Projeto “A poesia caminha pela cidade”
Por Paula Scalvin da Costa
Bolsista PET-Letras
Letras-Inglês
Onde vive a poesia? Onde encontramos passos, traços e registros poéticos ao longo de nossa vida? Entre nossos afetos, talvez. E quais são eles? As pessoas, os lugares, os caminhos…Quais são os personagens do nosso cotidiano que tomam nossa atenção e na narrativa do dia a dia seriam reescritos no mínimo em um parágrafo ou em um verso? Por onde a poesia caminha? Pela escola, nas ruas, nos muros…Na cidade.
Entrelaçando histórias que tinham – têm – sede pela arte, a criação e oportunidade da realização do projeto “A Poesia Caminha Pela Cidade” é apresentado à mim por Luísa Evangelista, partir de conversas sobre poesia e educação, dentro e fora dos intervalos da escola que trabalhava no ano passado, percebendo e refletindo sobre as experiências dos alunos e funcionários através da literatura em qualquer forma que seja. Individualmente e coletivamente, dentro ou além dos muros da instituição. Nessas trocas conversadas, simples e subjetivas, foram evidenciadas inquietações e a necessidade de apresentar e trabalhar a poesia como uma ferramenta de expressão para a juventude. Vem de perceber a não-priorização da expressão por meio da linguagem artística, da literatura…
Descrição da imagem: Descrição de imagem: Cartaz de divulgação do projeto “A Poesia Caminha Pela Cidade”. O cartaz é preenchido principalmente pela cor verde claro. No fundo, tem a foto de um ônibus com algumas pessoas andando. Alguns detalhes em formato de quadrados constam aleatoriamente na imagem. No centro do cartaz tem o nome do projeto escrito em branco: “A Poesia Caminha Pela Cidade”. Na parte superior está escrito “experiências de escrita e escuta” e abaixo (no rodapé) tem os logos dos patrocinadores.
Nos questionamos então: onde é o lugar da arte, se não em todos os detalhes do dia? Há momentos próprios para ela existir? Há coisas específicas que são dignas o suficiente para serem registradas de forma que serão eternizadas, ou ao menos, externalizadas?
Digo: registrar poesia pode ser um ato político. É por meio dela – e outras formas de arte – que expressamos vitórias e inquietações sociais. Criar arte e poesia é anterior até mesmo a escrita. Como discutido em uma aula de Literatura Surda I, em minha interpretação e do meu grupo de trabalho, entendemos que a poesia e a literatura não dependem da escrita para acontecer, uma vez que literatura acontecia muito antes de seu registro e continua existindo independente dela, de forma oral e sinalizada ..
Algo que notei com a experiência com estudantes é que, por vezes, a escrita é reconhecida apenas como ferramentas de registro e possibilidade de expressão apenas para os que “sabem usá-la de verdade”. Quem ensinou as pessoas a usarem as palavras? A linguagem é anterior ao seu registro e a noção de registro. E isso precisa ser apresentado à juventude.
Juntando então, as conversas anteriores, sobre poesia escrita, falada, registrada e o entendimento de que a poesia – e arte – pode ser um ato político quando usada, por exemplo, em movimentos sociais como o Slam (competição de poesia falada) onde, eu e Eduardo Silveira (professor e poeta de Slam com livros publicados), juntamente com Luísa Evangelista (psicóloga, poeta e idealizadora do projeto) e Bárbara Vieira (artista na área de teatro e dança e proponente do projeto) nos conhecemos. Resolvemos pensar nesse projeto – “A Poesia Caminha Pela Cidade” – com o objetivo de transmitir a ideia de que a poesia, a escrita, a escuta e a educação, estão interligadas e não há um jeito único de se fazer ou discutir isso.
A ideia do projeto, vem, enfim, direcionado para estudantes e educadores da Rede Pública do Estado de Santa Catarina, nas escolas de Florianópolis. Tendo seu recorte para vozes por vezes excluídas socialmente, busca criar uma relação entre a expressão da voz, do corpo e da palavra. O projeto então, é escrito e inscrito por minha colega Luísa, no concurso Elisabete Anderle pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC) em 2023 e bem… passou. Ele é composto por oficinas – ou encontros – que buscam estreitar o contato entre a poesia e a escrita com os adolescentes, trabalhando o conceito do “o que é poesia?” seja: visual, escrita, sensorial e outras… ou conceitos individuais “o que é poesia para você?”. No projeto estão: cidade, como o corpo se relaciona com esse lugar do cotidiano, os afetos familiares, as paixões íntimas e por fim, a expressão coletiva sendo enfatizada na escuta e no respeito mútuo, como pilar de exploração.
No momento, o projeto encontra-se na sua fase que chamamos de “produção”, quando estamos de fato em ação nas escolas e não organizando burocracias e lendo e procurando referências para as oficinas (não que seja ruim sentar em uma roda com leitores e discutir literatura). Através das oficinas que estão acontecendo, os participantes têm contato com referências de autores e autoras da poesia, dispositivos de criação (como vídeos e áudios), espaço para exercitar a leitura, a escrita, a escuta e a voz…
Por fim, a poesia caminha pois não se encontra apenas nos livros, mas sim nas ruas, nos passos, nas calçadas e/ou logo ali na esquina. Se encontra nas pessoas, nos muros, nas paredes, nas cadeiras… A poesia se encontra nos olhares, nas palavras… E poesia é nômade, e ela caminha em todos os espaços.
Não podendo escancarar todos os detalhes de nossas atividades mas, se caso quiser acompanhar, o projeto será/está sendo divulgado pelo Instagram @apoesiacaminha.
A poesia salva. E ela também caminha.
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