Poesia na contemporaneidade e a possibilidade de interação autor-leitor

14/05/2020 16:33

Juliana Maggio,
Bolsista do PET-Letras
Letras – Português

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza […] (PAZ, 1982, p.15).

Como podemos constatar nas palavras de Paz, a poesia nascida a tempos atrás, que ao longo do percurso foi se transformando e assumindo diferentes papéis, hoje, em pleno século XXI, não deixa de encantar e arrebatar tantos amantes que buscam na literatura uma forma de ouvir e de exprimir seus sentimentos. Tenha a estética que tiver, a poesia seduz e extrai, de forma simbólica, o que atormenta e ocupa nossos pensamentos.

[…] poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. (PAZ, 1982, p.15).

Em tempos guiados pelas tecnologias, a arte literária presente nos livros vem cada vez mais sendo transformada em registro virtual, muitas vezes, transitório e os livros mesmo estão ocupando basicamente o ambiente escolar. Além de sugerir um problema, essa transformação característica das novas gerações, entre tantos motivos e consequências, demonstra certa falta de “representatividade temporal”.

Nesse caso, a representatividade temporal seria a relação da produção literária com a época, com as vivências e com os anseios do seu leitor. Entretanto, o modo como a poesia, por exemplo, é apresentada nas escolas nem sempre a aproxima do tempo de seu leitor, já que são apresentadas como objeto de ensino. Comumente, os estudantes recebem poesias antigas, metrificadas e com palavras e versos arcaicos sem uma abordagem adequada por parte dos professores. Trabalhar uma produção literária de outra época não é um problema, desde que ela seja apresentada, contextualizada e abordada de modo a evidenciar suas características e relações com a atualidade. De qualquer forma, há a necessidade de levarmos aos estudantes, leitores atuais, poesias contemporâneas. Isso é de suma importância, pois muitos de seus escritores são de fácil acesso e contato, além de escreverem de forma mais atual.

Com o auxílio das redes sociais, os poetas, escritores e pensadores contemporâneos conseguem interagir facilmente com seus leitores e, inclusive, promover uma interação rica e produtiva. Desta forma, a imagem contemporânea do poeta não é a de um ser intocável, mas, sim, de uma pessoa comum com a capacidade de tocar outras pessoas comuns com suas palavras atuais.

Podemos citar a poeta e publicitária Clarice Freire, mulher nordestina que teve sua arte divulgada inicialmente na internet através de um blog. Freire ficou bem conhecida após criar uma página no Facebook e mais tarde, no Instagram. Clarice compartilha e interage ativamente com seus leitores e admiradores, rompendo com a imagem do “Ser Supremo Intangível”, antes atribuída aos poetas.

Assim o texto poético pode ser trabalhado e abordado em sua produção e manifestação contemporânea próxima aos leitores-estudantes que, além de conhecerem a produção literária atual, passam a ter a possibilidade de aprimorar e desenvolver o gosto literário em contato com o autor.

Por fim, é importante frisar que em qualquer gênero literário, não somente a poesia, é possível explorar essa interação autor-leitor partilhando o mesmo tempo e, até mesmo, espaço, ainda que através do contato virtual. Considerando essa possibilidade — intensificada na contemporaneidade pela tecnologia e, consequentemente, pelas redes sociais —, deixo como sugestão de leitura as poesias de Clarice Freire e sugiro que a procurem no Facebook e no Instagram. Gostaria de finalizar com uma passagem do livro “Pó de Lua nas Noites em Claro” de Clarice Freire:

Abri a gaiola do imaginário,
então libertei os sonhos contidos.
Voaram como o vento por toda a casa
como se não fossem mais proibidos.

Foto: Arquivo Pessoal (petiana Juliana)*

PAZ, Otávio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

*Foto descrição: A foto mostra a petiana Juliana sentada no sofá em meio às almofadas, lendo o livro “Pó de Lua nas Noites em Claro” com as folhas amarelas. À sua esquerda há uma parede branca e uma cortina branca com franja vermelha, além de um xícara colorida de chá. Olha para o livro enquanto lê e o segura com as duas mãos. Ela têm a perna esquerda dobrada por baixo da direita (que possui duas tatuagens, uma grande de rosas no meio da canela e outra pequena no pé, que lembra o símbolo do infinito em forma de pena). Juliana tem longos cabelos castanhos e lisos, que estão semi presos na parte superior da cabeça, usa óculos quadrados e tem a pele clara. Está vestindo um roupão bege, o sofá é grande, macio e marrom, e as almofadas são coloridas, duas são com fundo bege e flores vermelhas e a outra é com fundo bege e tiras que lembram ondas em tons de marrom.

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