Interpretando na faculdade, e agora?

28/04/2024 14:59

Por Lara Malafaia Vieira

Bacharelado em Letras-Libras

Bolsista Acessibilidade PET-Letras

 

 

Desde que entrei na faculdade de Letras-Libras tive oportunidades incríveis de interpretação. Ao entrar no PET-Letras, tive minha primeira interpretação no Slam Estrela D’Alva, que consiste em uma batalha de poesia falada onde os poetas demonstram com todo seu coração: seus gritos, denúncias, experiências e lutas. Sempre tive muito medo de interpretar na área artística, pois durante a faculdade não temos práticas dessa natureza.

Na hora de interpretar tive muito medo, pois não sabia como seria, qual o tema seria abordado ou se os surdos conseguiriam entender minha interpretação. Uma aluna surda, durante os vídeos de abertura, me encorajou a praticar para ir “aquecendo”. Então eu e os outros intérpretes fomos “aquecendo” e entrando no clima. No momento que o Slam começou, um pico de adrenalina correu pelo meu corpo dos pés até a cabeça. Minhas mãos sinalizavam de modo frenético. Ao finalizar a competição olhei para meus colegas intérpretes e sorri realizada por ter conseguido interpretar nessa área nova e que tinha tanto receio. Atualmente, fico animada e muito ansiosa para interpretar o Slam.

Descrição de imagem: fundo preto; sobre p fundo, uma mão segurando uma flor.  Levemente à esquerda, a frase “Slam Estrela D’Alva” na cor branca. Abaixo, a frase “Competição de poesia falada”.

Outro contexto em que tive a oportunidade de atuar no final do ano de 2023 foi a interpretação na área esportiva. Fui convidada para participar do Inter Atléticas (IA), que é um evento onde ocorrem competições de esportes entre atléticas da UFSC. Esportes como futsal, handebol, basquete, vôlei,  atletismo, natação, judô, tênis, xadrez, vôlei de praia e futevôlei, estão presentes nesta disputa. Dois surdos participavam do time de futsal, vôlei e atletismo da Atleticale, a atlética de Letras da UFSC. Com a presença desses alunos nos times eram necessários intérpretes para acompanhamento nas competições e eu fui convidada para ser uma dessas profissionais.

Chegando no dia e no local marcado para a disputa, nos encontramos (toda a equipe) no ginásio da UFSC. Nos reunimos com os surdos para combinar alguns sinais, pois, não tínhamos conhecimento ou formação específicos sobre a prática. Deu-se o início da partida e nós, as intérpretes, ficamos no banco junto com os jogadores reserva. Sempre que o treinador/capitão pedia “tempo”, corríamos para reunir com os jogadores e sinalizar toda a reunião. Sempre ficávamos de frente para os surdos e do lado do capitão que, no momento de adrenalina do jogo, falava muito rápido, fazendo com que nós interpretássemos de modo rápido também. Foi adrenalina pura. Além disso, implantamos, juntamente com a equipe organizadora, panos de sinalização para os juízes balançarem assim que apitassem durante a partida, pois por se tratarem de surdos conhecedores das regras dos esportes era importante a visualização de alertas durante a partida.

Outra experiência: recentemente, recebemos a visita de uma professora da Lituânia, que veio passar algumas semanas em Florianópolis acompanhando uma professora do curso de Letras-Libras. A professora lituana pediu para participar da disciplina Estudos Linguísticos II, que tem como tema a morfossintaxe da Libras e do Português, porém, como a professora só sabia a língua de sinais internacionais, língua de sinais lituana e inglês, a professora da disciplina me pediu, como monitora, para que interpretasse para inglês a aula, já que a mesma seria ministrada em Libras.

Ao chegar na sala, sentei ao lado da professora lituana. A aula começou e eu comecei a interpretar para o inglês. Os alunos iam perguntando em Libras e a professora respondendo em Libras, e eu continuei no meu papel de intérprete. Os exemplos dados sobre derivação e flexão do português eram interpretados para exemplos equiparados no inglês. “Feliz+mente” foi explicado como “Happ+ily”; “instalar” foi traduzido para “install”; e a diferença entre “instalando” e “instalado” foi explicada pela continuidade ou não da ação do verbo, respectivamente. Foi uma experiência única! Me senti extremamente feliz ao final, quando a aula se encerrou, e a professora lituana falou que, sem a interpretação para  inglês, ela não conseguiria entender a aula e ficaria somente no “sorria e acene”. Senti-me muito feliz, ainda, feliz, pois havia sido minha primeira interpretação Libras-Inglês.

Essas experiências irei levar para a vida toda e que com certeza me farão uma profissional tradutora-intérprete preparada para atuar em qualquer contexto.

Comments