A história por dentro da história: Conceição Evaristo                                 

12/06/2023 14:52

Por Tay Muller

Bolsista- PET Letras

Letras Libras

Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946, em uma família grande de muitos irmãos; em sua carreira acadêmica cursou letras, é professora e escritora. Escreve e descreve situações do passado, histórias dos nossos ancestrais  entrelaçando com as do nosso cotidiano. A essa perspectiva ela dá o nome de escrevivência.

Segundo a autora, a ideia de escrevivência passa pelo individual e pelo coletivo. A forma como o corpo negro foi introduzido na sociedade e a forma pela qual eram e são tratados são a base dessa forma de escrita. Sua diferença é  que ela apresenta um relato interno dessa experiência, do cotidiano, dos sentimentos, das posições sociais, da sensação particular e coletiva que o corpo negro partilha em qualquer espaço que esteja. Esses fatores refletem-se  na construção literária, como explica a autora em um vídeo na plataforma digital do Youtube, ao canal “Leituras brasileiras” publicado em 6  de fevereiro de 2020.

Descrição da imagem: foto de Conceição Evaristo, uma mulher Preta, de cabelo brancos encaracolados. Ela está sentada numa cadeira de madeira, traja uma roupa verde  e um colar branco. Atrás dela, há uma estante de madeira com livros.

Nesse vídeo, Evaristo fala que se percebia uma crítica literária que não acreditava que a experiência negra poderia ser considerada arte; entretanto, autores não negros, nesse mesmo período, como: Os tambores de São Luiz, de Josué Montello, e as obras de Jorge Amado, que se baseiam na cultura Afrodiaspórica essa escrita era considerada a arte de falar de Negro – desde que o artista não fosse um “preto”(nós, pessoas Pretas,  fomos privadas contar a própria história).

Evaristo cita Leda Martins e sua obra Um defeito de cor, uma história sobre Luiza Mahin, para explicar o papel da literatura neste “vácuo” – no qual  a história  não consegue contar quais foram os caminhos do povo Negro. Ela conta que a partir de Leda entende que o passado ainda não terminou, então “trabalhar o passado é reivindicar uma posição de dignidade no presente”;  a literatura nos ajuda, assim,  a afirmar nossa identidade Afro-brasileira.

Para apresentar a poética da realidade, a autora diz que precisou de muito exercício, escolher as palavras, decifrar sentimentos. Ao fazer uma paralelo com Miriam Alves, também escritora, ressalta de que lugar vem esta escrita: se eu descrevo uma cena onde uma há uma empregada doméstica, enquanto mulher negra escrevo de dentro do quarto de empregada olhando pra patroa, reiterando que é uma experiência individual, e é histórica.  Para exemplificar seu tipo de escrita, ela cita alguns de seus livros: Ponciá Vivencio, um livro que retoma o processo da escravização, mas que se funde com o presente, uma busca pela ancestralidade do povo africano. Este livro, segundo Evaristo, dialoga com o corpo Preto de crianças, adultos, e os mais velhos; Becos da memória, que também apresenta o imbricamento do passado escravista com o cotidiano; fala em seguida de Olhos d’água, um livro de contos permeado por essa temática.

Ela descreve seu processo de escrita: em alguns momentos, precisou parar, por vezes deixar o livro de lado e depois retomar, pois o partilhar do sentimento de dor, segundo Evaristo, também dói no corpo de quem escreve e por isso acaba levando mais tempo durante a criação. O último livro que a autora apresenta  é uma resposta a indagação de uma outra pesquisadora, Edileuza Penha de Souza, que a questiona sobre a alegria desse povo e se ela existe; como resposta, nasce o livro “Insubmissas lágrimas de mulheres”, que apresenta mulheres falando de sua alegria já fora da dor.

Para finalizar, Conceição Evaristo  nos explica  seu desejo atual, que é de criar diálogos com textos já conhecidos e entregar um contra-discurso ou um contra-poema como em Carolina Maria de Jesus com Clarice Lispector ou em Recordar é preciso. Para finalizar, ela explica que é o ato de escrever em sua vida,  descrevendo como um exercício, como maneira de não adoecer, como possibilidade de criação. A literatura é a forma que temos de nos agarrar à vida para vencer a dor e escrever é uma forma de sangrar.

 

 

 

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