Pandemia ameaça ainda mais as línguas indígenas

06/10/2020 10:14

Moara Zambonim,
Bolsista PET-Letras
Letras – Português

O Brasil possui cerca de 190 línguas indígenas em processo de extinção. O triste número coloca o país na segunda posição no Atlas de Línguas em Perigo da Unesco, atrás apenas dos Estados Unidos. Nas aldeias e comunidades, são principalmente os idosos as últimas fontes de preservação dos idiomas ameaçados, os quais são responsáveis, muitas vezes, pela educação escolar e pela transmissão de saberes ancestrais.

Ao demonstrar maior letalidade, justamente nas faixas etárias mais avançadas, a pandemia do novo coronavírus tem agravado esse cenário. Até agora, foram 837 indígenas mortos e mais de 158 povos afetados, de acordo com balanço da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Ainda que não que haja um recorte específico por idade nesses dados, muitos anciões indígenas vitimados pela Covid-19 têm sido lembrados nos veículos de imprensa desde o início da crise.

Um exemplo ilustre é o de Higino Tenório, líder comunitário da etnia Tuyuka, que faleceu por complicações da Covid-19 no fim do último mês de maio, aos 65 anos, em Manaus. Conhecido como “doutor”, Tenório construiu uma trajetória notável na luta por políticas de educação indígena. Ajudou a criar os 10 Princípios da Educação Indígena Escolar, na década de 1990, e auxiliou a implementação do ensino médio indígena na região do Alto Rio Negro, Amazonas.

Fonte: Foto da Internet “Higino inspeciona pedral de sítio arqueológico no Parque Nacional do Jaú, no Amazonas (Foto: Raoni Valle)”*

Em reportagem do G1, o antropólogo Aloisio Cabalzar relembra: “Ele buscou os filhos indígenas em outras escolas, ensinou a língua tuyuka. Garantiu muito material escrito, vários trabalhos publicados. Ele foi a principal liderança do processo de retomada da língua tuyuka“.

E depois conclui: “Os idosos são o principal grupo de risco. É o que está acontecendo: estamos perdendo o conhecimento“.

*Foto Descrição: Higino inspeciona pedral de sítio arqueológico no Parque Nacional do Jaú, no Amazonas. Ele veste camiseta rosa clara e calça preta; se encontra sentado, à direita, sobre uma pedra com inscrições arqueológicas.

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