Miley Cyrus: Just an Ordinary Girl
Por Hanna Boassi
Bolsista PET – Letras | CNPq
Letras-Português
Miley Cyrus conquistou seu lugar em 2006, quando deu vida a personagem Hannah Montana na série homônima no Disney Channel, que, além de tê-la lançado ao estrelato, também a consolidou como uma das figuras mais influentes de uma geração. Em agosto deste ano, no evento D23 da empresa, Miley foi nomeada a artista mais jovem ao receber o título de Disney Legend, concedido a artistas que deixaram uma marca duradoura na história da empresa e na cultura pop.
Em seu discurso ela refletiu sobre sua trajetória, destacando a importância de Hannah Montana em sua carreira, também mencionou sua fase rebelde: “Houve um burburinho naquele escritório da Disney, onde há rumores de que eles criam todos nós, crianças da Disney. Eu definitivamente não fui criada em um laboratório, e se fui, deve ter havido um bug no sistema que causou meu mau funcionamento em algum lugar entre os anos de 2013 e 2016. Desculpe, Mickey”.
Descrição da imagem: Se observa em um fundo luminoso rosado a cantora Miley Cyrus vestida de preto segurando seu título de Disney Legend no evento D23 promovido pela empresa Disney.
A fala de Miley ao receber o título demonstra sua habilidade em equilibrar sua gratidão com uma crítica à maneira como a cultura pop lida com o crescimento das figuras públicas que iniciaram muito jovens em sua carreira. Ao mencionar o “burburinho” e a ideia de que os atores mirins são criados em laboratórios, Miley ironiza a expectativa de perfeição e controle associada às “crianças da Disney”, já que há uma tendência em idealizar e manter esses artistas em um estado de eterna juventude e pureza, o que cria uma dicotomia entre a figura pública/personagem e a pessoa real que está em constante transformação.
Esse bug mencionado por ela em seu discurso representa a quebra dessa idealização, apontando para o período entre 2013 e 2016, quando Miley passou por uma fase de desvinculação da imagem inocente e doce de Hannah Montana, adotando uma postura mais provocativa e experimental em sua carreira e em sua vida pessoal, estreando com seu álbum Bangerz (2013). O pedido de desculpas a “Mickey” representa uma forma de reconciliação, reconhecendo tanto o valor da experiência trabalhando na Disney quanto a necessidade de afirmar sua individualidade.
Descrição da imagem: A imagem é a capa do álbum “Bangerz” da Miley Cyrus. No centro, Miley está posando em frente a um fundo com plantas estilizadas. Ela veste um casaco preto longo com uma abertura na parte inferior, sem calças ou saia visível. Seu cabelo está penteado para trás, e ela usa batom vermelho e joias douradas, incluindo um colar com um pingente. Na parte superior esquerda, há um retângulo inclinado com a palavra “Bangerz” escrita em uma fonte cursiva rosa neon, que adiciona um toque retrô e vibrante ao visual. O fundo é uma mistura de cores gradientes que vão do rosa ao roxo, com o nome “Miley Cyrus” em letras espaçadas na parte superior e inferior da imagem.
É nesse contexto de renegociação da sua própria imagem que a música Used to Be Young se torna um ponto central em sua trajetória. Lançada em agosto de 2023, a canção expressa a reflexão sobre quem ela era no passado e quem ela é hoje, retratando uma despedida do seu antigo eu e deixando as consequências de atitudes imprudentes para trás.
It’s not worth cryin’ about
the things you can’t erase
like tattoos and regrets
words I never meant
and ones that got away.
Miley se utiliza da música para articular e negociar sua identidade, refletindo sobre sua trajetória e respondendo às expectativas e julgamentos da mídia e público, ressaltando que se lembra de todos os momentos de “loucura” que viveu quando era jovem; hoje, aos 30 anos, não se vê mais da mesma forma.
O uso de pronomes pessoais permite que ela se expresse diretamente a partir de suas experiências e sentimentos; ao usar “eu” para relatar suas memórias, ela estabelece um vínculo pessoal com o ouvinte e também destaca a separação de suas versões:
I know I used to be crazy
I know I used to be fun
You say I used to be wild
I say I used to be young
You tell me time has done changed me
That’s fine, I’ve had a good run
I know I used to be crazy
That’s cause I used to be young
A repetição da frase “I used to be” reforça a ideia de mudança e evolução, ao mesmo tempo que reconhece e aceita seu passado. A interação com o pronome “você” sugere uma conversa com o público, enfatizando a percepção externa contra a própria compreensão de suas experiências.
Ironicamente, a música Ordinary Girl, presente na trilha sonora da série Hannah Montana em 2010, também destaca questões sobre uma dupla identidade. Miley interpreta duas pessoas distintas: a estrela pop Hannah Montana e a adolescente comum Miley Stewart. Essa dualidade não apenas reflete a complexidade da vida pública e privada de um artista, mas também simboliza o conflito entre a persona pública e a identidade pessoal.
Em Ordinary Girl, a personagem Hannah expressa o contraste da imagem idealizada com quem ela é de verdade, a canção explora a frustração de viver sob os holofotes e a dificuldade de manter a privacidade; a música revela uma conexão com a vida real de Miley Cyrus:
I’m just an ordinary girl
Sometimes I’m lazy, I get bored
I get scared, I feel ignored
I feel happy, I get silly
I choke on my own words
I make wishes, I have dreams
And I still want to believe
Anything can happen in this world
For an ordinary girl
A reflexão presente na canção antecipa a renegociação mais madura de sua identidade expressa em Used to Be Young, onde ela continua a explorar e afirmar sua autonomia frente às expectativas e rótulos impostos pela mídia.
Descrição da imagem: Se observa a cantora Miley Cyrus no videoclipe de sua música I Used to Be Young, ela tem cabelos loiros, está chorando e veste uma camiseta com a imagem do Mickey Mouse sob um corset de paetês vermelho.
No videoclipe da música, Miley faz uma escolha simbólica ao vestir uma camiseta com a imagem do Mickey Mouse, servindo para representar sua conexão com o passado na Disney, mas também oferece uma camada de ironia e crítica, ao utilizar da imagem, ela enfatiza a complexidade de sua jornada e a tensão entre a nostalgia e sua evolução pessoal mais conturbada.
A trajetória de Miley Cyrus, desde sua estreia no Disney Channel até sua nomeação como Disney Legend, é uma narrativa rica em transformações; através de sua carreira Miley navegou entre a imagem doce e idealizada de uma estrela teen e a realidade de suas próprias mudanças e desafios pessoais. Ao afirmar sua autonomia e reconhecer o impacto de suas escolhas, a cantora oferece um testemunho de uma luta pela autenticidade em uma realidade que frequentemente tenta definir e limitar a identidade de figuras públicas.
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