Literatura surda: os conceitos de Karnopp, Mourão e Sutton-Spence

08/09/2023 17:29

Por Franciane Ataide Rodrigues

Letras Libras

Bolsista PET-Letras

Alguns autores conceituam a literatura surda e apresentam pontos para que uma produção seja considerada como tal. Para Karnopp (2010), a literatura surda é produzida em sinais e apresenta cultura e experiência surdas, possibilitando a tradução da experiência visual, representação e disseminação de conhecimento linguístico. Podem ser produzidos contos, lendas, fábulas, piadas, poemas sinalizados, anedotas etc:

A expressão “literatura surda” é utilizada no presente texto para histórias que têm a língua de sinais, a identidade e a cultura surda presentes na narrativa. Literatura surda é a produção de textos literários em sinais, que traduz a experiência visual, que entende a surdez como presença de algo e não como falta, que possibilita outras representações de surdos e que considera as pessoas surdas como um grupo linguístico e cultural diferente (Karnopp, 2010, p. 161)

Já para Sutton-Spence (2021), para ser considerado como literatura surda, um texto deve apresentar pelo menos um dos quatros critérios listados por ele: 1) ser feita por surdos, podendo ser criada e apresentada por surdos ou podendo ser elaborada originalmente por ouvintes, porém, posteriormente adaptado por surdos; 2) tratar da experiência de ser surdo e do conhecimento da cultura surda; 3) ter o objetivo de atingir principalmente o público surdo, mas também pode atingir os pais de crianças surdas ou professores que trabalham com alunos surdos, estudantes de Libras e outros participantes da comunidade surda; e 4) ser apresentada em Libras.

Também temos a perspectiva da literatura surda apresentada por Mourão (2011), que diz que a literatura surda traz histórias de comunidades surdas ou processos sociais e as práticas discursivas relacionadas que circulam em diferentes lugares e em diferentes tempos. No processo de criação do material, ocorre o desenvolvimento da criatividade do indivíduo surdo, a reflexão sobre os valores e modelos presentes através de várias gerações e emoção. Para o autor as crianças surdas deveriam estar envolvidas com leituras e ler pessoas e objetos ao seu redor, elas necessitam de informações e conhecimentos de forma que conseguissem enxergar a sua própria língua, a língua de sinais, e o português como L2, para assim confiarem no mundo adulto surdo, e então surgiriam mais histórias: “[…] já se sabe há bastante tempo que a literatura tem poder de influenciar o público que lê, fazendo as pessoas viverem suas histórias e acreditarem nas representações. Mesmo que seja difícil comprovar como os livros produzem opiniões e comportamentos, o fato é que isso acontece com frequência” (Mourão; Silveira, 2009, p.2).

Com isso, entende-se que existe uma série de critérios para que uma produção seja considerada literatura surda, e que não apenas a presença de personagem surdo ou de língua de sinais possa o definir como tal.

Para melhor compreensão e divulgação de literaturas surdas/sinalizadas, seguem algumas indicações:

  • a editora Arara Azul disponibiliza a coleção Clássicos da Literatura, no formato CD-ROM em LIBRAS/Português, em que uma equipe de tradutores faz a tradução da língua portuguesa para a Libras, disponível em: http://www.editora-arara-azul.com.br/.
  • Alguns exemplos de literatura Surda infantil: Alice para Crianças (Carroll, 2013), O Velho da Horta (Vicente, 2004) e A Ilha do Tesouro (Stevenson, 2008).
  • Há também obras para jovens e adultos da literatura surda, tais como: Bolinha de ping-pong (Segala, 2009), Estrelas das mulheres (Pedroni, 2017) e O passarinho diferente (Pimenta, 1999). Estão disponíveis em: https://portal-libras.org/.

 

REFERÊNCIAS

A ILHA do Tesouro. Escrito por Robert Louis Stevenson. Tradução: Clélia Regina Ramos. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2008. 1 DVD.

BOLINHA de ping-pong. Produção de Rimar Romano Segala. [S. l.: s. n.], 2009. 1 vídeo. Disponível em: https://portal-libras.org/ver-material/bolinha-de-ping-pong. Acesso em: 03 set. 2023. DURAÇÃO, LOCAL E 2009

CARROLL, Lewis. Alice para Crianças. Tradução de Clélia Regina Ramos. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2013.

ESTRELAS das mulheres. Produção de Victoria Pedroni. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo. Disponível em: https://portal-libras.org/ver-material/estrelas-das-mulheres. Acesso em: 03 set. 2023.

O VELHO da Horta. Escrito por Gil Vicente. Tradução: Marlene Pereira do Prado e Juan Nascimento Guimarães. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2004. 1 CD-ROM.

O PASSARINHO diferente. Produção de Nelson Pimenta. [S. l.: s. n.], 1999. 1 vídeo. Disponível em: https://portal-libras.org/ver-material/o-passarinho-diferente. Acesso em: 03 set. 2023.

KARNOPP, Lodenir Becker.  Produções culturais de surdos: análise da literatura surda. Cadernos de Educação (UFPel), v. 19, p. 155-174, 2010.

MOURÃO, Cláudio. Literatura Surda: produções culturais de surdos em Língua de Sinais. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

MOURÃO, Cláudio; SILVEIRA, Carolina. Literatura infantil: música faz parte da cultura surda? Anais do Seminário Nacional: Educação Inclusiva e Diversidade – Taquara: FACCAT – Faculdades Integradas de Taquara, 2009. CD-ROM.

SUTTON-SPENCE, Rachel. Literatura em Libras. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2021.

 

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