O retorno ao presencial: uma expectativa realizada

27/04/2022 16:11

Débora Klug,
Bolsista PET-Letras
Letras Português

Parte deste texto foi desenvolvida em um carro em movimento. Em uma viagem de 850 quilômetros pela frente, e um destino muito esperado: Florianópolis. O momento chegou, com dois anos de atraso, mas chegou, estamos finalmente retornando às atividades presenciais. Muita coisa aconteceu nesses anos, e trazemos as cicatrizes provindas das crises que vivenciamos. Foram dois anos que, para mim, pareceram cinco; mas ao mesmo tempo tenho a impressão de que foi um período em suspenso, aéreo, inacessível e inconcluso. O que fazer com as coisas que eu vi, ouvi e vivi na pandemia, mas que parecem tão distantes? E o que fazer com o que estamos vivendo agora — o retorno ao presencial —, mas que também parece tão distante?

Alguns acreditam que a pandemia causou uma individualização maior de nós mesmos, o “eu” foi forçado a se separar de “outros”, e deixou essa marca de distanciamento, que foi, obrigatoriamente, físico, mas também psíquico. E, agora, o iminente parece distante.

Fonte: Imagem da Internet*

Eu — assim como muitos outros estudantes — ingressei na universidade na modalidade remota. Nunca havia vivido a dinâmica presencial, não tinha ideia de como ela funciona. Era difícil imaginar a presencialidade sem ser tomada por ansiedades e expectativas. Por outro lado, algo que a pandemia nos obrigou foi a lidar com expectativas frustradas. Uma vida toda sonhando com o ingresso na universidade, precedido da tensão do pré-vestibular, com as promessas de compensação repousando nos momentos do primeiro encontro com os colegas, das comemorações da calourada, da participação ativa nas dinâmicas acadêmicas. Entretanto, a realidade foi uma tela, foi virtual. Adaptações foram necessárias, e, apesar disso, ainda havia uma empolgação com o início da vida universitária. Contudo, a modalidade remota logo saturou e levou à exaustão. O tempo em excesso nas telas foi desgastante, cansou os olhos e cansou a mente. A capacidade de concentração foi se fragmentando, e realizar obrigações simples passou a ser um desafio torturante.

Por diversas vezes eu pensei em desistir dos estudos. Conversando com os professores nas aulas, percebi a preocupação deles quanto ao aumento da evasão nas disciplinas. Vivemos momentos difíceis. O que me motivou a continuar foi a expectativa do retorno ao presencial. E cá estamos nós. É empolgante e energizante, ao mesmo tempo em que há uma sensação de estranhamento. Ter contato com o espaço físico da universidade é muito diferente, em comparação com a prisão dos escritórios, quartos, salas etc. em que fomos obrigados a permanecer trabalhando nesses últimos dois anos. Para mim é revigorante o ato de caminhar nos corredores espaçados, ou entre as calçadas envoltas de grama e árvores. Trocar de sala e transitar geograficamente entre espaços, e não virtualmente; através de passos e não de cliques.

Conhecer, finalmente, as pessoas que estiveram comigo nesses momentos remotos, vê-las fisicamente, corporalmente, é algo que parecia ser inimaginável. Mas agora é real, realmente real, e não virtual. É emocionante.

Por fim, desejo a todos, todas e todes um ótimo retorno, nunca esquecendo, claro, das medidas de proteção!

*Descrição da imagem: Uma foto da entrada principal do campus da UFSC em Florianópolis, no bairro Trindade. A rua centralizada na imagem possui uma fila de carros estacionados à esquerda. Na direita é possível ver algumas pessoas transitando na calçada. Em volta há grama e árvores, e no último plano da imagem é possível ver parte de um morro. No foco principal da foto há duas colunas, uma do lado direito e outra do lado esquerdo da rua, que sustentam uma placa grande e retangular azul, onde se lê em letras brancas “Bem-vindo à Universidade Federal de Santa Catarina”.

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