Talvez começar a meditar seja realmente o que você precisa

04/08/2020 16:40

Ananda Henn,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

Nesse período de quarentena, tenho passado por um fenômeno estranho: por mais que eu tenha mais tempo livre do que o de costume, o que implicaria, normalmente, em mais tempo para ficar “à toa”, me vejo incapaz de passar um instante sequer sem estar fazendo alguma coisa. Como o de muitas pessoas, meu cérebro parece estar sendo interminavelmente estimulado por milhares de informações vindas de todos os cantos — tanto das notícias do “mundo lá fora” que afetam como nunca a minha vida imediata, quanto das coisas que eu faço para ocupar esse tempo e não pirar — e, juntando a isso uma boa dose de incerteza, angústia e impotência que o coronavírus trouxe às nossas vidas, muitas vezes, é difícil se desligar de tudo isso e, finalmente, relaxar, mesmo que por alguns minutos.

Se bem que, na minha experiência, verdadeiramente relaxar já era algo difícil antes mesmo da pandemia engolir as nossas vidas, com as milhares de notificações exigindo nossa atenção constante, infinitas telas que observamos quase 24 horas por dia e todos lugares para ir, coisas para fazer, pessoas para conhecer. Provavelmente, a maioria de nós só estava ocupada demais vivendo sua vida para notar a ansiedade latente que morava em si. Isso e o fato de que podíamos sair de casa.

Há alguns anos — provavelmente durante alguma férias de verão — eu topei com um minidocumentário no Youtube que me apresentou ao conceito de mindfulness (comumente traduzido como “atenção plena”). Não sei exatamente o porquê de eu ter começado a assistir aquilo, mas foi descobrindo a prática de mindfulness que tive a revelação de que estava vivendo a minha vida bem, “mindful-less”: ansiosa, preocupada e pensando em mil coisas ao mesmo tempo, inconscientemente fazendo as coisas por fazer, sem reservar um tempo para parar, respirar e estar presente. Eu nem sabia que “presente” era uma coisa que eu deveria querer estar. No vídeo, entre as recomendações de como passar a levar uma vida mais mindful (atenta), uma se destacava: a meditação.

Fonte: Imagem retirada da internet.*

Sendo sincera, até assistir aquilo eu era 100% o tipo de pessoa que se alguém chegasse em mim falando alguma variação de “por que você não tenta meditar?”, iria mentalmente revirar os olhos e pensar “uhum, tá” e imediatamente descartar a ideia. Eu achava que meditação era para monges budistas ou outros praticantes de filosofias orientais, para o povo que realmente se enquadra na categoria “zen” de forma não irônica, mas algo sem nenhum sentido para gente comum. Bem, no fim, acho que na verdade eu não tinha a mínima ideia do que era meditação. Obrigada ao Youtube e à ociosidade do verão pelas lições que eu nunca pensei precisar.

Eu mesma não estou aqui para te ensinar o que é meditação e como ela é, mas, sim, que é pra gente comum como você. O Youtube e a ociosidade da quarentena estão aí pra isso. Mas eu te garanto que não há melhor momento para começar a meditar do que agora, e que ela tem o potencial de te ajudar ou, no mínimo, te proporcionar uns 10 minutos de paz por dia. Meu encontro com a meditação se dá geralmente antes de dormir (embora o meu preferido seja cedo de manhã) — há anos tenho muita dificuldade de desligar minha mente e pegar no sono, não importa o quão cansada eu esteja, e meditar pra mim é um contar carneirinhos mais agradável e bem-sucedido —, mas ela vai te receber de braços abertos em qualquer momento do dia, seja logo depois de acordar, no meio da tarde ou no começo da noite.

Tipicamente, nós vivemos nossas vidas e 50% da nossa mente está distraída — então estamos andando pela rua mas pensando sobre a coisa que acabou de acontecer ali ao lado; nós estamos dirigindo nossos carros e não estamos focados na estrada, mas pensando sobre aonde estamos indo. Então precisamos de um exercício em que deixemos os afazeres da vida cotidiana e realmente aprendamos e pratiquemos esse processo de estar mais atento, mais consciente, e é isso que a meditação é. (Andy Puddicombe, criador do aplicativo Headspace, no vídeo já mencionado. Tradução minha).

“Ok então, como eu começo?”, você pode estar se perguntando. É exatamente pra isso que eu estou aqui! Meu primeiro contato com a meditação foi através do aplicativo recomendado no vídeo, pelo qual me apaixonei instantaneamente: Headspace. Ele é um app de meditação guiada, ou seja, você coloca o seu fone de ouvido, senta num lugar confortável e ouve as instruções (dadas em uma voz branda e amigável) do que fazer, como respirar, no que pensar ou não pensar e, enfim, meditar. Depois de alguns dias a voz macia do homem britânico que guiava as meditações já era pra mim como uma amiga benevolente dando conselhos por Whatsapp às 3 da manhã — só ao ouvir o primeiro “Hi” já me sentia amparada e pronta pra dar conta da minha vida.

Se você não quer conhecer meu amigo britânico e treinar seu inglês enquanto medita, sem problemas, o aplicativo já está disponível em português. Para garantir a qualidade da minha recomendação fui testar a voz da narração brasileira e ela pareceu ser igualmente agradável. O curso básico é gratuito e há a opção de pagar uma assinatura que garante outras minimeditações, exercícios para atenção e cursos de meditação para todo tipo de situação, de controle do estresse a ajuda para dormir. Esses minutinhos por dia têm me ajudado a parar e respirar no meio do caos, e talvez possam ajudar você, também, a não surtar (ou surtar menos) na quarentena — afinal, “por que você não tenta meditar?” provavelmente não vai ser a ideia mais maluca a passar pela sua cabeça esse ano.

*Fotodescrição: Fotografia de um homem meditando. Ele se encontra sentado em um sofá cinza com as pernas cruzadas de forma que o pé esquerdo encosta em sua coxa direita e a perna direita está na frente da perna esquerda, com as mãos encostando nos joelhos. Tem pele negra, cabelo dreadlock castanho na altura do pescoço e barba curta, e veste calça jeans preta, camisa polo de mangas longas xadrez rosa, verde, azul e preto, abotoada até a gola, e meias brancas. Ele está de olhos fechados utilizando um fone de ouvido branco conectado a um celular que repousa ao seu lado no sofá. Ao fundo, atrás do sofá, se observa outras outros móveis e algumas plantas com grandes folhas verdes.

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