Anonimato online: por que precisamos dele?

18/04/2023 10:54

Por Andrés Leonardo Salas Garces

Letras – LIBRAS

Bolsista PET Letras

 

O anonimato é uma ferramenta que se utiliza diariamente na sociedade e que pode ter diversas motivações e implicações, tanto positivas como negativas. “Tradicionalmente, aqueles que se beneficiaram do anonimato eram dissidentes, ativistas de direitos humanos, jornalistas e membros de comunidades vulneráveis” (KRAHULCOVA, 2021). Segundo a psicologia e a sociologia, o anonimato outorga para o sujeito um tipo de “poder” sobre a exposição da sua identidade, protegendo-o de consequências que podem vir no caso de ser exposto, no cotidiano. Um exemplo seria uma declaração de amor ou uma denúncia de algum crime. Outro exemplo, dessa vez em que a sociedade se beneficia do anonimato, é nas eleições presidenciais, como no caso do Brasil e da maioria dos países do mundo. Por lei, o governo está obrigado a garantir a privacidade do eleitor com objetivo de que o voto não seja ordenado ou conhecido por ninguém mais; no caso contrário, votar por aclamação, expresso oralmente ou sem privacidade, é considerado coercitivo – quer dizer, um voto influenciado. É o anonimato uma ferramenta necessária para garantir a liberdade de expressão e decisão dos cidadãos.

Em um artigo feito pelos pesquisadores Emily van der Nagel e Jordan Frith, de 2015, algumas pessoas argumentam que o anonimato é a causa do comportamento anti-social e que a eliminação do anonimato resolveria o problema. Por exemplo, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, afirmou que “ter duas identidades para si mesmo é um exemplo de falta de integridade”; sua irmã, Randi, diretora de marketing do Facebook, argumentou que o anonimato na internet deveria ser eliminado e que o comportamento anti-social é um produto do anonimato. No entanto, a identidade não é uma coisa singular e que a autenticidade não significa completa abertura. A apresentação da identidade é influenciada pelo contexto e pelo público. Além disso, as identidades online não podem ser dissociadas da economia política da internet. O Facebook é a maior rede social do mundo e a identidade que os usuários criam na plataforma é utilizada em vários outros sites da internet. O artigo conclui que a compreensão da identidade na internet não é simples e requer uma análise mais aprofundada das complexidades envolvidas.

A tentativa de identificação dos usuários pode se deparar em uma espécie de cruzada contra a “grande-internet-ruim”, promovendo medidas draconianas em nome da proteção dos vulneráveis. No entanto, as medidas muitas vezes acabam prejudicando aqueles que proclamam proteger. Um exemplo claro foram as políticas de privacidade do Facebook: elas obrigavam seus usuários a utilizar o seu nome real no perfil e com o tempo percebeu-se que isto pode ter consequências negativas, pois, afinal, quem se realmente se beneficia do anonimato neste contexto?

Pois bem, em uma pesquisa publicada pela The Geek Feminism Wiki, quase a metade da população mundial se beneficia de pseudônimos. Muitos deles pertencentes a diferentes grupos sociais, mas da longa lista desses grupos, os exemplos mais citados são de vítimas-sobreviventes de violência doméstica que utilizavam pseudônimos por medo a ser encontradas pelo perpetrador (WIKI, 2011). Foi por esse motivo e por alguns outros, como o possível acesso à informação delicada por ataques de hackers, que no ano de 2018 o governo alemão determinou que as políticas de identificação do Facebook eram ilegais.

Descrição da imagem: foto real de fundo cinza com 5 mulheres em ordem de estatura ascendente de direita para esquerda com roupas formais; elas estão segurando um papel tampando o rosto com um desenho de caras de diferentes expressões e formatos. A primeira mulher está vestida de terno aberto e saia cinza com camisa rosa; a segunda mulher de calças cinzas e camiseta branca; a terceira mulher está de terno fechado e calças vermelhas; a quarta mulher esta vestida de camisa branca com estradas finas pretas e calças pretas; a última mulher está de camisa azul claro com calças vermelhas.

Em conclusão, uma boa política pública deve ser baseada em evidências e não em opiniões pessoais ou anedóticas. Os cidadãos merecem uma abordagem regulatória adequada para o mundo interconectado em que vivemos e isso deveria começar com uma atualização da Lei de Privacidade, e não com ideias mal pensadas sobre dar às plataformas digitais cópias de nossos documentos de identificação mais confidenciais.

 

REFERÊNCIAS

KRAHULCOVA, L. Australian Digital Rights Watch. 2021. Disponível em: https://digitalrightswatch.org.au/2021/04/30/explainer-anonymity-online-is-important

WIKI, G. F. (2011). Harassment policy. Fandom. 2011. Disponível em: https://geekfeminism.fandom.com/wiki/Who_is_harmed_by_a_%22Real_Names%22_policy%3F

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