Aprendizagem de línguas adicionais: o aluno como protagonista

06/03/2024 15:15

Por Ingryd Giovanna Lima Pereira

Letras – Inglês

Bolsista PET Letras

Com o início do semestre letivo, muitos estudantes de graduação em Letras – Línguas Estrangeiras se preparam para as fases iniciais do estágio obrigatório, incluindo aqueles que estão prestes a vivenciar a experiência de lecionar pela primeira vez. Nesse cenário, surge uma reflexão intensa sobre o papel do professor e passamos a nos questionar qual a nossa função como educadores, e como podemos impactar positivamente o nosso ambiente de atuação.

Antes de considerarmos nosso papel como docentes, é válido refletirmos sobre o que é a língua. A língua é instrumento crucial de expressão, comunicação interpessoal e ação. De acordo com Freire (1987), por meio do diálogo e da escuta ativa, aprimoramos nossa compreensão de mundo. Através desse enriquecimento, atingimos consciência social e buscamos ativamente por transformações sociais. Em síntese, a língua é um instrumento de expressão e ação que constrói percepções profundas do mundo e nos torna capazes de contribuir ativamente para mudanças sociais significativas.

Desta maneira, concerne ao professor possibilitar o desenvolvimento da língua como instrumento de transformação social por meio da análise crítica das necessidades (Benesch, 1996). Isso implica em adotar uma abordagem investigativa em relação ao contexto de ensino dos alunos, possibilitando uma intervenção pedagógica alinhada à realidade dos estudantes. Essa análise investigativa, para tornar o ensino significativo, deve ser um processo contínuo, com a compreensão das demandas evoluindo conforme as circunstâncias se modificam. Além disso, esse olhar vai além das necessidades instrumentais, abrangendo também a compreensão do contexto escolar, ou seja, a estrutura organizacional da escola e a realidade dos alunos.  É crucial que o professor também esteja ciente do conhecimento prévio dos estudantes, identificando seus pontos fortes e fracos, além de compreender suas expectativas e quais habilidades desejam desenvolver no aprendizado da língua. Essa mediação pode ser realizada por meio de questionários ou conversas com a turma, por exemplo. Dessa forma, busca-se não apenas atender às exigências imediatas, mas promover uma compreensão mais abrangente e contextualizada, contribuindo para um ensino mais efetivo e significativo.

Ao colocarmos o aluno no centro do processo de aprendizagem, reconhecemos que o papel do professor é o de mediador do conhecimento. De acordo com Freire (1996), para que o conhecimento seja significativo na vida do estudante, é preciso que o educando esteja centrado no ensino, o professor não deve apenas transmitir conhecimento, ao invés disso, deve propiciar um ambiente no qual os alunos se envolvam ativamente na construção do conhecimento. Os alunos devem sentir que desempenham um papel ativo no processo de aprendizagem, ao contrário, a aprendizagem se torna um mero exercício mecânico de memorização.

O papel ativo do aluno na aprendizagem visa estimular o pensamento crítico. De acordo com hooks (2010) “pensar é ação”, ou seja, o pensamento crítico é desenvolvido quando o aluno dispõe de espaço provido pelo professor para pensar, interagir, raciocinar, criar e questionar. A autora afirma que “o pensamento crítico é um processo interativo, o qual demanda a participação igualitária por parte do professor e por parte dos alunos” (hooks, 2010, p. 9 tradução minha). Quando há interação em sala de aula, criamos uma comunidade no qual o aluno sente que tem algo valioso a proporcionar para o coletivo, o aluno compreende seu lugar de escuta e após refletir, expõe sua opinião quando sente que tem algo significativo para compartilhar. Através da ação do pensar, sua compreensão social se expande, como afirma a autora “A pulsação do pensamento crítico é o desejo de saber – para entender como a vida funciona. (hooks, 2010, p. 7 tradução minha). 

Para criar esse ambiente de envolvimento ativo dos estudantes, é fundamental que nas aulas de línguas adicionais o professor faça a mediação de maneira a tornar as questões compreensíveis, pois, quando o aluno não compreende determinada palavra ou sentença, acaba por gerar um vácuo na comunicação. Long (1996 apud East, 2021 p. 30) destaca a importância do feedback corretivo; faz parte de lecionar trazer o foco do aluno através de perguntas como “você me entendeu?” “você pode repetir o que eu disse?”,  tal como incentivar que outro colega que tenha compreendido explique para aquele que não tenha entendido. Esses movimentos geram interação que facilita a compreensão da língua e a torna significativa.

Em resumo, colocar o aluno no centro do ensino significa entender que a criação de materiais didáticos parte do pressuposto de que os alunos terão a oportunidade de raciocinar e interagir. O professor, por sua vez, desempenha um papel na construção do conhecimento como um mediador, não como o detentor exclusivo do conhecimento e centralizar o aluno é torná-lo protagonista de seu próprio processo de aprendizagem. O conhecimento é realmente construído em colaboração com os alunos e, para que seja significativo, é crucial que ambas as partes atuem em conjunto, com o professor exercendo o papel de mediador do conhecimento, capaz de analisar criticamente o contexto e fornecer espaço para a construção de um conhecimento verdadeiramente significativo.

***Texto adaptado de uma atividade produzida na disciplina Estágio Supervisionado II – Inglês, ministrada pela professora Priscila Fabiane Farias, no semestre de 2023.2.

 

REFERÊNCIAS

BENESCH, S. Needs Analysis and Curriculum Development in EAP: An Example of a Critical Approach. TESOL Quarterly, v. 30, n. 4, p. 723, 1996.

EAST, Martin. Foundational Principles of Task-Based Language Teaching. New York and London: Routledge, 2021.FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz E Terra, 1996.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

hooks, b. Teaching Critical Thinking: Practical Wisdom. New York: Routledge, 2010.

 

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