiseta preta. Ela é branca, de cabelos escuros e o rosto está em expressão neutra enquanto realiza o sinal em Libras da palavra “acessibilidade”. 

 

Entretanto, em 1974, Valerie Sutton, dançarina e coreógrafa, desenvolveu um sistema de registro para coletar passos de danças chamado DanceWriting, ao mesmo tempo em que na Dinamarca diversos estudiosos buscavam uma  maneira de registrar as línguas de sinais.

Descrição de imagem: a imagem apresenta a capa do livro “Sutton Movement Shorthand”, publicado em 1974. Em um fundo bege, está uma jovem dançarina. Ela é branca, tem cabelos negros presos em um coque e está vestida com uma calça preta e uma blusa preta de mangas compridas. A dançarina está em uma pose elegante, indicando movimento e graciosidade. Na lateral esquerda da imagem está escrito o título “Sutton Movement Shorthand”. Acima deste, nota-se o símbolo em DanceWriting que representa o movimento da jovem dançarina. Na parte inferior da capa, encontra-se a inscrição “BOOK ONE. The classical Ballet Key. Valerie Sutton”, fornecendo informações adicionais sobre o conteúdo do livro.

 

É, pois, neste contexto que ocorre a transição de DanceWriting para SignWriting. O sistema desenvolvido por Sutton despertou o interesse dos pesquisadores dinamarqueses da Universidade de Copenhague, o que motivou o convite de Lars von der Lieth e Jan Enggaard Pedersen para que ela, em 1974, realizasse os primeiros registros de movimentos ainda inspirados no sistema que havia criado.

Valerie Sutton ensinando SignWriting em 1985

Descrição de Imagem: em frente a uma lousa verde, uma moça jovem, branca, de cabelos curtos e loiros, vestida com uma blusa verde clara e com a parte de baixo bege, ensina o sistema SignWriting.

 

Deste modo, entre 1975 e 1980, o sistema passou por diversas modificações até se tornar o que hoje conhecemos como SignWriting e se espalhar pelo mundo. No Brasil, as pesquisas sobre SignWriting tiveram início em 1996 por intermédio do Dr. Antônio Carlos da Rocha Costa, da PUCRS, em parceria com as professoras Marianne Stumpf e Márcia Borba, atuantes da área de computação na Escola Especial Concórdia. Estes desenvolveram um grupo de trabalhos e, a partir disso, o sistema começou a ser difundido no território brasileiro.

O desenvolvimento deste sistema, usado para registrar os sinais de Libras, representa uma conquista muito significativa para a comunicação da comunidade surda, sendo uma forma de preservar a história da língua, para que ela não se perca, de perpetuar conhecimentos e interpretações de mundo, sentimentos e de realizar estudos linguísticos que contribuam para a valorização e desenvolvimento da transmissão de ideias entre surdos e ouvintes. Embora existam outras formas de registro da Libras desenvolvidos no Brasil, como os sistemas SEL e ELiS, o  SignWriting continua o principal sistema usado para registro da língua; apesar de não estar muito presente apenas em contextos acadêmicos e não seja do conhecimento de todos os surdos, é um sistema completo, capaz de realizar registros gráficos dos léxicos usados na comunicação sinalizada viso-espacial.

REFERÊNCIAS

CRISTIANO, Almir. Valerie Sutton. Libras, 2017. Disponível em: https://www.libras.com.br/valerie-sutton. Acesso em: 10 nov. 2023.

SUTTON, Valerie. A Global Writing System For A Global Age. Disponível em: https://www.valeriesutton.org/lifestory/autobiography. Acesso em: 10 nov. 2023.

SIGNWRITING. History of SignWriting. Disponível em: https://www.signwriting.org/library/history/hist010.html. Acesso em: 10 nov. 2023.

 

Nossa nova ID visual

24/10/2023 10:35

A partir de agora o PET-Letras UFSC tem uma nova identidade visual, em colaboração com o @longe_far.

Quisemos materializar os encontros, os afetos e a multiplicidade de pessoas que estão no PET, nas Letras e na UFSC.

 

NOTA | ATIVIDADE CANCELADA

26/09/2023 16:03

Hoje, dia 26 de setembro, dia da pessoa surda, aconteceria uma live do projeto O que que é, edição Libras, com a professora Dra. Ronice Quadros.
Todavia, por falta de intérpretes da UFSC, tivemos que cancelar o evento.

Sentimos muito por isso, mas gostaríamos de lembrar que a luta pela acessibilidade e pelos direitos das pessoas surdas é de todes e que, atualmente, a situação do CCE, quanto ao número de intérpretes, é muito preocupante.

Agradecemos à Ronice, solidarizamo-nos com as pessoas intérpretes e com as pessoas surdas da UFSC.

Amanhã, às 10h, vamos ter uma roda só de pessoas surdas no Varandão! Vem discutir essa treta e outras com a gente!

PET-Letras UFSC

Que que é? | segunda temporada

12/03/2023 15:10

Que é que é? é uma série de palestras (on-line e presenciais ) que apresenta temas de interesse das áreas de Linguística e Literatura, num caráter introdutório e didático.

As palestras têm de 45 a 60 minutos e são ministradas por convidadas e convidados especialistas em cada tópico.

A segunda temporada vai de março a junho de 2023. São 4 encontros, sempre no canal do PET no Youtube (https://www.youtube.com/user/PetLetrasUFSC).  A participação dá direito à certificado de 8 horas de extensão.

A programação de 2023.1:

 

–  Que que é Educação Libertadora? – Professora Doutora Rosângela Pedralli  | 30 março – 18h

Que que é Pragmática? – Professor Doutor Daniel Nascimento e Silva | 20 abril  – 18h

– Que que é Cartografia?  – Professora Doutora Núbia Saraiva Ferreira  |10 maio – 18h

–  Que que é Queer| Cuir? – Professor Doutor Jair Zandoná | 23 maio – 9 h

–  Que que é Letramento Racial? – Professor Doutor Kleber Aparecido da Silva | 30 junho – 18h

As inscrições estão abertas em: http://inscricoes.ufsc.br/quequee

O amor, o nunca e a arquibancada

19/09/2022 08:26

 Por Angelo Perusso

PET-Letras

Letras Português

 

Todos nós já usamos a palavra “nunca” em tom de banalidade. Quem nunca (olha ela aí de novo) disse que nunca mais beberia depois de um porre, e duas sextas-feiras depois estava com a garrafa de bebida nas mãos novamente? Ou então disse que nunca mais voltaria com o ex, ou que não mais ficaria com alguém, e cedeu às tentações meses ou até dias depois de dizer “nunca mais”? Fazemos isso porque não sabemos o significado real dessa palavra, e só há uma coisa no mundo que pode nos ensinar: a morte. Todo “nunca” dito é vazio, um mero modo de dizer; mas quando alguém que amamos se vai, esse é um “nunca” definitivo. O abraço, o beijo, a piada fora de hora, o bilhete carinhoso, o cuidado, nunca mais. A morte é como o passado, onde cada momento vivido se torna um eterno “nunca”. Você pode beber novamente aquela Coca-Cola gelada que salvou seu ânimo numa tarde quente, mas nunca mais vai sentir a mesma sensação daquela vez, não do mesmo jeito. Assim como você pode recriar o seu primeiro beijo trinta anos depois a fim de reviver a paixão, mas, por mais incrível que seja, o primeiro beijo, nunca mais. A vida mora no instante que precede o “nunca”.

Porém o amor tem o dom de lembrar. Nossa memória, por mais frágil e abstrata que seja, é o melhor meio de manter vivos aqueles que se foram, de reviver na mente o “nunca”. O casal Mumtaz Amca e Ihsan Teyze são a prova disso. Esse casal de velhinhos era o casal mais apaixonado pelo futebol e pelo Fenerbahçe  que já viveu. Os pombinhos nunca perderam um jogo em casa do clube do coração. De mãos dadas, fizesse chuva ou sol, frio ou calor, tio Mumtaz e tia Ihsan estariam nas arquibancadas, nas poltronas 32 e 33,  recebendo doses semanais de vida através do amor que partilhavam um pelo outro e pelo jogo de bola. O mundo todo se apaixonou pela linda história de amor dos dois, e um dia, a foto que flagrou tantos sorrisos e abraços, flagrou tia Ihsan sozinha na arquibancada, com a poltrona vazia ao seu lado. Mumtaz havia se tornado “nunca”. Mas tia Ihsan, sábia que era, foi ao estádio em todos os jogos como sempre fez, na poltrona que sempre sentou, como uma forma de mostrar ao amor de sua vida que ela não deixaria de preservar o amor por ele. A cada gol do Fenerbahce, Mumtaz e Ihsan viveram mais um pouco.

Descrição da Imagem: A foto, na parte de cima, retrata Ihsan e Mumtaz, um casal de idosos. Mumtaz, à direita, é um senhor de mais ou menos oitenta anos, com o rosto cheio de rugas e sorridente, vestido com uma boina preta e a camiseta do Fenerbahce, que tem listras verticais azuis e amarelas; do seu lado direito está Ihsan, senhora de cabelos curtos e loiros e rosto sorridente e enrugado, da mesma faixa de idade, vestindo a camiseta igual a de Mumtaz. Na parte de baixo da imagem está a arquibancada azul do estádio do clube, em que, na poltrona 32 e 33, está um pôster com a foto descrita na parte de cima.

Em 2020, tia Ihsan foi encontrar seu amor no “nunca”, e de onde quer que isso fique, os dois comemorarão milhões de gols do Fenerbahçe. Quando Ihsan deixou a segunda poltrona vazia, foi a vez do clube, que recebeu seu amor por tanto tempo, retribuir o carinho. O Fenerbahçe retirou as poltronas 32 e 33 das arquibancadas e colocou um banner com a imagem dos dois, de mãos dadas, sorrindo na arquibancada turca, com os dizeres: “Nunca esqueceremos vocês. Ihsan e Mumtaz são a lembrança, para todo fã de futebol, que a arquibancada é o lugar do amor e da vida”.

Pessoas surdas influenciadoras da comunidade LGBTQIA+

01/09/2022 17:05

Gustavo da Silva Flores,
Estagiário de Acessibilidade
Letras-Libras

Talvez você ainda não saiba, mas junho é conhecido como o “Mês do Orgulho”, um momento especial para dar ainda mais visibilidade à luta da comunidade LGBTQIA + por igualdade e respeito. Mas por que Junho? Essa história começa na madrugada do dia 28 de junho de 1969. Neste dia, aconteceu a chamada “Revolta de Stonewall”, em Nova York, quando um grupo de pessoas decidiu enfrentar os policiais que costumavam entrar em bares LGBT para prender o público que ali frequentava, mesmo que não estivessem violando a lei.

Episódios como este nunca mais deveriam se repetir, mas infelizmente ainda vemos casos parecidos nas notícias. Desconstruir qualquer resquício de preconceito na nossa sociedade é uma pauta urgente! Se o nosso objetivo é um futuro mais justo e livre de desigualdade, precisamos de representatividade em todos os âmbitos, hoje. Desde o trabalho até o conteúdo que você consome na internet, é necessário garantir a diversidade e aprender com quem realmente entende do assunto.

O significado da sigla LGBTQIA+ :

 

L = Lésbicas: São mulheres que sentem atração afetiva/sexual pelo mesmo gênero, ou seja, outras mulheres.
G = Gays: São homens que sentem atração afetiva/sexual pelo mesmo gênero, ou seja, outros homens.
B = Bissexuais: Diz respeito aos homens e mulheres que sentem atração afetivo/sexual pelos gêneros masculino e feminino. Ainda segundo o manifesto, a bissexualidade não tem relação direta com poligamia, promiscuidade, infidelidade ou comportamento sexual inseguro. Esses comportamentos podem ser tidos por quaisquer pessoas, de quaisquer orientações sexuais.
T = Transgênero: Diferentemente das letras anteriores, o T não se refere a uma orientação sexual, mas a identidades de gênero. Também chamadas de “pessoas trans”, elas podem ser transgênero (homem ou mulher), travesti (identidade feminina) ou pessoa não-binária, que se compreende além da divisão “homem e mulher”.
Q = Queer: Pessoas com o gênero “Queer” são aquelas que transitam entre as noções de gênero, como é o caso das drag queens. A teoria queer defende que a orientação sexual e identidade de gênero não são resultado da funcionalidade biológica, mas de uma construção social.
I = Intersexo: A pessoa intersexo está entre o feminino e o masculino. As suas combinações biológicas e desenvolvimento corporal — cromossomos, genitais, hormônios etc. — não se enquadram na norma binária (masculino ou feminino).
A = Assexual: Assexuais não sentem atração sexual por outras pessoas, independente do gênero. Existem diferentes níveis de assexualidade e é comum essas pessoas não verem as relações sexuais humanas como prioridade.
+: O símbolo de “ mais ” no final da sigla aparece para incluir outras identidades de gênero e orientações sexuais que não se encaixam no padrão cis-heteronormativo, mas que não aparecem em destaque antes do símbolo.

Fonte: Fundo Brasil

Assim como vivemos em uma sociedade diversa, existe uma grande diversidade dentro da comunidade surda e pessoas LGBTQIA + também fazem parte dela. Muitas são profissionais de diversas áreas e estão compartilhando seu conhecimento nas redes sociais, em Libras e em português, com propriedade e lugar de fala. Pensando nisso e em celebração a essa data, vamos compartilhar alguns perfis de pessoas surdas influenciadoras e que se identificam como LGBTQIA +, para você seguir, aprender muito e compartilhar com seus amigos e amigas. Vamos expandir essa rede de representatividade, educação, respeito e amor!

1- Andreia de Oliveira (@falamesmaoideia):

Para começar, ela compartilha conteúdos muito legais sobre feminismo, comunidade surda e LGBTQIA +, além de vídeos superengraçados com a avózinha dela!

Fonte: foto de arquivo pessoal.

2- Kitana Dreams (@kitanadreams):

É drag queen, YouTuber, influenciadora e maquiadora. Ela produz um conteúdo super educativo e divertido de acompanhar, além de dar ótimas dicas!

Fonte: Imagem da Internet

3- Leo Castilho (@leocastilho):

É slammer, influenciador, ator, performer e produtor. Ele cria conteúdos super relevantes sobre a cultura e comunidade surda de um jeito descontraído e legal de acompanhar.

Fonte: Imagem da Internet

4- Léo Viturinno (@leoviturinno):

É Youtuber, professor universitário, tem seu próprio curso de Libras e ainda compartilha um monte de conteúdo bacana e educativo sobre variados temas.

Fonte: Imagem da Internet

5- Stefany Kreds (@stefanykrebs11): 

Uma super atleta de Futsal e Futebol! Já conquistou muitas medalhas em vários campeonatos diferentes.

Fonte: Imagem da Internet

6- Gabriel Isaac (@isflocos):

É criador de conteúdo digital, ator, influenciador e tradutor. Ele fala tudo sobre o mundo surdo, cultura LGBT, conteúdos leves e divertidos! Garantimos que você vai curtir!

Fonte: Imagem da Internet

7- Yanna Porcino (@meussinaisexpressam):

Por último, mas não menos importante…. Se o que você curte é um bom convite à reflexão, conheça a Yanna, que é poetisa, tradutora e consultora de Libras. Ela produz um conteúdo encantador sobre autoconhecimento, cultura surda e LGBTQIA +, representatividade e muito mais! Tudo isso de uma forma super fluida. Uma artista nota mil!

Fonte: Imagem da Internet

Vale ressaltar que a diversidade deve ser celebrada e valorizada todos os meses do ano, não apenas em Junho. Lembre-se sempre que ela está presente em diferentes grupos e isso não seria diferente dentro da comunidade surda

 

Descrição de imagens:

Imagem 01: Foto de duas pessoas abraçadas em uma festa, lado esquerdo um homem de camiseta bege segurando um copo e lado direito uma mulher branca de cabelo cacheado castanho escuro e com as pontas azul. Ela está sorrindo e veste uma jaqueta azul e óculos de grau. Ao fundo há pessoas e luzes de festa.

Imagem 02: Foto de uma drag queen sorridente. Ela tem um cabelo ondulado lilás médio jogado para a direita e à esquerda tem uma flor laranja. A maquiagem é rosa pink e ela usa um vestido laranja com flores. O fundo da foto é levemente rosado.

Imagem 03: Foto de um homem de cabelos curtos e cacheados, ele está vestindo uma regata cinza e usa uma bandana branca no pescoço. Os braços estão erguidos com as mãos atrás da cabeça e ao fundo dele tem o desenho de um arco-íris e quadros sobrepostos a uma parede cor de rosa.

Imagem 04: Foto de um homem moreno com cabelo curto cacheado, de barba curta e usando brinco de argola pequeno na orelha esquerda. Ele veste uma camiseta vermelha e ao fundo desfocado uma prateleira com livros e parede com quadros.

Imagem 05: Foto de uma mulher sorridente, com cabelo todo preso em um rabo de cavalo, ela está com as mãos abertas atrás das orelhas e veste uma camiseta verde do Palmeiras. Ao fundo está a arquibancada do estádio.

Imagem 06: Foto de um homem sorridente, com o rosto levemente virado para a esquerda, ele usa óculos de grau redondo com armação preta, brinco pequeno, cabelo liso ondulado, barba, casaco branco e atrás dele uma parede amarela.

Imagem 07: Foto de uma mulher negra com cabelo estilo black. Ela está com as mãos tocando levemente o pescoço. Ao fundo um muro amarelo e na frente dela há um pequeno ramo de flores amarelas.

Tags: comunicaPET

Você já ouviu falar sobre o paradoxo dos gêmeos?

26/08/2022 18:04

Andres Garces,
Bolsista PET Letras
Letras Libras

Uma das questões mais interessantes — que entendi há alguns meses— é que o tempo não é linear, ou seja, ela pode variar para cada objeto no espaço. E, dependendo da velocidade do objeto ou da pessoa, o tempo pode ir mais lento ou mais rápido. 

Isto me deixou pirado… e me fez refletir sobre essa questão e suas possíveis implicações! Por isso, decidi compartilhar algumas ideias relacionadas a esse paradoxo dos gêmeos que envolve noções de relatividade, tempo, espaço, velocidade etc.

Pode-se dizer que tudo começou com a equação feita pelo famoso físico alemão Albert Einstein, a relatividade especial. De maneira bem simplificada, ela fala que a velocidade depende da percepção de cada pessoa. Pense se você não vivenciou a seguinte experiência:  você está sentado na janela do ônibus — ou de outro veículo — com outro paralelamente alinhado e, de repente, sente que esse outro ônibus começa a se mover, mas, em seguida, você se dá conta de que era o seu ônibus que estava se movendo e que o outro estava parado? Pois é, algo normal. Duas pessoas que estão com uma velocidade constante podem dizer que não estão se movendo, mas é tudo ao seu redor o que está se movendo. É por essa mesma razão que quando você se deita na cama antes de ir dormir, sente que está quieto(a) e não que está viajando a 1.666 km/h que é a velocidade de rotação da terra.

Contudo, sempre existe um “porém”. E a única velocidade absoluta no vácuo ante qualquer pessoa ou objeto, independente do seu movimento, é a velocidade da luz. Mesmo se estivermos viajando a 460 km/h em um trem na China e emitirmos uma luz estando nele, o lógico seria que a velocidade dessa luz se acrescentasse a velocidade do trem, certo? Mas com a luz não funciona assim, se nós medirmos a velocidade da luz nesse momento — VT (velocidade do trem) e C (velocidade da luz)— o resultado vai ser sempre o mesmo: VT + C = C. Isto traz consequências muito doidas, do meu ponto de vista, pois significa que o tempo não é um relógio que faz tick-tock para todos no universo, já que o tempo varia dependendo da velocidade da pessoa ou objeto. Então, a velocidade cria algo que se chama: dilatação temporária, quer dizer, quanto mais rápido viajar uma pessoa, mais lento vai passar o tempo para ela. 

Fonte: Imagem extraída de vídeo do YouTube**

Após essas reflexões, agora chegaremos  neste paradoxo criado a partir das descobertas anteriores.

Marcos e Polo são gêmeos, por motivos desconhecidos, Marcos decidiu fazer uma viagem para o espaço deixando o seu irmão Polo na terra. Marcos com ajuda de alguns engenheiros construiu uma nave que consegue chegar até 90% da velocidade da luz, e nela fez um trajeto de ida e volta. No momento de a nave do Marcos pousar de volta na terra, perguntamos para o Polo quanto tempo ele ficou afastado do seu irmão e ele responde que a viagem do Marcos foi de 5 anos, mas o Marcos no seu relógio e calendário, fala que foram alguns meses menos que isso. 

Concluindo, o Marcos volta sendo mais jovem do que seu irmão gêmeo Polo.

Fonte: Imagem da Internet**

O aprendizado da nova percepção do tempo não-linear, dá-nos entender o pouco que conhecemos do universo e das leis que nos governam. Ele é gigante, massivo… e nós, realmente mínimos, quase insignificantes. Contudo, o nosso ego é maior do que nossas próprias calças e a destruição do nosso planeta será a confirmação disso.

*Descrição da imagem 1: Fundo embaçado com céu azul e montanhas rochosas. Na frente, tem um desenho de um trem vermelho e cinza com duas carroças. Na caixa da fumaça do trem, está sentado um homem branco, cabelo curto, de camisa cinza, jeans e sapatos azuis. Na frente dele, há uma pedra cinza marcando seu trajeto  com uma linha vermelha que vem desde a cabeça do homem até o chão. De letras amarelas, acima das carroças: Vtren, com uma seta amarela abaixo. Na parte superior: Vpedra=Vtren+Vlanz; na parte superior direita, acima da trajetória da pedra: Vlanz, com uma seta amarela abaixo.

**Descrição da imagem 2: Desenho de céu azul, do lado esquerdo tem um foguete novo de cor branca apontando para o o céu, diante dele, dois homens jovens da mesma estatura, com cabelos castanhos. O homem da esquerda está vestido de astronauta, roupas de cor azul e vermelha, o outro homem está de terno marrom e estão apertando as mãos. Do lado direito da imagem, tem um foguete deitado e ainda com fumaça. Mais adiante dele, estão os mesmos homens, só que o astronauta com o cabelo um pouco mais claro e o outro homem de terno bem mais velho, careca e grisalho.

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