O fenômeno “k-pop” transcendendo a esfera musical

29/09/2023 07:21

Por Daniely de la Vega

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Segundo o Colab[1] (2022), a erupção da cultura sul-coreana em países não asiáticos está muito distante de ser apenas uma eventualidade. No final da década de 1990, durante uma crise econômica, a Coreia do Sul necessitava combater a entrada de produtos estrangeiros em seu território, pois a importação enfraquecia a produção e o consumo da indústria nacional e de bens culturais. Em uma tentativa de solucionar esse problema, o governo local começou  a investir especialmente no setor cultural, promovendo o desenvolvimento e a exportação massiva de produtos nacionais que se distinguiriam sobre os demais. Assim, surgiu o fenômeno cultural hallyu, conhecido também como “onda coreana” ou “invasão coreana”, que consiste na popularização da cultura sul-coreana no mundo inteiro.

Atualmente, as obras sul-coreanas ocupam espaços nunca imaginados no passado. Por exemplo, em 2020, Parasita se tornou o primeiro longa-metragem de “língua estrangeira” a vencer a categoria Melhor Filme no Oscar (COLAB, 2022). Os k-dramas (telenovelas sul-coreanas), como Squid Game e Vicenzo, encontram-se frequentemente no Top 10 da Netflix. Além disso, o k-pop (música pop sul-coreana) tornou-se um fenômeno gigantesco, sobretudo entre os jovens da geração Z – nascidos entre os anos de 1995 e 2010. Grupos de k-pop como BTS e NewJeans são constantemente localizados no topo dos gráficos da Billboard e das tendências do “X”.

Também em 2020, o BTS foi o primeiro grupo de k-pop a ser indicado ao Grammy Awards, na categoria Melhor Performance de Dupla/Grupo Pop, com o sucesso Dynamite. Formado por sete membros masculinos (RM, JIN, SUGA, j-hope, Jimin, V e Jung Kook), o BTS se sobressai sobre os demais grupos de k-pop. Contudo, não é somente por suas composições, sua estética e suas coreografias complexas, mas também por sua influência positiva sobre seus fãs que ultrapassa a dimensão musical.

Em 2021, antes da abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, o grupo sul-coreano discursou em prol da vacinação contra Covid-19 e parabenizou os jovens de todo o planeta por sua resiliência ao longo da pandemia (G1, 2021). Em 2022, atendendo a um convite do presidente Joe Biden, o grupo visitou a Casa Branca para falar sobre inclusão e representação de pessoas asiáticas, crimes racistas e descriminação contra essa comunidade (G1, 2022).

Imagem: o grupo BTS realizando seu discurso antes da abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU. Alinhados lado a lado, seis jovens vestidos de terno com microfones nas mãos. Um deles discurso enquanto outro segura um cartaz.

Fonte: Google Imagens

Sob influência do grupo sul-coreano, nasceu o ARMY Help the Planet (AHTP), um movimento social que atua como organização não governamental, fundado pela união de esforços do fã-clube brasileiro do BTS. Assim como seus ídolos musicais, o ARMY – como os membros do grupo nomearam seu fã-clube – também é globalmente conhecido por seu engajamento em ações filantrópicas. O ATHP é a primeira iniciativa brasileira direcionada ao desenvolvimento de ações de cunho social e ambiental de modo institucionalizado. Esse projeto possui uma equipe de pessoas voluntárias especialistas em diversas áreas do conhecimento, desenvolvendo ações locais (ARMY HELP THE PLANET, entre 2019 e 2022). Neste momento, o AHTP contabiliza mais de 88 mil seguidores somente em sua página no “X” e detém parceria com organizações como o Greenpeace e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Dentre as diversas campanhas promovidas pelo AHTP, podemos mencionar como exemplo a ARMY Help Manaus, que ocorreu em parceria com a instituição Moradia e Cidadania e arrecadou mais de 59 mil reais para financiar suprimentos médicos e outros itens necessários para pacientes internados em decorrência do Covid-19 em Manaus (AM). Na mesma linha, também houve a iniciativa ARMY contra a fome, que aconteceu em parceria com a Fiocruz e a Fundação de Apoio à Fiocruz (Fiotec) e arrecadou mais de 60 mil reais para financiar a doação de cestas básicas para famílias vulneráveis durante a pandemia. Além disso, no decorrer do ano de eleição presidencial de 2022, o AHTP realizou a campanha Tira o Título ARMY nas redes sociais, que buscava influenciar os cidadãos maiores de 16 anos a obterem seus títulos de eleitor, afora informar e conscientizar jovens sobre assuntos relacionados à política e a aspectos práticos para a obtenção desse documento.

O fenômeno “k-pop”, atualmente liderado pelo grupo BTS, é uma das maiores referências da cultura coreana entre os jovens do mundo inteiro. Entretanto, enquanto outros grupos de k-pop se limitam a cantar sobre o habitual, como relacionamentos amorosos, o BTS também acende reflexões sobre bullying, elitismo, saúde mental, dentre outras pautas importantes, mostrando-nos sua preocupação com questões atuais. Por fim, concluímos que o BTS não se transformou somente em um grupo extremamente influente na indústria musical, mas também em uma ferramenta política.

[1] Colab é o portal de conteúdos do Laboratório de Comunicação Digital da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

 

REFERÊNCIAS

ARMY HELP THE PLANET. Sobre o AHTP. Entre 2019 e 2022. Disponível em: https://www.armyhelptheplanet.com/sobre. Acesso em: 27 set. 2023.

COLAB. Hallyu: como a Coreia do Sul transformou o k-pop em ferramenta política. 2022. Disponível em: https://blogfca.pucminas.br/colab/hallyu-como-a-coreia-do-sul-transformou-o-k-pop-em-sua-principal-ferramenta-politica/. Acesso em: 27 set. 2023.

G1. BTS visita a Casa Branca e denuncia racismo contra asiáticos nos EUA. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2022/05/31/bts-visita-a-casa-branca-e-denuncia-racismo-contra-asiaticos-nos-eua.ghtml. Acesso em: 27 set. 2023.

G1. Na ONU, BTS incentiva vacinação contra a covid-19 e lança clipe na sede das Nações Unidas. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2021/09/20/bts-assembleia-onu.ghtml.  Acesso em: 27 set. 2023.

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