Audre Lorde e a importância da identidade

17/08/2020 15:47

Luciana dos Santos,
Bolsista PET-Letras
Letras – Inglês

Em seu livro “Irmã Outsider”, temos acesso a diversos ensaios e conferências de Audre Lorde, autora negra, lésbica, feminista, filha de imigrantes, educadora, e que durante sua vida também foi mãe de duas crianças e enfrentou o câncer. Os textos de Lorde demonstram o quanto essas identidades foram de suma importância para sua visão de mundo e para sua missão de vida e lembram que o pessoal é, também, político.

Fonte: Arquivo pessoal*

Além de ensaísta e ativista pelos direitos humanos, Lorde escrevia poesia, onde retratava sua vivência de mulher negra, diante de uma sociedade machista e racista, e um feminismo branco apático diante de suas questões. Audre Lorde colocou o feminismo negro em pauta e desafiou as estruturas que oprimiam ela e outras mulheres que compartilhavam suas identidades.

Como indicação, deixo aqui os textos encontrados no livro Irmã Outsider (em inglês, Sister Outsider):

“A Poesia não é um luxo”, onde a autora traz a importância da poesia enquanto instrumento para dar vazão a sentimentos com ideias que desafiam a diferenciação feita pela sociedade patriarcal racionalista: “Os patriarcas brancos nos disseram: ‘Penso, logo existo’. A mãe negra dentro de cada uma de nós – a poeta – sussurra em nossos sonhos: ‘Sinto, logo posso ser livre’.”(p. 46) A poesia é, portanto, uma ferramenta revolucionária de luta pela libertação.

“Idade, raça, classe e sexo: As mulheres redefinem a diferença”, texto em que a autora discute a diferenciação dos indivíduos e sua segregação entre grupos marginalizados e não marginalizados. De acordo com Lorde, não são nossas diferenças que nos separam, mas a relutância que temos em reconhecer que temos essas diferenças e em aprendermos a lidar com elas de forma mais efetiva. Há, portanto, a necessidade de trabalharmos com nossas identidades e de nos impormos em uma luta conjunta com os que são diferentes de nós.

Por fim, em “Os usos da raiva: As mulheres reagem ao racismo”, Audre Lorde aborda a relevância da raiva na luta contra o racismo. As mulheres negras foram muito discriminadas, principalmente nos movimentos feministas, ao expressarem sua reação ao racismo e ao colocarem suas questões em pauta, acusadas de fazerem uso demasiado da raiva. Para a autora, “não é a raiva de outras mulheres que vai nos destruir, mas nossa recusa em ficarmos quietas para ouvir seus ritmos, em aprender com ela, em irmos além da aparência e em direção à essência, em manipular a raiva como uma fonte importante de empoderamento” (p. 164).

Atualmente, quando a importância do uso de “rótulos”, para afirmarmos nosso lugar no mundo, conquistar e fazer valer direitos, é muitas vezes questionada, as palavras de Lorde reafirmam a necessidade de usar a identidade para ser ouvida a voz de quem a possui, aprendendo todos a encarar as diferenças sociais que nos foram impostas, mas que fazem parte de quem somos, para a usarmos em prol de nosso bem e, também, cabendo a nós elaborar o exercício de escuta quando necessário e, assim, evoluir.

Fonte: Poetry Foundation**

Audre Lorde é uma das autoras que serão discutidas em um grupo de estudos do PET Letras UFSC sobre autoras feministas que começará em breve. Acompanhe as nossas redes sociais para saber mais.

* Descrição 01: Imagem com fundo azul anil texturizado. No meio, um e-reader Kindle com a imagem em preto e branco da capa do livro “Irmã Outsider”. O título e o nome da autora Audre Lorde estão no meio alinhados para esquerda em branco. A imagem de fundo da capa é uma foto de Audre Lorde, ela veste uma camisa e tem um black power curto. Ao redor do kindle, há vários pedaços de papel branco. No topo, à esquerda, há um pedaço de papel escrito “Feminista” em verde com um percevejo dourado furando o papel, à direita, um pedaço de papel com o dizer “Lésbica” em azul, e um clip de papel em uma ponta. No meio à esquerda, um papel dizendo “Educadora” em azul e uma fita adesiva colada no topo, à direita, um papel dizendo “Negra” em vermelho com um clipe de metal preto. Abaixo, à esquerda, um papel escrito “Filha de imigrantes” em vermelho com três grampos pregados, e à direita, um papel escrito “Mãe” em verde com dois pedaços de fita crepe colados no papel.

** Descrição 02: Na foto em preto e branco, Audre Lorde está de pé à esquerda, usando uma camisa branca aberta sobre uma blusa de bolinhas pequenas, e uma calça preta. Ela tem pulseiras nos pulsos, um anel no indicador da mão esquerda, e segura um óculos com as duas mãos. Ela está com os as sobrancelhas levantadas e tem a pele negra e um black power médio. À direta na foto há um quadro negro com os dizeres “Women are powerful and dangerous” (em português, Mulheres são poderosas e perigosas).

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