As tecnologias, o ensino a distância e seus desafios

28/05/2020 18:57

Felipe Mateus dos Santos,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

Ao longo dos últimos anos, pôde-se observar um avanço muito marcante no desenvolvimento de novas tecnologias. Computadores mais rápidos e potentes, notebooks, tablets, kindles, smartphones, entre outros aparelhos, se estabeleceram como itens indispensáveis na nossa sociedade e se fizeram presentes em quase todos os momentos de nossa vida, na intenção de torná-la mais prática e rápida.

No âmbito educacional não é diferente. Em muitos ambientes escolares é possível notar como a tecnologia ganha, cada vez mais, espaço com a função de motivar e oferecer mais ferramentas ao processo de ensino-aprendizagem. Esse, por exemplo, é o caso de alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental de sete escolas da rede municipal de Joinville (SC), que, em 2014, receberam 4.000 tablets através do Projeto Escola Digital, como instrumento de complemento do aprendizado. É possível encontrar iniciativas semelhantes nas prefeituras de São Paulo (SP), Petrolina (PE), entre outras.

Esses são apenas alguns exemplos, entre muitos lugares do Brasil e do mundo, que fizeram da tecnologia um importante recurso no processo educacional, na tentativa de fazer com que tanto o aluno quanto o professor tenham um acesso mais rápido à informação desejada e à novas formas de aprender. É certo que o uso dessas tecnologias é muito favorável quando suas ferramentas são devidamente exploradas pelas instituições de ensino e quando fazem com que o aluno desenvolva mais interesse pelo conhecimento, que aparece, muitas vezes, de uma forma mais interativa e instigante através de uma tela.

Os recursos tecnológicos são muito úteis quando cumprem o propósito de servir como facilitadores da aprendizagem, dentro e fora das salas de aula, porém, a realidade de muitos alunos restringe o uso dessas ferramentas para além do ambiente escolar. Não podemos deixar de considerar que a exclusão digital ainda é intensa em várias regiões brasileiras. Faz-se necessário que tenhamos em vista esse panorama, quando analisamos o período de distanciamento social em que vivemos hoje, decorrente do novo coronavírus (Sars-CoV-2), que conduziu à suspensão das atividades escolares presenciais, por tempo indeterminado.

      Fonte: Charge produzida por Salomón (22 de abril de 2020)
em circulação nas redes sociais*

Com isso, projetos de ensino remoto e de educação a distância surgiram como uma alternativa de fazer com que os conteúdos que não estão sendo trabalhados em sala de aula cheguem aos alunos. Vemos, assim, movimentos de implementação de uma educação à distância, os quais enfrentam diversos obstáculos, trazendo à tona um processo que destaca as desigualdades sociais e evidencia as condições de vulnerabilidade existentes no Brasil.

Limitações de acesso a computadores e a conexão de qualidade com a internet; falta de espaço apropriado para o estudo em casa; ausência do contexto escolar com recursos, tais como a merenda; falta de acessibilidade nos conteúdos; evasão escolar; mais exposição à violência (sexual, física ou psicológica); baixa escolaridade dos familiares responsáveis em acompanhar os estudantes; esgotamento físico e emocional dos docentes, que ficam disponíveis até 24h diárias para tentar ajudar; dificuldade de professores entrarem em contato com os pais dos alunos; professores que não foram preparados para ministrar aulas on-line; e dificuldade em adaptar conteúdos, são só alguns exemplos de problemas abordados por Luiza Tenente em uma reportagem do G1, a qual contou com entrevista de pais de alunos e professores da rede municipal de São Paulo, destacando a posição excludente e insuficiente de contar com esse método de educação.

“[…] não é uma situação estruturada”, destaca Mauricio Canuto, professor de didática no Instituto Singularidades (SP) e um dos entrevistados da reportagem.

É certo que vivemos tempos ímpares em que são necessárias soluções inovadoras para os novos problemas, as quais precisam ser avaliadas e estudadas em diversos âmbitos. Entretanto, podemos perceber o quão inacessível a educação pode se tornar para pessoas de determinadas classes sociais, que vivem em localidades rurais e/ou que possuam algum tipo de deficiência, e, ainda que a tecnologia já esteja bastante difundida, não são raros os casos em que a falta dela ou também a utilização dos seus recursos de forma precária se torna mais um fator impeditivo que uma solução abrangente.

*Fotodescrição: imagem de uma charge em que um menino com roupas sujas e rasgadas, cabelo bagunçado e usando uma máscara suja no rosto, está em cima de uma caixa de madeira e apoiado nas pontas dos pés. Com um semblante triste e agoniado, ele segura um caderno e uma caneta, tentando olhar através de uma janela de vidro, fechada de um quarto, outro menino de roupa limpa e cabelo penteado, sentado em uma cadeira e apoiado em uma mesa, escrevendo em um caderno e assistindo a uma aula em um notebook a sua frente, folhas a sua esquerda e um livro azul com folhas ao lado, à direita.

 

Comments

Tags: comunicaPET