Já teve a oportunidade de conhecer “Gaibéus” de Alves Redol?

26/08/2021 20:28

Andréia Gomes Araújo,
Bolsista PET-Letras
Letras-Português

O livro Gaibéus, de Alves de Redol (1979), representa o rompimento de uma literatura que, até o momento, se apresentava de forma linear e padronizada dentro de um conceito de arte automatizada. Dito de outro modo, Alves revolucionou conceitos artísticos e abriu caminhos para que a arte fosse questionada em relação às suas limitações. Alves defendia que a arte deveria ter a função de favorecer o homem, e isso para a arte, segundo os vanguardistas de 1940 (em destaque os Presencista), afastaria a beleza artística na literatura; por isso, Gaibéus não poderia ser considerado arte.

Fonte: Imagem da Internet.*

O grande precursor do neorrealismo (nome dado a esta nova função) enfrentou também diversas dificuldades em relação à publicação da obra, pois, na época, se encontrava em um meio em que o poder fascista predominava, meio em que não era permitida a liberdade de expressão, principalmente se o assunto em questão fosse sobre política ou sobre causas sociais vividas pela sociedade mais fraca daquela época. António Alves de Redol não conseguiu vencer a censura, mas de alguma forma conseguiu driblar o poder que representava a ridicularizarão humana, apesar de que mais tarde teve a obra caçada.

Uma ruptura nos permite pensar o que é arte, defender a ruptura é defender que a arte deve sair do tradicionalismo e do arcaísmo, desta forma se tornando cada vez mais inovadora e interessante. O artista tem que mostrar o que tem de mais bonito de dentro para fora, usando técnicas mais humanas, que transpareçam a sua alma e sua criatividade. Repetir os outros, repetir os modelos é o mesmo que matar a criatividade, copiar e colar é o mesmo que dizer: “não sou capaz de inovar”.

Por isso, muitas vezes, temos que delirar em nossos pensamentos, para assim conseguirmos sair de uma linha de produção repetitiva, devemos estabelecer nossos próprios critérios com relação ao que seja arte e, de forma livre, usarmos a criatividade e deixar transparecer o que pensamos e sentimos, em tudo que viermos a produzir, é isso que o Alves de Redol trouxe com seu livro Gaibéus: o que ele pensa e sente no que se refere ao poder fascista e à forma como eram tratados, pelos coronéis, aqueles das classes menos favorecidas. Apesar de ter escrito seu romance de forma implícita devido à repressão, não deixou de passar, nas entrelinhas, a sua essência humana.

Fonte: Imagem da Internet.**

Dentro das muitas questões que podem ser abordadas no livro Gaibéus, destaco uma das principais: a preocupação do autor pelas causas sociais que, anteriormente, já vinham sendo abordadas em outros de seus escritos, mas que se concretizou com o romance Gaibéus. A preocupação social do autor fez com que ele trouxesse, para suas obras, personagens marginalizadas: que estão sempre excluídos por um capitalismo hipócrita e imbecil; que tratam a própria raça com desprezo e de forma desumana; e que igualam trabalhadores humildes aos animais e às máquinas.

Alves Redol foi muito importante para conscientização dos mais humildes que passavam pela desumanização e pelo tratamento animalesco dos mais poderosos. Muitos dos trabalhadores desta época não sabiam ler e, por isso, não tinha acesso à mensagem passada pelo autor. Alguns até conseguiam com que outros lessem para eles, mas uma minoria tinha este privilegio. Também não sei se adiantaria, pois, muitos dependiam de seu trabalho escravo para sobreviver, ganhavam pouco, mas sem esse pouco, não se manteriam vivos; sendo assim, se sujeitavam a situações humilhantes e se mantinham em silêncio, aceitando todo tipo de tratamento. E, por não terem escolha, sobreviviam entre a vida e a morte.

Referências:

REDOL, Alves. Gaibéus. 15. Ed. Lisboa: Publicações Europa-América, 1979. 348p.

Descrição*: Fotografia do autor Alves de Redol. É uma imagem que mostra ele do peito para cima, olhando de forma concentrada para seu lado esquerdo. É um homem banco e com face magra. Usa um casaco verde e uma boina preta.

Descrição**: Capa do livro “Gaibéus” de Alves de Redol. Na imagem, um homem em desenho passando a ideia um homem sofrido, carregando seus pertences nas costas, com um pedaço de pau que suporta uma trouxa de roupas. Está descolorido, com uma cor vermelha ao fundo formando um quadro a sua volta. Acima da imagem, o nome do autor: Alves de Redol, abaixo, o nome do livro: Gaibéus, e, em seguida, está escrito: Romance,  2 edição, livraria Portugalia Lisboa.

Comments

Tags: comunicaPET