“Pelo bom, pelo justo e pelo melhor do mundo”: Olga e o Movimento de Mulheres Olga Benário

22/08/2023 07:37

Por Paula Scalvin da Costa

 Letras Inglês

Voluntária PET Letras UFSC

É seguro dizer que as mulheres e identidades femininas são, desde sempre, linha de frente em inúmeras lutas, principalmente sociais. Trocas de experiências pessoais fortalecem a construção unitária coletiva contra o sistema opressor que nos limita, a fim de podermos, juntas, transformá-lo de fato. Trago por meio dessas linhas a apresentação breve sobre o Movimento de Mulheres Olga Benário, que tem sua base na luta das mulheres e identidades femininas trabalhadoras em todos os seus contextos no combate contra o sistema patriarcal e capitalista.

 

Imagem: Marcha das Mulheres no Terceiro Encontro Internacional de Mulheres da América Latina e Caribe. Brasília/DF Julho, 2023

Fonte: Foto por Paula Scalvin da Costa

 

Olga Benário intitula o Movimento Brasileiro pela sua força revolucionária e resistente. Mulher alemã, nascida em 1908, já no início da adolescência teve interesse por leituras marxistas, para além delas, sua consciência revolucionária foi despertada com intensidade pela leitura dos processos que seu pai, Leo Benário –  advogado social-democrata –, defendia. Olga, com quinze anos, ingressou na Juventude Comunista Alemã (JCA) e integrou rapidamente a fileira no Partido Comunista da Alemanha. A “camarada” ganhou maior confiança de seu grupo ao assumir tarefas difíceis, sendo assim, uma militante fervorosa e destemida,  atuando em manifestações de rua, panfletagem nas portas das fábricas, apoio em greves operárias e pichações – além de sua rotina diária de fortalecimento de estudos com jovens trabalhadores (Coordenação Nacional Movimento de Mulheres Olga Benário, 2017).

Em meio a sua construção e avanço como militante, liderou movimentos ousados, como quando seu primeiro parceiro, Otto Braun – experiente militante veterano do Partido – foi preso como suspeito de “alta traição da pátria”, e Olga – também detida – solta dois meses depois, recebeu da direção do Partido a missão de construir uma equipe, chefiando-a pessoalmente com objetivo de tirar Otto da prisão de Moabit.

No dia 11 de abril, a JCA, liderada por Benário, libertou Otto durante um julgamento no tribunal. Após o resgate, os envolvidos foram perseguidos por toda Alemanha, partindo dali em fuga para o primeiro país socialista do mundo, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Uma vez lá, Olga passou a acompanhar a organização da Juventude Comunista em vários países da Europa e foi eleita para a direção da organização.

Em 1934, Olga recebeu do secretariado da III Internacional, organização mundial comunista, a tarefa de acompanhar e dar segurança pessoal ao líder revolucionário latino-americano Luiz Carlos Prestes, que tinha decidido voltar para seu país e comandar uma revolução. Tal tarefa que Olga aceitou e organizou com destreza para que, em 1935, chegassem juntos ao Brasil. Uma vez aqui, encontraram o grande movimento Aliança Nacional Libertadora (ANL) acontecendo, o qual juntava camponeses, operários, estudantes que tinham interesses contrários ao modelo econômico capitalista no país (Coordenação Nacional Movimento de Mulheres Olga Benário, 2017).

O Governo Getúlio Vargas decretou a ilegalidade da ANL, mas as massas reagiram. Infelizmente, o movimento de rebelião do Partido Comunista foi derrotado, desencadeando um período de estado de sítio, quando apoiadores e militantes foram presos e torturados. Benário e Prestes foram presos em março de 1936, no Rio de Janeiro.

Olga foi presa grávida, o que pela Constituição Federal garantia sua permanência no país, mas foi entregue para Hitler por Getúlio Vargas. Dia 18 de outubro chegou à prisão da Gestapo, onde deu à luz a sua filha Anita Leocádia, que se tornou militante comunista como os pais e historiadora – resgatando a história de seus antecessores.

Olga Benário foi conduzida primeiramente para o campo de concentração de Lichtenburg, seguido de Ravensbruck, mas não se desanimou ou se angustiou. Dentro do campo, conquistou a confiança das prisioneiras e as liderou, despertando suas consciências dando aulas e explicando o porquê de estarem ali. Desenhando, se preciso, para explicar a União Soviética e a guerra que acontecia – e o monstro nazifacista que dominava a sociedade na época, recebendo por conta disso inúmeras punições (Coordenação Nacional Movimento de Mulheres Olga Benário, 2017).

Ao completar 34 anos, Olga teve seu nome chamado, e antes que fosse conduzida a sair da cela e ir para o veículo que a levaria ao decesso escreveu um último bilhete registrando seu amor pelo marido e filha, com as últimas frases sendo: “Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Até o último momento manter-me-ei firme com a vontade de viver. Beijo-os pela última vez. Olga.”

O Movimento de Mulheres Olga Benário se inspira e é nomeado pela alemã desde seu surgimento, intensificado pela necessidade de organização das mulheres brasileiras para a luta contra a violência, a opressão e a exploração da mulher – e das identidades femininas – e as injustiças existentes na nossa sociedade.  A organização nasceu por meio da delegação brasileira na 1º Conferência Mundial de Mulheres de Base, na Venezuela, em 2011, quando papel da delegação se deu como fundamental dentro da América Latina, assumindo junto com outros países a responsabilidade de organizar a Conferência de Mulheres das Américas.

Imagem: Marcha das Mulheres no Terceiro Encontro Internacional de Mulheres da América Latina e Caribe. Brasília/DF Julho, 2023

Fonte: Foto por Paula Scalvin da Costa

 

Depois disso, o movimento só expandiu e cresceu cada vez mais. O Movimento de Mulheres Olga Benário atua em Santa Catarina, tendo núcleos fortalecidos em cada espaço fomentado por um grupo de militantes. Temos na Universidade Federal, o Núcleo UFSC, com o objetivo de centralizar as lutas das mulheres universitárias estando presentes nas organizações de atuação sobre o direito à creche e auxílio às mães universitárias, contra o assédio, pela ocupação de espaços de liderança e representação, pela realização de estudos coletivos para recordar e endereçar nossos combates, e também com o intuito de criar um lugar seguro e resistente de mulheres organizadas (Coordenação Nacional Movimento de Mulheres Olga Benário, 2017).

Assim, é importante concluir a apresentação chamando as mulheres e identidades femininas pretas, indígenas e LBTQIAP+  para se organizarem, participarem e conhecerem as lutas históricas com o objetivo de fortalecimento de nossa memória, uma vez que recordar é agir.

Conheça o Movimento de Mulheres Olga Benário!

 

 

REFERÊNCIA

COORDENAÇÃO NACIONAL MOVIMENTO DE MULHERES OLGA BENÁRIO (org). Cartilha do Movimento de Mulheres Olga Benário. Brasil, 2017.

 

 

 

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