Epidemia no Brasil: reflexos de uma má gestão em período pandêmico?
Mariane Pordeus,
Bolsista Acessibilidade – PET-Letras
Letras Libras
O surpreendente aumento de casos de infecções pelo vírus Influenza, fora de época no Brasil, ocupou os noticiários no último trimestre, deste ano, apontando para uma epidemia vivida em meio a pandemia no Brasil.
Ano após ano, os vírus sofrem mutação genética e ficamos expostos às suas variantes. Prontamente, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) entra em cena disponibilizando em postos de saúde e clínicas privadas uma vacina atualizada para combater a nova ameaça da Influenza à saúde pública. Entretanto, no início da pandemia do novo coronavírus as medidas restritivas barraram esse processo, inibindo, quase que por completo, os casos de gripe pelo vírus influenza. A prevenção à COVID-19 — vírus respiratório com alto índice de transmissão — possuí um impacto muito maior ao vírus da gripe.
Fonte: Folha de S.Paulo.*
Em consequência disso, a população se esqueceu dos surtos de gripe anuais e o sistema imunológico não desenvolveu defesa diante das novas variações, o que resultou positivamente na diminuição de casos e de ocupações de UTI durante esse momento de sobrecarga nos hospitais em decorrência da COVID-19. Entretanto, a ausência de exposição natural ao vírus influenza nos deixou mais vulneráveis à sua nova forma.
Com a flexibilização das medidas de prevenção ao coronavírus, uma velha conhecida retorna: o vírus influenza A Subtipo H3N2 pertencente à uma nova cepa chamada de Darwin, por ter sido descoberta em uma cidade da Austrália com o mesmo nome. A cepa Darwin foi inicialmente identificada no Rio de Janeiro e vem contribuindo com um surto de casos em diversas regiões do Brasil em período atípico, sendo categorizada por especialistas como epidemia.
É importante destacarmos que o número de vacinados contra a gripe, neste ano, foi inferior aos anos anteriores e, também, a conciliação com o intervalo para a vacinação contra a COVID-19 pode ter agravado este baixo índice de adesão à vacina. Além disso, uma estranha ideologia negacionista presente no atual governo, e incentivada por ele, toma forma em confronto à cultura da vacina.
O discurso antivacina do presidente Jair Bolsonaro, contrapõe inclusive a postura que ele próprio defende: o exército na ditadura militar — tendo em vista que foi neste período que o PNI foi criado, com o objetivo de controlar o surto de doenças infecciosas da época. Infelizmente, pela primeira vez desde a sua criação, o PNI sofre ameaças. Em meio à epidemia, à pandemia e aos conflitos políticos, o que resta à população é permanecer fundamentada na cultura da vacinação, consciente de que programas de política pública como o PNI são reconhecidos mundialmente por seu caráter eficaz de controle de doenças infecciosas.
Sendo assim, que não sejamos infectados por essa onda negacionista, mas que estejamos atentos ao rumo dessa batalha biológica entre a humanidade e os vírus que a assolam. É preciso atenção nacional para que a epidemia brasileira não coincida com a variante Ômicron do novo coronavírus. Esse cenário delicado e incerto resultaria em uma nova pressão aos hospitais e seria praticamente imprevisível e impossível prever o seu real impacto no Brasil.
Por fim, que possamos refletir acerca de nossa conduta individual pelo bem coletivo, afinal a vacinação tem o poder de erradicar enfermidades, mas uma população consciente tem o poder de mudar seu destino!
*descrição: O texto possui duas imagens reunidas. Na parte superior, um gráfico de mapa que indica os estados brasileiros que registraram aumento de casos de gripe. São eles: Amazonas, Acre, Rondônia, Amapá, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Enquanto Ceará, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não registaram aumento de casos. E Roraima, Pará e Piauí não informaram se houve ou não. Na parte inferior, a imagem organiza por estado o número de casos confirmados e mortes por causa da gripe. Respectivamente: Amazonas com 772 casos e nenhuma morte; Bahia com 185 casos e 2 mortes; Espírito Santo com 74 casos e nenhuma morte; Minas Gerais com 67 casos e nenhuma morte; Rio de Janeiro com 47 casos e 7 mortes; Pernambuco com 43 casos e nenhuma morte; Amapá com 37 casos e nenhuma morte; Goiás com 32 casos e nenhuma morte; Paraná com 20 casos e uma morte; Paraíba com 13 casos e nenhuma morte; Rio Grande do Sul com 13 casos e nenhuma morte; Santa Catarina com 7 casos e nenhuma morte; Ceará com um caso e nenhuma morte e Maranhão com um caso e nenhuma morte.
Comments