Mudança de Nome do Campus da UFSC: um passo em direção à memória e à justiça
Por Franciane Ataide Rodrigues
Letras Libras
Bolsista PET-Letras
No dia 17 de junho de 2025, o Conselho Universitário (CUn) da UFSC aprovou com 56 votos favoráveis, a retirada do nome de João Davi Ferreira Lima do campus sede, no bairro Trindade, em Florianópolis. A decisão, construída de forma coletiva, é um passo importante para o compromisso da universidade e de sua comunidade estudantil com a preservação da memória, a defesa dos direitos humanos e a valorização da autonomia acadêmica.

Foto: Gustavo Diehl / Agecom UFSC
Descrição de imagem: a imagem apresenta vários jovens reunidos com cartazes mostrando os rosto de servidores perseguidos na época da didática militar e caixão de papelão. Eles estão com expressão de gritos e revolta.
João Ferreira Lima foi advogado, professor e o primeiro reitor da UFSC, entre 1961 e 1972. Foi durante sua gestão que o campus começou a tomar forma na antiga Fazenda Assis Brasil, no bairro Trindade. Em reconhecimento à sua contribuição nesse processo, seu nome foi dado ao campus como forma de homenagem. Porém, com o passar dos anos, essa homenagem passou a ser questionada, após virem à tona documentos que apontam seu apoio ativo ao regime militar no Brasil, um período marcado por violações aos direitos humanos e à liberdade acadêmica. Em 2023, o Conselho Universitário da UFSC criou uma comissão para dar continuidade às recomendações da Comissão Memória e Verdade (CMV) da universidade.
Todo o trabalho resultou em um relatório, com mais de 60 páginas de documentos que apresentam detalhes dos acontecimentos deste período. Entre os registros, estão evidências de perseguições a estudantes, professores e servidores, muitas delas feitas com o aval ou até mesmo a participação da administração central da UFSC, durante a gestão do então reitor João David Ferreira Lima.

Fotos: Gustavo Diehl / Agecom UFSC
Descrição de imagem: a imagem é um registro do dia da votação sobre a mudança do nome do campus, é um auditório lotado, os assentos da plateia todos ocupados e no palco uma bancada com pessoas sentadas. No canto esquerdo do palco, uma pessoa no no microfone tendo momento de fala. Nos dois cantos superiores do palco, telões com intérpretes de Libras.
A votação foi aberta à comunidade universitária e aconteceu em quatro sessões, resultando em 56 votos favoráveis e apenas 8 contrários. A decisão foi comemorada por estudantes, professores e movimentos sociais ligados à universidade, que consideram a mudança como um ato de reparação histórica e de justiça em memória das pessoas perseguidas e prejudicadas pelas ações de Ferreira Lima durante o período em que esteve à frente da UFSC.
A retificação do nome do campus é um marco na história da UFSC, pois ao encarar de frente episódios difíceis e controversos da sua história, a universidade afirma seu compromisso com a autonomia, com a postura crítica e com os valores democráticos. É um decisão que mostra a importância de refletir sobre o passado e fortalecer a relação entre ensino, cidadania e direitos humanos.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). Decisão coletiva e histórica: UFSC exerce sua autonomia e altera o nome do campus na Trindade. Notícias UFSC, Florianópolis, 30 jun. 2025. Disponível em: https://noticias.ufsc.br/2025/06/decisao-coletiva-e-historica-ufsc-exerce-sua-autonomia-e-altera-o-nome-do-campus-na-trindade/. Acesso em: 30 jun. 2025.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). Decisão sobre troca do nome do campus da UFSC é adiada após pedido de vistas. Reitoria UFSC, Florianópolis, 13 jun. 2025. Disponível em: https://noticias.ufsc.br/2025/06/decisao-sobre-troca-do-nome-do-campus-da-ufsc-e-adiada-apos-pedido-de-vistas/. Acesso em: 30 jun. 2025.



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