Uma pergunta: quão acessível seu discurso é?

02/09/2021 07:33

Isabella Flud,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

O ato de tornar o seu discurso inclusivo e acessível vai além de descrever imagens ou, até mesmo, de requerer a presença de intérpretes de Libras-português em eventos. Apesar de serem ações imprescindíveis e que devem ser muito mais recorrentes em nossa sociedade, quero chamar a atenção para a transposição que o seu discurso pode ter ao partir da esfera científica — o meio acadêmico e o conhecimento teórico — para a midiática —, onde se encontram, por exemplo, as redes sociais. Você já parou para pensar como explicar um trabalho da graduação para algum parente que não é da área? Ou apresentar sua pesquisa em um evento com pessoas que, apesar de serem da academia, não possuem familiaridade com o seu objeto de estudo?

A ação de transformar um assunto “complexo” em algo compreensível deveria ser vista como um dever, já que essa é uma forma de contribuir com a sociedade e, por sua vez, de retornar a ela o conhecimento adquirido durante a sua formação. Cunha & Giordan (2009) afirmam que, pelo fato de a ciência ter um percurso que permeia o meio histórico e cultural dos indivíduos, é preciso considerar a constituição e a estruturação de um discurso que seja entendido com mais facilidade.

Fonte: Banco de imagens do Canva*

Transpor seu discurso, divulgar e ampliar o alcance das suas produções do meio acadêmico é muito desafiador, mas deve ser visto como um exercício constante. Atualmente, temos uma forte popularização da divulgação científica que contribui para disseminar a ciência e informar a população, além de combater, principalmente, a propagação de fake news. Cunha & Giordan (2009) enfatizam que, dentro desta transposição, há a necessidade de chamar a atenção de quem está consumindo o conteúdo, justamente para gerar interesse e despertar curiosidade. Geralmente, assuntos que estão inseridos no dia a dia possuem mais destaque por terem mais identificação. Por um lado, uma ciência objetiva, a qual estamos acostumados, e, por outro, um conhecimento adaptado que deve ter em vista a subjetividade de um indivíduo.

Quem é o seu interlocutor? Para além da adequação linguística, moldar o seu discurso de acordo com o ouvinte é, sobretudo, uma estratégia que contribui com a compreensão do conteúdo explicitado. O Instituto Serrapilheira possui uma série de vídeos no YouTube que desafiam os cientistas brasileiros a reorganizarem o seu discurso de acordo com os três tipos de público: as crianças, os universitários e os especialistas. Temas, como matemática, física, química, entre outros, que são vistos como “difíceis”, são adaptados para três estágios diferentes. É incrível como os pesquisadores realizam a escolha de palavras e expõem diferentes exemplos de cada nível.

Faça esse exercício! Use metáforas, faça analogias, construa mapas mentais, exponha exemplos do cotidiano, use qualquer outra estratégia ou ferramenta para alcançar a população que não tem familiaridade com o que você estuda. Em diferentes esferas de circulação e com um público diversificado, molde o seu discurso. O conhecimento deve e tem que ser acessível para todos!

Referências:

CUNHA, M. GIORDAN, M. A Divulgação Científica Como Um Gênero De Discurso: implicações na sala de aula. Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Florianópolis, 2009.

*Descrição da imagem:

Uma sala grande com bastante iluminação com uma mulher branca de cabelo escuro no centro gesticulando com as mãos, vestida com uma blusa social branca e uma calça preta. Atrás, há um quadro branco, uma tela fixada para projetar slides que também está em branco e uma pequena mesa com um monitor. A mulher está se direcionando para uma audiência de sete alunos em seu redor, sendo homens e mulheres que parecem estar prestando atenção por direcionarem seu olhar para ela.

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