DE FÉRIAS COM O PET | Visitando o Isabella Stewart Gardner Museum

18/02/2025 08:20

Por Laiara Machado Serafim

Letras- Português

Bolsista PET-Letras

 

Em meio às ruas geladas de Boston, MA, encontra-se o Isabella Stewart Gardner Museum. Essa mansão transformada em museu é um portal para outra época, um espaço onde arte, história e um dos maiores roubos da história se cruzam.

O museu, que abriga uma coleção de arte europeia, asiática e americana, incluindo pinturas, esculturas, tapeçarias e objetos decorativos, foi construído entre 1898 e 1901, por Isabella Stewart Gardner (1840-1924), uma colecionadora e patrona das artes. Inspirado nos palácios venezianos do século XV, o edifício é uma obra de arte em si, com colunas renascentistas, tapeçarias e varandas ornamentadas. Ao atravessar suas portas, a sensação é de entrar em um espaço vivo, onde cada objeto parece contar uma história. No centro do museu, um jardim interno iluminado por luz natural se revela como um refúgio silencioso, com esculturas e vegetação.

 

Fonte: arquivo pessoal. Jardim interno do museu.

Descrição da foto: A imagem é uma foto do jardim interno do museu, tirada do terceiro andar. O jardim é repleto de vegetação e circulado por altas paredes e janelas da estrutura antiga do casarão. 

 

Antes mesmo da fama do museu, Isabella Stewart Gardner já era uma figura marcante. Rica e apaixonada por arte, desafiou as convenções sociais ao viajar sozinha e adquirir obras com um olhar singular. Com o tempo, e após herdar a fortuna do pai, ela acumulou uma coleção de mais de 7.500 pinturas e objetos que abrangem a antiguidade até a década de 1920. Sua coleção inclui trabalhos de Rembrandt, Vermeer, Ticiano e Sargent.

O museu foi projetado por ela para proporcionar uma experiência sensorial completa. Depois que o edifício foi concluído em 1902, Gardner passou um ano cuidadosamente curando e instalando sua coleção em meio aos três andares de espaços de galeria intimistas. O museu homônimo foi inaugurado em 1903. Gardner viveu nos aposentos privados do quarto andar até sua morte, em 1924. Seu testamento determinava que nada no espaço poderia ser alterado, mantendo a disposição das obras exatamente como estava no dia de sua morte. Caso essa condição fosse violada, toda a coleção seria doada para Harvard.

Fonte: arquivo pessoal. Pintura de Gardner de John Singer Sargent

Descrição da foto: A imagem é uma foto do quadro pintado por Sargent. A pintura retrata Isabella Gardner, com um longo vestido preto e um grande decote.

 

O museu segue a visão estética de Gardner, com iluminação reduzida para preservar as obras e disposição intimista das peças. A disposição das pinturas e esculturas é um tanto aleatória e superlotada. E não há rótulos de identificação. Essa parecia ser exatamente a intenção estética de Gardner: um museu pessoal íntimo. Ela não queria uma aula de história da arte, era preciso que os espectadores encontrassem seu próprio significado.

Fonte: arquivo pessoal

Descrição da foto: A imagem é uma foto de uma das salas do museu, repleta de poltronas e mesas. Além de paredes verdes cheia de detalhes e ornamentadas.

 

Na madrugada de 18 de março de 1990, dois homens disfarçados de policiais entraram no museu e realizaram um dos maiores roubos de arte da história. Em apenas 81 minutos, levaram 13 obras, incluindo O Concerto de Vermeer, Cristo no Mar da Galileia de Rembrandt e esboços de Degas. Após renderem os guardas e prendê-los no porão, os homens tiveram tempo para escolher e retirar as peças. O critério de seleção sempre gerou dúvidas: algumas pinturas valiosas foram ignoradas, enquanto itens menos previsíveis, como um botão de bandeira napoleônica, foram levados.

O mais intrigante? Até hoje, nenhuma das obras foi recuperada. O mistério continua sem solução, alimentando teorias sobre mafiosos, colecionadores secretos e traições internas. Em 2013, autoridades afirmaram estar próximas de recuperá-las, mas o mistério persiste. No museu, as molduras vazias seguem expostas, um lembrete constante do crime e um convite à imaginação.

 

 

Fonte: arquivo pessoal. Moldura vazia no local em que ficava uma das obras roubadas

Descrição da foto: A imagem mostra uma das molduras vazias do museu, representando uma das obras roubadas. Ao lado, estão dispostos outras pinturas e objetos da casa.

 

O Isabella Stewart Gardner Museum não é apenas um repositório de arte, mas um espaço onde as histórias continuam a ecoar. O legado de Isabella, sua personalidade excêntrica e seu olhar visionário se fazem presentes em cada sala, em cada obra e, paradoxalmente, nas ausências deixadas pelo roubo de 1990. Mais de um século após sua inauguração, o museu permanece como um enigma aberto, desafiando o tempo e a curiosidade daqueles que cruzam seus portões. Ao sair, fica a sensação de que Isabella, com seu espírito irreverente, ainda observa os visitantes pelos corredores, satisfeita por ver sua criação continuar a intrigar e encantar.

 

REFERÊNCIAS

GARDNER MUSEUM. Home. Disponível em: https://www.gardnermuseum.org/. Acesso em: 10 fev. 2025.

GARDNER MUSEUM. The theft story. Disponível em: https://www.gardnermuseum.org/about/theft-story. Acesso em: 10 fev. 2025.

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