As festas universitárias e a cultura surda: os sinais
Por Lara Malafaia Vieira
Bolsista de Acessibilidade PET-Letras
Letras-Libras
Na Semana de Letras Libras (SELL), que ocorre anualmente no mês de Novembro, são realizadas palestras, minicursos e apresentações de pesquisas, nas formas de comunicação oral ou banner. No ano de 2022, tive a oportunidade de participar pela primeira vez como ouvinte e ano passado, 2023, apresentei meu primeiro trabalho, junto com um amigo (Bruno Camargo), intitulado “Uma mão sinalizando e a outra no copo: uma proposta de sinais para as festas universitárias de Florianópolis”.
A ideia do nosso exercício de projeto e deu origem à apresentação ocorreu durante um almoço no restaurante universitário da UFSC, onde eu estava sentada na presença de dois amigos, uma surda e um ouvinte. Durante a conversa tocamos no assunto “festas universitárias”, as quais frequento sempre que possível. Ao relatar o nome de cada uma das festas, precisávamos criar estratégias para explicar para a surda os trocadilhos presentes nos nomes em português e com isso, pensar em como criar os sinais que mantivessem o trocadilho também em Libras.
Descrição da imagem: quatro imagens de festas universitárias. A primeira é uma mancha amarela com roxo escrito “PATOLOKO” com um desenho de um pato com óculos escuro e moletom roxo. A segunda tem um fundo vermelho onde está escrito “ENFERNIZA” com um estetoscópio com uma cauda triangular. A terceira tem fundo roxo com uma escrita em branco “INSANITÁRIA”; sobre o “ns” há imagem de um cogumelo vermelho com uma bola branca do videogame SuperMario. A quarta tem fundo amarelo onde aparece um brasão escrito “UNI 2021”; além disso, nela há três tipos de bolas e a frase “spring break” numa faixa, embaixo.
Quadros e Schmiedt (2006) relatam que um dos papeis das línguas é a manifestação das culturas, dos valores e dos padrões sociais de um determinado grupo social. Consideramos que estes tipos de entretenimento também são parte da cultura universitária, então, após diversos encontros, selecionamos 21 festas da UFSC e UDESC, montando os sinais. Dois, os gravamos. Todos os sinais foram criados com a participação de pessoas surdas para que pudessem ajudar com a fidelidade dos trocadilhos.
Durante a inscrição para o SELL organizamos um banner para ser apresentado, pois percebemos que as festas movimentam, em média, dez mil pessoas tanto da comunidade interna quanto externa das universidades. Quando estão distantes dos corredores e dos trabalhos acadêmicos, os universitários procuram esses eventos como forma de distração, lazer e diversão. As festas também são locais ótimos para socializar e integrar com outros universitários.
Descrição da imagem: QR Code com os vídeos dos 21 sinais das festas universitárias.
No final da criação destes sinais e da criação do banner, tínhamos o trabalho e o apresentamos. Todos que passavam por lá, surdos e ouvintes, professores e alunos, ficaram curiosos sobre os sinais e a história de cada um deles. Depois do SELL, pude perceber que os surdos começaram a usar os sinais naturalmente. Hoje, vemos a importância da comunidade surda participar desses eventos e de participarem das discussões sobre os mesmos.
REFERÊNCIA
QUADROS, Ronice Muller de; SCHMLEDT, Magalli L. P. Idéias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC, 2006. 120 p. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/port_surdos.pdf.
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