“Beijo de Línguas”: a imersão cultural do intérprete no Slam
Por Vitória Cristina Amancio
Letras – Libras
Estagiária de Acessibilidade
A Libras, Língua Brasileira de Sinais, tem crescido e alcançado cada vez mais pessoas. Num mesmo movimento, a luta do povo surdo tem crescido igualmente, por busca de direitos e espaços na sociedade. Igualmente, tem crescido o movimento da Slam Poetry, popularmente conhecido como Slam, um gênero de poesia nascido nas periferias norte-americanas e trazido ao Brasil no ano de 2008, por Roberta Estrela D’alva.
Descrição da imagem: na imagem, um slammer (poeta) com o microfone se apresentando no evento Slam Estrela D’alva para diversas pessoas
Na comunidade surda, porém, o Slam chega um pouco depois, com o Slam do Corpo, idealizado para que pessoas surdas e ouvintes expressem suas poesias, o orgulho de sua língua, e a longa luta por seus direitos e suas identidades – surdas ou não.
Descrição da imagem: na imagem, uma poeta surda, de cabelos cacheados, pele branca e roupas pretas, apresenta sua poesia em língua de sinais no evento Slam Estrela D’alva.
Mas afinal, o que é o Slam? São batalhas e competições de poesias faladas, nas quais se materializam dores, angústias, sofrimentos e as resistência e lutas de certas comunidades. Cresceu e cresce em grupos que sofrem com desigualdades e faltas de direitos. A Slam Poetry pode ser encantadora, emocionante, mas acima de tudo, é sempre um protesto.
As batalhas podem ser tanto sinalizadas – nas línguas gestuais visuais, neste caso, a Libras – quanto realizadas nas orais auditivas, como o português.
Porém, como essas línguas perpassam uma para a outra? O tradutor-intérprete é crucial neste movimento, para que várias culturas se encontrem, se relacionem, e acima de tudo, conheçam as lutas pelos direitos de vários grupos. Sendo este movimento conjunto apelidado de “Beijo de Línguas”, por um artista surdo, Leo Castilho, quando a performance da poesia envolve as duas línguas.
Descrição da imagem: na imagem, um poeta de roupas pretas com a logo do PET-Letras apresenta sua poesia, acompanhado por um intérprete de língua de sinais, que veste preto e sinaliza.
Sendo assim, não deveria o intérprete (Português-Libras) conhecer todas essas lutas? Conhecer todas estas vivências? Transitar entre essas culturas?
Para interpretar estas vozes, não bastam apenas conhecimentos literários e poéticos, mas também conhecimentos extralinguísticos, que ultrapassam sinais e palavras e alcançam vivências. É essa a tarefa de nós, intérpretes e participantes ativos dos slams.
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