Dia das Mães: origens e reflexões sobre essa comemoração

10/05/2022 17:23

Emmanuele Amaral Santos,
Bolsista PET-Letras
Letras Português

Oficializado, em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, o segundo domingo de maio foi “[…] consagrado às mães, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano […]”, como declara o texto da lei que regulamenta o feriado de Dia das Mães no Brasil.

Tanto a escolha da data quanto a ideia de homenagear os “sentimentos e virtudes” da maternidade surgiram politicamente a partir de Anna Jarvis, uma mulher estadunidense que se baseou nas vivências religiosas e pessoais da própria mãe, como uma oração apresentada para Anna ainda na infância e participação em um grupo de mulheres que se dedicaram aos cuidados de soldados no contexto da Guerra Civil Americana.

O Dia das Mães foi oficializado em todos os estados americanos apenas em 1911, e, pouco tempo depois, a própria Anna Jarvis chegou criticar o propósito comercial que a data rapidamente ganhou nos EUA, assunto discutido pela pesquisadora Katharine Lane Antolini  na obra Memorializing Motherhood: Anna Jarvis and the Struggle for Control of Mother’s Day (“Em Memória da Maternidade: Anna Jarvis e a Luta pelo Controle do Dia das Mães”). Além de trazer os comentários de Anna sobre os chamados “aproveitadores do comércio” como as floriculturas que aumentam seus preços na época do Dia das Mães, o livro também reflete sobre o processo histórico de idealização da data e as suas repercussões contraditórias que levaram Anna a pedir desculpas por ter “criado” a comemoração.

Fonte: Recorte de uma imagem da internet*

É interessante refletir sobre como esse modelo estadunidense de feriado foi importado para o Brasil, tanto na perspectiva religiosa quanto na repercussão mercadológica. Na propaganda da década de 1960/70 que ilustra este texto, por exemplo, percebe-se o uso das rosas como imagem da maternidade remetendo à Maria na simbologia cristã e à ideia de presente como já ressaltou a própria Anna Jarvis.

Atualmente, outros desdobramentos comerciais dessa celebração no Brasil podem ser percebidos em propagandas que ora reforçam o estereótipo da mãe como guardiã e cuidadora do lar para a venda de eletrodomésticos ora refletem superficialmente sobre contextos contemporâneos de independência financeira feminina e maternidade solo. Deste modo, o segundo domingo de maio ainda parece enfrentar uma dualidade mercadológica e cristã semelhante a que marca a sua origem, o que demonstra que a luta pelo controle do Dia das Mães ainda está em aberto.

 

 

*Descrição de imagem: Reprodução digital de uma propaganda em preto e branco sobre o Dia das Mães. À direita da imagem, uma mulher sorridente com cabelos ondulados levantando uma criança de colo acima de sua cabeça, olhando para ela como se estivesse brincando. A criança usa um macacão e segura um pequeno pano. No canto superior esquerdo, está escrito “O Dia das Mães…” em fonte cursiva e sublinhado e, logo abaixo, em outra tipografia: “Dia de gratidão”, na primeira linha, e “dos filhos…”, na seguinte. No canto inferior esquerdo, aparece o desenho de um ramo com rosas e folhas.

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