Estudos decoloniais: desafios e perspectivas para a compreensão do poder e dos saberes
Por Tay Muller
Bolsista de Acessibilidade PET-Letras
Letras-Libras
Os estudos decoloniais emergem como um campo interdisciplinar que busca questionar e desmantelar as estruturas de poder e conhecimento estabelecidas pelo colonialismo, como explica Quijano (2005), na análise dos elementos históricos e das dinâmicas sociais da América Latina, que serviram como fundamento para a formulação da proposta epistemológica do sociólogo. Ao desenvolver a noção de “colonialidade do saber”, ele se referiu ao poder epistêmico europeu. “O fato de que os europeus ocidentais imaginaram ser a culminação de uma trajetória civilizatória desde um estado de natureza levou-os também a pensar-se como os modernos da humanidade e de sua história, isto é, como o novo e ao mesmo tempo o mais avançado da espécie.”
A partir da perspectiva decolonial, compreendemos quem são os corpos passíveis a ser violados, modificados, agredidos e tendo suas histórias apagadas assim como suas famílias, cultura, religião, crenças e sonhos. Esses corpos são produção da colonialidade e pensados a partir da “marafunda”:
Esse fenômeno, que prefiro chamar de marafunda ou carrego colonial, compreende-se como sendo a condição da América Latina submetida às raízes mais profundas do sistema mundo racista/capitalista/cristão/patriarcal/moderno europeu e as suas formas de perpetuação de violências e lógicas produzidas na dominação do ser, saber e poder. (Rodrigues Júnior, 2017, p.35)
Este movimento intelectual, que ganhou força especialmente nas últimas décadas, propõe uma leitura crítica da história e dos processos sociais, culturais e políticos, com o objetivo de revelar e subverter as hierarquias e desigualdades produzidas e mantidas pelo sistema colonial e seus legados.
A decolonialidade deve ser lida como um ato de responsabilidade com a vida. A ação decolonial é afeto em suas dimensões éticas/estéticas, de modo que o termo não pode ser reduzido a um neologismo que se hipnotiza na fixação de seus traumas, serpenteando em uma interminável retórica. (Rodrigues Júnior, 2017, p. 35)
Os estudos decoloniais têm suas raízes em movimentos de resistência e emancipação dos povos colonizados. Eles se inspiram em obras seminais de pensadores anticoloniais como Frantz Fanon, que pensava esse processo como algo político mas além disso uma transformação profunda, social e culturalmente. Uma mudança no sujeito que passou pelo processo de colonização, que muitas vezes busca aprovação do próprio colonizador.
A discussão desse assunto e, mais ainda, a aplicação dessa teoria dentro e fora da academia, nos permite entender as sociedades a partir de outras perspectivas, alterando estruturas que oprimem os seres que não sejam o modelo. Ela abre possibilidades de conhecer novas culturas e novos seres de forma mais empática. A partir dessa reflexão, podemos nos sentir convidados a repensar nossas atitudes e a forma que fomos colocados e nos colocamos no mundo.
REFERÊNCIA
RODRIGUES JÚNIOR, L. R. Exu e a pedagogia das encruzilhadas. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
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