Inglês como língua de transformação: um manifesto.

23/06/2021 16:02

Vítor Pluceno Behnck,
Graduando em Letras – Inglês
Bolsista PET-Letras UFSC

            De uma coisa você já sabe: a língua inglesa é uma das mais faladas em todo o mundo. De acordo com o website da Encyclopædia Britannica, o Inglês é a primeira ou segunda língua de 1,27 bilhão de pessoas, o que lhe confere o status de língua mais falada no mundo. A predominância do Inglês como Língua Franca, no século XXI, advém de fatos históricos como a vasta colonização britânica ao redor do globo e o estabelecimento dos Estados Unidos da América como centro do capitalismo ocidental, desde a Guerra Fria. Entretanto, é de suma relevância nos questionarmos sobre quais seriam as implicações linguísticas e ideológicas presentes na propagação do Inglês no mundo. Afinal, falar um idioma é, também, um ato político.

            Voltando algumas centenas de anos, podemos, primeiramente, entender de onde vem a língua inglesa, o que é relevante à compreensão do lugar que ela ocupa hoje. O Inglês é uma língua Germânica, prima do Alemão e do Holandês. De acordo com o website EnglishClub.com, a história do idioma tem início com a chegada de três tribos germânicas à Grã-Bretanha durante o século V d.C. Conforme exposto na Figura 1, os anglos, jutos e saxões expulsaram os celtas que habitavam aquelas terras para o oeste e para o norte, em direção ao que hoje compreende o País de Gales, a Escócia e a Irlanda. Segundo o website, os anglos vieram da “Englaland”, e sua língua era o “Englisc”, o que, posteriormente, teria se tornado a Inglaterra (England) e o Inglês (English) que conhecemos hoje.

Mapa de imigração anglo-juto-saxônica no século V d.C.*

Reprodução: EnglishClub.com.*

            A partir de então, a língua inglesa evoluiu para outras formas, como o Old e o Middle English, que serviram de base para o Modern English, sendo esse “um dos Ingleses” que falamos hoje. Por que eu me refiro a “um dos”? Bem, é simples: por ter sido internacionalizada, possibilitando o surgimento de muitos sotaques e variantes do Inglês padrão do Reino Unido ou mesmo dos Estados Unidos. Um dos exemplos mais claros disso é o African American English (AAE, também chamado de Ebonics), que, de acordo com a Linguistic Society of America, é uma variante falada pelas comunidades afro-americanas dos Estados Unidos. Com diferenças fonéticas e inclusive gramaticais, o Inglês Afro-Americano foi, inclusive, considerado uma segunda língua, com status oficial, em programas de ensino bilíngue pelo Oakland School District (Distrito Escolar de Oakland, em Português), em 1996.

            Assim, podemos perceber que as raízes colonialistas advindas do Império Britânico possuem ressonância nos processos linguísticos do Inglês. Não obstante, o imperialismo estadunidense e a propaganda yankee, no mundo capitalista, acabam por exportar não somente um modo de vida e de consumo, mas, também, uma língua, que, nesse caso, é a língua inglesa. Sabemos que aqui, numa ex-colônia europeia do sul global, sofremos as injustiças e desigualdades intrinsecamente ligadas às explorações e abusos do sistema em que vivemos. Devemos, portanto, nos opormos a tudo aquilo que é anglófono, rejeitando a língua do capitalismo e dos grandes burgueses do mundo? Na minha concepção, certamente não.

            Ainda que nos oponhamos ao modo em que isso se deu, ignorar o fato de que o Inglês é uma língua internacional é isolar-se do que está dado; das antíteses e sínteses sociais que nos trouxeram onde estamos hoje. É ignorar as possibilidades que uma das Línguas Estrangeiras mais faladas no mundo pode nos ofertar; e, acima de tudo, é perder a oportunidade de nos comunicarmos com povos que também sofrem as mesmas opressões e as mesmas injustiças desse complexo sistema social, político e econômico que vivemos. A indignação, quando coletiva, ecoa mais forte. Apesar de ser uma ferramenta extremamente atrelada ao colonialismo, ao imperialismo e às muitas mazelas que vivenciamos hoje. Ao aprendermos o Inglês, passamos a ser capazes de nos comunicarmos internacionalmente, subvertendo tudo aquilo que nos fora empurrado goela abaixo por meio um estridente grito conjunto de transformação. É hora de nos apropriarmos dessa ferramenta; afinal, está mais do que na hora de falarmos e de agirmos contra aquilo que nos aflige como indivíduos, sociedade e mundo.

*Foto descrição: Mapa do norte da Europa, contendo o norte da França, da Alemanha, a Dinamarca, a Grã-Bretanha e a Irlanda. Acima da Alemanha está escrito: Modern countries are shown in green / Germany; acima da frança, está escrito France. Na Grã-Bretanha, temos England ao leste, Wales ao oeste e Scotland ao norte; em cima da ilha está escrito “Britain”. Na ilha à esquerda está escrito “Ireland”. Em cima da Dinamarca, em preto, está escrito “Saxons / Angles / Jutes”. No meio, há o North Sea e setas indicando da dinamarca para a Grã-Bretanha; entre essas setas está escrito “Germanic invasions of the 5th century”. No canto inferior direito, há uma seta para cima, apontando o Norte, e o texto “EnglishClub.com”.

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