Ócio: vida de preguiça ou de descanso?

12/11/2020 19:36

Nicole da Cruz Rabello,
Bolsista PET-Letras
Letras Inglês

Hoje, quero falar um pouco sobre a pressão de sempre ser produtivo e de manter a sua saúde mental no meio de uma pandemia.

Fonte: Imagem da Internet*

No início do ano, quando a pandemia começou, ali pelo mês de março. Muitos se assustaram, pois, diversas atividades, tanto acadêmicas quanto profissionais, tiveram que parar ou ser radicalmente alteradas. Para alguns durou quinze dias, um mês ou mais, para outros já se passaram sete meses. O fato de ninguém estar preparado foi um ponto bem negativo para nossa saúde mental e física. Além disso, alguns precisaram estar em casa por muito tempo sem saber o que fazer para se manter bem e, até mesmo, como ocupar a mente.

Entretanto, com esse movimento de ter que fazer algo, muitos empregos trouxeram aos seus funcionários o home office. Essa categoria de trabalho se tornou muito popular nesta quarentena, porém tem seus prós e contras. Alguns prós seriam: 1) você pode, na maioria das vezes, organizar seu próprio horário de trabalho; 2) há possibilidade de se dormir um pouco mais, já que não há que se locomover de casa até o trabalho; 3) é possível passar mais tempo com a família e investir mais no lazer.

Por outro lado, alguns dos pontos negativos seriam: 1) ter que lidar com a pressão, tanto pessoal quanto do emprego, por produtividade; 2) não poder estabelecer contato presencial face a face com amigos e colegas de trabalho ou da faculdade — assim como somos seres humanos e fomos feitos para estar em sociedade, o fato de não ter mais essa interação humana prejudica o psicológico; 3) necessidade de uma imediata organização e disciplina dos novos hábitos. Para mim, pessoalmente, foi muito difícil manter tudo isso na minha vida durante a quarentena. Creio que para muitos também foi. Digo isso, pois eu sempre tinha o ambiente do trabalho e o ambiente de lazer separados, e, com a pandemia, tudo se misturou em uma coisa só.

Essa pressão social por produtividade pode ser contextualizada e analisada por diversos pontos de vista tanto sociais quanto econômicos. No passado, há muito tempo, conta-se que, em algumas culturas, o ócio não era um problema. Em certas sociedades, as pessoas trabalhavam em um dado ambiente, por um certo período, como, por exemplo, em um campo ou fazenda, e, então, ao anoitecer, iam para suas casas descansar. Contudo, nossa sociedade atual, o sistema nos impõe estar quase que constantemente trabalhando, a casa se mistura com o trabalho, o dia se mistura com a noite e você nem percebe mais isso. Muitas vezes, os horários de lazer se misturam com os horários de se alimentar. E quando se dá conta, se é que você percebe, já está engolido em uma rotina exaustiva, a qual é, muitas vezes, depressiva e/ou gatilho para ansiedade.

Fonte: Imagem da Internet**

Esse texto é uma mistura de desabafo, alerta e reflexão. Esse texto é quase um relato pessoal de como foi para mim lidar com a quarentena. Me deixei levar pelas minhas obrigações e pela pressão de ter que estar fazendo algo produtivo a todo o momento, já que o ócio não é bem visto pela nossa sociedade, sendo tido como preguiça. Segundo o dicionário Michaelis, ócio é “1- Tempo de descanso; 2- Tempo que dura esse descanso. 4- Aversão a qualquer atividade física ou mental. 5- Qualquer ocupação agradável’’.

As definições são ótimas, adorei. Podemos imaginar que o ócio pode ter um significado totalmente diferente do que temos por definição social. Ele pode ser visto como o tempo em que você para e presta atenção em você mesmo, cuida de você, faz uma comida que você gosta ou, simplesmente, não faz nada. E vale destacar que não há nada errado em não estar fazendo nada.

Entretanto, o que isso tudo tem a ver com saúde mental? Então, entrei em um vórtice tão grande de ter que estar produzindo que não conseguia mais me sentar na frente do computador e não ter uma crise de ansiedade, a mão suava, dava dor de barriga, eu não conseguia mais me concentrar. Meu sono estava totalmente desregulado, assim como minha alimentação, quase inexistente.

Esses e outros fatores me levaram a procurar um tratamento psicológico. E está sendo muito bom não me pressionar tanto e continuar apenas vivendo com qualidade e não apenas sobrevivendo. Se você se sentiu contemplado ou pelo menos percebeu alguns aspectos mencionadas que estão presentes em sua vida nesse momento, PARE TUDO. Repense em como está sua rotina, sua alimentação, seu psicológico. Tire um dia de folga e se puder e for possível deixar para amanhã, deixe.

Não se esqueça que nós só vivemos uma vez e que a nossa vida é preciosa demais para nos deixarmos levar por um sistema tão opressor quanto o nosso pode ser. OCIE-SE.

*descrição: imagem de uma praia com um homem branco sentado com os braços cruzados atrás da cabeça, em uma cadeira de praia com roupas sociais em um dia de sol.

**descrição: desenho de um homem correndo, atravessado por um traço diagonal que o coloca em duas situações. Sua metade do lado esquerdo está com roupas sociais e segura uma pasta preta. E sua metade do lado direito usa roupas de verão e o ambiente é o mar com um coqueiro e uma bola.

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