Inteligência Artificial: Até onde uma máquina é somente uma máquina?

09/04/2023 16:51

Por Manoela Beatriz dos Santos Raymundo

Letras – Inglês

Bolsista PET Letras

Descrição da Imagem 1: Vemos uma cidade futurista ao fundo, com prédios altos, com luzes em tons de azul. Na frente, à direita, vemos metade do rosto de Connor, andróide e um dos protagonistas do jogo Detroit Become Human. Ele tem a pele branca, cabelos e olhos castanhos e uma marca circular pequena do lado do rosto, logo acima da sobrancelha. Do seu lado, tampando parte da cidade ao fundo, temos o nome do jogo escrito Detroit Become Human em fonte branca.

É comum vermos máquinas fazendo o trabalho de pessoas e até nos auxiliando no dia a dia, como a Alexa, mas e se a tecnologia avançasse tanto que máquinas como essa começassem a agir como nós, viver como nós? Se você programa uma Inteligência Artificial para agir de maneira mais humana, capaz de sentimentos e tomadas de decisão como a nossa, o que a separaria de uma pessoa humana? Até onde essa máquina seria somente uma máquina?

Existem inúmeras obras que retratam civilizações avançadas e tecnológicas, como Eu, Robô e O Homem Bicentenário, ambas do escritor russo Isaac Asimov e adaptadas para o cinema. Esta temática está cada vez mais recorrente, como no recente Megan (M3GAN), de Gerard Johnstone. Na época em que Asimov escreveu, essa realidade tecnológica parecia distante demais para se pensar, mas estamos cada vez mais próximos delas do que imaginamos.

Descrição da Imagem 2: Um fundo verde com uma logo branca, semelhante a uma flor. Logo abaixo está escrito “Chat GPT” em fonte preta.

Assim é que, em novembro de 2022, foi lançado o Chat GPT, uma inteligência artificial (IA) que simulava um bate papo e respondia a perguntas de forma similar a uma pessoa, fornecendo informações e opiniões sobre diversos assuntos. O diferencial do Chat GPT, em comparação a outras IAs como a Instruct GPT (seu antecessor), é a capacidade de distinguir falsas afirmações, ao invés de forjar uma resposta que simulasse uma explicação do que lhe foi dito. Chat GPT também foi programado para não operar com solicitações racistas, sexistas e afins, apesar de ainda ter certas limitações como respostas confusas.

É de se esperar que esse tipo de avanço com inteligências artificiais seja assustador para alguns. Os próprios filmes nos mostram possibilidades de máquinas se virarem contra a humanidade. É por isso que existem conjuntos de “leis” para quando tratamos de inteligências artificiais: as três leis da robótica. Criadas por Isaac Asimov para seus livros, elas começaram a ser levadas em conta quando se abordava o assunto de IA:

1ª Lei: um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2ª Lei: um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.

3ª Lei: um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

Descrição da Imagem 3: Capa do livro “Eu, Robô”. Um fundo branco. No topo, o nome do autor “Isaac Asimov” em fonte cinza, logo abaixo em fontes maiores, o nome do livro “Eu, Robô”. Cobrindo parte do nome temos uma máscara futurista, com vários cabos e partes metálicas; no lugar dos olhos, duas pequenas lâmpadas.

 

As leis de Asimov cada dia passam a se tornar mais relevantes, tendo em vista o avanço que temos nas IAs. Porém, diferente de Asimov, existe um teste que é realizado em Inteligências Artificiais para verificar se a máquina poderia ser considerada “inteligente”: o Teste de Turing, proposto por Alan Mathison Turing (matemático e cientista da computação inglês). Trata-se de um jogo, chamado O Jogo da Imitação (que ganhou popularidade com o filme de mesmo nome estrelado por Benedict Cumberbatch). O jogo envolve três pessoas (A, B e C): A é uma máquina, enquanto B e C são seres humanos. O objetivo é que a máquina consiga convencer a pessoa C (o juiz) de que ele está conversando com um humano. Se o juiz não conseguir diferenciar a máquina e o humano, é considerado que a máquina passou no teste.

Chat GPT foi a segunda IA a conseguir passar pelo Teste de Turing. O primeiro foi um computador russo que se passou por um rapaz ucraniano de 13 anos chamado Eugene Goostman. Diferente do Chat GPT, Eugene passou no teste mas com algumas ressalvas. A máquina conseguiu convencer ser um adolescente de 13 anos, mas não possuía respostas 100% corretas, o que foi desconsiderado em parte por se tratar de um rapaz de 13 anos – digamos que ele  foi “ajudado” pelo contexto.

Descrição da Imagem 4: Na imagem temos Alan Turing, cientista da computação e matemático britânico. Ele tem pele branca, cabelos e olhos escuros e veste um terno. A imagem está em escala de cinza.

No caso do Chat GPT, podemos realmente considerar uma máquina “inteligente”? Muitos podem achar  até mesmo assustadora a ideia de que máquinas ficam mais inteligentes a cada dia que passa. Muitos criadores de conteúdo, como desenvolvedores de jogos, já imaginam esse futuro, como por exemplo David Cage, diretor de Detroit Become Human

Detroit Become Human é um jogo publicado em 2018 pela Sony Interactive para Playstation 4 e Microsoft Windows. O jogo se passa na Detroit futurista de 2038, onde andróides criados pela empresa CyberLife coexistem no dia a dia dos humanos, cumprindo funções antes destinadas a eles. Por conta disto, uma parcela da população vai contra a implementação dos andróides, alegando que não deveríamos utilizar máquinas para agir como pessoas. 

No jogo, androides que mudam sua maneira de agir em relação a programação que lhes foi dada são chamados Deviantes. Eles começam a duvidar de sua programação, passam a agir conta as ordens e a expressar sentimentos com relação às pessoas. Então, o que separaria esses deviantes de nós, humanos? Uma máquina capaz de expressar emoção, saudade, culpa e vontades, poderia estar próxima a ser uma pessoa. Vemos isso com Chat GPT,por exemplo, que é capaz de expressar opinião acerca de certos assuntos. O quão parecida é essa máquina em comparação a uma pessoa? E o quão distante ela está de ser tratada como um “ser”?

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