Criando magia: um relato de experiência

21/11/2023 08:24

Por Lara Malafaia Vieira

Bacharelado em Letras-Libras

Bolsista Acessibilidade PET-Letras

 

No ano de 2018, enquanto ainda fazia a faculdade de fonoaudiologia, tive minha primeira experiência de intercâmbio. Nunca tinha passado pela minha mente em morar três meses fora do país, longe da minha família –  e ainda mais trabalhando com merchandise, ou seja, com a venda de produtos como camisetas, canecas, ursinhos de pelúcia, no Walt Disney World Resort em Orlando.

Para começar, passei perrengue no aeroporto e a viagem, que deveria ser de 10 horas, levou 24 horas. Chegando lá fui direto para o hotel em que ficaria com uma amiga; no dia seguinte seguiríamos para o condomínio que moraríamos nos próximos meses. O nome do condomínio era Chatham Square, e lá morei com mais cinco “gringas”, cada uma de um estado norte-americano diferente. Eu era a única brasileira vivendo uma cultura muito diferente, enquanto minhas amigas brasileiras acabaram “caindo” com outras brasileiras, então tinham o “gostinho de casa” constantemente. Já eu acabei ficando com as norte-americanas e fiquei muito amiga de uma delas. Ela me apresentou os musicais mais conhecidos nos EUA e ainda me fez comer os famosos biscoitos de natal, construindo ainda a Gingerbread House, aquela casinha que vemos em filmes (algo me chocou: eles não comem a casinha, eles deixam simplesmente em exposição até o mês de janeiro).

Meu local de trabalho era a World of Disney, a maior loja da Disney do mundo, localizada na Disney Springs. A loja tinha seis grandes áreas de produtos separadas por temas como Star Wars, princesas, seasonal, camisetas gráficas, roupas em geral e um combinado de pelúcias e as famosas orelhinhas; três áreas de caixas registradoras; e três estoques. Cada dia recebíamos de duas a três posições de trabalho, indo desde trabalhar no caixa até atender os pedidos dos Cast Members (CM), trabalhadores, no back of the house, lugar onde os clientes não podiam entrar.

Descrição da imagem: em frente a uma parede de prateleiras com bonés coloridos, uma moça morena de cabelos pretos longos, óculos preto, vestida com uma camiseta de manga comprida xadrez com tons de azul e cinza, calça jeans e uma bolsa lateral retangular preta com pins coloridos. A moça está apontando para o crachá com os dedos indicadores.

Além de poder trabalhar diariamente no mundo Disney, eu tinha livre acesso aos parques e aos resorts durante meu período de trabalho no intercâmbio. Então, todos os dias antes do trabalho, dava uma passada em algum dos parques para poder ir em algum brinquedo ou comer algo para depois ir trabalhar.

Para trabalhar na Disney temos que saber e colocar em prática as quatro (agora cinco) “Keys”., que são: show, cortesia, segurança, eficiência e a última adicionada, inclusão. Essas cinco chaves são essenciais para um atendimento “no estilo Disney”, causando uma experiência mágica para seus clientes.

Essa experiência foi tão mágica para mim e boa para meu crescimento pessoal que, em 2022, no meio da faculdade de Letras-Libras, decidi voltar para o intercâmbio; porém, desta vez morei com mais três brasileiras, uma delas minha amiga de Floripa; morei em um condomínio recém inaugurado; e trabalhei em uma área diferente. Eu era Quick Service; nessa área, trabalhava com venda de comidas e bebidas no restaurante Pizzafari no parque Animal Kingdom.

Descrição da imagem: em frente à cozinha com bancadas (e  potes, paredes de azulejos coloridos formando desenhos do fundo do mar e três pessoas), encontra-se uma moça morena (a autora do texto) com cabelos pretos presos em coque baixo, óculos, chapéu, vestida com uma camiseta de manga longa estampada com tons de verde, com barra da manga em verde escuro, um avental verde claro por cima, e o crachá com o nome preso do lado direito.

 

O “Pizza”, para os íntimos, era um restaurante que vendia três sabores de pizza: queijo, pepperoni e salsicha com pepperoni; saladas Caesar com e sem frango; sanduíche de frango parmegiana; os famosos cupcakes decorados; e bebidas diversas. Durante o momento de trabalho lembro como meus co workers, achavam estranho as famílias brasileiras pedirem ketchup, maionese e mostarda para comerem junto com a pizza.

Uma das posições de trabalho que mais gostava era ficar ou de filler, que montava as bandejas com as comidas, ou na de greeter, que ficava dando boas-vindas na porta. Nessa segunda posição  eu tinha um grande contato com as pessoas que estavam passeando pelo parque e dava dicas sobre locais para comer, melhores brinquedos para ir, onde tirar foto com os personagens etc.

Essas experiências de intercâmbio me fizeram pensar em como minha segunda faculdade poderia entrar nessa vivência do mundo Disney, até que um dia atendi uma guest italiana surda que conseguiu se comunicar comigo por meio de sinais internacionais. Eu entendi tudo o que ela estava dizendo, por mais que não soubesse sinais internacionais. Minha irmã, que foi fazer o intercâmbio comigo, me fez uma surpresa e pediu para confeccionarem uma name tag que é nossa identificação de nome, país e língua que falamos, com a escrita sign language (escrita de sinais).

Descrição da imagem: em frente do castelo do Magic Kingdom iluminado com tons de azul, roxo e rosa; é noite e várias pessoas estão ao fundo. Numa nametag está escrito: o símbolo de 50 anos da Walt Disney World, Laila, Niterói, Brazil, “the most magical place on earth” e português. Ao lado, na outra nametag, está escrito: o símbolo de 50 anos da Walt Disney World, Lara, Niterói, Brazil, “the most magical place on earth”, português e duas configurações de mão em “S” e “L”.  

 

Cada um dos intercâmbios criou amizades que ainda nutro. Penso que sou muito feliz por ter essas experiências e pelas pessoas e memórias que carrego comigo.

Comments