Como é que chama o nome disso?

11/04/2022 20:16

Sofia Quarezemin,
Bolsista PET-Letras
Letras Português

 

Uma hora de fila de espera ao lado de uma estante de livros para adoção. Demorei muito para prestar atenção porque olhando rapidamente só enxergava livros didáticos, mas o tédio era tamanho que considerei me divertir explorando cada título daqueles. Que linda história, a do meu encontro com “Como é que chama o nome disso?” (ANTUNES, 2006). Me chamou atenção primeiro pelas cores; em seguida, pelo título; mais tarde, pelas páginas. O autor, Arnaldo Antunes, é um dos nomes da MPB (Música Popular Brasileira) na atualidade e também desenvolve trabalhos nas artes visuais e nas letras. Essa obra não é sua primeira experiência com poemas visuais, mas é uma vivência ensurdecedora e imagética, que pede para ser lida e degustada aos poucos, ao mesmo tempo em que nos convida a devorá-la. Para conhecer mais da sua produção, o documentário “Arnaldo, Sessenta” passeia pelas várias modalidades artísticas exploradas por Arnaldo Antunes e está disponível na plataforma de streaming Globoplay.

Fonte: plataformamedia.com *

Essa obra, que é um compilado de poemas, músicas, ensaios e experimentações, não poderia ser melhor intitulada: “Como é que chama o nome disso?”; já que este é o pensamento que se faz presente em toda a leitura. Tem muito de poesia concreta, muito de arte plástica, muito de prosa, muito de aventura, claramente não se encaixa em gênero textual algum e não se pode separar sua intertextualidade, então como chamar?

A questão que o autor levanta, assim nomeando o livro, nos leva a reflexões efervescentes, porque seus escritos, altamente empíricos, provocam o desejo de compreender algo que, muitas vezes, não está para ser compreendido. É preciso habituar-se com o “não entendi” e seguir as linhas quebradas, deixando para trás essa busca incansável pelo sentido. Muitas coisas na obra de Arnaldo são ilógicas. Muitas coisas são tão lógicas que me pergunto: por que não pensei nisso antes? E me perguntando isso, me pergunto como uma pessoa chegou a essa conclusão tão lógica. Com isso tudo, só fica a pergunta: como é que chama o nome disso?

Fonte: amazon.com**

O livro é dividido em algumas seções. A primeira parte é a antologia poética, com diversas produções poéticas já publicadas e uma inédita (Nada de DNA); nesse conjunto, temos também ensaios e letras de músicas. Em seguida, quarenta páginas de uma entrevista esclarecedora e desconcertante concedida pelo autor a Arthur Nestrovski, Francisco Bosco e José Miguel Wisnik. Por último, ficamos com a bibliografia e a discografia do multi-artista.

Fonte: acervo pessoal***

Ao fim dessa leitura, o que fica é um convite e um incômodo. Passa a ser incômodo escrever em linha reta, da esquerda para a direita, Arial 12, espaçamento 1,5. É um enorme incômodo as folhas serem brancas, as palavras pretas, a linguagem formal, a norma padrão. Por isso reforço o convite, para que possamos brincar com as letras e falar do óbvio mais vezes.

Referências:

ANTUNES, A. Como é que chama o nome disso?. São Paulo: PubliFolha, 2006.

Plataforma Media. Arnaldo Antunes celebra 60 anos com documentário especial no Globoplay. 2020. Disponível em: <www.plataformamedia.com/2020/11/06/arnaldo-antunes-celebra-60-anos-com-documentario-especial-no-globoplay/>. Acesso em: 31 mar. 2022.

*Descrição Imagem 1: Foto em preto e branco em que aparece somente o topo da cabeça de Arnaldo Antunes. Trata-se de um homem branco, com marcas de expressões faciais, sobrancelhas grossas, cabelos curtos grisalhos e olhos claros um pouco caídos em que se reflete a pessoa que o está fotografando.

**Descrição Imagem 2: Imagem da capa do livro. No topo, em letras brancas e de forma, está escrito “arnaldo antunes”. Logo abaixo, alinhada a esquerda, “Como é que chama o nome disso”, com o mesmo tipo de letra. Abaixo, o selo da editora PubliFolha. O fundo é de cor bege, sobre o qual estão várias letras em vermelho, laranja, marrom, que são como repetições do título. Essa sobreposição de letras cria uma confusão visual.

***Descrição Imagem 3: foto em preto e branco em que aparece a página de um livro. Em letras grandes, ocupando a página inteira, lê-se “Todas as coisas do mundo não cabem numa ideia. Mas tudo cabe numa palavra, nesta palavra tudo.

 

 

 

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