DE FÉRIAS COM O PET | Além das facadas e do sangue: uma breve análise do subgênero slasher

28/02/2024 09:30

 Por Daniely de la Vega

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O subgênero slasher é uma das vertentes mais icônicas e duradouras do cinema de terror. Caracterizado por seus assassinos implacáveis, vítimas jovens e uma dose saudável de violência gráfica, o slasher se tornou um fenômeno cultural desde seus primórdios nas décadas de 1970 e 1980. No entanto, sua influência vai além do simples susto; o slasher frequentemente serve como um espelho distorcido das ansiedades sociais e uma plataforma para explorar temas complexos, como sexualidade, moralidade e identidade.

Tal subgênero tem suas raízes em filmes como Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, e Peeping Tom (1960), de Michael Powell, que estabeleceram algumas das convenções fundamentais dos slasher movies, como a perspectiva do assassino e a ênfase na violência gráfica. No entanto, foi em 1978, com o lançamento de Halloween, de John Carpenter, que o slasher se estabeleceu como um subgênero distinto. O filme apresentou o icônico assassino mascarado Michael Myers, além de popularizar muitos dos tropos que se tornariam padrão desse subgênero, como o grupo de adolescentes sendo perseguido por um assassino implacável.

Ao longo das décadas seguintes, o slasher experimentou várias evoluções e reinvenções, desde os slashers sobrenaturais como A Hora do Pesadelo (1984) até os slashers meta-referenciais como Pânico (1996). No entanto, independentemente das mudanças estilísticas e narrativas, o cerne desse subgênero permaneceu o mesmo: a interação entre o assassino e suas vítimas, muitas vezes jovens e sexualmente ativas.

 

Imagem: cena do filme Pânico de 1996. O assassino conhecido como Ghostface segura uma faca ensanguentada.

Fonte: Divulgação / Paramount Studios.

Luís (2021) destaca ainda que os slasher movies têm sido reflexos das questões políticas e sociais das épocas em que foram produzidos, desde os anos 70 até os dias atuais. Essas produções cinematográficas, ao invés de serem meros geradores de emoções fortes, frequentemente exploram e refletem as ansiedades reais da população, acompanhando as transformações sociais e políticas que moldam os medos contemporâneos.

Por trás das facadas e do sangue jorrando, o subgênero slasher muitas vezes aborda questões mais profundas e perturbadoras. Um tema recorrente é a punição da sexualidade, com as vítimas frequentemente sendo jovens sexualmente ativas, enquanto aqueles que se abstêm do sexo muitas vezes sobrevivem até o final. Essa moralidade conservadora tem suas raízes na sociedade puritana, onde o sexo fora do casamento era considerado tabu e sujeito à punição.

Além disso, o slasher muitas vezes serve como um reflexo das ansiedades sociais da época de seu lançamento. Por exemplo, filmes como Sexta-Feira 13 (1980) capitalizaram o medo do desconhecido e do isolamento das comunidades rurais, enquanto Halloween explorou os perigos da suburbanização e da perda da inocência.

Apesar de suas raízes conservadoras, o subgênero slasher também viu uma série de filmes que subvertem e desafiam suas convenções. Filmes como A Noite dos Mortos-Vivos (1968), de George A. Romero, e O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper, apresentaram protagonistas femininas fortes e independentes, desafiando a ideia de que as mulheres no cinema de terror são apenas vítimas indefesas.

Além disso, o slasher moderno tem sido frequentemente objeto de análise crítica e desconstrução. Filmes como A Hora do Pesadelo e Pânico brincam com as expectativas do público, utilizando meta-referências e humor autoconsciente para comentar sobre o próprio subgênero e sua relação com a cultura popular.

Os slasher movies são muito mais do que apenas sangue e sustos. Por trás de sua superfície violenta, eles oferecem uma lente através da qual podemos examinar e entender nossos medos mais profundos e nossas ansiedades sociais. Ao longo das décadas, o slasher evoluiu e se reinventou, continuando a assombrar e intrigar os espectadores com sua mistura única de horror, suspense e subtexto social. Embora possa ser fácil descartá-lo como mera carnificina, esse subgênero continua a provar seu valor como uma forma de arte profundamente impactante e reflexiva.

REFERÊNCIAS

LUÍS, Rui Fernando. As muitas máscaras do slasher movie: como os medos da sociedade se refletem na evolução do género. 2021. 85 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ciências da Comunicação, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2022. Disponível em: https://run.unl.pt/handle/10362/136355. Acesso em: 27 fev. 2024.

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