“Como surgiu esse sinal?” – resenha de “Processos morfológicos de formação de itens lexicais em Libras”, de Janine Oliveira e Markus Weininger

11/03/2024 15:05

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Por Bruno dos Santos Camargo
Letras – Libras
Voluntário PET Letras

Descrição da imagem: Imagem recortada de uma pessoa de camiseta preta fazendo o sinal de LETRAS-LIBRAS com as mãos / Fonte: Jornalismo ACS/UFGD

 

O artigo Processos morfológicos de formação de itens lexicais em Libras: o caso particular da aglomeração, de Janine Soares de Oliveira e Markus Johannes Weininger, busca destacar os itens lexicais empregados no contexto do curso de Letras-Libras da Universidade Federal de Santa Catarina. Este artigo foi publicado na Revista Sensos, no ano de 2016, volume VI, número 2. Observando que o léxico destacado não se compõe a partir de elementos livres nem de processos de derivação, com uma análise minuciosa, constatou-se a presença de características próprias da aglomeração na estrutura morfológica destes sinais.

A autora, Janine Soares de Oliveira, é professora do Departamento de Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Estudos da Tradução pela UFSC, é Mestre em Ensino de Matemática pelo CEFET-RJ e graduada em Matemática pela Universidade Federal Fluminense. Desenvolve pesquisas na área de tradução de textos especializados, organização de corpus e análise linguística de unidades terminológicas em Libras.

Já o autor do artigo é Markus Johannes Weininger, professor do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UFSC. É Doutor em Linguística pela UFSC e Mestre em Ciências Políticas pela Ludwigs Maximilian Universität, Alemanha. Dentre as inúmeras áreas de atuação, também pesquisa sobre os aspectos linguísticos, tradução e interpretação de língua de sinais

Segundo os autores, no ano de 2006, com o surgimento do curso de graduação em Letras-Libras da UFSC, uma expansão lexical gigantesca ocorreu à medida que pessoas Surdas passaram a ocupar o meio acadêmico. Conforme conceitos, especialmente linguísticos, iam sendo apresentados na Língua de Sinais, novas propostas de sinais surgiam por todo o país. Contudo, os critérios morfológicos empregados na formação destes sinais não podiam facilmente ser distinguidos, uma vez que trata-se de uma língua jovem e de modalidade gesto-visual, requerendo uma análise mais cuidadosa em cada sinal.

A metodologia do trabalho se deu a partir da análise de 234 vídeos presentes no Glossário Letras-Libras entre os anos 2008 a 2010. O corpus limitou-se aos materiais que não tratassem de nomes de pesquisadores, sinais repetidos ou de polos da Universidade, com isso somaram 100 vídeos úteis para constituição do artigo. Partindo dos descritores de Stokoe, foi realizada a descrição de 31 trilhas utilizando o software ELAN para a análise de cada conceito presente nos vídeos.

Um exemplo apresentado foi o sinal que hoje conhecemos como LETRAS-LIBRAS; os autores passaram a investigar morfologicamente os aspectos formacionais deste item lexical muito utilizado nos dias de hoje. Originalmente, este sinal tinha o aspecto de dois sinais distintos empregados para referir-se ao curso, LETRAS e LIBRAS. Porém, com o passar do tempo e devido ao processo de economia linguística, foram unidos aspectos dos dois sinais e incorporados a um único item lexical.

Foram consideradas as seguintes possibilidades de sinais: itens lexicais formados a partir de outros sinais de duas mãos, itens formados por formas livres com

mudança de algum parâmetro fonológico e itens formados por forma livre ou presa na mão dominante com outras características presentes na mão não-dominante. 53% dos sinais do Glossário Letras-Libras (2008-2010) foram considerados enquanto aglomeração no seu aspecto morfológico.

Não obstante a importância da discussão do texto, uma dificuldade encontrada na leitura se deu a partir da falta de vídeos, ou outras estratégias – como signwriting, que possibilitasse a visualização dos sinais identificados nas glosas. Quando não utilizavam glosas, fotos dos sinais eram empregadas. Entretanto, consistiam em fotos em preto e branco e com baixa qualidade, que dificultavam a percepção do sinal por conta disto.

Trata-se de um artigo interessantíssimo e que traz na prática as aplicações teóricas desenvolvidas por diversos autores ao longo dos Estudos Linguísticos da Libras e marca, em especial, o desenvolvimento das teorias e hipóteses acerca da configuração morfológica da Língua de Sinais, como vistos em Quadros e Karnopp (2004), Brito (2010) e outros autores.

Por esse e vários motivos, o artigo “Processos morfológicos de formação de itens lexicais em Libras:o caso particular da aglomeração” é um material de grande relevância e importante leitura aos estudiosos das línguas de sinais, principalmente aos graduandos do curso de Letras Libras, por elucidar de forma clara e objetiva a origem de signos linguísticos frequentes do meio acadêmico e do próprio sinal que nomeia o curso.

REFERÊNCIAS

BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de línguas de sinais. 2. ed. Rio de Janeiro: TB – Edições Tempo Brasileiro, 2010. 273 p.

OLIVEIRA, Janine Soares de; WEININGER, Markus Johannes. Processos Morfológicos de Formação de itens lexicais em Libras: o caso particular da aglomeração. Revista Sensos, Porto, v. 6, n. 2, p. 99-112, dez. 2016.

QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

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